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A-24

Monarquia ou República: porque não podemos escolher?

por A-24, em 25.11.14
O Diabo


O Partido Popular Monárquico apresentou à Assembleia da República um Projecto de Resolução em que recomendava aquilo que, para muitos portugueses, se tornou uma necessidade óbvia e urgente: a alteração da Constituição de forma a permitir o sufrágio livre e directo do regime político – Monarquia ou República – em que queremos viver.

O Projecto, apresentado pelo deputado regional açoriano Paulo Estêvão, depois de previamente aprovado pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, foi rejeitado pela presidente do Parlamento nacional, Assunção Esteves, com base em pretextos regulamentares.





Em causa está, mais uma vez, um pequeno parágrafo da Constituição em vigor, que há anos vem sendo contestado nos meios monárquicos (e até em meios republicanos menos facciosos): a alínea b) do Artigo 288º. Na passagem referente aos “limites materiais” impostos em caso de revisão constitucional, esta – diz a lei fundamental – “terá de respeitar” a “forma republicana de governo”. Os contestatários sugerem a simples alteração de uma palavra: que a lei fundamental consagre, em alternativa, “a forma democrática do Estado”.
A luta pela alteração daquele parágrafo da Constituição vem de longe. Logo que a versão inicial foi aprovada, em 1976, vários constitucionalistas e inúmeros políticos contestaram a consagração do regime republicano como obrigatório – mais ainda, como incontestável, já que a lei expressamente proíbe qualquer alteração constitucional que o ponha em causa.
Ao longo dos anos, os partidos do centro-direita têm tratado a questão com algum embaraço: por um lado, não desejam incomodar as forças e figuras do sistema que fazem finca-pé no republicanismo constitucional; por outro, é inegável que o artigo 288º é a negação da própria democracia, ao impedir o povo (teoricamente “soberano”) de escolher o regime político que bem entender.
Nem os exemplos do Brasil e da Austrália, que organizaram referendos sobre o regime (em 1993 e 1999, respectivamente), amaciou o coração de pedra do jacobinismo nacional. O famigerado Artigo continua por rever.
No início do corrente ano, o presidente da Comissão Política Nacional do PPM, Paulo Estêvão, que é igualmente deputado à Assembleia Legislativa dos Açores, iniciou uma nova campanha em favor da revisão constitucional. “Qual é o medo, meus senhores?”, perguntou então. “Em democracia, ninguém é dono do voto de ninguém. Deixem o povo português pronunciar-se sobre a natureza do regime. Não se façam donos da vontade dos portugueses”.
Mas não bastava protestar: uma iniciativa legislativa concreta e fundamentada teria de ser tomada no Parlamento. Não dispondo de representação na AR, o PPM decidiu alcançar o mesmo fim por outros meios. Assim, por proposta sua, a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores decidiu no início de Outubro recomendar à Assembleia da República “que promova as alterações necessárias ao sistema político, de forma a permitir o directo e livre sufrágio do Povo Português em relação à natureza republicana ou monárquica do Estado”. Escassos dias depois, a presidente da Assembleia da República indeferia “a admissibilidade do Projecto de Resolução”.

Esquerda populista: o ‘marketing’ da opressão na América Latina

por A-24, em 16.11.14
O Diabo

O populismo sempre foi um instrumento político característico dos países da América do Sul – ou da América Latina, se quisermos incluir o caso da ditadura cubana e do conturbado percurso da Nicarágua. O discurso populista pretende exaltar as massas, servindo-se geralmente de um inimigo comum que “deve ser destruído”: como “inimigo do povo” durante a luta pelo poder, como “inimigo do Estado” depois da conquista do poder.
O inimigo, esse, varia conforme as necessidades do populista: podem ser “os burgueses”, podem ser os norte-americanos (os “gringos”), podem ser “os sabotadores”, pode ser qualquer coisa. Não importa que seja verdade ou mentira, o que interessa é que uma maioria de pessoas acredite que é verdade. Sim, uma maioria: porque os direitos democráticos da minoria não são algo que os populistas estejam interessados em proteger.


A partir do final dos anos 90, o populismo foi crescendo na América do Sul. As economias locais, tradicionalmente caóticas, estavam a recuperar devido ao preço elevado das matérias-primas, nomeadamente o petróleo. Este é o sonho do populista de esquerda: a possibilidade de poder usar dinheiro fácil de obter para pagar políticas que compram votos.
Diga-se que tal não é um fenómeno exclusivo da América Latina. Portugal, durante anos, foi governado por Executivos que usaram financiamento europeu e crédito barato para pagar infra-estruturas e políticas que davam votos. Pelo final deste ciclo, o Governo já pagava, com grande fanfarra e cobertura mediática, computadores portáteis aos alunos portugueses, grandes auto-estradas que hoje estão desertas, e ainda queria construir uma linha de TGV de duvidosa necessidade. Nenhuma destas medidas teve qualquer efeito benéfico na economia portuguesa. O populismo acabou por arruinar as contas nacionais.

As causas do desastre português serão as razões do desastre que se aproxima na América Latina?

República “Bolivariana” da Loucura
Ora olhemos então para a Venezuela, governada pelo regime criado por Hugo Chávez, intitulada, muito originalmente diga-se, de “República Bolivariana”. A mudança da designação, de forma a fazer apelo ao nome do famoso líder dos movimentos independentistas latino-americanos, foi um primeiro sinal de alerta: Hugo Chávez via-se como um Simón Bolívar do século XXI.
E esta é a parte menos louca do regime de Chávez, um indivíduo tão “democrático” que começou por tentar alcançar o poder através de um golpe de Estado (falhado) que procurava derrubar um governo legitimamente eleito. Falhada a via golpista, Chávez decidiu candidatar-se a eleições. Para ganhar, usou um discurso altamente agressivo visando virar os cidadãos mais pobres contra a classe média e abastada. Prometeu auroras douradas e ganhou.
O problema de se prometer auroras douradas é que, depois, é preciso cumprir. Mas para um populista isso não é problema: a realidade pode ser vergada à sua vontade. Sempre que algum desastre económico ou social atingiu a Venezuela (e sob o governo brutalmente incompetente de Chávez tal era uma ocorrência regular), a culpa caía sempre sobre algum inimigo fictício da “República Bolivariana”.
O ataque aos “inimigos” alcançou tais níveis de ridículo que Chávez chegou a afirmar que um sismo de grande escala no Haiti fora provocado pelos Estados Unidos, que tinham usado uma “arma de terramotos”. Quando faltava um bem de consumo nas lojas, a culpa era sempre dos “sabotadores burgueses” que impediam que os produtos chegassem ao mercado. Todas as semanas Chávez passava horas (ocasionalmente mais de seis horas, à maneira de Fidel) nos ecrãs da televisão estatal a arengar sobre os “inimigos” ficcionais. Tinha uma grande audiência, não pelo conteúdo ideológico das mensagens, mas porque era nestes programas que Chávez costumava anunciar a distribuição de novos subsídios pelos seus apoiantes.

