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A-24

A pobreza na União Europeia

por A-24, em 10.12.14
João Nobre


Informa-nos o Inequality Watch que, segundo dados referentes a 2010, cerca de 16,4% da população da União Europeia (UE) é, neste momento, pobre. Isto perfaz um total de 80 milhões de cidadãos europeus. As mulheres são as maiores vítimas de toda esta miséria: 17,1% são pobres, contra uma taxa de 15,7% para os homens, e 20,2% das crianças da UE com menos de 16 anos de idade vivem numa situação de pobreza.


Por norma, estas crianças são oriundas de famílias que vivem com graves dificuldades financeiras e a sua mobilidade social no sentido positivo é relativamente baixa. Uma criança que nasce numa família pobre, muito dificilmente irá ter acesso à educação de qualidade de que beneficiam os meninos e meninas oriundos dos meios mais privilegiados. Uma criança que nasce pobre, na UE, provavelmente irá morrer pobre: 21,6% dos jovens da UE entre os 16 e os 24 anos são pobres.
A situação é alarmante se tivermos em conta que nos últimos anos aumentou drasticamente o número de jovens desempregados e precários. Nada nas atuais políticas europeias aponta para uma mudança ou inversão da situação, pelo contrário. Tudo indica que a situação irá piorar consideravelmente, sendo provável que termine em graves conflitos sociais e violência ou guerra civil generalizada, a continuar a atual tendência.
14,8% dos "cidadãos" da UE entre os 25 e os 49 anos são pobres e 13,5% daqueles que têm entre os 50 e os 64 anos são pobres também. Os idosos sofrem mais: 15,9% são pobres. Destes, muitos têm de optar entre comprar a comida ou os medicamentos, outros não têm dinheiro para adquirir praticamente nada e por isso limitam-se a sobreviver à custa da caridade e engrossando as filas da "sopa dos pobres" ou "sopa da humilhação" como lhe deviam chamar...
Extremamente preocupante e grave é a situação das assim chamadas famílias monoparentais na UE. Destas, um total de 36,9% são pobres e 26% das famílias tradicionais com três ou mais filhos são pobres, assim como também são pobres 25% dos cidadãos que habitam sozinhos. Já 14,9% das famílias tradicionais com dois filhos são pobres e 11,3% dos casais sem filhos são pobres. Face a esta situação calamitosa, não é minimamente de surpreender que os cidadãos da "poderosa" UE tenham cada vez menos ou nenhuns filhos. A Europa está a morrer de velha, mas parece que poucos se preocupam seriamente com isso.
A pobreza é, por definição, uma besta humilhante. Ora, tal humilhação até se afigurava suportável se existissem razões e justificações para tal, coisa que não acontece de forma alguma. O que acontece, ao invés, é que a UE está literalmente sequestrada por uma elite que vive na alta luxúria e que não é capaz de "ver um palmo diante do nariz". (...)

O ar da Rússia cura a homossexualidade

por A-24, em 25.11.14
Não é só a democracia que está em regressão no mundo: é também a verdade, como se vê na Rússia de Putin.

Há uns anos que o actor Gérard Dépardieu faz parte, com o espião americano Edward Snowden, da pequena colecção de refugiados ocidentais reunida por Putin. Numas memórias recentes (Ça c’est fait comme ça), Depardieu descreveu a sua homossexualidade juvenil. O pormenor inspirou logo ao deputado Vitaly Milonov a tese de que terá sido o ar russo a “purificar” Depardieu de todos os vestígios de uma homossexualidade causada pela atmosfera de corrupção moral no Ocidente. Em qualquer lugar a oeste da Crimeia, Milonov nunca teria saído da franja alucinada das caixas de comentários anónimos. Na Rússia de Putin, é uma das estrelas da Rússia Unida, o maior partido russo e a base eleitoral do presidente. Foi ele, em 2012, com o apoio da igreja ortodoxa, quem promoveu a lei contra “propaganda homossexual” em São Petersburgo. Há dias, exigiu que o CEO da Apple fosse proibido de entrar na Rússia por ser gay confesso. Aparentemente, não o incomoda privar Tim Cook dos efeitos terapêuticos do ar russo.
Estes episódios são importantes para colocar na devida perspectiva a invasão russa do leste da Ucrânia, agora acompanhada por violações frequentes do espaço aéreo e marítimo ocidental. É porque está muito mais em causa do que as fronteiras europeias.
A nova tensão leste-oeste podia servir apenas para recordar que os governos russos não se conformam com a perda do império soviético. Mas à Rússia de Putin não basta ter um conflito de interesses com o Ocidente. O regime sente necessidade de mais: de se separar filosoficamente, moralmente dos ocidentais. Não voltou ao marxismo-leninismo (embora tenha reactivado várias lendas da propaganda soviética, como no caso do pacto entre Hitler e Estaline), mas não hesita em recorrer ao muro de homofobia com que muitos Estados procuram hoje diferenciar-se do Ocidente e barrar a sua influência.

