Vandalismo democrático
por A-24, em 14.08.13
Poucos dias após a sua inauguração, a estátua do cónego Melo já foi vandalizada. A coberto da noite, e como convém a gente de coragem, um ou mais biltres democráticos escreveram as palavras "fascista" e "assassino" no pedestal e lançaram tinta contra a estátua. Além de demonstrarem ignorância histórica e conceptual, os facínoras (que esta canalha ataca sempre em grupo) mostram novamente a elevada concepção que têm de democracia e de liberdade de expressão. De qualquer modo, nunca é de mais repetir: estes pulhas são os mesmos que erguem bandeiras de Cuba, que envergam t-shirts do Che, que louvam os camaradas de outrora. Estes pulhas são os legítimos herdeiros de Estaline e seus esbirros e só descarregam a sua sanha em monumentos porque não o podem fazer sobre humanos que pensem de modo diferente. Por enquanto, vingam-se na matéria bruta. Se, um dia, chegarem ao poder inaugurarão novos gulagues ao som de Zeca Afonso e de outros expoentes da democracia e da liberdade.
In A Corte na Aldeia
A estátua não tem culpa. As estátuas também sofrem, como os Budas fuzilados por talibãs ou o Enver Hoxha puxado por cordas. O Marquês de Pombal, embelezando a birotunda, não é local de peregrinação por jesuítas munidos de catapultas com fruta de dieta mediterrânea; não, hirta-se ali, como vendo um pouco de Angola no edifício do DN, impávido e sereno, resistindo à revolução estática, como boa estátua, que é, coitado.
Nem o pénis das redondezas, no Parque Eduardo VII, é violentado com colocações de preservativos gigantes, numa terrível e mordaz crítica à política de combate à SIDA no Uganda, testemunhando, impavidamente rochoso, workshops de sexo em locais públicos, um dos direitos humanos mais básicos graças à lei das rendas ou outra coisa imputável ao governo.
Respeitem as minorias, respeitem as estátuas. Ninguém atira tinta quando o Mário Soares passa no Vau, porque hão-de as outras estátuas ter tratamento diferenciado?
Vítor Cunha no Blasfémias