A mera miséria. E armários.

por A-24, em 22.06.14
Mário Amorim Lopes



Quando Marx e Proudhon esgalhavam argumentos sobre a devida evolução a dar à luta do proletariado e à formulação do Estado (ou ausência dele) na sociedade comunista, argumentos estes reflectidos então na Filosofia da Miséria e na Miséria de Filosofia, era uma época fértil para a esquerda. Estavam volvidos 60 anos mas a Revolução Francesa e a não menos relevante Revolução Industrial permitiam ainda um vasto escorrimento de argumentário e panfletário para apanhar incautos iludidos com a ilusão de uma utopia ilidível. Não obstante, algo novo se discutia.
Hoje, finda a discussão entre a esquerda, cuja segregação interna reconstrói o divisionismo de Lenine e Trotsky, a senda é na união da segregação, montanha que nem Sísifo percorreria, com ou sem pedra. E como a união da divisão é estéril, porque indivíduos têm visões diferentes, porque indivíduos pensam de forma diferente, mas especialmente porque indivíduos são diferentes, a esquerda portuguesa, versão recauchutada da esquerda soviética do PCP, com laivos de trostkismo do BE, tonificada pelo republicanismo francês do PS e ainda decorada com new age e eco-socialismo (seja lá o que isso for) do LIVRE, está esvaziada de ideias. Não há nada de absolutamente novo. Não há nada de novo. O que existe é um absoluto vácuo que transita, crónica sim, crónica sim, entre a vacuidade e o casualismo. Do que diz e pensa a direita, claro está. Que ideias verdadeiramente originais, para lá de uma ou outra histeria transitória movida a causas, tem a esquerda tido? A extrema, nenhuma. A democrática, mais do mesmo. A insistência no luso-keynesianismo, versão particular que descarta os saldos orçamentais e a contenção em períodos de crescimento e apenas considera o desperdício público, tornou-se o agouro que foi devidamente abraçado e consensualizado e que basicamente nos trouxe até aqui.
E quando o café se esgota, toma-se chá. Então a esquerda achou interessante fazer uma recensão crítica sobre os livros, as obras, as vidas, os gostos e os planos de reinar o mundo, com roque e remoque mas agora sem Rei, de uma direita que era ultramontana, vivia numa caverna, parecia não ler (excepto versículos da Bíblia, claro está) e gostava de ir à missa para ouvir os versículos, evitando assim ler. Esta direita transforma-se então numa direita renovada, qual Fénix, refrescada, que agora lê, que agora até pensa, como se a primeira nunca fosse intelectual ou como se a segunda nunca fosse de direita. Como se a inteligência fosse oxímoro de direita. Tão antagónico que, tal como Graça Moura, era até surpreendente que fosse de direita, dada a sua aclamada inteligência. Analisar a cultura de direita, se feito com respeito e rigor, é um exercício voluntarioso e que tornaesta obra de António Araújo extremamente interessante. Fazê-lo de fora e com um tom pedagógico que roça uma análise técnica da movimentação de animais num Zoo torna o feito menos digno. E menos feito.
Os objectivos são múltiplos. O primeiro é ridicularizar a concepção tradicional de direita. Caricaturizar aquilo que a esquerda, lá do alto da sua pretensa superioridade, imagina que era ou o que é a direita. O outro é menos óbvio: marginalizar o liberalismo dentro da direita. Uma direita renascida, burguesa, que gosta de arte e cultura, que lê, avant-garde, tão avançada e cosmopolita que até se parece uma esquerda, dizem eles, emaranhada com os neoliberais que, juram eles, querem um Estado fraco mas bombas em fartura algures no Médio-Oriente.
Não precisamos de uma cisão entre liberais e conservadores, ela é mais do que óbvia e assumida. Há muito que largou o armário, há muito que se assumiu. Toda a gente, excepto a esquerda, percebeu isso. Um liberal, por tradição, deve rejeitar a tradição como argumento para o debate político, ou pelo menos relegar-lhe a importância que este merece: um estabilizador. A tradição não é necessariamente melhor ou pior. O seu único mérito foi sobreviver ao tempo, coisa que uma rocha também faz com especial primazia. Claro que uma dinâmica social que respeita a ordem e a estabilidade é, para alguém de direita, condição fundamental e necessária, mas não condição suficiente, pelo menos para um liberal.
O curioso é que transparece, é por demais evidente, que a esquerda se sente ameaçada não por esta nuova direita cosmopolita mas sim pelo liberalismo, desde sempre novo e cosmopolita, ao ponto de enaltecer os garantes do conservadorismo que, em certa medida, sempre promoveu o Estado. Foram os liberais, foram as ideias de John Locke e de Montesquieu que fomentaram a Revolução Francesa, o início, não o que depois se sucede. Os conservadores estavam e estarão do outro lado. E estavam bem, pelo menos à luz do que os rege. O sistema não estava mau, embora as finanças francesas estivessem depauperadas muito em parte devido à participação na Revolução Americana, lutando ao lado (a história é irónica) dos Republicanos, e as pessoas passassem fome enquanto a corte festejava. Como tal, a sua cisão deveria ser evitada a todo o custo, a fim de manter a tradição. E, justiça lhes seja feita, tinham razão. O processo revolucionário que dali surgiu foi sangrento, sujo, miserável, facetas geralmente ignoradas em função da exaltação da república, com a res-pública, ou pelo menos uns quantos, delapidada pela guilhotina e depois unida à força com a vontade bélica de Napoleão. E se essa direita se assume republicana, terá de justificar como figura a tradição e a revolução (francesa) num mesmo quadro.
Para a esquerda, este recente aggiornamento é uma saída de um armário que esta, obviamente, já havia feito. Se a referência implícita “aos direitos dos LGBT” é mais do que evidente, é interessante recordar que antes da nova direita aceitar algumas das causas da esquerda, como o casamento homossexual, já a velha direita, especialmente os liberais, achavam que não compete ao Estado legislar sobre o matrimónio, instituição que nunca foi sua, aliás. Corolário? Cada um casa com quem bem entender, não necessitando do aval ou da benesse do Estado, que mais se assemelha à bênção do pároco local. A tradição ainda está a percorrer este caminho. Alguma já lá chegou, outra eventualmente lá irá chegar. A esquerda, que do alto do seu púlpito observa, permanece de olhos fechados.
Neste tentativa de escalpelizar a direita, a esquerda esquece-se que, porém, é muito mais o que nos une do que nos separa. Da mesma forma que no séc. XVIII liberais e conservadores trocaram de papéis, assumindo os conservadores o papel de reformar o Estado e restituir aos indivíduos a sua liberdade (cf. “The Man vs The State”, Herbert Spencer), os “liberais” de então ocupavam-se com uma agenda que hoje seria facilmente apelidada de progressista. Embora um liberal não partilhe do imaginário utilitarista de Stuart Mill ou não se identifique com Burke, são mais as pontes em comum do que as ilhas. Não é por acaso que liberais admiram Churchill. Podemos discordar no método, mas concordamos no princípio: entre conservadorismo e liberalismo, o pior é mesmo o socialismo. E, em boa verdade, se João Pereira Coutinho, Henrique Raposo, Pedro Mexia ou João Miguel Tavares nos representam, estamos bem representados, ainda que com naturais e salutares discordâncias decorrentes nas diferenças que inevitavelmente reconhecemos como parte da essência humana.
Despidas as vestes, tornando-se óbvio que não existe nada para além do mero intriguismo político e estando a bola deste lado, é inevitável sugerir à esquerda que se ocupe com a construção e propagação da névoa que envolve esse novo grande timoneiro da esquerda, feito D. Sebastião, que virá para salvar os portugueses deles próprios. Ou, como a realidade mostrará, somente para sair do armário e revelar o Hollande que contém em si, sem ideias novas, sem ideias mas com muita narrativa, como a esquerda moderna, que não é nada mais do que a estampagem da esquerda de sempre, a da miséria, assim requer.

