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A-24

Só agora é que deram conta dos aviões russos?

por A-24, em 05.11.14
José Milhazes

Se alguém tem dúvidas das intenções do Presidente russo preste atenção ao facto de 25% do Orçamento de Estado da Rússia ir para “fins secretos”, ou seja, despesas militares.

Num comunicado ontem publicado pela Nato, esta organizou alertou para as “manobras aéreas incomuns” e de “grande escala”, mas Portugal só acordou para este problema quando dois bombardeiros russos se aproximaram das águas territoriais portuguesas. Se as notícias fossem apenas relativas a incidentes semelhantes nos mares Negro ou Báltico, que acontecem regularmente, talvez não merecessem destaque.
Mas ainda bem que isso aconteceu connosco, pois talvez só assim despertemos para o que realmente está a acontecer na Europa, e compreendamos que a “guerra fria” já é uma realidade pelo menos desde o segundo mandato presidencial de Vladimir Putin na Rússia (2004-2008). Desde então ficou claro que Moscovo iria passar das palavras aos actos para manter o seu poder de influência no chamado “estrangeiro próximo”, ou seja, no antigo espaço soviético.
Quando da guerra entre a Rússia e a Geórgia (2008), esta perdeu parte significativa do seu território, mas a União Europeia não fez mais do que se apressar a congelar o problema, segundo o princípio: o fundamental é pôr fim aos combates e depois veremos o resto. Nicolas Sarkozy, então Presidente de França, veio a Moscovo para acordar o cessar de fogo e estava com tanta pressa que se esqueceu de definir para onde iriam os observadores da OCSE. O Kremlin decidiu que eles só poderiam estar do lado georgiano da fronteira, Bruxelas protestou um pouco e calou-se.
Talvez os dirigentes da NATO e da UE tenham decidido que Vladimir Putin se ficaria por aí, mas enganaram-se. O dirigente russo, aproveitando-se de uma crise interna na Ucrânia, ocupou silenciosamente a Crimeia, justificando-se com o antecedente do Kosovo, o que não corresponde à verdade. O antecedente seria equivalente se a Crimeia passasse a ser formalmente independente como o Kosovo, mas o Kremlin deixou-se de cerimónias e simplesmente transformou esse território em mais uma república sua.
Logo a seguir ateou o fogo do separatismo no Leste da Ucrânia e a explicação também foi encontrada: se os EUA têm direito, porque é que nós não temos? Mas os dirigentes do Kremlin continuam a falar de respeito pelo Direito Internacional com uma superioridade tal como se fossem anjinhos. E aqui a história volta a repetir-se: quando os EUA enviavam tropas para algum território, isso significava invasão. A União Soviética fazia exactamente o mesmo mas chamava-lhe “internacionalismo proletário”. Hoje, o Kremlin encontrou outra fórmula: “defesa do mundo russo”, ou, como afirmou recentemente Vladimir Putin, “o urso não vai pedir autorização a ninguém” na defesa da sua taiga. É verdade que o dirigente russo prometeu que esse animal “não tenciona ir para outras zonas climatéricas”, mas a Ucrânia já não é propriamente taiga.
E se alguém tem dúvidas das intenções do Presidente russo preste atenção ao facto de 25% do Orçamento de Estado da Rússia ir para “fins secretos”, ou seja, despesas militares. Aliás, o Kremlin não faz muita questão de esconder que está a gastar enormes meios financeiros para modernizar as suas forças armadas.
Os países da NATO, até há bem pouco tempo, decidiram relaxar-se e poupar nos orçamentos militares talvez considerando que as boas relações com a Rússia se iriam prolongar eternamente e, agora, irão ter de fazer esforços que países como Portugal e outros não conseguirão fazer.
Além disso, e isto parece-me ser o mais importante, a UE e a NATO parecem não saber como travar a expansão russa no antigo espaço soviético, criando esse desconhecimento um clima de insegurança nas populações dos países que são vizinhos da Rússia. Se falarem com estónios, por exemplo, verão que a maioria está convencida de que o Kremlin irá criar problemas nos países do Báltico sem que a UE ou a NATO venham em sua defesa. Eles foram abandonados aos caprichos de Hitler e Estaline e a história, como é sabido, tende a repetir-se.
Posso estar a exagerar? Talvez, mas dentro em breve terá lugar ou não um acontecimento que responderá a essa pergunta. Dmitri Rogozin, vice-primeiro-ministro russo encarregado do sector militar-industrial, anunciou que a França irá entregar o primeiro porta-helicópteros “Mistral” ao seu país e começar a construir o segundo a 14 de Novembro. Paris diz não existirem condições para isso. Vamos ver em que vai acabar este braço de ferro e o que vale a solidariedade europeia.

