Para quem gosta da personagem vampírica de Bram Stoker, inspirada em Vlad, o Empalador, o terrível príncipe de Valáquia, na Transilvânia, Roménia, e tem uma boa conta bancária, esta pode ser uma oportunidade única. O castelo-fortaleza Bran Castle, concluído no século XIV, mais conhecido como a residência do conde Drácula, está à venda por 58 milhões de euros.
Erguido sobre um penhasco e de estilo gótico, o castelo serviu de morada a saxões, húngaros e cavaleiros teutónicos e especula-se que também ao príncipe Vlad, no século XV. A partir de 1920 ficou nas mãos da família real romena mas, com a chegada ao poder do regime comunista, a propriedade foi-lhe retirada, em 1948, e em 1956 acabou por ser transformada em museu.
Com a queda do regime de Nicolae Ceausescu, em 1989, o castelo, cuja manutenção foi negligenciada durante os anos que se seguiram, foi recuperado e reaberto como espaço museológico. Em 2009, o castelo passou definitivamente para os últimos herdeiros da casa real romena, os arquiduques Dominic, Maria Magdalena e Elisabeth.
Os actuais proprietários procuram agora um comprador para a propriedade, alegando ser altura de outros assegurarem a gestão da “maior e mais significativa atracção da Roménia”, como disseram ao The Telegraph. Mais de 560 mil pessoas visitam o castelo por ano.
O castelo foi a residência escolhida para Drácula, o vampiro de caninos salientes, sedento de sangue, personagem do livro de ficção com o mesmo nome, publicado em 1897 por Stoker. O escritor irlandês nunca esteve, no entanto, no local.
Esta semana surge a indicação de que a propriedade está à venda e que o negócio terá sido proposto ao Governo romeno pela quantia de 58 milhões de euros. Mas os herdeiros estão abertos a outras licitações. Mark Meyer, da empresa de advogados, com sede em Nova Iorque, Herzfeld and Rubin, que está a tratar do processo de venda, explicou ao Daily Mail que tudo é possível. “Se alguém surgir com uma oferta razoável, iremos analisar quem a fez, o que estão a propor, e iremos ponderar a ideia.”
O advogado adiantou que os herdeiros da família real pretendem que o castelo siga um novo caminho e gostavam que este passasse a ser um “local onde as pessoas gostariam de ficar dois a três dias”. A zona onde está edificado o Bran Castle tem capacidade para receber um pequeno hotel, onde o tema Drácula seria um dos temas principais.
O palhaço Cameron, numa estratégia típica da direitinha globalizadora, mostra-se preocupado com a livre circulação de romenos e búlgaros no espaço europeu. O palhaço Cameron e demais sicários, numa estratégia típica e já tão velha que só a espíritos imbecis como os deles pode ainda parecer eficaz, vem apelar a medidas contra a possível invasão de imigrantes de leste. O palhaço Cameron e sua trupe de lacaios dos poderes mundialistas não tem problemas com o facto de Londres ter hoje mais não-europeus do que europeus. Nem tem problemas com a invasão islâmica, africana, asiática que subjuga a Grã-Bretanha. Mas, num acesso de populismo para idiotas, manifesta alarme com a possível vinda de europeus, cristãos, para um país moribundo e entregue aos poderes da globalização e do multiculturalismo genocidas.
Perante o crescente entusiasmo dos europeus em adotar o inglês como língua franca, um intelectual romeno lança um sinal de alarme e apela à mobilização pela salvaguarda das línguas nacionais.
O facto de inúmeros trabalhos de pós-licenciatura serem entregues em inglês e o facto de apenas se valorizarem trabalhos publicados em revistas estrangeiras e redigidos nessa língua contribuiu, significativamente, para acentuar o desinteresse pelas publicações científicas romenas. Mas também para depreciar a língua, a médio e longo prazo, no seio da intelligentsia.
Anglização criticada na Europa
A Roménia já conheceu algo idêntico no passado. Os boiardos [aristocratas]dos finais do século XIX desprezavam tudo o que fosse romeno e imitavam os centros de poder da época: Paris, Moscovo, Istambul. Coana Chiriţa, personagem dos romances de Vasile Alecsandri, também foi inspirada pelos modos "à francesa". De igual modo, as peças de teatro de Ion Luca Caragiale punham a ridículo o facto de se imitar os modos ocidentais. E no início do século XX, o historiador Nicolae Iorga encabeçou uma grande manifestação em Bucareste para protestar contra as representações teatrais exclusivamente em francês.
