Uma excelente visão sobre o que é ser católico nos dias de hoje
por A-24, em 12.04.13
A cultura intelectual é anti-católica. O intelecto funciona por um processo dialógico, semelhante ao processo de diálise, discerne, separa, julga - e no fim, exclui. Ora, é isto que a cultura católica se recusa a fazer - excluir.O exemplo dado aqui é um caso exemplar. Magdi Allam, em certa altura da sua vida, juntou um certo número de razões para se tornar católico. Cinco anos mais tarde, encontrou outras para sair do catolicismo. As suas razões resumem-se todas numa só - o catolicismo não exclui, não exclui os muçulmanos, não exclui os seus inimigos, não exclui geralmente os maus.
Existem 1,2 mil milhões de católicos no mundo, o catolicismo é de longe a denominação religiosa mais numerosa no mundo, e esta estatística há-de ter uma margem de erro muito pequena. Basta contar o número de baptizados católicos. Porém se a estas pessoas, em lugar de serem baptizadas ainda na infância, como é tradição, fosse dada a liberdade de escolherem uma religião na fase adulta da sua vida, e o fazerem, tanto quanto possível, por motivos racionais, nem uma pequena fracção escolheria o catolicismo.
Eu, quase de certeza, não seria católico e a minha principal razão é conhecida - a maneira como o catolicismo trata a pobreza; não, obviamente, por cuidar e assistir os pobres, mas por ter uma atitude de complacência, senão mesmo de encorajamento em relação à pobreza. A minha aversão à teologia católica da pobreza é radical.
O meu argumento seria muito simples e, penso eu, irrefutável. A pobreza é a causa de imensos males na humanidade, mortalidade infantil, promiscuidade e doenças, violência e criminalidade, e todas se resumem numa só - morte prematura. Como, racionalmente, adoptar uma religião que é complacente com a pobreza, que, na realidade, encoraja a pobreza, considerando-a uma condição sine qua non para a entrada no Reino dos Céus?
Dificilmente um intelectual é católico, de outra maneira que não pelo baptismo, e a cultura protestante, que é uma cultura intelectual (tal como a cultura judaica) não podia ser senão anti-católica. As principais críticas e as principais obras de destruição operadas contra o catolicismo foram feitas por intelectuais, seguramente nos últimos quinhentos anos. A cultura protestante, sendo uma cultura intelectual, é uma cultura que julga, e por isso aquilo que existe de melhor nos países protestantes é precisamente aquilo que existe de pior nos países católicos - a justiça.
Mas se o intelecto é um instrumento muito frágil para ligar uma pessoa ao catolicismo, se é muito difícil, senão mesmo impossível, racionalizar ou intelectualizar o catolicismo - precisamente porque o catolicismo aceita cada coisa e o seu contrário, não exclui nada, algo que repugna à razão humana -, então que tipo de relação pode ligar um homem à Igreja Católica?
A mesma relação que liga um filho à mãe. O filho - desde que seja um adulto e não um mero adolescente - não julga a mãe.
Pedro Arroja no Portugal Contemporâneo