Os intelectuais de direita estão a sair do armário: O legado que o Independente deixou

por A-24, em 19.06.14
A síntese foi introduzida nos anos 1980 por um veículo cultural particularmente poderoso e original: o semanário O Independente. Era um jornal de direita, que agradava à juventude e intelectualidade de esquerda. Miguel Esteves Cardoso representava o cosmopolitismo e a ousadia estética de um estrangeirado genial, enquanto Paulo Portas lançava ataques políticos que combinavam virulência e inteligência, com consequências contundentes na política corrente. O Independente, depois do Semanário e da sua revista de novidades sociais, a Olá, representaram o primeiro grande contra-ataque da cultura de direita, depois da revolução.

Veicularam uma certa ideologia individualista, acompanhada de elitismo (levada ao extremo nos ataques à suposta “parolice” e “arrivismo” de políticos como Cavaco Silva, oriundos de classes sociais relativamente baixas) misturadas com revivalismo estético (em bandas de música como os Heróis do Mar) e divulgação do mais arrojado que se fazia no estrangeiro, em termos artísticos.
Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas discutiram
há três semanas os tempos em que fundaram e
dirigiram o 
Independente PEDRO NUNES
Os intelectuais da nova direita reivindicam hoje entusiasticamente esta herança de Miguel Esteves Cardoso e O Independente. E protagonizam um novo assalto aos media, ancorado nas crónicas, nos blogues, nos livros e agora no Observador.
Tal como no tempo do Independente, surgiu uma linguagem agressiva e iconoclasta, muito opinativa. Segundo Araújo, é a lógica da blogosfera e das redes sociais que permite e instiga este tipo de atitude, ao obrigar à permanente notoriedade. “A competição é enorme, as pessoas só existem se obedecerem à tirania da notoriedade. É preciso estar sempre a emitir opiniões, a ser agressivo e original.”
Outra razão é a competição com os intelectuais da esquerda, que não têm tanta necessidade de provar o seu valor. “Temos de ser melhores do que eles, porque trabalhamos em ambiente hostil”, disse Raposo. O ambiente hostil que ainda são os jornais e revistas, onde ainda há uma hegemonia da esquerda, mesmo que não se dê por ela, de tão habitual. “Escrever crónicas nos jornais, para nós, é como ser do Benfica e ir todas as semanas jogar ao estádio do Dragão.”

Araújo notou que, por exemplo, a forma como vários cronistas da direita se têm referido a Mário Soares denota uma agressividade e informalidade que eram até aqui apanágios dos cronistas da esquerda. “Mesmo em termos de vestuário, os novos cronistas são diferentes, mais informais. Olhe para o Henrique Raposo. Não andam de fato e gravata. Perderam os complexos de direita, não querem ser identificados com betinhos. O que provoca mais horror aos novos intelectuais de direita é serem identificados com a direita ultramontana, caceteira, miguelista, reaccionária, ou a direita dos fados e das touradas. Eles renegam isso, a direita dinástica, familiar, provinciana. São urbanos, sofisticados, cosmopolitas, universitários. Pedro Mexia não é universitário, mas move-se nos meios literários e intelectuais sem complexos, como qualquer indivíduo de esquerda.”
Este tipo de atitude é também a que impede estes novos intelectuais de direita de se misturarem com os partidos da direita. Nogueira Pinto e Raposo dizem que, ao contrário dos intelectuais de esquerda, têm outros interesses, para além da política. A direita interessa-se pela realidade, enquanto a esquerda se ocupa da utopia. A direita não está portanto tão preocupada em mudar essa realidade. Gosta dela tal como é, é esse o princípio do conservadorismo.
Raposo disse que, mesmo com as suas crónicas, não tem por objectivo influenciar os eleitores, e muito menos os dirigentes partidários, mas apenas comunicar com os seus leitores. Admite que está a formar neles, principalmente nos mais jovens, uma mentalidade diferente, mas que só produzirá resultados visíveis a nível político na próxima geração.
“Estes bloggers e cronistas são franco-atiradores”, disse Araújo. “Beneficiam do star-system, mas não têm tradução política imediata. O importante para eles é terem conquistado o direito de existir. O direito de cidadania. Como se soubessem que a única coisa que têm agora é o direito de estar no circo. E eles não querem entrar na política partidária. São inexperientes nisso. Não fizeram o percurso da ‘carne assada’, como os líderes políticos têm de fazer. Ou se andou em Yale ou na ‘carne assada’. Por isso os partidos vão continuar imunes a estas pessoas. No momento em que eles quiserem dominar, a máquina expulsa-os.”
Os representantes da nova direita intelectual têm a noção de que o seu poder está fora dos partidos, nos media. Além disso, são demasiado heterogéneos ideologicamente para que se pudessem organizar num projecto. Essa é uma das suas características. Uns são liberais, outros nacionalistas, uns conservadores, outros libertários. E em comum têm alguma coisa? O que os faz dizer que são de direita? Poucas coisas. O tradicionalismo, o valor da nação, a religiosidade. Mas nem isso é comum a todos. Uma coisa sim: o pessimismo. Pessimismo antropológico, diz Nogueira Pinto. A crença de que o ser humano é mau. “A esquerda acha que o homem, se o deixarem livre e sozinho, fará coisas maravilhosas. A direita desconfia disso. É preciso haver autoridade ou não permitir que ponham em prática projectos totais, utópicos.” É por isso que a direita é necessária, segundo ela própria, para evitar a perigosa mudança. E que precisa da esquerda, senão nada muda.