Putin pôs a Rússia, como nos tempos soviéticos, a viver num universo paralelo, feito de mentiras e teorias da conspiração. Há uns meses, Mark Adomanis escreveu sobre a sua estranha experiência em Moscovo: mesmo gente instruída e sofisticada lhe repetia teorias que, num país como os EUA, os marcariam como lunáticos. O voo MH17? Obviamente abatido pela Nato. O atentado de 11 de Setembro? Claramente organizado pela maçonaria. A alternativa russa à Wikipedia, encomendada por Putin, será talvez o repositório completo desse mundo alternativo, onde nunca a Rússia interferiu na Ucrânia.
Dir-me-ão: todos mentem, lembre-se da invasão do Iraque. Há diferenças: uma América revista por Putin continuaria até hoje a negar que alguma vez tivesse invadido o Iraque em 2003, ou teria obviamente “encontrado” as armas de destruição maciça. Porque Putin não se limita a omitir ou a manipular. Mente sem limites, como só pode mentir um ditador plebiscitário que há quinze anos controla a administração, a justiça, a economia e a imprensa do seu país, perseguindo a oposição e a crítica. Um presidente americano está sujeito a escrutínio e a contraditório. Putin, não. Por exemplo: a população russa não quer tropas na Ucrânia. Ora, no mundo de Putin, isso não é problema, porque não há tropas russas na Ucrânia.

A Rússia é uma potência decadente, demográfica e economicamente. Isso, porém, pode apenas tornar o regime de Putin ainda mais dependente das audácias externas que lhe dão glória e justificam, em nome da defesa da Rússia, as suas brutalidades domésticas. A Rússia de Putin continuará assim, muito provavelmente, a dar para todos os peditórios anti-ocidentais e a ajudar de todas as maneiras a reverter a vaga de democracia da década de 1980. Para aqueles, do PCP em Portugal à Frente Nacional em França, que nunca se conformaram com o consenso democrático e liberal, Putin é hoje uma figura de culto. Tal como Putin, também eles sabem que a subversão da democracia começa na negação da verdade, na recusa da realidade, na denúncia do mundo como o produto de uma conspiração judaico-capitalista-homossexual-americana. Quando confrontou Vitaly Milonov durante uma reportagem em São Petersburgo, Stephen Fry disse-lhe na cara: “o senhor vive num mundo de fantasia”. Mas esse mundo de fantasia alastra à nossa volta.

Esterilizações forçadas continuam na Índia, depois da morte de 14 mulheres

por A-24, em 21.11.14
Médico responsável pelas operações foi detido, mas acusa a administração regional. “Trataram-nas como gado”, dizem familiares das vítimas.


Os serviços de Saúde do estado indiano de Chhattisgarh continuam a contabilizar as mortes de mulheres que foram submetidas a esterilizações forçadas no último fim-de-semana e há já uma nova vítima de um segundo campo na mesma região.
Foram realizadas cerca de 30 intervenções em apenas uma hora num recinto clínico organizado especificamente para o efeito na última segunda-feira, segundo o jornal The Guardian, que cita órgãos de comunicação locais. Para além da morte de uma mulher há mais 20 que foram hospitalizadas, de acordo com o Hindustan Times.
O número de vítimas que morreram na sequência de operações em massa realizadas no sábado ascendeu a 14, segundo as autoridades de Saúde estaduais. Várias dezenas de mulheres continuam internadas e é previsível que o número de mortes possa subir.
As complicações surgiram pouco tempo depois de 83 mulheres terem sido sujeitas a esterilizações num campo organizado pelo governo estadual, no âmbito das políticas de controlo de natalidade indianas. O mesmo médico terá operado todas as mulheres em apenas cinco horas, segundo os jornais locais.
As autoridades sanitárias de Chhattisgarh (um estado no centro do país) prometeram levar a cabo uma investigação e anunciaram esta quinta-feira a detenção de R. K. Gupta, o médico que operou as mulheres.
Gupta negou qualquer responsabilidade pelas mortes, dizendo estar a ser apenas “um bode expiatório”. “Não apenas eu, mas toda a administração regional é responsável pelas mortes”, disse o médico, citado pelo jornal India Today, que apontou para os “remédios de pouca qualidade” prescritos às mulheres após a operação como a razão para as complicações apresentadas.
À Reuters Gupta afirmou ser uma “obrigação moral” operar as mulheres. “Se eles puseram 83 mulheres naquele local, é a minha obrigação moral operá-las a todas. Se eu recusasse, teria de enfrentar a agitação pública”, argumentou o médico, que garantiu já ter realizado 50 mil intervenções do género na sua carreira.
A polícia descreveu as más condições do local onde as mulheres foram operadas, em que havia cães a passar e teias de aranha penduradas no tecto. Ao ritmo a que as operações foram feitas, cada uma terá demorado cerca de dois minutos, provavelmente nem possibilitando a troca de lençóis ou instrumentos – especialistas garantem que para ser bem sucedida cada intervenção terá de durar pelo menos 15 minutos.
As famílias das vítimas estão chocadas com a forma como as mulheres foram tratadas e descrevem mortes após um “sofrimento tremendo”. “Disseram que nada lhes iria acontecer, que era uma pequena intervenção”, contou ao Indian Express Mahesh Suryavanshi, cunhado de uma das vítimas. “Trataram-nas como gado.”