Retomo hoje este assunto pois a atual anglicização começa igualmente a ser visível noutros países europeus e não apenas na Roménia. Mas esses países não são considerados retrógrados ou anti-ocidentais.
Na primavera, o Instituto Politécnico de Milão decidiu que os seus mestrados e doutoramentos deviam ser feitos unicamente em inglês. E isto em nome da internacionalização dos estudos e em prol de uma melhor competitividade das
universidades italianas. Mas o Tribunal Administrativo da Lombardia decidiu noutro sentido: determinou que o facto de se empregar a língua inglesa não tinha qualquer influência nem na qualidade, nem na valorização internacional do ensino. A mesma instância especificou que, ao obrigar os professores a lecionar em inglês, o Instituto Politécnico de Milão atentava contra a liberdade desses mesmos professores.
Proteger um patrimómio inestimável
Ainda nessa informação, o OEP constata que, em termos de anglicização do ensino superior, a Alemanha — que avançou muito mais depressa que a França e Itália, mas continua distante dos países escandinavos e da Holanda — publica cerca de 10% dos seus programas de mestrados e doutoramentos unicamente em inglês. Números que nos fazem pensar nas consequências de uma política desta natureza. É verdade que a língua inglesa oferece visibilidade internacional aos investigadores alemães, mas a língua alemã também pode muito bem contribuir para o seu êxito.
Em França criaram-se programas semelhantes para atrair mais estudantes estrangeiros e, em primeiro lugar, os chineses. Mas, hoje, o país constata que um bom número deles fala francês e muitos desejam mesmo aprender esta língua! Além disso, a Assembleia Nacional francesa e o Senado decidiram que seria preciso rever em baixa o número de cursos ministrados em inglês e que os trabalhos de fim de curso deviam ser escritos em francês.
Ao lutar para que a língua romena encontre, pelo menos no seu próprio país, a dignidade e a consideração que lhe são devidas — sem menosprezar a importância das línguas de grande circulação internacional —, contribuímos para ponderar os efeitos insidiosos da globalização. Contribuímos para proteger o inestimável património imaterial de que somos depositários e que devíamos transmitir com toda a sua riqueza.
[Esta luta] patriótica, longe de ser uma idolatria nacionalista, contribui com alguma coisa de muito positivo para a nossa cultura e também para a nossa civilização. E para a Europa em geral.
A Universidade pública de medicina e de farmácia de Bucareste registou, este ano, um número particularmente grande de candidaturas, escreve o jornal România liberă: dez candidatos para cada vaga em estomatologia e cinco para cada vaga em medicina geral.
O diário escreve que o grande entusiasmo pela medicina, a vontade de se submeterem a um exame tão difícil (…) pode parecer paradoxal se pensarmos no salário de um médico na Roménia [entre 300 a 400 euros por mês]. Mas as faculdades romenas preparam os seus licenciados para a UE – para o Reino Unido, a França e os países do Norte da Europa.
Desde a entrada do país na UE, em 2007, já emigraram 14 mil médicos especialistas, enquanto o Estado gasta €3,5 mil milhões por ano na sua formação, escreve o jornal.
"Três em cada quatro famílias que querem adotar uma criança recusam à partida as crianças ciganas", lamenta o România liberă*, ao divulgar os dados publicados pelo serviço nacional de adoções relativos ao ano de 2012.
Os romenos que "ultrapassam os preconceitos", como a professora cuja fotografia, ao lado da filha "de pele mais escura", é publicada na primeira página, constituem uma exceção. "Os romenos são racistas", reconhece abertamente um pastor, que adotou duas crianças ciganas.
Estes preconceitos persistentes devem-se a "carências ao nível da educação", explica a este diário Cristina Neacşu, psicóloga do serviço romeno de adoções:
[as famílias que querem adotar] têm todas ideias preconcebidas. Nós explicamos-lhes que não há um gene da criminalidade ou da agressividade. Outros têm medo de que a criança [cigana] seja estigmatizada.
Em 2012, das 1222 famílias que obtiveram um parecer favorável com vista a uma adoção, 875 estipularam por escrito que queriam ter encontros apenas com "crianças romenas, com exclusão de qualquer outra etnia".
"As estatísticas mostram que os romenos preferem esperar anos, até o Estado encontrar uma criança compatível, a adotar um menor cigano", salienta o România liberă.