Liberais e Nazis

por A-24, em 13.06.14
Rodrigo Constantino
Economista e presidente do Instituto Liberal

Nós exigimos que o Estado especialmente se encarregará de garantir que todos os cidadãos tenham a possibilidade de viver decentemente e recebam um sustento; nenhum indivíduo fará qualquer trabalho que atente contra o interesse da comunidade para o benefício de todos;

Que toda renda não merecida, e toda renda que não venha de trabalho, seja abolida; nós exigimos a nacionalização de todos os grupos investidores; nós exigimos participação dos lucros em grandes indústrias;
Nós exigimos a criação e manutenção de uma classe média sadia, a imediata socialização de grandes depósitos que serão vendidos a baixo custo para pequenos varejistas, e a consideração mais forte deve ser dada para assegurar que pequenos vendedores entreguem os suprimentos necessários aos Estados, às províncias e municípios;
Nós exigimos uma reforma agrária de acordo com as nossas necessidades nacionais, e a oficialização de uma lei para expropriar os proprietários sem compensação de quaisquer terras necessárias para propósito comum. A abolição de arrendamentos de terra, e a proibição de toda especulação na terra;
A fim de executar este programa, nós exigimos: a criação de uma autoridade central forte no Estado, a autoridade incondicional pelo Parlamento político central de todo o Estado e todas as suas organizações.
O leitor tem alguma ideia de onde saíram essas coisas? Talvez de algum manual esquerdista revolucionário? Ou então de um manifesto socialista qualquer, quem sabe? Nada disso. Esses são alguns dos 25 itens do programa do Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista Alemão, mais conhecido como Nazi, de 1920, que levaria Hitler ao poder poucos anos depois.
Agora pergunto: há alguma semelhança com a doutrina liberal? Para quem conhece o mínimo sobre o liberalismo, a resposta é um retumbante “não”. O liberalismo prega justamente a redução de poder do Estado, para poder garantir mais liberdade aos indivíduos. Garante a propriedade privada, enxerga o lucro como o oxigénio saudável que permite novos investimentos, levando ao aumento da riqueza geral. Por fim, cobra a responsabilidade individual também.
Não existem duas ideologias mais díspares do que nazismo e liberalismo. Mas não é o que pensam os organizadores de um concurso público da CespeUnB, feito pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Distrito Federal. O governador, como sabemos, é o petista Agnelo Queiroz. Na prova, havia a afirmação, considerada correcta pelo gabarito, de que o nazismo era um movimento político e ideológico “baseado no nacionalismo, no racismo, no totalitarismo, no anti-comunismo e no liberalismo económico e político”.
No meu dicionário, isso chama-se doutrinação ideológica. Que nas redes sociais os militantes petistas apelem para aquilo que ficou conhecido como argumentum ad Hitlerum, ou seja, enfiar Hitler em qualquer discussão com um liberal, vá lá; mas que um concurso oficial do governo repita essa patética mentira, associando nazismo a liberalismo, isso é ultrajante!
Tanto o nazismo como o marxismo, ao contrário do céptico liberalismo, compartilharam o desejo de remodelar a humanidade. Marx defendia a “alteração dos homens em grande escala”, e Hitler pregou “a vontade de recriar a humanidade”. Nazis e socialistas não eram, na prática e no ideal colectivista, tão diferentes assim. Basta trocar raça por classe e teremos duas ideologias parecidas.
A conexão ideológica entre marxismo e nacional-socialismo não é fruto de fantasia, e Hitler mesmo leu Marx atentamente quando vivia em Munique, tendo enaltecido depois a sua influência no nazismo. A sua meta era socializar o homem, e a propriedade privada, pilar básico do liberalismo, foi abolida de facto, como na União Soviética. Estaline e Hitler se parecem muito, enquanto Hitler e Thatcher ou Hitler e Reagan não têm nada a ver.
É verdade que os nazis perseguiram comunistas. Mas irmãos brigam pelo poder! Os nazis perseguiram todos, principalmente os liberais. E comunistas se mataram entre si. Basta lembrar de Trotski. Por acaso isso faz de Estaline um anti-comunista?
Para quem quiser se aprofundar no tema, recomendo o documentário “The Soviet Story”, que mostra vários traços comuns entre ambos os regimes nefastos. Contra tanto o comunismo como o nazismo, sempre haverá o liberalismo. Portanto, da próxima vez que o leitor ouvir algum esquerdista acusando um liberal de nazista, saiba que se trata ou de um embusteiro ou de um ignorante. Liberais e nazis não se misturam, tal como água e oleo.

Como os Brancos tomaram a América (legendado)

por A-24, em 10.06.14
Um excelente vídeo que demonstra como foi a linha de pensamento da colonização americana e a analogia com o que se verifica hoje na Europa. Não aconselhado a ingénuos.
Escusado será dizer que os marxistas-culturais repudiarão este vídeo até à exaustão.

Em defesa do Movimento Identitário

por A-24, em 07.06.14
Eu sou um nacionalista-identitário.



