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A-24

Tallin

por A-24, em 27.08.12


O tempo também ajuda: o frio intenso, os ventos e nevoeiros do Golfo da Finlândia, onde foi construída a cidade, a humidade do mar e a falta de sol emprestam-lhe desde logo um carácter misterioso e romântico. Só faltava os castelos de torres redondas e telhados pontiagudos, as grandes muralhas defensivas, as ruas de empedrado irregular - que os locais se apressaram a construir e reconstruir ao longo dos tempos. E é assim que hoje encontramos a capital da Estónia: como um grande cenário para um filme de Hollywood, situado entre os séculos XI e XV. 

Tallin, capital da Estónia 
Depois de séculos de pilhagens e bombardeamentos por dinamarqueses, cavaleiros teutónicos, suecos, russos, nazis e soviéticos, é espantoso que a cidade mantenha mais do seu passado histórico do que a grande maioria das suas congéneres europeias, mas a verdade é que a parte antiga da cidade possui quilómetros de ruelas sinuosas com casas medievais, uma muralha de dois quilómetros e meio com vinte e seis torres defensivas, igrejas seculares, o magnífico castelo de Toompea, dos séculos XIII e XIV, e ainda bairros com casas tradicionais de madeira, como os de Kalamaja e Lillekula. 
O próprio nome do país, Eesti, parece vir do termo usado pelos romanos para as tribos dessa região, a Leste dos germânicos, e Tallinn foi já referida em 1154 pelo cronista árabe Al Idrissi como “Kolovan” - o nome Tallinn deriva do estónio taani linn, “cidade dinamarquesa”, e surgiu nos tempos em que estes a ocupavam. Dito isto, nada podia ser mais moderno: a actualidade, feita de internet, telemóveis e multibanco, tomou conta das ruas e dos hábitos dos estonianos, famintos de repor a independência e a modernidade tanto tempo adiada por outros, e que agora está, de novo, nas suas mãos. Todas as maravilhas da mais moderna tecnologia e informática já aqui chegaram e o investimento finlandês deu fôlego à economia emergente. O inglês parece já ser a segunda língua e o turismo vai de vento em popa. “A cold country with a warm heart” (um país frio com coração quente), reza a publicidade turística do país, e se bem que os estonianos não sejam propriamente calorosos, a verdade é que também não deixam de ser hospitaleiros. E sobretudo não há quem não fique seduzido pela linha descontínua das muralhas semeada de torreões austeros com telhados cónicos - um deles, de uma rotundidade exagerada, baptizado de Margaret Gorda -, pela catedral ortodoxa russa de Alexandr Nevsky, ou a luterana Toomkirik, que são apenas alguns dos monumentos que a cidade oferece aos visitantes. 
Todas as ruas de Tallinn parecem convergir para Raekoja Plats, a Praça do Município, com as suas casas góticas de cores outonais em contraste com a pedra do chão e das muralhas. Mas seguindo certas ruelas estreitas e calmas - a menos que passe um grupo de finlandeses bêbados em fim-de-semana de festa - e depois a longa Pikk jalg, de um asseio irrepreensível, chegamos ao cimo da colina de Toompea, que tem a melhor vista panorâmica sobre a cidade antiga. Daqui avistamos as torres aguçadas que parecem perfurar as nuvens baixas, e adivinhamos que mais cedo ou mais tarde vão consegui-lo, e teremos direito a mais um chuveiro gélido antes do sol se impor de novo. As águas do Golfo avistam-se ao fundo, por entre telhados e arvoredo, uma tira lisa e fina de azul que muda para branco durante o Inverno. Romântica e viva, Tallinn espelha ao mesmo tempo o passado e o futuro.

ROCA AL MARE, UM MUSEU RURAL PERTO DE TALLINN

Se mesmo com o mergulho calmo no passado que a cidade velha nos proporciona se fartar de Tallinn, pode sempre apanhar o autocarro 21 para este museu ao ar livre, cujo baptismo se deve a um comerciante italiano que aí construiu uma casa no século XIX. Por entre bosques e a costa, encontramos uma excelente mostra de construções típicas da Estónia dos séculos XVIII e XIX: habitações em vários estilos com mobiliário de época, moinhos de vento, estábulos e uma capela, tudo construído em madeira, com troncos sobrepostos, telhados de colmo e pinturas tradicionais. Aos domingos, há mesmo um pequeno espectáculo de canto e dança tradicionais, com participantes vestidos a rigor.