As verdades do Presidente da Bielorrússia

por A-24, em 20.10.14
José Milhazes


Mas será que a Rússia irá repetir a história da URSS? São cada vez mais os que receiam que isso aconteça, o que nada trará de bom para a Europa e o mundo.
É fácil não se gostar do Presidente da Bielorrússia, Alexandre Lukachenko, mas convém estar atento ao que ele diz relativamente às relações entre os estados do antigo espaço soviético.
Sábado, numa conferência de imprensa para jornalistas russos, o homem que dirige o seu país com mão de ferro e levou o seu país para a União Alfandegária, que engloba também a Rússia e Cazaquistão, fez algumas declarações que se fossem pronunciadas por um político russo, este seria imediatamente rotulado de “traidor”.
Lukachenko, por exemplo, considerou que Victor Ianukovitch, antigo Presidente da Ucrânia, foi derrubado por culpa própria. “Ele e os seus companheiros financiaram o “Sector de Direita”, porque este era alegadamente contra Iúlia [Timochenko]. Perdeu a orientação… e criou uma força que o destruiu depois”, afirmou ele.
O “Sector de Direita” é uma organização política de extrema-direita que participou nos distúrbios que levaram à queda de Ianukovitch. A sua participação nos acontecimentos foi um dos argumentos que levou à intervenção da Rússia na Crimeia e no Leste da Ucrânia a pretexto de defender as “populações russófonas” dos “fascistas” e “nazis”.
As sondagens apontam para que os partidos de extrema direita não elejam deputados nos círculos maioritários, mas a propaganda de Moscovo continua a colocar toda a população do centro e ocidente da Ucrânia entre os “fascistas”.
“Não acreditem que no Ocidente da Ucrânia vivem fascistas e nazis” e, no Oriente, os “nossos”. Em toda a parte há pessoas normais, mas em ambas as partes não há famílias sem abortos”, frisou Lukachenko.
É importante assinalar que Lukachenko acusa também Victor Ianukovitch, que diz ser “antigo grande amigo”, que ele e a sua corte foram os iniciadores do ódio dos ucranianos para com os russos.
“Foi criada uma terrível posição anti-russa no interior do país. Devido aos altos preços do gás, passaram a odiar os russos e o Presidente. E no Leste havia disposições semelhantes. Isso foi criado pelo poder”, acrescentou.
Claro que o Presidente bielorrusso considera que o derrube de Ianukovitch foi um “golpe anticonstitucional”, mas reconhece uma coisa que Moscovo continua a negar contra todas as evidências: “sem o apoio da Rússia as “repúblicas” auto-proclamadas não existiriam no leste da Europa. “Sejamos honestos, sem a Rússia, essas repúblicas teriam já os dias contados”, precisou.
Ao terminar a sua intervenção, Lukachenko manifestou a opinião de alguns analistas de que o Kremlin se deixou cair numa ratoeira ao atacar a Ucrânia: “Aí [no Leste da Ucrânia], ninguém além da Rússia, vai lutar de um lado. Do outro lado, nenhum dos jogadores globais irá combater. Por exemplo, a América jamais avançará para um confronto direto. Mas alguns estados e blocos estão muito interessados em que nos matemos uns aos outros com as próprias mãos”.
A Crimeia e o Leste da Ucrânia tornam-se num fardo insuportável para a economia russa, tanto mais que a desvalorização do rublo é diária, o preço do petróleo continua a descer nos mercados internacionais, a fuga de capitais aumenta, começam a ser reduzidos os investidos nas esferas social e educativa, sendo só aumentados os gastos militares.
Mas será que a Rússia irá repetir a história da URSS? São cada vez mais os que receiam que isso aconteça, o que nada trará de bom para a Europa e o mundo.

