Uma carta com 22 milhões de votos?
por A-24, em 16.10.14
Foi há uma semana que Aécio Neves fintou as sondagens e surpreendeu ao passar, juntamente com Dilma Rousseff, à segunda volta das presidenciais no Brasil. Para trás ficou Marina Silva que, apesar de ter ficado em terceiro lugar, conseguiu um grande capital político, traduzido em 22.176.619 votos. E são estes votos no candidato derrotado a 5 de Outubro que determinarão quem será o candidato vencedor na segunda volta a 26 de Outubro.
Durante este fim-de-semana, duas cartas selaram o compromisso e o ritual político de transmissão de votos entre Marina e Aécio. Primeiro foi Aécio que, no sábado, deu a conhecer aos brasileiros uma "carta-compromisso", uma espécie de adenda ao seu programa de governo onde incluiu algumas das bandeiras da campanha de Marina e algumas das reivindicações dos ‘pessebistas’.
O candidato do PSDB garantiu que dará prioridade à demarcação das terras indígenas e que levará adiante a reforma agrária. E prometeu manter os programas sociais existentes. Só não cedeu na proposta, que o separava de Marina, de baixar a idade mínima de acusação penal no caso dos crimes mais graves.
Em troca, Marina escreveu uma carta este domingo onde declara: "Chegou o momento de apostar na alternância de poder […] Votarei em Aécio e o apoiarei". A candidata que concorreu pelo PSB sabe que o seu voto não são 22 milhões de votos; mas também sabe que muitos dos “seus” eleitores irão seguir o seu “conselho”.
E a prova disso é que, se na primeira volta Dilma conseguiu 41% dos votos e Aécio Neves 33,5%, a verdade é que as últimas sondagens já dão um empate técnico ou mesmo um avanço ao candidato tucano. Aécio passou ainda a contar com o apoio formal da viúva do ex-governador Eduardo Campos. E o caso do alegado financiamento da Petrobras a campanhas do PT é mais uma barreira que os petistas terão de transpor para ir “roubar” os votos de Marina.
Mas Aécio sabe que, mesmo havendo uma grande transmissão de votos, ainda terá um longo caminho a fazer até 26 de Outubro. A máquina da campanha dos petistas é demolidora e nenhuma estatística é deixada por explorar. Este fim-de-semana, a Presidente criticou a gestão de Aécio em Minas Gerais, recordando que, enquanto o Governo federal reduziu em 33% as mortes infantis, Minas Gerais reduziu apenas 19%. Nestas estatísticas em que tudo conta, Dilma Rousseff sabe que as suas estatísticas (e as que herdou de Lula) não a deixam ficar mal no plano económico. Num comício no domingo em São Paulo, fez questão de dizer que "hoje o Brasil tem a menor taxa de desemprego de sua história” e que "nós [o PT] valorizámos o salário mínimo em 70%".
Estão lançados os argumentos e “distribuídos” os votos de Marina. E a dúvida sobre quem irá para o Palácio do Planalto durará até 26 de Outubro. Uma coisa os brasileiros já aprenderam: a desconfiar das sondagens. Basta recordar que os resultados de Aécio na primeira volta ficaram sete pontos acima das sondagens que lhe eram mais favoráveis.