Excessos governamentais
Estima-se que tenham morrido 1434 mulheres na sequência destes procedimentos entre 2003 e 2012, segundo dados das discussões parlamentares citados pelo Hindustan Times, o equivalente a 12 mortes por mês. O jornal adverte, contudo, que os números reais devem ser mais elevados.
Estas notícias revelam os abusos das políticas de controlo populacional que vários estados indianos têm levado a cabo nos últimos anos. O segundo país mais populoso do planeta (1270 milhões de habitantes) pode tornar-se o primeiro em 2030, segundo cálculos das Nações Unidas.
O controlo demográfico tornou-se uma das prioridades de sucessivos governos na Índia – o primeiro país a aplicar um programa nacional de planeamento familiar, nos anos 1970. Num primeiro momento, o Governo de Indira Gandhi organizou um processo de esterilização maciça que abrangeu 10 milhões de pessoas, na sua maioria homens.
Numa sociedade fortemente patriarcal, as esterilizações masculinas despertaram fúria generalizada, ancorada na crença de que os procedimentos retiravam a virilidade aos homens. Os programas passaram, desde então, a concentrar-se quase em exclusivo nas mulheres. Calcula-se que cerca de 37% de todas as indianas casadas tenham sido operadas, face a pouco mais de 2% dos homens. Só em 2012 foram esterilizadas 4,6 milhões de mulheres, segundo os dados oficiais do Governo.
Para cada estado é fixada uma meta anual de esterilizações que deve ser alcançada pelas autoridades de Saúde. O estado de Chhattisgarh (com 24,6 milhões de habitantes), por exemplo, tem de atingir as 180 mil até ao fim do ano. Os responsáveis de Saúde recebem compensações monetárias e são fortemente pressionados a atingir as metas. Às famílias são oferecidas compensações avultadas, muito acima do rendimento médio, tornando ainda mais vulneráveis as mulheres mais pobres. No caso de Chhattisgarh, os familiares receberam 1400 rupias (18 euros), o equivalente a duas semanas de salário.
Organizações como a Human Rights Watch criticam a postura do Governo indiano, “que conta o número de esterilizações como medida do ‘progresso’ sem olhar às circunstâncias”. “É necessária uma reforma total dos programas de planeamento familiar e as abordagens baseadas em metas devem ser eliminadas”, recomenda.

Há 35,8 milhões de escravos em todo o mundo

por A-24, em 20.11.14
Com as mesmas estimativas de 2013, Portugal ocupa o décimo lugar entre 167 dos países com menor índice de escravatura, e é o 11º entre os europeus. O Brasil é um dos países elogiados pelo combate ao trabalho forçado e escravo no Índice Global da Escravatura 2014.



Depois de no ano passado ter estimado a existência de 29 milhões de escravos modernos em todo o mundo, o Índice Global da Escravatura 2014 apresentou esta segunda-feira novas estatísticas: são 35, 8 milhões.