Rodrigo Nunes


Na realidade torna-se necessário colocar a questão nestes termos pois o conceito de nacionalismo não é monolítico e não pretendo dispor do monopólio da sua boa utilização. É natural que dentro do movimento nacionalista existam divergências ideológicas, é assim com qualquer movimento político, existe sempre a esfera inerente ao indivíduo, subjectiva, que dá azo a interpretações diferentes do que se pretende alcançar. Aliás, mesmo no movimento identitário existirão divergências quanto à melhor forma de construir o futuro, próprias de qualquer movimento que agregue um grupo de indivíduos, mas existe um conjunto de princípios comuns sobre os quais assenta o combate identitário que não são passíveis de discussão porque são o seu corpo fundador, a raiz da sua visão de sociedade e mundo, e são esses princípios que unem numa luta comum os identitários. A ideia central que suporta e distingue o identitarismo é a ideia de nação, mas a nação encontrada no seu conceito original e essencialmente aí.
A palavra “nação” descende de “natio” que significa nascer, por sua vez descende do substantivo, em latim, "nationen" cujo significado é “raça” ou “casta”. Significado similar ao de “ta ethe”, em grego, cujo sentido servia para estabelecer uma distinção com os estrangeiros, e também por isso pressupunha uma componente cultural exclusiva. A utilização primeira da palavra “nação” na língua inglesa tinha um conteúdo semântico que designava um grupo de pessoas unidas por laços de sangue, a sua utilização para descrever um grupo de indivíduos habitantes de uma mesma região independentemente da conceitualização étnica assente na ascendência comum surgiu muito mais tarde. Desta forma surge uma distinção entre o conceito de Estado e o conceito de Nação. Esta distinção é clara para um identitário, separa-o aliás de outras correntes nacionalistas. É na lógica que vem da explicação anterior que um identitário compreende, para dar um exemplo, que o povo judeu constituísse uma nação mesmo sem ter terra, ou se preferirem, sem a existência do Estado de Israel.
O cerne do pensamento identitário está aqui, o identitário funda no primórdio do conceito de nação, na sua significância pura, na sua génese, limpa do desvirtuamento moderno, a base, o alicerce do seu nacionalismo. Que fique claro, o nacionalismo-identitário não esquece a raiz étnica que é o âmago da nação e o verdadeiro factor da sua continuidade e existência futura; ou seja, não sendo a identidade étnica a definir única e exclusivamente a nação, esta não existe, no entanto, sem essa identidade.
A compreensão disto leva automaticamente à compreensão de duas realidades que marcam o pensamento identitário português. Primeiro, ao percepcionar a nação no seu fundamento original, um identitário não pode olhar para o fim do Império como a perda de parte nuclear da nação, perdeu-se parte daquilo que era o Estado português, e pelo que referi atrás, Estado e Nação não significam o mesmo, visto que o primeiro é essencialmente um conceito político ou jurídico e o segundo antecede a esfera da lei. Não significa que se considere irrelevante ou indiferente a perda de parte do território português mas antes que a nação não deixou de existir ou fazer sentido por isso; na exacta medida em que o seu cerne se manteve intacto, o povo e espaço europeu original.
Segundo, compreende-se por que razão o movimento identitário tende a criar sinergias europeístas, é precisamente pelo facto dos povos europeus partilharem uma herança étnica, um legado civilizacional, terem enfrentado no passado lutas comuns (que dividiram a Europa na medida em que foram ganhas nuns lados e perdidas noutros), enfrentarem no presente problemas semelhantes e também pela consciência de que na actualidade a geopolítica implica da parte dos europeus uma partilha de posições em “áreas-chave” se quiserem enfrentar os problemas que se adivinham ou que já existem assumindo um papel próprio. Numa era em que o Mundo está cada vez mais dividido em grandes blocos espaciais, uma Europa de pequenas nações a remoer antagonismos e quezílias passadas não terá poder algum para se opor à hegemonia americana ou à ascensão chinesa, não só politicamente como economicamente, e todas as nações europeias sofrerão com isso.
É determinante, no entanto, ter plena consciência de que esta UE nada tem a ver com o ideal identitário, na medida em que não pugna pela preservação da identidade europeia, pela sua emancipação face a culturas estranhas à Europa, é centralizadora e não revela qualquer ambição de revitalização do espírito primordial europeu. Diria que é quase a negação do movimento identitário.
É preciso afirmar que a Europa identitária é uma Europa das nações e que pela realização particular das suas nações realiza-se enquanto realidade colectiva. E convém explicar o que se entende por isto. Em boa verdade, a Europa das pátrias ou das nações que o movimento identitário defende não é mais que a consequência lógica de um princípio fundamental do identitarismo: o principio da subsidariedade, que advoga a gestão localizada, descentralizada, dos problemas. A tomada de decisão é um processo que é delegado em instâncias superiores apenas quando houver incapacidade, impossibilidade ou desvantagem em ser empreendido ao nível da comunidade. Este princípio está correlacionado com a visão comunitária do identitarismo. Naturalmente a consequência lógica destes pressupostos implica o “Estado-Nação” como uma inevitabilidade, legítimo representante da comunidade nacional perante a “Europa-Potência”, uma comunidade (nação) que se quer organicamente coesa para que possa ser funcional e que por isso implica necessariamente uma identidade de estirpe, cultural, linguística, tradicional.
A descentralização de poderes e plena autonomia decisora das nações (e a uma outra escala no interior destas) no que concerne às suas culturas, tradições e mecanismos sociais específicos deve ser a base do funcionamento da Europa, passando para um nível supranacional a concertação ou união efectiva nas áreas que estejam relacionadas com “macro-realidades” políticas e económicas e que exijam inevitavelmente uma posição comum em ordem a beneficiar o espaço europeu como um todo, sejam por exemplo os casos de coordenação na investigação cientifica em áreas onde a detenção de patentes fora do sector privado possa trazer benefícios (como a saúde), uma agenda ecológica comum, o desenvolvimento de uma força militar (permitindo sair progressivamente da dependência americana/judaica), uma política de controlo de fronteiras intransigente e partilhada, a coordenação fiscal de forma a permitir uma concorrência justa intra-europeia atendendo às especificidades estruturais de cada economia, o estabelecimento de medidas de protecção comercial face ao exterior, etc.
Naturalmente essa Europa não pode permitir a concessão do direito de nacionalidade a cidadãos não europeus e deve funcionar como um bloco comercial tutelado, daí a necessidade de, como defende Maurice Allais (Nobel da economia em 1988), estabelecer um mercado de livre concorrência no espaço europeu mas protegido face aos mercados externos. Allais vai até mais longe e afirma peremptoriamente que a liberalização comercial só é possível, vantajosa e desejável num espaço regional de um grupo de países coordenados económica e politicamente, com economias razoavelmente próximas e nunca à escala mundial, como preconiza o modelo implementado desde os acordos do GATT e que tem sido ferramenta essencial na manutenção da hegemonia americana (e a uma escala menor inglesa) no mundo.
Portugal não terá de abdicar da defesa dos seus interesses específicos, caber-nos-á naturalmente um papel importante na ligação comercial e diplomática com a África lusófona mas estritamente nesses termos e nunca com vista a qualquer projecto de integração política ou social de qualquer tipo, exactamente o mesmo papel que caberá à França na relação com a África francófona. A Portugal, pela sua posição atlântica estratégica, caberá também um importante papel na ligação da Europa ao continente americano e muito em particular ao seu extremo sul onde vivem milhões de europeus que falam português, muitos dos quais de ascendência lusa. A existência de coordenação na política externa europeia não implica qualquer diminuição da nossa capacidade de intervenção nos mercados onde detemos vantagens naturais que não advenham de inaptidão própria, e essa só responsabiliza os próprios portugueses.
Nacionalistas porque compreendemos o substrato étnico fundador da nação, nacionalistas porque respeitamos a nossa história mas queremos assegurar o nosso futuro, nacionalistas porque procuramos o bem-estar dos portugueses (culturalmente, socialmente, economicamente), nacionalistas porque defendemos valores e instituições estruturantes de qualquer comunidade saudável, nacionalistas porque rejeitamos dogmas económicos, pretendendo colocar a economia ao serviço do homem e da comunidade e não o inverso. Nacionalistas porque compreendemos que a ideia de desenvolvimento pressupõe a expansão das capacidades humanas (um conceito desenvolvido por Amartya Sem - Nobel da economia em 1998) e não meramente o crescimento do PIB, indicador que aliás não considera o crescimento de desigualdades e a exclusão no seio das sociedades; nacionalistas porque procuramos a colaboração harmoniosa e a cooperação instintiva naturais nas sociedades unidas por um sentimento de cultura ancestral e ligação biológica como estudado na teoria sociológica de Ferdinand Tonnies (a sua gemeinschaft), que explica como as sociedades coesas pela unidade orgânica funcionam naturalmente de forma mais solidária. Identitários porque acreditamos que tudo isto é hoje realizável pela lógica, inevitável e desejável cooperação entre os povos da Europa sem abdicarem da sua especificidade.