A Alemanha anunciou a decisão de vetar a entrada da Roménia e da Bulgária no espaço Schengen. Por quanto tempo mais vão os romenos aceitar ser vítimas dos jogos políticos dos seus parceiros?, pergunta um colunista romeno.
Dan Tomozei
A Alemanha está em ano eleitoral e joga contra o estrangeiro a carta outrora brandida pela Itália, Holanda, França e Reino Unido, demonstrando assim que as reminiscências de comportamentos de superioridade desdenhosa em relação aos países de Leste continuam bem vivas.
A declaração oficial do ministro do Interior alemão, Hans-Peter Friedrich, avisando que a Roménia e a Bulgária vão ser brindadas com um “veto” no Conselho de Justiça e Assuntos Internos (JAI), em 7 março, é uma confirmação das obsessões e jogos políticos internos dos países da UE, muito distantes de uma demonstração do princípio da igualdade de tratamento entre os membros da União Europeia.
A Roménia é novamente deixada fora do espaço Schengen, por razões que nada têm a ver com os critérios de adesão. Hans-Peter Friedrich (CSU – União Social Cristã), parceiro de coligação de Angela Merkel (CDU – União Democrata Cristã), apresentou sem dúvida o ponto de vista da aliança dominante na Alemanha (CDU/CSU) e isso permite-nos avaliar a tensão eleitoral a que a coligação está sujeita.
Uma mensagem incendiária
A lendária retidão alemã dissipa-se quando um responsável pelo “motor” da União confunde política nacional e europeia, adotando posições que nada têm a ver com os critérios de adesão ao Espaço Schengen. Ao abordar um tema eleitoral interno, ou seja, os benefícios sociais, fala da corrupção do sistema de vistos na Roménia e na Bulgária. “Temos de impedir a entrada de pessoas que vêm apenas beneficiar dos nossos apoios sociais e que abusam, assim, do direito de livre circulação”: eis a declaração de um ministro responsável, que não é capaz de apresentar provas nem de resolver problemas internos que permitem que alguém receba ajudas sociais ilegalmente.
O problema de Schengen já havia sido encarado da mesma forma pelo primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, e pelo Presidente francês, Nicolas Sarkozy. A tática de diversão utilizada pelos velhos países europeus para desviar a atenção da opinião pública de questões sensíveis no plano interno faz parte de um arsenal que torna a UE cada vez menos credível, na medida em que se revela cada vez menos capaz de resolver os seus problemas.
Ultimamente, a atitude do Reino Unido, que declara abertamente recusar-se a cumprir os acordos europeus de livre acesso a búlgaros e romenos ao mercado de trabalho, a partir de 1 de janeiro de 2014, confirma uma realidade cada vez menos animadora dentro da União Europeia. Empregando o mesmo tipo de mensagem incendiária, o primeiro-ministro David Cameron expôs a ideia de que uma invasão de trabalhadores dos dois países se prepara para afetar os empregos dos britânicos, jogando o seu trunfo dos estrangeiros para dourar a sua imagem no plano interno.
Fartos da política de chantagem
Nada disso teria sido possível se, em Bucareste, o Governo agisse correta e coerentemente em matéria de política interna e perante a população. Nenhum dos ministros romenos dos Negócios Estrangeiros ou do Interior pagou ou vai responder pelos erros dos governos ou pelo tratamento insultuoso dos países da UE aos cidadãos da Roménia.
Segundo o Ministério romeno dos Negócios Estrangeiros, “a Roménia garante efetivamente a segurança das fronteiras externas da UE, desde a sua adesão, em janeiro de 2007. [...] Os relatórios das missões de avaliação técnica evidenciam que todas as disposições de Schengen foram postas em prática de forma uniforme e correta na Roménia.” Portanto, é natural que nos interroguemos sobre as razões para a obstinação da União Europeia contra a Roménia. Quanto tempo vai o procedimento técnico continuar a ser utilizado como meio de chantagem política e económica?
A reação do ministro dos Negócios Estrangeiros romeno, Tito Corlatean, apoiada pelo primeiro-ministro Victor Ponta e rejeitada pelo Presidente Traian Basescu, [segundo a qual Bucareste “retirará” em caso de novo veto], expressa claramente uma realidade social, pelo menos tão real como a do ministro Hans-Peter Friedrich: os romenos percebem as jogadas de bastidores e estão fartos da política europeia de chantagem.
