Um excelente artigo sobre como ainda muitos espanhóis preferem ver Portugal
por A-24, em 28.06.12
É verdade que viver como emigrante muda a perspectiva que se tem do país de origem. Sou mais portista e portuense que português, na alma, mas quando chegam momentos como este é normal que a costela lusitana me venha ao de cima e sinta na pele isso de ser um no meio de muitos milhões. Vivo em Madrid, na boca do lobo, e hoje vou ter bem aqui ao meu lado, à beira do Bernabeu, quase um milhão de pessoas na rua a gritar contra o meu país.
Vivo aqui há seis anos e sei perfeitamente a ideia que os espanhóis têm dos portugueses.
Enquanto nós somos os parolos que os tratam por "nuestros hermanos" e que sempre tentam falar esse "portunhol" sempre que lhes aparece um pela frente para agradar. Sempre que vou ao Porto, cheio de turistas espanhóis nos últimos anos, é lamentável ver essa atitude mas isso são outras histórias. Mas não se enganem, os espanhóis nem nos vêm como irmãos, nem jamais se preocupariam em aprender o significa sequer da palavra "saudade". Para eles somos ainda ciganos que vendem toalhas na fronteira, país de mulheres com mais pelo e bigode que os homens e com um intelecto diminuto, bom para trabalhar nas obras. Essa imagem cheia de estereótipos é real num país que quando quer dizer algo que não seja Espanha só sabe dizer "a península". Quando lhes digo, insultado, que na península há dois países mais (como é Andorra), a resposta é sempre a mesma: "sois demasiado pequenos para justificar que mudemos o termo".
Vivo aqui há seis anos e sei perfeitamente a ideia que os espanhóis têm dos portugueses.
Enquanto nós somos os parolos que os tratam por "nuestros hermanos" e que sempre tentam falar esse "portunhol" sempre que lhes aparece um pela frente para agradar. Sempre que vou ao Porto, cheio de turistas espanhóis nos últimos anos, é lamentável ver essa atitude mas isso são outras histórias. Mas não se enganem, os espanhóis nem nos vêm como irmãos, nem jamais se preocupariam em aprender o significa sequer da palavra "saudade". Para eles somos ainda ciganos que vendem toalhas na fronteira, país de mulheres com mais pelo e bigode que os homens e com um intelecto diminuto, bom para trabalhar nas obras. Essa imagem cheia de estereótipos é real num país que quando quer dizer algo que não seja Espanha só sabe dizer "a península". Quando lhes digo, insultado, que na península há dois países mais (como é Andorra), a resposta é sempre a mesma: "sois demasiado pequenos para justificar que mudemos o termo".
Nunca fui mal tratado em Espanha por ser português, mas ninguém entende porque tenho mais do que dois apelidos, porque o primeiro apelido é o da mãe e não do pai, porque sei falar tantos idiomas quando eles mal o seu conseguem falar com correcção (há zonas piores e melhores, claro). Mas, sobretudo, porque a imagem do país tem mudado nos últimos anos graças ao futebol. Primeiro foi a popularidade tremenda de Paulo Futre em Madrid. Anos depois a "Geração de Ouro" de Luis Figo, Rui Costa, João Pinto (as fracas exibições de Baía e Fernando Couto no Barça e o negócio Secretário não deu lá muito boa imagem) e o papel do FC Porto nas provas europeias (apesar de que ainda hoje todos se queixam que o Deportivo foi roubado em 2004 por uma equipa muito inferior) mudou essa perspectiva. Mas é o fenómeno Ronaldo e Mourinho quem realmente abriu os olhos às pessoas e há muitos espanhóis que não vêm com mais olhos que Portugal vença este Europeu só por serem adeptos do Real Madrid irritados com uma selecção com tantos jogadores do rival Barça.
Mas apesar disso seguir a imprensa espanhola é um exercício de relaxamento mental obrigatório.
Não há um só jornalista - e se isto foi sempre assim, agora que realmente ganham é pior - que não diga que a diferença entre as duas equipas é abrumadora que nem devia haver jogo. Tirando o genuíno medo que muitos têm a Ronaldo, não há o mais mínimo conhecimento da selecção. Desvalorizam o imenso trabalho de Meireles e Moutinho, utilizando sempre a frase típica espanhola "aqui há melhor", não se preocupam com Nani ou Veloso e só se lembram de Pepe e Coentrão pelo que fazem com a camisola do Real Madrid, catalogando o primeiro de violento (1 só falta este Euro em 250 minutos) e o segundo de despistado (apesar do óptimo torneio que está a fazer). Ninguém acredita que a selecção portuguesa tenha a mais minima opção (verdade seja dita, eles dizem que ninguém a tem).
Este discurso não é novo. Nos Oitavos de Final do passado Mundial foi a mesma lenga-lenga e quando Portugal venceu a campeã do Mundo por 4-0 num amigável, a imprensa do país vizinho assobiou para o lado apesar dos avisos de Del Bosque, homem sério que já disse por várias vezes que respeita, e muito, a selecção portuguesa.
A verdade é que os espanhóis são um povo que sofre um pouco desse complexo de superioridade inexplicável, essa forma de afirmar-se minorando tudo o que o rodeia. Em todos os desportos - e a nível desportivo a verdade é que levam 20 anos de sonho - há sempre o nós contra todos, com jornalistas a vestirem a camisola e agitarem a bandeira em nome de individuo e clubes, sempre e quando possam vender essa ideia de Espanha vs o Mundo. Nesse panorama somos, uma vez mais, o parente pobre da Peninsula, o povo que está aí ao lado e que os impede de mandar em todo o território para lá dos Pirineus, o último obstáculo antes de mais um troféu internacional.
Dito isso, sinto que vamos à final. E nesse jogo podem ter a certeza que muitos "madridistas" (que não espanhóis) estarão a apoiar a sua legião de jogadores.