Os novos números representam uma subida de 20% em relação ao primeiro relatório de sempre sobre a escravatura, divulgado em 2013, mas não indicam, porém, uma subida do número de escravos, sublinha a Walk Free Foundation, uma instituição que luta pela erradicação da escravatura, e autora do relatório. Esta “subida” deve-se a uma melhoria na precisão e no rigor da metodologia usada e no facto de estarem agora a ser revelados casos de escravatura moderna em locais onde estava escondida. O índice de 2014 inclui mais cinco países do que o anterior: Taiwan, Sudão do Sul, Coreia do Norte, Kosovo e Chipre. 
O termo escravatura moderna é usado de diferentes maneiras em diferentes países, e é inclusivamente alvo de debates. Para o relatório, escravatura moderna implica o controlo ou posse de uma pessoa, retirando-lhe a sua liberdade individual, com intenção de a explorar. Inclui tráfico de pessoas e trabalho forçado. 
Com os mesmos dados do ano passado, 1400 escravos, Portugal ocupa o décimo lugar entre 167 dos países com menor índice de escravatura, e é o 11º da Europa. Cinco países - Índia, China, Paquistão, Uzbequistão e Rússia - concentram 61% do total de escravos estimados. O pior país em termos de prevalência da escravatura é, como em 2013, a Mauritânia, com 4% da população em situação de escravatura, mas em termos absolutos é a Índia que bate os recordes com 14,3 milhões estimados. O Uzbequistão vem a seguir à Mauritânia, algo que se deve a uma imposição de trabalho forçado do próprio governo na apanha de algodão, e que está documentado por várias organizações, dizem no relatório. 
O Qatar foi um dos países que “subiu” no ranking entrando no top ten dos países com maiores índices de escravatura: tem agora 1,4% da população em situação de escravatura (e os autores acham que esta é uma estimativa conservadora). A presença no top ten do Paquistão, República Democrática do Congo, Sudão, Síria e República Centro Africana é um reflexo do impacto da guerra na escravatura moderna, interpreta a Walk Free. 

Já em relação à Mauritânia, a escravatura é algo difícil de erradicar porque está integrada na sociedade e é perpetuada pela tradição, passa de geração em geração e faz parte do sistema social, escrevem.

Meio milhão na Europa
Apesar de ser a região do globo com o menor índice de escravatura, 1,6%, a Europa continua a ter mais de meio milhão de escravos entre as suas fronteiras - a maioria é para exploração laboral e sexual. Islândia, Irlanda e Luxemburgo são os países europeus com menor incidência de escravatura na Europa, enquanto a Bulgária, República Checa e Hungria têm os níveis mais altos. A Turquia tem, porém, o número absoluto mais alto, com mais de 185 mil.
O tráfico de seres humanos para a indústria da cannabis na Irlanda e a mendicidade forçada em França são alguns dos casos mais recentes. Cerca de 65% das vítimas de tráfico serão cidadãos da União Europeia, 70% das vítimas identificadas serão para exploração sexual e 19% para exploração laboral. Continuam a existir situações de servidão doméstica de cidadãos não-europeus nas casas de pessoal diplomático, escrevem.
Uma das novidades do Índice deste ano é medir as respostas dos governos à escravatura e a taxa de vulnerabilidade da população em cada país relativamente ao problema. 
Em relação à resposta governamental, Portugal está em 23º lugar no rankingdos 167 países e em 17º no dos 37 países europeus. Já no índice de vulnerabilidade está no 150º e em 24º no europeu (neste caso, quando mais alta a posição, melhor). Para medir as respostas governamentais ao problema foram usados cinco factores que devem estar incluídos na luta contra a erradicação da escravatura, de acordo com a Walk Free: identificação e apoio a vítimas, mecanismos de justiça criminal adequados, coordenação e responsabilização do governo central, combate às atitudes, sistemas sociais e instituições que facilitam a escravatura, e subcontratação. 
O Brasil, que neste índice aparece em melhor posição do que Portugal ocupando o 14º lugar, é um dos países elogiados pelo relatório como um dos três que está a fazer um esforço para prevenir o recurso ao trabalho forçado e escravo nas cadeias de produção, ao lado dos Estados Unidos e Austrália. Estes países fizeram um compromisso público de combate à escravatura moderna nas suas cadeias de produção, como a Austrália, ou tomaram passos decisivos para garantir transparência como a criação da lista negra de empresas no Brasil em que são publicados os nomes das empresas que lucraram com trabalho forçado, escreve a Walk Free. 
Quanto à vulnerabilidade da população à escravatura, ela baseia-se em cinco factores: as políticas de combate à escravatura moderna, as protecções dadas por direitos humanos, o nível de desenvolvimento económico e social, o nível de estabilidade estatal e a extensão dos direitos das mulheres e de níveis de discriminação. 