A União Europeia dá mais um “tiro no pé” na Ucrânia

por A-24, em 04.10.14
José Milhazes

União Europeia e Ucrânia ratificaram o tão famoso acordo de associação, que, como é sabido, foi o documento que esteve na origem da crise e da guerra civil que dilaceram a Ucrânia e põe em causa a sua própria existência como Estado.

Ora, como é sabido, a UE e a Ucrânia ratificaram um documento meramente simbólico, porque, sob a pressão de Moscovo, adiaram a entrada em vigor da parte mais importante do acordo, ou seja da parte económica. O Kremlin conseguiu fazer com que a criação de uma zona económica livre entre a UE e a Ucrânia fosse adiada para 31 de Dezembro de 2015.
Pela primeira vez na história da UE, Bruxelas admite publicamente que uma terceira parte, neste caso a Rússia, tem capacidade de se ingerir nas suas relações bilaterais. Desse modo, Vladimir Putin vê reconhecido em Bruxelas os seus “especiais interesses” no antigo espaço soviético
Claro que me podem dizer que isso foi feito para acalmar e apaziguar o Kremlin e, desse modo, contribuir para o fim do conflito no Leste da Ucrânia. Se assim foi, pergunto, porque é que isso não foi feito antes de novembro do ano passado? Se, então, Durão Barroso e companhia tivessem chegado a um acordo com Putin não teriam evitado um derramamento de sangue que já provocou mais de dois mil mortos entre civis e militares?
Não sei, talvez esse acordo não fosse suficiente, porque, em relação à Ucrânia, a política de Moscovo é de dominar completamente esse país. Por isso, o mais provável é que nem essa cedência, nem as leis aprovadas pela Rada Suprema com vista a amnistiar os independentistas e a dar um estatuto especial às regiões do sudeste do pais sejam suficientes para satisfazer Putin.
Os separatistas já vieram dizer que só aceitam a independência e Moscovo sente-se inclinado a aproveitar até ao fim as cedências do adversário.
Valentina Matvienko, dirigente do Conselho da Federação (câmara alta do parlamento) da Rússia, veio propor a realização de um referendo no Leste da Ucrânia à semelhança da Escócia. À primeira vista, uma saída democrática, mas que o Kremlin recusou e recusa a qualquer república da Federação da Rússia.
Por isso, a paz na Ucrânia continua a ser uma miragem.

Aliança impossível de EUA com a Rússia no combate ao Estado Islâmico

por A-24, em 28.09.14
José Milhazes


É difícil esperar qualquer coordenação de acções entre a Rússia e a NATO face a um problema mundial, a não ser que a Terra seja invadida por extraterrestres. E mesmo assim...
Não obstante os terroristas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante terem também ameaçado a Rússia e o próprio Presidente Putin, este não se apressa a juntar-se à coligação internacional que luta contra o ISIS, pois parece recear que o objectivo dos Estados Unidos e seus aliados seja derrubar o regime sírio de Bashar Assad à sombra do combate aos jihadistas.
Numa conversa telefónica com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o Presidente russo defende que, nas operações contra o ISIS na Síria, se “deve respeitar o Direito Internacional” e os bombardeamentos aéreos nesse país só deverão realizar-se com “o consentimento do governo sírio”.
Tendo em conta que Washington e os seus aliados deram ouvidos a Putin quando este evitou a invasão da Síria a troco da entrega das armas químicas por Damasco à comunidade internacional, poder-se-ia pensar que também desta vez será possível chegar a um acordo, mas tal não deverá acontecer. Isto porque, ao espezinhar o Direito Internacional na Ucrânia com a anexação da Crimeia e o apoio aos separatistas do leste do país, o Kremlin perdeu o direito de dar lições de moral aos outros, se é que já não tinha perdido esse direito quando da guerra na Tchechénia ou da invasão da Geórgia.
E, pelos vistos, os EUA e os seus aliados irão resolver os problemas da Síria e do ISIS à sua maneira, enquanto a Rússia irá continuar a sua política no país vizinho, embora com mais êxito. O conflito entre Kiev e os separatistas pró-russos está a caminho do congelamento, o que permitirá a consolidação dos poderes nas regiões separatistas e a criação de uma situação como a que existe na Transdnistria em relação à Moldávia. Isto se Putin não avançar ainda para a conquista de corredores para ligar a Rússia à Transdnístria e à Crimeia.
Face a esta situação é difícil esperar uma coordenação de acções entre a Rússia e a NATO face a qualquer problema mundial, a não ser que a Terra seja invadida por extraterrestres. E mesmo assim…