Procurar o apoio popular
Em fevereiro, alarmada com a posição da Turquia – que é um interveniente importante na confluência do Oriente com a Europa e pertence à NATO –, a chanceler Angela Merkel meteu-se a caminho de Ancara, para atenuar as declarações do primeiro-ministro turco, propenso a voltar-se para a Ásia e sobretudo a China, visto as negociações de adesão à UE terem sido congeladas por período indefinido.
É, pois, possível os decisores e os países-membros da UE começarem a agir não apenas em resposta a pressões do Ocidente para o Leste, mas também no sentido inverso. Se o Reino Unido e a França podem evocar a possibilidade de um referendo sobre a saída da UE, porque não há de a Roménia deixar de aceitar incondicionalmente ser exclusivamente um mercado de escoamento de produtos dos principais países da UE?
Isso significa que o Governo de Bucareste deve apoiar políticas económicas internas realistas e procurar o apoio popular necessário para alcançar uma órbita mais digna, orgulhosa e proveitosa nas suas relações externas.
A política anticorrupção implementada pelos diferentes governos com o apoio da UE não só é ineficaz, como agrava o problema, estima um editorialista romeno. A solução passa pela reforma da totalidade do Estado. Mas para isso, os políticos deveriam assumir as suas responsabilidades.
Os que julgam que, dentro de dois anos, haverá menos infrações na Roménia, devido às dezenas de controladores corruptos detidos recentemente, levantem a mão. Vocês, com a mão no ar, também acham que as receitas alfandegárias aumentaram porque em fevereiro de 2011 foram detidos aduaneiros e guardas de fronteiras? Pois, estão errados. O que é certo é que se gastou uma pequena fortuna em investigações, infiltrações policiais, etc… Chegou mesmo a haver detenções espetaculares durante a noite, seguidas de libertações pelo tribunal no dia seguinte. Foram abertos vários processos penais, relativamente aos que foram a julgamento conseguiremos ver a sua (in)utilidade dentro de vários anos. Mas no fundo, nada mudou.
Na verdade, não há dúvida que os aduaneiros e os controladores dos caminhos-de-ferro se comportavam de forma incorreta. Mas a forma como combatemos a corrupção sistémica é totalmente ineficaz.
Produtividade manteve-se sempre baixa
A corrupção sistémica surge apenas quando existe uma diferença significativa entre o que o Estado pretende fazer (ou oferecer) e o que é realmente feito. Por exemplo, o Estado pretende oferecer cuidados de saúde incluídos no seguro de saúde, mas na realidade este último não é de todo suficiente. Antes de mais porque, se fosse verdade e todos exigissem estes serviços (análises, intervenções cirúrgicas), os fundos do seguro de saúde não cobririam sequer um quarto das despesas. Depois, porque o Estado finge acreditar que os médicos e os enfermeiros podem fazer o seu trabalho sendo pagos da forma que são, o que é impossível. Esta perda no custo dos serviços e do trabalho é compensada [através de subornos] pelos que recorrem a estes serviços, mais o custo do seguro. Desta forma, a procura e a oferta ficaram equilibradas e atingiram um valor mais realista. As detenções não mudaram nada – de facto, a estratégia já não resultava no tempo de Nicolae Ceauşescu, que fez com que diversos administradores fossem detidos na esperança de aumentar a produtividade, que se manteve sempre baixa.
O problema só pode ser resolvido através da correção do fracasso desta política pública de saúde. O mesmo se aplica à área dos caminhos ferroviários romenos (CFR), onde as pequenas infrações aumentaram após a instauração, quase simultânea por parte do inteligente conselho do FMI, de bilhetes mais caros e da não menos brilhante ideia do Governo nacional de reduzir 25% ao salário dos controladores. Tal como as alfândegas, que registaram um valor recorde de contrabando de cigarros em janeiro de 2010, após o Governo aumentar o imposto sobre o consumo de tabaco. Entretanto, a Comissão Europeia emitiu relatórios positivos sobre o trabalho da DNA (Direção Nacional Anticorrupção), mas dois terços dos romenos consideram – assim como eu – que a corrupção nunca parou de aumentar.
Ineficácias estruturais
Para ter o mínimo de sucesso na construção de um Estado moderno, a nossa política pública deve parar de criar condições favoráveis a esta corrupção sistemática, que a política repressiva (da DNA) não consegue erradicar. Esta última pode combater, com sucesso, a grande corrupção – um combate para o qual foi nomeadamente criada. Mas a maioria da nossa corrupção, gerada por más políticas, não pode ser erradicada por procuradores. Deve-se, portanto, eliminar os desequilíbrios introduzidos pelo Estado e resolver os desacordos. Não tendo isto nada a ver com a repressão. Mas este tipo de medidas corretivas nunca são aplicadas, enquanto as sucessivas detenções, que nada mudam, se tornaram o pão nosso de cada dia. Porquê?