O problema asiático
Tal como no ano passado, este índice de 2014 mostra que quase dois terços da população escravizada está na região da Ásia-Pacífico. Trabalho forçado, tráfico para exploração sexual e casamentos forçados são as formas que a escravatura assume, e em países como a Índia e Paquistão a população, por vezes famílias inteiras, são escravizadas através de trabalho escravo na construção, agricultura, produção de tijolos, etc. 
Nesta região, a Índia, Paquistão e Tailândia representam quase 50% do total da população mundial escravizada e isto “é um reflexo do facto de muitos dos países no sudeste asiático terem a mão de obra desqualificada que fornece a cadeia de produção de várias indústrias, da comida à tecnologia”. 
“Há a ideia de que a escravatura é uma coisa de uma era passada. Ou que só existe em países afectados pela guerra ou pela pobreza. Estes dados mostram que a escravatura moderna existe em todos os países” , afirma Andrew Forrest, o fundador da Walk Free, citado no comunicado de imprensa do relatório.

Relatos de uma sociedade "moderna" e decadente

por A-24, em 19.11.14
Sol


Um grupo de suecos levou a cabo uma experiência sociológica, para mostrar como reagem as pessoas perante uma situação de violência. E o resultado é surpreendente.
Em 53 pessoas apenas uma disse alguma coisa
Um casal simula uma discussão e o namorado chega mesmo a empurrar a cabeça da namorada contra a parede do elevador, enquanto outros assistem a tudo sem fazer nada. Há até quem baixe a cabeça, como se vê no vídeo publicado pelo grupo sueco STHLM Panda no YouTube.
Em 53 pessoas que andaram no elevador e observaram a cena de violência, apenas uma disse alguma coisa.
“Se lhe volta a tocar eu chamo a polícia”, disse uma mulher. O falso casal obedeceu imediatamente e foi então que explicaram de que se tratava duma experiência social.
E se fosse no seu elevador, o que faria?

A sociedade solidária que Abril pariu

por A-24, em 07.11.14
Lura do Grilo

Crianças maltratadas pelos pais (daí a tal "fome" que as escolas reportam)
Pais e mães separados a disputar os filhos
Violência de morte entre "casais".

Curiosamente, na última disfuncionalidade, a maioria dos casos mencionados são "companheiras" ou seja relações precárias de vão de escada.
Coisas que os tempos levaram a encarar como uma brincadeira (o casamento é apenas "um papel") e uma brincadeira que está a acabar mal.
Daí a pergunta, perante muitas testemunhas e outra ainda maior que todas elas, para ganhar o "papelito" no altar : "Decerto pensou bem no acto que vai realizar. Diga-me pois ...."