Vladimir Putin Trolls West: 'If I Want, I will Take Kiev in Two Weeks

por A-24, em 07.09.14
Via Breitbart

Russia President Vladimir Putin told outgoing European Commission President Jose Manual Barroso he could take Kiev, Ukraine in two weeks if he wanted to, according to a report in Italian newspaper La Repubblica. This latest threat surfaces just days after Putin allegedly told Russian youths that Kazakhstan never earned its independence.

According to La Repubblica, Barroso asked Putin about Russian troops in Ukraine. Barroso told the EU that Putin said, “If I want, I will take Kiev in two weeks.” Repubblica’s Alberto D’Argenio said Putin is telling the West not to make him angry with threats of new sanctions against Russia.
Tensions between the West and Russia continue to rise, as more information reveals Russian soldiers in east Ukraine with the separatists. British Prime Minister David Cameron and German Chancellor Angela Merkel once again repeated threats of tough sanctions against Russia if the Kremlin did not stop violating Ukraine’s sovereignty.
But Putin is not just eyeing Ukraine. Putin is an ex-KGB agent and once said the fall of the Soviet Union was the greatest geopolitical disaster of the 20th century. While Ukraine is the crown jewel of the old Soviet, Putin applies pressure on other ex-Soviet states. Kazakhstan is now worried Putin will target them after he told a pro-Kremlin youth group the country is artificial.
"Kazakhs never had any statehood; he [Kazakhstan’s President Nursultan Nazarbayev] has created it," he said.
Nazarbayev immediately fired back with his own threats.
"Kazakhstan has a right to withdraw from the Eurasian Economic Union," he said on television. "Kazakhstan will not be part of organisations that pose a threat to our independence."
"Our independence is our dearest treasure, which our grandfathers fought for," he continued. "First of all, we will never surrender it to someone, and secondly, we will do our best to protect it."
Nazarbayez signed the Eurasian Economic Union along with Belarus on May 29. Unlike other ex-Soviet states, Kazakhstan does not rely on Russia for gas and energy needs. It is its own star in the energy world, and the deal was signed in Astana, which is known for energy production.
Kazakhstan was the last Soviet state to leave the Soviet Union. The Kazakhs declared independence on December 16, 1991, and finalized their independence on December 25, 1991. Nazarbayev has been Kazakhstan’s only president for the past two decades.
Putin has a history of not acknowledging the independence of ex-Soviet states. In 2008, the same year he invaded Georgia, Putin told President George Bush that Ukraine is not a state.

Putin não pretende dominar só o sudeste, mas sim toda a Ucrânia

por A-24, em 05.09.14
José Milhazes

Chegar com os tanques a Kiev em duas semanas poderá ser muito improvável, mas para Putin não é utópico chegar um dia à capital ucraniana. Talvez lá para o Outono ou Inverno...