Eu sou um genuíno libertário

por A-24, em 29.05.14
Eu sou um libertário. Não sou afiliado a nenhum partido político. Não sou progressista nem conservador. Não sou de esquerda nem de direita. Não sou moderado nem radical. Não sou um fusionista. Não estou aberto a concessões.
Sou um libertário puro e inflexível. Para mim, há apenas uma única forma de libertarianismo: aquela que se baseia única e exclusivamente no Princípio da Não-Agressão. Isso significa que, para um genuíno libertário, a lei deveria proibir a iniciação de violência contra pessoas inocentes (tanto as que não cometeram crimes quanto as que querem apenas empreender) e contra sua propriedade. Ponto. O libertarianismo é apenas isso e nada mais do que isso. Não há nada mais no libertarianismo do que as implicações desse axioma básico — o que já é muita coisa.
Por que estou dizendo isso? Porque, de uns tempos para cá, tem havido algumas tentativas, tanto da esquerda quanto da direita, de sequestrar o movimento libertário.
A esquerda vem tentando sequestrar o movimento libertário acrescentando ao Princípio da Não-Agressão sua típica agenda progressista. Daí surgem bizarrices como dizer que um libertário tem de ser publicamente contrário ao patriarcalismo, ao machismo, a uma hierarquia de poderes dentro das famílias, à homofobia, ao racismo, ao preconceito, ao brutalismo etc.
Outros vão ainda mais longe e dizem que um libertário deve ser abertamente feminista, pró-movimento gay, e deve fazer apologia de movimentos contra-culturais e ser adepto de estilos de vida alternativos. Alguns chamam isso de libertarianismo humanitário, outros de libertarianismo denso (porque engloba várias características), e ainda há aqueles que chamam isso de "Novo Libertarianismo".
O que essas pessoas não entendem é que ser libertário significa única e exclusivamente se opor à iniciação de agressão contra inocentes. Ponto. É só isso e nada mais do que isso. É perfeitamente possível você ser um racista nojento, ter total aversão a gays e ainda assim ser libertário: basta você guardar para si sua visão de mundo e não implantá-la sobre terceiros. Você pode ser totalmente contra a prática do homossexualismo e totalmente avesso a qualquer ideia feminista; o que você não pode fazer é iniciar agressão contra essas pessoas. Aja assim e você será um libertário.