O dilema da igreja católica

por A-24, em 29.10.14
Rui Ramos


Para compreendermos o problema do sínodo, vale a pena descrevê-lo de uma maneira geral: deve a igreja admitir situações e opções que até agora repreendeu, mas hoje são socialmente aceites?
Do sínodo dos bispos, a imprensa retirou a ideia mais jeitosa: “divisões profundas na hierarquia da igreja”. Pouca gente escapou ao guião que manda ler os debates segundo a velha incompatibilidade entre “progressistas” e “conservadores”, ou entre “europeus” e “norte-americanos”. Ora, para compreendermos o problema do sínodo, vale a pena ignorarmos as matérias que em concreto o inspiraram, e descrevê-lo de uma maneira geral: deve a igreja admitir situações e opções (sejam elas quais forem) que até agora repreendeu, mas hoje são socialmente aceites? Posta assim, é possível sugerir que a questão não resulta apenas do mero prolongamento, igreja adentro, dos confrontos ideológicos ou contrastes geográficos do mundo profano, mas tem a ver com a própria ideia de igreja.
O dilema da igreja católica é que não foi concebida para ser uma parte, mas o todo. A sua vocação não é ser uma seita entre outras, mas toda a sociedade organizada religiosamente. Há correntes religiosas que não aspiram a incluir toda a gente, mas apenas os “eleitos”. Por isso, jamais admitiriam rever ensinamentos e atitudes apenas para acomodar quem não subscreve a colecção completa dos dogmas. A igreja católica é diferente. Não tem vocação para contra-cultura. Habituou-se a ser central. E para defender essa centralidade, parece tentada a dar todos os passos. 
Durante séculos, no Ocidente, a igreja foi fundamentalmente idêntica com a sociedade. Todos, com poucas excepções, nasciam para ser baptizados e tinham a sua vida regulada pelos sacramentos. Do ponto de vista histórico, isto não era apenas o resultado do zelo missionário do clero, mas da firmeza com que poderes políticos, hierarquias sociais e comunidades locais censuravam e puniam quaisquer heterodoxias.
Nas sociedades modernas, secularizadas e pluralistas, a igreja não conta com a coacção política e social ainda aceite no Islão. Ora, a catequese, só por si, será sempre vulnerável a contraditórios e a confusões. Para se identificar com toda a sociedade, resta à igreja um meio: em vez de impor as suas doutrinas, acolher as atitudes da sociedade, o que, em geral, consistirá em perfilhar, reinterpretando-as em termos religiosos, as últimas inclinações da legislação estatal ou dos programas televisivos da manhã. Se os fiéis não vão a Roma, vai Roma até aos fiéis. O problema é que, por esse caminho, a igreja pode rapidamente deixar de representar a continuidade apostólica, para cair numa “espiritualidade” de supermercado, em que cada um escolhe o que, naquele dia, mais lhe convém.
A pressão para fazer coincidir igreja e sociedade não vem só do clero e dos fiéis. Durante séculos, príncipes e comunidades jamais pensaram poder governar ou manter a coesão social sem a igreja. O cristianismo dava sentido à vida e ligava os seres humanos uns aos outros. Por isso, príncipes e comunidades tentaram frequentemente dominar a igreja, e quando a renegaram, foi para inventar outra, como os príncipes protestantes ou os revolucionários franceses no tempo de Robespierre. Essa relutância em renunciar à igreja persiste no actual Ocidente secularizado. Basta pensar no modo como toda a gente continua a ter opinião sobre a igreja católica. Mesmo agnósticos e ateus se comportam como acitvistas católicos imaginários, sempre a postos para dedicar mais um editorial às orientações do Vaticano. É como se todos sentissem que, para “ligar” a sociedade, não bastam a educação cívica e o número de contribuinte, e conviria talvez uma “religião” – mas uma “religião” (e é este o ponto) que não incomode ninguém nas suas opções e tendências.
Admito que para muitos fiéis a questão possa ser resolvida nos termos mesmos da “caridade” que manda perdoar e compreender. A tradição nunca o seria se, em certa medida, não fosse elástica. Mas até onde pode a igreja católica “progredir”, identificar-se com a actual sociedade, sem se diluir na banalidade da cultura moderna? Na igreja anglicana, o escrúpulo da modernização, por lá muito mais agudo, já produziu autoridades eclesiásticas cuja crença em Deus nem sempre parece firme. Talvez um dia a hierarquia católica tenha de escolher ser apenas uma parte, para não se perder no todo.

Há crianças a morrer em Portugal sem que ninguém reclame o corpo

por A-24, em 21.10.14
Observador

Seis crianças tiveram este ano um funeral graças à Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa, que nos primeiros nove meses deste ano acompanhou o funeral de 86 pessoas de quem ninguém reclamou o corpo.
De acordo com esta instituição católica, que acompanha o funeral de quem morre sozinho, nas ruas ou nos hospitais, sem família ou alguém que reclame o corpo, de janeiro a 30 de setembro realizaram-se 86 funerais, mais sete do que em todo o ano de 2013.
Entre os 86 funerais que a Irmandade acompanhou, estavam os de seis crianças, cinco rapazes e uma rapariga. “As crianças são crianças de tenra idade, normalmente abandonadas pelos pais ou que são encontradas em sacos de plástico, em caixotes do lixo. Não são nados mortos, mas idades muito tenras ainda”, adiantou à Lusa o irmão provedor Pedro Vasconcelos.
O responsável explicou que as crianças são lhes entregues pelo Instituto de Medicina Legal ou pelos hospitais, não sabendo qualquer história em relação a elas. “Os casos não nos veem com muita informação e aquilo que sabemos de uma maneira geral é que ou são crianças que sendo abandonadas pelos pais, tiveram tratamento numa unidade hospitalar e depois disso faleceram ou então já estavam falecidas quando foram abandonadas pelos pais”, explicou o irmão provedor.
Entre as 86 pessoas a quem a Irmandade acompanhou o funeral nos primeiros nove meses de 2014, 47 eram homens, 29 eram mulheres, seis eram crianças e houve ainda quatro desconhecidos, ou seja, pessoas de quem não se descobriu qualquer identidade.
Olhando para os doze meses entre 30 de setembro de 2013 e 30 de setembro de 2014, o número de funerais sobe para os 105, entre 55 homens, 34 mulheres, sete crianças, dois nados mortos e sete desconhecidos.
Pedro Vasconcelos adiantou que o procedimento normal passa por a Irmandade receber uma comunicação do Instituto de Medicina Legal em como tem um corpo para libertar, sendo que o funeral é pago pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
À Irmandade cabe acompanhar o funeral, através de um sacerdote ou um diácono, fazendo orações, levando velas e flores, havendo, no entanto, situações em que a gestão dos acompanhamentos dos funerais se complica.
“Houve um dia que foram 12 funerais”, apontou Pedro Vasconcelos, acrescentando que normalmente os funerais se repartem por vários grupos, mas que também acontece um grupo ter de acompanhar vários funerais, tendo, para isso, de concentrar mais do que um funeral no mesmo cemitério, à mesma hora.
Apesar de a Irmandade contar com 150 irmãos, são só entre 12 a 15 as pessoas que acompanham os funerais, algumas delas voluntárias. O responsável da Irmandade disse ainda que o “grande objetivo” é que o trabalho feito em Lisboa seja copiado no resto do país, através das várias Misericórdias espalhadas de norte a sul.
A Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa faz acompanhamento de funerais desde 2004, tendo realizado já 1.257, 691 de homens, 301 de mulheres, 36 de crianças, 56 de nados mortos e 87 de desconhecidos. Sexta-feira, a Irmandade realiza uma missa por todas as pessoas que acompanhou, dado que no dia 17 de assinala o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza e dos Sem-abrigo.

