A Europa não sofre de doença de Parkinson: é vítima da lei de Parkinson. Quando uma empresa ou organização tem mais de 500 empregados ou membros, já não se preocupa com rendimentos, lucros ou clientes. O que importa é a sua própria burocracia e procedimentos internos, que mantêm os trabalhadores ocupados. Isto é verdade para as empresas e também para a União Europeia – ou Múmia Europeia, como lhe chamam os especialistas.

Bodo aos pobres

A União Europeia precisa cada vez mais de si mesma. Tem vindo a trabalhar cada vez menos para o crescimento económico e para os cidadãos, e cada vez mais para si e para os seus próprios funcionários. Os regulamentos que aprova são cada vez menos necessários e dificultam a atividade económica, em vez de a facilitarem.
Globalmente, a UE está a tornar-se cada vez menos competitiva do ponto de vista económico. Os Estados-membros não têm dinheiro para financiar a burocracia e os gastos públicos, pelo que se endividam indefinidamente, tanto internamente (Bélgica, Alemanha, Holanda, França) como externamente (Irlanda, Portugal, Espanha, Itália, Grécia).
A UE nunca reduz o seu próprio orçamento e exige sucessivamente mais recursos para o seu exército de eurocratas. Os mecanismos de funcionamento da UE têm vindo a degenerar, o que significa que a União deixou de ser um promotor do crescimento económico. As reformas propostas sob a forma de maior integração política e partilha das dívidas, bem como políticas que estimulam o crescimento à custa de défices ainda maiores, só vão aumentar o exército de funcionários e resultam em milhares de novos regulamentos, que irão dificultar ainda mais os negócios.
Ninguém quer recordar a história recente, em que a liberalização do mercado na Polónia, em 1989, resultou num “boom” económico sem precedentes. O que a Europa quer hoje é socialismo, monopólio estatal sobre tudo, pleno emprego artificial, em especial na administração e no setor público, e, por último, racionamento generalizado.

Votação por aclamação

Para não soar falso, vamos citar alguns exemplos. Um dos que me é mais próximo explica bem o fenómeno em questão. Um dos órgãos oficiais da União Europeia é o Comité Económico e Social Europeu, que devia rever decisões da UE em prol da sociedade civil. Como funciona na realidade a excelente ideia de supervisão civil?
Os membros do Comité são nomeados por organizações não-governamentais, trabalhadores e empregadores, e são contratados pelo Conselho na sequência de indicações dos governos dos Estados-membros. A maioria dos membros é efetivamente de organizações representativas dos ditos… governos. Daí que seja difícil encontrar um verdadeiro empresário dentro do grupo empresarial, um trabalhador de verdade no dos empregados ou um ativista social no da sociedade civil. Muitos membros permanecem de uns anos para os outros, em alguns casos durante várias décadas. O mais velho tem 89 anos.
Uma votação recente no grupo empresarial foi feita por aclamação. Quando perguntei se um dado participante era ou alguma vez tinha sido empresário, disseram-me que não, mas que tinha grande sensibilidade em termos de espírito empresarial. Do mesmo modo, um representante do grupo dos trabalhadores disse que nunca tinha estado empregado. Quando perguntei se poderiam trocar de lugar, responderam que não seria muito difícil. São estes funcionários de organizações de empregadores, trabalhadores e não-governamentais que nos representam, a nós, a sociedade civil.
Enquanto funcionários, os seus vencimentos são pouco superiores à média da UE. O que tem então a UE para lhes oferecer? Um subsídio de presença de 233 euros por sessão. Basta assinar o livro de presenças e desaparecer em seguida, hábito que alguns desenvolveram. Uma vez por semana recebem 1084 euros de reembolso de viagens. Adicione-se um subsídio de alojamento de 30 euros por dia, o dobro para sessões fora de Bruxelas e várias outras vantagens (cantina subsidiada, clube de fitness, serviços médicos). Ao todo, sendo altamente ativos, podem poupar até oito mil euros por mês, livre de impostos.
Membros em função recebem ainda mais. Basta-lhes assistir ao maior número possível de sessões. O que é necessário para aumentar a sua frequência? Centenas de novos regulamentos para rever, bem como opiniões do próprio. Quanto mais a lei for trabalhada, mais ganham. Há vários anos, quando o gabinete do presidente Durão Barroso lançou uma iniciativa para simplificar o processo legislativo, todos aplaudiram. Desde que “não na minha secção, grupo de trabalho ou subcomissão”, disseram.

Todos satisfeitos

E é assim por toda a UE. Os funcionários são contratados e ganham dinheiro introduzindo novos regulamentos. Uma média de cem mil regulamentos em dez anos significa dez mil por ano. É uma espécie de "o que falta ainda estragar?".
É uma fúria de regular tudo. A observância dos novos regulamentos tem de ser supervisionada, tanto na UE como nos Estados-membros – por mais funcionários, neste caso com a incumbência da supervisão bancária ou, se possível, da supervisão de tudo.
Se passar um ou dois dias neste ambiente, vai sentir-se a viver novamente em verdadeiro socialismo. Ninguém quer recordar-se de como esse sistema acabou. Também então, os burocratas queriam decidir quanto açúcar, carne ou outros bens racionados os cidadãos deviam obter. 
Em breve, haverá senhas de racionamento para tudo na UE, a menos que alguém finalmente acabe com a governação burocrática.
Do que a UE e os Estados-membros precisam é de reformas fundamentais, do tipo das que foram desencadeadas na Polónia em 1989 – liberalização decidida da regulamentação dos negócios e uma clara explicação aos cidadãos de que o seu futuro depende de trabalho árduo e não da boa ou má vontade de um exército de funcionários.
Até a UE e os cidadãos perceberem que não há almoços grátis, a crise não vai terminar e o crescimento dificilmente regressará. Entretanto, vamos assistir a um novo exército de funcionários bem pagos a controlar os bancos e instituições financeiras, outro exército a supervisionar questões fiscais e assim por diante.
A UE continua no bom caminho para se tornar uma Múmia Europeia e um museu.

18 julho 2012
Rzeczpospolita Varsóvia