Um novo Nobel no ténis
por A-24, em 01.02.14

rui.antunes@sol.pt
As palavras do dramaturgo irlandês aplicam-se com precisão a uma carreira marcada por sucessivas derrotas frente aos 'monstros' que têm dominado a modalidade na última década. Desde 2004, Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic venceram 34 dos 41 grandes torneios disputados e Wawrinka, profissional desde 2002, habituou-se a vê-los ganhar.
Apesar de ser presença assídua no top-20 mundial desde 2008, o suíço chegou ao Open da Austrália deste ano com um triunfo em 14 partidas frente a Federer, dois em 17 perante Djokovic e zero em 12 com Nadal. Mas nada o demoveu de seguir a lição de Beckett que tem colada ao corpo.
“É essa a minha filosofia de vida e no ténis. Se não te chamas Nadal, Federer ou Djokovic, tens de aprender com as derrotas e precisas de voltar ao trabalho”, sublinha Wawrinka.
De tanto fracassar e tentar de novo, o destino mudou no Open da Austrália. Após 14 derrotas consecutivas com Novak Djokovic, afastou o sérvio nos quartos-de-final (2-6, 6-4, 6-4, 3-6 e 9-7). E na final, arbitrada pelo português Carlos Ramos, vergou pela primeira vez Rafael Nadal (6-3, 6-2, 3-6 e 6-3), a quem nunca havia 'roubado' sequer um set ou um jogo de serviço.
“Há uma grande possibilidade de acabar esta noite bêbado”, gracejou Wawrinka, o primeiro tenista desde o espanhol Sergi Bruguera, em 1993, a bater os dois melhores do ranking ATP num dos quatro grandes torneios - Open da Austrália, Roland Garros, Wimbledon e Open dos Estados Unidos.
“Nunca esperei ganhar um Grand Slam porque, para mim, não era suficiente bom para vencer estes tipos”, declarou o quinto jogador a quebrar a hegemonia de Federer, Nadal e Djokovic nos últimos 10 anos. Neste período, apenas Andy Murray (US Open-2012 e Wimbledon-2013), Del Potro (US Open-2009), Marat Safin (Open da Austrália-2005) e Gastón Gaudio (Roland Garros-2004) tinham contrariado a lógica nos Grand Slams.
Campeão olímpico em 2008, em Pequim, no torneio de pares em que fez dupla com Federer, Stanislas Wawrinka atinge agora o auge da carreira, coroado com a subida do oitavo para o terceiro lugar do ranking ATP e o inédito estatuto de melhor tenista da Suíça.
Com o triunfo na Austrália, o campeão do Portugal Open do ano passado arrecadou 1,6 milhões de euros de prize-money, quase 25% da verba que tinha acumulado em 12 anos no circuito profissional.