Infelizmente, a resposta é muito simples. Para uma política de modernização, é preciso ter modernistas, começando por um chefe de Estado ou de governo que compreende e queira mudar a situação atual, como Mikhaïl Saakachvili na Geórgia – um reformador de sistema. Lamento informar que nós não temos nenhum: nem o antigo Presidente Emil Constantinescu, nem o atual Traian Băsescu procuraram mudar o sistema. Sem falar no Presidente Ion Iliescu, que permitiu intencionalmente a implementação deste sistema, por pensar que um maior controlo do Estado significaria menos corrupção, mas o resultado obtido foi totalmente o inverso. Com a pressão exercida pela União Europeia, foram criadas algumas agências anticorrupção, parcialmente independentes do mundo político. O que deu origem a uma anomalia: os políticos não fazem o que é necessário e agem de forma errada ao lutar contra as agências anticorrupção. Por outro lado, as agências anticorrupção, habituadas a entregar relatórios a Bruxelas, fazem o que podem, e às vezes mais do que isso, sendo que em vez de combater a corrupção, estas lutam contra as más políticas, a não ser que isto não passe de uma manobra para impressionar Bruxelas.
Será que esta estratégia prevê que as pessoas detidas sejam substituídas por outras que fazem a mesma coisa, enquanto o Estado se enterra em processos que duram anos? Os procuradores tentam resolver, através da repressão, as falhas estruturais na área das alfândegas ou dos caminhos-de-ferro, algo que só o fator político poderia resolver – caso o quisesse.
Durante o reinado de Nicolae Ceaucescu, os romenos contavam piadas para exorcizar o rigor da ditadura. Neste 5º episódio da sua série sobre o humor, Le Monde explica que hoje em dia, os habitantes de Bucareste se riem do capitalismo.
O socialismo é um quarto no qual está um gato preto que é preciso procurar e encontrar. O “socialismo multilateralmente desenvolvido”, um conceito prezado pelo antigo ditador romeno Nicolae Ceausescu (1918-1989), é um quarto preto no qual está um gato preto que é preciso procurar e encontrar. Por fim, o comunismo é um quarto preto que não contém nenhum gato preto, mas que é preciso procurar e encontrar. No tempo da ditadura, as piadas serviam de escapatória para o imaginário coletivo romeno.
Nos anos 80, os romenos, que passavam por um dos piores regimes do bloco comunista, exprimiam a sua revolta nas piadas que gozavam com tudo e todos: o Conducator “génio dos Cárpatos”, o partido comunista, as penúrias que abafavam o país e as falhas de um regime isolado do mundo e da realidade. Milhares de piadas circulavam de boca em boca, escapando assim à censura oficial de um país controlado pela Securitate, a terrível polícia política da ditadura.
Em dezembro de 1989, o regime do Conducator caiu como um castelo de cartas sob o peso da História, que soprava um vento de liberdade por detrás da cortina de ferro. O casal Nicolae e Elena Ceausescu é executado, após um processo sumário, e a Roménia começa uma longa transição que termina em 2.000, altura em que o país negocia a adesão à União Europeia.
Acordar violento
Pouco a pouco, os romenos reencontraram a prosperidade num país onde o crescimento económico registava uma média anual de 7%. As piadas e as troças foram esquecidas, era tempo de consumir, de comprar altas cilindradas e de regressar do supermercado com a mala cheia.
Mas os sonhos não duram para sempre e o acordar pode ser violento. Em 2008, os romenos tiveram de regressar à terra e a aterragem foi muito dura. A crise económica e financeira que atingiu a Europa obrigou a Roménia a aceitar a austeridade, o momento propício para o regresso em força das piadas. Desta vez, é o capitalismo selvagem que está na mira, segundo as piadas que circulam atualmente em Bucareste. Por exemplo:
Um romeno senta-se à beira de um lago e contempla-o. Um americano passa e pergunta-lhe:
- O que estás a fazer?
– Nada, estou a olhar para o lago.
– Podias pelo menos pegar numa cana de pesca e pescar.
– Para quê?, responde o romeno.
- Podes comer uma parte do peixe e vender o resto, assim ganhas alguns trocos.
– Mas para quê?, insiste o romeno.
- Com esse dinheiro, compras um barco e apanhas ainda mais peixes.