Quão difícil é entender isso?
Mas o problema não vem apenas da esquerda. Uma tentativa de guinar o libertarianismo para a direita também vem ocorrendo de maneira igualmente intensa. Há alguns direitistas que, assim como os esquerdistas, também querem criar sua própria forma de "libertarianismo denso", exortando libertários a aceitar ideias conservadoras.
Daí a necessidade de fazer estes esclarecimentos.
Sou um libertário. Não sou um libertário "denso" nem "diluído". Não sou brutalista nem humanista. Não sou holista ou solipsista. Não sou moralista nem consequencialista. Não sou aberto nem fechado. Não sou um libertário modal, nem cosmopolita, nem cultural, nem sofisticado. Tampouco sou um "libertário de bom coração". Não sou neo, nem milenar, nem de segunda onda. Sou simplesmente um libertário, do tipo que não precisa de rótulos, não cria advertências, não faz concessões e nem pede desculpas.
Sou libertário. O libertarianismo é uma filosofia política que se preocupa exclusivamente com o uso da coerção e da violência. Não se trata de uma filosofia política que diz que o melhor tipo de governo é um governo limitado. Não se trata de uma filosofia política socialmente liberal e economicamente conservadora. Não se trata de uma filosofia política que diz que o governo é menos eficiente do que o setor privado. Não se trata de uma filosofia política que diz que a liberdade pode ser alcançada por meio da promoção de determinadas políticas governamentais em detrimento de outras. Não se trata de uma filosofia política que advoga um "liberalismo com impostos baixos".
O libertarianismo não é a ausência de racismo, de machismo, de homofobia, de xenofobia, de nacionalismo, de nativismo, de classismo, de autoritarismo, de patriarcado, de desigualdade ou de hierarquia. Libertarianismo não é diversidade ou ativismo. Libertarianismo não é igualitarismo. Libertarianismo não é tolerância ou respeito. Libertarianismo não é uma atitude social, estilo de vida, ou sensibilidade estética.
Eu sou um libertário. Sou seguidor do Princípio da Não-Agressão, o qual diz que o único papel adequado para a violência é o de defender o indivíduo e a propriedade contra agressões, e que qualquer uso da violência que vá além de tal defesa é em si mesma agressiva, injusta e criminosa. O libertarianismo, portanto, é uma teoria que afirma que todos devem estar imunes a agressões e que devem ser livres para fazer o que lhes aprouver, desde que isso não signifique agredir a pessoa ou a propriedade de outro.
Meu interesse é nas ações; não estou preocupado com os pensamentos. Estou interessado apenas nas consequências negativas de pensamentos. Acredito que o Princípio da Não-Agressão tem de ser estendido ao governo. Os libertários devem, portanto, se opor à — ou tentar limitar ao máximo a — intromissão dos governos tanto em nível doméstico quanto internacional, pois os governos são os maiores violadores do Princípio da Não-Agressão.
Eu sou um libertário. Acredito na regra de ouro. Acredito na filosofia do "viva e deixe viver". Acredito que uma pessoa deve ser livre para fazer o que quiser, desde que sua conduta seja pacífica. Acredito que os vícios não são crimes.
Eu sou um libertário. Nosso inimigo é o estado. Nossos inimigos não são a religião, as corporações, as instituições, as fundações ou as organizações. Elas só têm hoje o poder de nos fazer mal por causa de sua ligação com o estado. Retire os subsídios, as medidas protecionistas, e as regulações que as protegem da concorrência, e elas rapidamente passarão a ser inócuas. Mais ainda: serão inteiramente subserviente a nós consumidores.
Eu sou um libertário. Acredito no laissez- faire. Qualquer indivíduo deve ser livre para incorrer em qualquer atividade econômica, sem licença, permissão, proibição ou interferência do estado. O governo não deve intervir na economia de nenhuma forma. Acordos de livre comércio, vouchers educacionais e a privatização da Previdência Social não são de forma alguma ideias libertárias.
Eu sou um libertário. O único governo bom é aquele que não existe. O segundo melhor governo é aquele que menos governa. Como disse Voltaire, governo, em seu melhor estado, é um mal necessário e, no seu pior estado, é intolerável. A melhor coisa que qualquer governo poderia fazer seria simplesmente nos deixar em paz.

Eu sou um libertário. Imposto é roubo praticado pelo governo. O governo não tem direito a uma determinada porcentagem da renda de ninguém. O código tributário não tem de ser simplificado nem reduzido, e não precisa ser mais justo ou menos intrusivo. As alíquotas de imposto não têm de ser nem diminuídas, nem igualadas e nem se tornar menos graduais. O imposto de renda não precisa de mais e maiores deduções, e nem de lacunas, abrigos, créditos ou isenções. Todo esse podre tem de ser abolido. As pessoas têm o direito de manter para si tudo o que ganharam e decidir por si mesmas o que fazer com seu dinheiro: gastá-lo, desperdiçá-lo, torrá-lo, doá-lo, legá-lo, guardá-lo, investi-lo, queimá-lo, apostá-lo.
Eu sou um libertário. Não sou um libertino. Não sou um hedonista. Não sou um relativista moral. Não sou devoto de algum estilo de vida alternativo. Não sou um revolucionário. Não sou um niilista. E não desejo me associar a ninguém que tenha essas características; mas também não desejo agredir aqueles que têm. Acredito na liberdade absoluta de associação e discriminação.

Eu sou um libertário.

Espero não haver mais dúvidas.

Instit. Ludwig Von Mises

Por que a democracia precisa de aristocracia

por A-24, em 19.04.14
Instituto Ludwig Von Mises

Nada é mais banal e clichê do que vituperar contra a noção de individualismo, e caluniá-la como sendo algo inerentemente pecaminoso e moralmente errado. O "si próprio" passou a ser visto como um repositório de vergonha viva, culpa, ganância e atitudes anti-sociais.
É essa moderna e deturpada noção de "individual" que fez com que os problemas maciços enfrentados por todas as democracias ocidentais deixassem de ser fundamentalmente políticos e se tornassem majoritariamente filosóficos.
Se as modernas democracias ocidentais quiserem sobreviver, elas terão de incorporar aquilo que sempre consideraram ser seu completo oposto: características aristocráticas (a visão de longo prazo). E o termo "aristocrático" é aqui utilizado não no sentido de baronatos, linhagens e fortificações muradas, mas sim em seu original sentido filosófico, o qual foi muito bem resumido por ninguém menos que o poeta Lord Tennyson como significando "auto-respeito, auto-suficiência e auto-perpetuação".
Atualmente, a premissa básica do capitalismo foi revertida: os fins passaram a ser a coletividade, e a redistribuição passou a ser uma ética suprema, mais importante do que a proteção aos meios fundamentais de produção, que são o indivíduo, sua mente e sua capacidade. O igualitário se tornou o objetivo a ser almejado ao passo que o aristocrático -- os tradicionais padrões éticos e morais, o planejamento de longo prazo e a perpetuação da geração -- se tornou objeto de desprezo.

O que é a Hegemonia Cultural?

por A-24, em 16.04.14
Via Marxismo-Cultural

O significado de hegemonia cultural parece estar relacionado com a expressão "domínio cultural", mas esse termo pode ser melhor entendido como imperialismo cultural visto que desta forma o significado se torna mais claro. No sistema de Gramsci, a hegemonia cultural tem o entendimento de lavagem cerebral, e ela obteve uma má publicidade quando eram os Soviéticos e os Chineses a fazê-la. Agora que ela está a ser feita a nós, o termo já não é mais usado. O imperialismo cultural/hegemonia cultural descreve, por exemplo, a forma como a BBC, e os média no geral (bem como a indústria educacional) têm usado a lavagem cerebral para destruir a civilização; definir as palavras que podem ou não ser usadas faz parte disso. A Wikipedia diz:

A hegemonia cultural é um conceito cunhado pelo filósofo [ed: melhor dizendo, subvertor] Marxista Antonio Gramsci. Ele significa que uma cultura diversa pode ser governada ou dominada por um grupo ou ....
Basicamente, isto faz parte da parcela do imperialismo Cultural e do Genocídio Cultural.