Ainda sobre Rotherham

por A-24, em 21.09.14
por Lura do Grilo

Ainda o que se discute é como foi possível acontecerem tantos abusos, sobre tantas crianças, num mesmo local, durante tanto tempo com os mesmos modos de operar sem a a mínima reacção das autoridades e dos pais. Já percebemos que as autoridades fecharam os olhos e muitos casos e intimidaram, ou castigaram mesmo, os denunciantes. Tal foi o caso de uma senhora condenada a frequentar um curso de diversidade cultural, um procurador ameaçado (por sinal de origem não britânica) ou o simples desprezo de provas apresentadas por alguns pais.

Sobre os violadores naturalmente nada a dizer. Quer estejam na Suécia, na Dinamarca, nos Estados Unidos, na Bélgica, na França, em Espanha; ou sejam malaios, paquistaneses, yemenitas, turcos ou venham de certas regiões da Índia, da China, das filipinas, da Nigéria têm todos como denominador comum o islão. O islão é a encarnação pura e dura do diabo: uma vontade inaudita de esmagar tudo ao redor (supremacismo). A Europa acoita-os e protege-os em detrimento de todos os Europeus num suicídio colectivo. Espero que estes dirigentes venham a ser julgados e condenados por esta substituição forçada dos povos europeus por estranhos que são na sua maioria delinquentes paranóicos.
Mas esta depredação sobre as raparigas (e alguns rapazes) vem sendo preparada há longo tempo. Os passos foram dados devagar mas com eficácia tremenda e às mãos cheias de dinheiro da esquerda sistémica e por organismo financiados por George Soros.
Foi o femi-nazismo, o feminismo, o aborto livre, o amor livre, a pornografia, a pedofilia, o abaixamento da idade do consentimento ... tudo isto no aspecto de "liberdades pessoais" confundindo sexualidade com uma mera necessidade fisiológica.
Noutra vertente foi a destruição da família, da responsabilidade familiar na geração e educação dos filhos, na destruição do matrimónio, na promoção do homossexualismo, na extensão do casamento a emparelhamentos, no nivelamento dos sexos na função de educar os filhos (tornar pais e mães iguais em todos aspectos), destruir a figura de mãe (mãe biológica, mãe de afecto, mãe adoptiva só para mencionar algumas), a adopção por homossexuais, intercambiar mãe e pai por duas mães ou dois pais e até tentativas de eliminar mãe e pai do vocabulário comum.
Outra vertente foi a escola tornando o jovem a partir dos 10 anos apenas um animal com impulsos sexuais incontroláveis cuja prática não deve ser contrariada mas antes orientada para não ter consequências, o incentivo e a naturalidade com que se encara o início da vida sexual aos 12 e 13 anos, foi a redefinição da palavra amor por sexo, foi a retirada de objectivos a longo tempo pela substituição por outros imediatos imediatos e foi ainda um conjunto de mecanismos que visam retirar aos pais qualquer autoridade na educação dos filhos. Um açoite ou um castigo é mais vituperado que um aborto ou um acto de violência de um jovem contra um professor ou um superior.
Foi uma catadupa de doutrinação televisiva por novelas, filmes, telejornais, partidos políticos, ONGs, rádios para conseguir todos os objectivos anteriores e ao mesmo tempo intimidarem quem eles não concorda.
Quem se atreve agora a ser abertamente contra o aborto, a ser pela abstinência sexual até ao casamento, a lutar pelo casamento contra os problemas destes, a ostentar a fidelidade antes e após o casamento?
Neste contexto raparigas jovens, sem pai ou sem mãe, sem autoridade paternal que possa ser aplicada, sem auto-estima, com tanto bombardeamento de propaganda para desagravar relações fortuitas, com contextos familiares não sólidos são facilmente aliciadas por estes criminosos bem doutrinados nas mesquitas. Há quem se aproveite e sabe-o fazer bem: a panóplia de mecanismos de intimidação que foram criados funciona tão bem, mas tão bem que admitem de forma clamorosa e alegre tudo o que nos disseram que ela servia para evitar.
A desgraça não é só ter islâmicos ao nosso redor: é termos aceite sucessivamente gerações de políticos traidores e termos permitido com imensa passividade que este descalabro moral nos vá caindo em cima dia após dia.

