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A-24

Um país doente

por A-24, em 16.11.12

(artigo publicado hoje no Diário Económico)
Num momento de maior entusiasmo, Jerónimo de Sousa congratulou os participantes na greve de dia 14 pela “dimensão histórica” do evento. Segundo o líder do PCP, tal dimensão “exige que dela sejam retiradas todas as ilações políticas”. Para Arménio Carlos e a CGTP, a ilação a tirar é necessidade de outra política, e portanto, de outro Governo. “Só assim se pode mudar”, ouviu-se no discurso do “camarada Arménio”.
Quem tenha seguido as festividades pela televisão facilmente percebeu a mensagem que se quis passar. Entrevistada por uma repórter, uma manifestante dizia ser preciso “fazer-se uma revolução para mudar isto”. Mas, na realidade, a greve e o seu programa político são profundamente reaccionários: a última coisa que querem é “mudar”. A “perda de direitos” contra a qual se protesta não é mais do que o desfazer de uma ilusão, a de que poderíamos ter padrões de vida semelhantes aos dos mais desenvolvidos países europeus sem produzirmos a riqueza correspondente. O endividamento estatal não nos trouxe só auto-estradas, estádios de futebol vazios e aeroportos sem voos. Trouxe abundantes empregos na função pública, e fez com que se pudesse “oferecer” serviços “tendencialmente gratuitos” aos portugueses, permitindo-lhes utilizar uma parte do rendimento – que de outra forma não estaria disponível – para a aquisição de bens que alimentaram a fantasia de que Portugal era um “país como os outros”. Agora que falta dinheiro ao Estado, deixou de ser possível esconder que ele falta também a grande parte das pessoas. A política governamental é criticável, e poderia ser diferente. Mas, tivessem as opções concretas sido outras, uma perda significativa dos rendimentos e qualidade de vida dos portugueses não teria sido evitada, pela simples razão de que estes não eram sustentáveis.
No fundo, chegou a hora de acordar para a realidade. Com ela, serão notórias as dificuldades. O descontentamento manifestado na greve e nos protestos de dia 14 não é uma cura para a doença do país. É um sintoma.
Bruno Alves in O Insurgente