Escreve a imprensa europeia que Vladimir Putin, Presidente da Rússia, teria dito a José Manuel Durão Barroso, que “o problema consiste em que se eu quiser tomar Kiev, farei isso em duas semanas”.
Tendo em conta a situação nas forças armadas ucranianas e o poder de mobilização russa, essa declaração não deverá estar muito longe da verdade, mas a táctica de Moscovo parece ser mais “elaborada” e “fina”, ou seja, chegar a Kiev mas através dos próprios ucranianos.
As conversações de Minsk estão a ser um fracasso devido às contradições entre os separatistas pró-russos (chamar-lhes-ia mais precisamente agentes russos) e os representantes do governo de Kiev.
Os separatistas prometem fazer “o máximo de esforços para a manutenção da paz, para a conservação do espaço económico, cultural e político único e de todo o espaço da civilização russo-ucraniana”, mas impõem numerosas condições. Além da manutenção da língua russa (condição que pode e dever ser discutida), os líderes separatistas querem um estatuto especial para as suas forças armadas, o poder de nomear procuradores e juízes e (atenção!!) exigem também “uma forma especial de actividade económica externa tendo em conta a integração com a Rússia e a União Alfandegária”.
Isto é, os separatistas querem garantir que, no futuro, querem ter uma palavra decisiva a dizer caso Kiev ouse, por exemplo, se aproximar da União Europeia ou da NATO.
Por isso, Vladimir Putin apoia o diálogo entre os separatistas e Kiev e até contribui, com a intervenção militar na Ucrânia, para reforçar as suas posições nas conversações de Minsk. Nos últimos dias, os separatistas lançaram uma forte contra-ofensiva com apoio de armamentos e militares russos. Claro que Moscovo desmente que militares seus estejam a ser enviados para combater na Ucrânia, assim como desmentiu que tivessem sido enviadas tropas russas para a Crimeia. Mas os mortos e feridos, que já se contam com centenas, vão regressando aos cemitérios e hospitais russos.
A União Europeia, ou alguns dos seus membros, parece ainda não ter entendido que o principal objectivo da agressão da Rússia contra a Ucrânia não é apenas confirmar a anexação da Crimeia e afirmar-se no sudeste desse país, mas sim submetê-lo todo à sua política. O Kremlin deposita esperanças na agudização da guerra para destruir completamente a economia ucraniana, afundar o país numa gravíssima crise social que leve os cidadãos ucranianos a renderem-se às evidências, levando-os a derrubarem a “junta fascista” em Kiev e a optarem por um regime fiel a Moscovo.
Por isso, chegar a Kiev com os tanques em duas semanas poderá ser muito improvável, mas para Putin não é utópico chegar um dia à capital ucraniana. Talvez lá para o Outono ou Inverno…

Azov, o batalhão neonazi que vai defender Mariupol

por A-24, em 03.09.14
O conflito na Ucrânia é muitas vezes descrito como uma "guerra híbrida", em que a vertente militar se mistura com muitas outras componentes, como os ataques cibernéticos e a propaganda através das redes sociais.


Enquanto na Ucrânia os separatistas pró-russos são vistos como terroristas, no Leste do país e na Rússia agita-se o fantasma do nazismo – para uma grande parte da opinião pública, o Governo de Kiev é composto por nazis que têm como principal objectivo matar ou subjugar os habitantes russófonos das províncias de Donetsk e Lugansk.
Como é comum neste tipo de generalizações, a estratégia funciona melhor se houver algum fundo de verdade: nem o primeiro-ministro nem o Presidente da Ucrânia são conhecidos por alguma vez terem defendido ideias nazis, mas nem todos os grupos que se opõem à influência russa podem ser vistos no Ocidente como defensores da liberdade e dos direitos humanos.
É aqui que entram alguns dos mais ferozes batalhões de voluntários ucranianos, que lutam ao lado do Exército oficial de Kiev – batalhões como o de Azov, que tem na sua bandeira um símbolo usado por divisões das SS nazis e que se prepara para liderar a defesa da importante cidade portuária de Mariupol na ofensiva que os separatistas deverão lançar nos próximos dias.

O Batalhão de Azov é um dos grupos de voluntários que lutam contra os separatistas no Leste da Ucrânia 

No dia 11 de Agosto, o correspondente em Moscovo do jornal britânico The Telegraph, Tom Parfitt, falou com alguns dos homens do Batalhão de Azov, que estavam nessa altura estacionados na pequena cidade de Urzuf, cerca de 40 quilómetros a Oeste de Mariupol.
Tal como dezenas de outros destes grupos de voluntários, o Batalhão de Azov serve para colmatar as lacunas do Exército da Ucrânia – muitos deles estiveram na Praça da Independência em Kiev, durante os protestos contra o antigo Presidente ucraniano Viktor Ianukovich e foram depois lutar contra os separatistas pró-russos para manterem a unidade do território da Ucrânia.
O Batalhão de Azov é conhecido por ser um dos mais ferozes. O seu fundador e comandante é Andri Biletski, também líder da formação ultranacionalista Assembleia Nacional Social. A sua ideologia ficou patente num comentário citado pelo jornal britânico: "A missão histórica da nossa nação neste momento crucial é liderar as raças brancas do mundo numa cruzada final pela sua sobrevivência. Uma cruzada contra os sub-humanos liderados por semitas."
Por enquanto, o músculo do Batalhão de Azov satisfaz os seus ideais neonazis e a luta pela integridade territorial da Ucrânia, mas o discurso dos seus líderes aponta para uma coexistência nada pacífica com a União Europeia depois do fim do conflito no Leste do país.
Num texto publicado no site da Assembleia Nacional Social (liderada pelo comandante do Batalhão de Azov), e citado pela AFP, fala-se em "erradicar perigosos vírus", numa referência que se pode ajustar a muitos dos líderes ocidentais que apoiam actualmente o Governo de Kiev: "Infelizmente, entre o povo ucraniano de hoje há muitos 'russos' (pela sua mentalidade, não pelo seu sangue), 'judeus', 'americanos', 'europeus' (da União Europeia liberal-democrata), 'árabes', 'chineses' e por aí em diante, mas não há muitos especificamente ucranianos."