A Teoria da Hegemonia Cultural de Gramsci

A análise da hegemonia (ou do "governo") foi formulada por Antonio Gramsci para explicar o porquê das revoluções previstas pelos Comunistas não se terem verificado onde se esperava que elas ocorressem, isto é, na Europa industrializada. Marx e os seus seguidores haviam avançado com a teoria de que a ascenção do capitalismo industrial haveria de criar uma enorme classe operária e gerar recessões económicas cíclicas.
Estas recessões bem como outras contradições dentro do capitalismo levariam a que a esmagadora maioria das pessoas e dos operários desenvolvessem organizações de auto-defesa, incluindo sindicatos de trabalho e partidos políticos.
Outras recessões e contradições levariam então a que a classe operária derrubasse o capitalismo através duma revolução, reestruturasse as instituições económicas, politicas e sociais segundo modelos socialistas, dando assim início à transição rumo a uma eventual sociedade comunista.
Embora Marx e Engels tenham de um modo notório previsto este cenário escatológico em 1848, décadas mais tarde os operários do mundo industrializado não tinham ainda levado a cabo a sua missão. Gramsci alegou que o falhanço por parte dos operários de levar a cabo uma revolução anti-capitalista centrava-se na bem sucedida captura da ideologia, do auto-entendimento e das organizações dos trabalhadores por parte da cultura hegemónica (dominante), isto é, a perspectiva da classe dominante havia sido absorvida pelas massas de operários.
Nas sociedades industriais "avançadas", as inovações culturais hegemónicas tais como a escolaridade obrigatória, os meios de comunicação, bem como a cultura popular, haviam indoutrinado os operários com uma falsa consciência. Em vez de batalharem rumo à revolução que verdadeiramente iria servir os seus interesses colectivos, os operários das sociedades "avançadas" prestavam atenção à retórica dos líderes nacionalistas, buscavam oportunidades de consumo e estatuto de classe média, abraçando uma ethosindividualista de sucesso atraves da competição, e/ou a aceitar a orientação dos líderes religiosos burgueses.
Devido a isto, Gramsci apelou para uma distinção estratégica entre a "guerra de posição" e "guerra de movimento". A guerra de posição é uma guerra cultural onde os elementos anti-capitalistas buscam formas de obter uma voz dominante nos meios de comunicação em massa, nas organizações em massa, e nas instituições educacionais, como forma de aumentar a sua consciência de classe, ensinar a análise e a teoria revolucionária, e inspirar as organizações revolucionárias. Depois do sucesso da guerra de posição, os líderes comunistas ficariam então fortalecidos para dar início à guerra de movimento - a real insurreição contra o capitalismo - com o apoio das massas.
Embora a análise da dominação cultural tenha sido primeiramente avançada em termos de classes económicas, ela pode ser aplicada de um modo mais geral. A análise de Gramsci sugeria que as normas culturais dominantes não deveriam ser vistas como "naturais" ou "inevitáveis". Em vez disso, as normais culturais, incluindo as instituições, as prácticas e as crenças - deveriam ser investigadas [ed: desconstruídas] em busca das suas raízes de dominação e da sua aplicação para a emancipação.
Gramsci não afirmou que a hegemonia era monolítica ou unificada. Em vez disso, a hegemonia foi descrita como uma camada complexa de estruturas sociais. Cada uma destas estruturas têm a sua "missão" e cada uma destas estruturas tem a sua lógica interna que permite que os seus membros actuem de um modo distinto do comportamento levado a cabo pelos membros de outras estruturas. No entanto, e tal como um exército, cada uma destas estruturas assume a existência de outras estruturas e por virtude das suas missões distintas, cada uma é capaz de amalgamar e produzir uma estrutura que tem uma missão mais global.
Esta missão mais alargada normalmente não é exactamente a mesma da missão de cada um dos grupos mais pequenos, mas ela assume-as e subsume-as. A hegemonia opera do mesmo modo. Cada pessoa vive a sua vida de uma forma que é significativa nos seus próprios ambientes, e, para esta pessoa, as partes distintas da sociedade parecem não ter muito em comum com ela. Mas se analisarmos as coisas como um todo, cada vida individual contribui também para a hegemonia mais alargada da sociedade.
A diversidade, a variação e o livre arbítrio parecem existir visto que a maior parte das pessoas observa o que elas acreditam ser uma pletora de circunstâncias distintas, mas elas falham ao não se aperceberem do padrão mais alargado de hegemonia criado a partir da união destas circunstâncias. Através da existência de pequenas e distintas circunstâncias, uma hegemonia em camadas é mantida sem ser reconhecida pelas muitas pessoas que vivem nela. (Ver: Cadernos do Cárcere, págs. 233-38.)

Em tal hegemonia, o senso comum individual, que está fragmentado, é eficiente para ajudar as pessoas a lidar com as pequenas e mundanas actividades do dia a dia. Mas o senso comum inibe também a sua habilidade de se aperceber da mais alargada natureza sistémica da exploração e da hegemonia. As pessoa focam-se nas preocupações e nos problemas imediatos em vez de se focarem nas fontes mais fundamentais da opressão social (...).


A influência de Gramsci

Embora os esquerdistas tenham sido os utilizadores primários desta arma conceptual, as actividades dos movimentos conservadores organizados também se baseiam em tal conceito. Isto foi visto, por exemplo, nos esforços levados a cabo pelos Cristãos evangélicos para obter o poder dentro dos conselhos escolares durante os anos 90, e, como tal, para poderem determinar o currículo. Patrick Buchanan, num discurso amplamente, falado dado em 1992 numa Convenção do Partido Republicano, usou o termo "guerra cultural" para descrever a luta social e política a ocorrer nos Estados Unidos.
A teoria em torno da hegemonia cultural afectou profundamente o Eurocomunismo, as ciências sociais e as estratégias dos activistas. Na ciência social a aplicação do conceito da hegemonia na análise dos tratados mais importantes (tais como os de Michel Foucault) tornou-se aspecto importante da sociologia, da ciência política, da antropologia, bem como de outros estudos culturais. Na educação o conceito da hegemonia levou ao desenvolvimento da "Pedagogia Critica".