Nenhuma guerra acabará com a guerra

por A-24, em 20.09.14
Rui Ramos



Nenhuma guerra será a última. Para um Ocidente envelhecido, endividado e humanitário, pode não ser a perspectiva mais conveniente. Mas é assim.

Há uma semana, Obama ainda não tinha planos. Agora, já tem: depois do Iraque, é a vez de atacar o ISIS na Síria; entretanto, também haverá mais sanções contra a Rússia de Putin. Este regresso às campanhas militares no Médio Oriente e aos grandes conflitos de influência na Europa suscitou, ainda para mais em ano de centenário da I Guerra Mundial, as fatais comparações com a história do século XX. Estamos todos a deslizar, sem o saber, para um conflito geral, como aconteceu em 1914? São as potências ocidentais suficientemente firmes com os seus inimigos, como não foram em 1939? Há a possibilidade de o nosso mundo acabar — não talvez com o “inverno nuclear” temido durante a Guerra Fria, mas pelo menos no sentido em que nos dizem que acabou o mundo de “Downton Abbey” em 1914?
Estas perguntas sugerem uma coisa: talvez a história do século XX não seja a melhor introdução ao século XXI. Estudamos história com a expectativa de que nos ajude a interpretar o presente. Mas isso depende de estudarmos a história certa. E para as guerras do século XXI, a história do século XX, o último século de hegemonia mundial das potências europeias e das suas ideologias, pode não ser essa história.
A crença oitocentista no “progresso” levou os ocidentais a ver a guerra como o resquício maligno de uma fase primitiva da humanidade, destinado a desaparecer com a globalização da ciência, do comércio e da democracia. Foi isso que inspirou Norman Angell para, em 1910, negar Clausewitz e declarar a guerra impossível. No século XX, quando as potências tiveram fazer a guerra, todas a conceberam de um modo apocalíptico: cada guerra foi sempre a última guerra, a guerra definitiva, depois da qual a humanidade ascenderia à paz eterna. A I Guerra Mundial foi a guerra para acabar com a guerra. A II Guerra Mundial terminou num tribunal, que consagrou a ideia da guerra como o novo fruto proibido: a partir daí, só “intervenções humanitárias” legalizadas pela ONU. A Guerra Fria, finalmente, ligou o conflito militar ao fim do mundo, através do armamento atómico. A mais pequena operação militar passou a ser concebida como um Armagedão.
Esta evolução impede-nos hoje de perceber como, antes do século XX, a guerra foi pensada e praticada como um recurso normal da política — horrível, sem dúvida, mas não necessariamente apocalíptico. E desse ponto de vista, talvez o eco do noticiário de hoje fosse menos tremendo. As manobras ucranianas de Putin não teriam espantado nenhum estadista do século XVIII: o destino das grandes potências, ou de quem se imaginava como uma grande potência, era competir por influência no mapa. As recorrentes violências do Médio Oriente pareceriam típicas de uma região cheia de nações, tribos e seitas a disputar território, como na Europa há uns séculos atrás: à secretária de um professor universitário ocidental, tudo devia culminar numa festa de tolerância; no terreno, entre comunidades desconfiadas e líderes ambiciosos, o teste das armas é infelizmente, mas muitas vezes a maneira mais exacta e consensual de estabelecer posições.
Nenhuma campanha militar acabará alguma vez com as disputas de influência dos grandes Estados, nem com os choques das comunidades em que a humanidade gosta de se dividir. Depois de Putin, outro líder russo procurará rever as fronteiras desenhadas no momento do colapso soviético. Depois do ISIS, outra seita tentará realizar violentamente outras profecias. Nenhuma guerra será a última. Para um Ocidente envelhecido, endividado e humanitário, pode não ser a perspectiva mais conveniente. Mas é assim.