Putin com dois pesos e duas medidas

por A-24, em 08.08.14
Da Russia

Fora da Rússia, os russos têm direito a tudo, mas, no seu próprio país, têm direito a cada vez menos, principalmente no que diz respeito a direitos políticos.
Bastou que um grupo de pessoas tenha pedido autorização das autoridades para uma manifestação a favor de maior autonomia, sublinho, nada de independência, mas apenas autonomia, da Sibéria, para que o Kremlin lançasse um forte ataque com vista a silenciar essa iniciativa.
Os organizadores da manifestação, a realizar a 17 de Agosto em Novossibirsk, a principal cidade da Sibéria, pediram autorização para uma reunião de até 350 pessoas a fim de, segundo se lê num comunicado dos organizadores, “realizar o seu direito constitucional aos próprios órgãos do poder, mais independentes do centro, e pôr fim à situação idiota quando todas as decisões são tomadas pelo governo em Moscovo, onde não temos representantes”.
Todavia, os organizadores do evento sublinham defender a “criação de uma República Siberiana Autónoma no seio da Federação da Rússia”.
Porém, a Procuradoria-geral da Rússia ordenou o bloqueamento nas redes sociais de qualquer informação sobre essa iniciativa, ordem que foi cumprida de imediato pelo Facebook e Vkontakte.
Além disso, o Comité de Controlo das Comunicações da Rússia “recomendou” a 14 órgãos de informação do país a não publicitarem “actos ilegais”, Na véspera, o jornal electrónico Slon.ru retirou da sua página uma entrevista com Artiom Loskutin, pintor de Novossibirsk e um dos organizadores da marcha.
Segundo a nova lei recentemente assinada pelo Presidente Putin, os “apelos ao separatismo” são castigados com penas que vão de trabalho obrigatório até 480 horas de trabalho ou até seis anos de prisão.
Porém, os separatistas pró-russos na Crimeia e no leste da Ucrânia mereceram e merecem todo o apoio do Kemlin.
Ao ocupar a Crimeia e ingerir-se abertamente no leste da Ucrânia, Putin abriu uma caixa de Pandora extremamente perigosa para a Rússia.
“Disse várias vezes que a guerra com a Ucrânia conduzirá a tendências centrífugas e ao aumento do separatismo na Rússia. O bumerangue volta sempre”, previne Boris Nemtsov, um dos líderes da oposição russa.

Uma clara política de dois pesos e duas medidas que põe e causa a integridade territorial do país. Caso a Rússia enfraqueça política, económica e militarmente, o Kremlin deve ter presente que o país tem litígios territoriais com praticamente todos os vizinhos.

Sobre a queda do MH17 da Malaysian Airlines

por A-24, em 18.07.14
A queda de um Boeing 777 da Malaysia Airlines no Leste da Ucrânia, que terá causado a morte de todas as 298 pessoas que seguiam bordo, esta quinta-feira, deu imediatamente origem a trocas de acusações entre as autoridades de Kiev e os separatistas pró-russos, que se responsabilizam mutuamente pelo derrube do aparelho.

O número de vítimas foi inicialmente quantificado em 295, mas horas depois foi corrigido por Huib Gorter, director da transportadora aérea para a Europa, para 298: 283 passageiros e 15 tripulantes — o que faz deste o acidente aéreo com mais vítimas mortais na última década.

