Viver ao lado das nossas possibilidades
por A-24, em 08.02.13
Um dos argumentos mil vezes repetido é o de que os portugueses viveram acima das suas possibilidades. É falso. Os portugueses viveram sempre bem abaixo das suas possibilidades. O grande problema é que, apesarem de terem vivido abaixo das suas possibilidades, gastaram acima. Viveram abaixo e gastaram acima porque deixaram que fosse o estado a decidir por elas quanto e onde gastar. A maioria dos eleitores portugueses, foi escolhendo em diversas eleições, entregar nas mãos de algumas dezenas de pessoas metade do seu rendimento, permitindo-lhes ainda que gastassem mais do que recebiam, pondo em causa o seu futuro. O problema, como defendia Milton Friedman, é que é impossível a estas poucas dezenas de pessoas adivinhar as preferências individuais e dinâmicas de milhões de pessoas. Ao gerirem recursos que não são seus em benefício de terceiros, o estado acabou, consequentemente, por alocar esses recursos erradamente. O problema não foi viver acima das possibilidades, foi viver ao lado dessas possibilidades, gastando acima.
O grande problema destas escolhas é que uma vez feitas, são irreversíveis. Já não podemos voltar atrás e dizer que não queremos a Expo98, o Euro2004, as SCUTS, a Parque Escolar, os submarinos, as centenas de observatórios, institutos e departamentos do estado. Podemos escolher entre consumir no presente ou no futuro, mas quando o futuro chega, já não podemos reverter as escolhas do passado, apenas pagar por elas. No longo prazo, as contas acabam por se acertar. Não há muito a fazer em relação ao passado, mas podemos, e devemos, retirar lições para o futuro. As poucas dezenas de pessoas que decidem como alocar os recursos do estado, mesmo que eleitas por milhões, não podem ter na sua mão metade do rendimento do país. Muitos responsabilizam exclusivamente políticos específicos do passado pela situação actual do país, mas este é um pensamento perigoso, porque assume que com pessoas diferentes o resultado teria sido outro. Não teria, porque o problema não está nas pessoas, mas nos incentivos. A solução não é rezar por políticos mais competentes ou menos corruptos no futuro, mas garantir um enquadramento em que lhes seja dado menos poder de decidir a alocação de recursos. É necessário devolver a capacidade de escolha aos cidadãos, começando por uma escolha básica: o que fazer com o seu próprio rendimento.