O aparelho MH17 que descolara de Amesterdão com destino a Kuala Lumpur caiu na região de Luhansk, próximo de Donetsk.Os rebeldes anunciaram, ao princípio da noite, terem encontrado a caixa negra do avião e admitiram uma trégua de dois ou três dias para que seja possível o acesso ao local. Nas horas que se seguiram à queda do aparelho sucederam-se apelos nesse sentido.

O esclarecimento do que aconteceu com o avião pode ter efeitos importantes na evolução da crise político-militar ucraniana. O Conselho de Segurança reúne esta sexta-feira, a pedido do Reino Unido.

O Boeing 777, que tinha levantado de Amesterdão e se dirigia a Kuala Lumpur não chegou a entrar no espaço aéreo russo, como previsto na rota, e despenhou-se a escassas dezenas de quilómetros da fronteira com a Rússia, numa zona controlada por separatistas, onde têm ocorrido confrontos. O espaço aéreo no Leste da Ucrânia foi encerrado.



Segundo os dados da companhia aérea, seguiam a bordo 154 holandeses, 27 australianos, 38 malaios (entre os quais 15 membros da tripulação), 11 indonésios, nove britânicos, quatro alemães, quatro belgas, três filipinos e um canadiano.
O ministro do Interior da Ucrânia indicou quer também seguiam a bordo 23 cidadãos norte-americanos.
Não deverá haver portugueses entre as vítimas, segundo indicou o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, com base nos nomes que surgem na lista de passageiros.




O voo MH17, que tinha partido da cidade holandesa às 13h15 (hora de Portugal Continental), perdeu contacto com o controlo aéreo ucraniano às 15h15, pouco antes da altura prevista para a entrada em espaço russo, segundo informação da companhia aérea malaia. Na altura em que desapareceu dos radares voava a dez mil metros de altitude.
A maior parte dos passageirs eram, segundo a Malaysia Airlines, holandeses - pelo menos 154. Está também confirmada a morte de 27 australianos e 23 malaios, 11 indonésios, quatro alemães, quatro belgas, três filipinos e um canadiano. Informação anteriormente divulgada pelo ministério do Interior ucraniano indicava que seguiam a bordo pelo menos 23 norte-americanos e nove britânicos. O Governo francês confirmou que quatro dos passageiros eram franceses.
Ao início da noite ainda não tinha sido divulgada da nacionalidade de mais de quatro dezenas de passageiros. Todos os 15 tripulantes eram malaios.
Repórteres da Reuter e da AFP que se deslocaram ao local em que caiu, junto à aldeia de Grabovo, perto da cidade de Chakhtarsk, na região de Donetsk, viram destroços fumegantes e corpos espalhados pelo solo. Pedaços do avião espalharam-se por um raio de 15 quilómetros.

Portugal não é a Polónia

por A-24, em 08.07.14
Via O Insurgente

Vale a pena ler este artigo da Economist sobre a Polónia dedicado aos portadores do discurso: “É preciso ir com calma para que o doente não morra da cura”

When the Iron Curtain came down in 1989, Poland was nearly bankrupt, with a big, inefficient agricultural sector, terrible roads and rail links and an economy no bigger than that of neighbouring (and much larger) Ukraine. At the time the ex-communist countries with the best prospects were widely thought to be Czechoslovakia and Hungary. Hopes for Poland were low.
But rigorous economic shock therapy in the early 1990s put Poland on the right track. Market-oriented reforms included removing price controls, restraining wage increases, slashing subsidies for goods and services and balancing the budget. The cure was painful, but after a couple of years of sharp recession in 1990-91 Poland started to grow again. It has not stopped since, and received a further boost when it joined the EU in 2004. Since then economic growth has averaged 4% a year. GDP per person at purchasing-power parity is now 67% of the EU average, compared with 33% in 1989, and the economy is almost three times the size of Ukraine’s. The country has redirected much of its trade from its eastern neighbours to the EU, started to modernise its transport infrastructure and restructured some of its ailing state-owned industrial behemoths.(…)
Many Poles are aware that other EU countries have missed their chance of using EU funds for structural reforms. “Portugal has good highways but no competitive companies,” says Mr Jankowiak.