– Sim, mas para quê?
– És incrível, diz o americano, exasperado. Com esse dinheiro, compras um barco, empregas pessoas que vão pescar por ti. Assim tu ficas sem fazer nada, e podes vir para aqui contemplar o lago.
– Mas é o que já estou a fazer.
Uma piada digna de Tristan Tzara, o escritor que saiu da Roménia no início do século XX para Zurique e Paris e lançou o dadaísmo e o surrealismo.
O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, ainda não expressou o seu desagrado quanto ao site anti-imigração do partido de Geert Wilders. O filósofo Paul Scheffer considera que este silêncio é revelador das divisões políticas e da sua falta de visão no que respeita a imigração.
No estrangeiro, quem está minimamente informado sobre a Holanda, sabe que as notícias andam à volta de uma questão: “O que aconteceu a este país tolerante?” Esta pergunta denota uma deceção sincera, mas adota igualmente um novo preconceito. Da mesma forma que antigamente todos os correspondentes escreviam sobre a liberdade, aparentemente ilimitada, no país das túlipas, agora procuram-se assiduamente exemplos que possam ilustrar a convulsão que atravessa o país.
E não é assim tão difícil. As oportunidades são inúmeras, tendo como ponto culminante recente o “site de sinalização” de polacos [o site, lançado pelo Partido da liberdade, pede que sejam assinalados os comportamentos dos imigrantes considerados como discordantes]. Alguém, nas altas esferas governamentais, se dá ao trabalho de ler o deprimente rol de artigos no Beschwerdeportal, no Ost-Pranger, o convite à denúncia dos emigrantes, a linha telefónica “anti-polacos”, o site holandês anti-imigração? E refiro-me apenas, aqui, aos alemães, aos franceses e aos ingleses.
Esta indignação doutros países está, com certeza, parcialmente ligada aos seus próprios interesses. Os dez embaixadores dos países da Europa central e oriental que, em carta aberta, se manifestaram contra este site, teriam muito que explicar no que diz respeito aos direitos das minorias nos seus próprios países. E, relativamente ao Parlamento Europeu, pode dizer-se que quanto mais modesta é a influência, mais as palavras são fortes. Por outro lado, existem problemas reais em torno da livre circulação de pessoas na Europa – ainda mais agora que a Roménia e a Bulgária acabam de aderir.
Um país dividido
Tudo isto é verdade, mas entretanto, a nódoa no tapete continua a crescer. É isto que o primeiro-ministro não consegue ver bem. Em Bruxelas e não só, temos agora a impressão de que, em Haia, se mente bastante acerca da influência real de Wilders no Governo [que ele apoia sem participar].
Este não é um caso isolado. A crise das caricaturas [dinamarquesas] já tinha demonstrado que os conflitos entre os governos irão aumentar na proporção do que se passar nas respetivas sociedades nacionais. A publicação de caricaturas de Maomé desencadeou uma série de reações no Médio Oriente. Em contrapartida, os conflitos no exterior terão cada vez mais repercussões nas nossas cidades, como ficou evidente uma vez mais, na semana passada, com o atentado contra uma mesquita em Bruxelas, relacionado com a guerra civil na Síria.
Estas fronteiras cada vez mais ténues entre o nosso país e o exterior, onde a imigração tem um papel essencial, exigem uma diplomacia ativa. O Governo anterior [da coligação entre democratas cristãos e social-democratas liderada por Jan Peter Balkenende] estava mais atento a este assunto. Quando Wilders lançou [em 2008] o seu filme Fitna, sobre o Islão, as consequências nefastas foram contidas de uma forma subtil. Conseguimos atenuar a ameaça de reações violentas no Médio Oriente graças a um conjunto de iniciativas, em que também intervieram personalidades de primeiro plano da comunidade muçulmana.
Uma diplomacia deste tipo só é eficaz se assentar sobre um consenso sustentado. O silêncio envergonhado de Rutte revela um país dividido em relação ao mundo exterior. Existem diferenças de opinião fundamentais acerca da imigração entre os partidos que apoiam o Governo, e a discórdia no seio da maioria tem vindo a aumentar nos últimos anos.
Será o Islão uma religião ou uma ideologia política?
No início, discutia-se ainda se o Islão seria uma religião ou uma ideologia política. Esta discórdia podia ainda ser conjurada por um agreement to disagree [um acordo pela discórdia]. Atualmente a divergência de opinião afeta o núcleo da integração europeia, ou seja, a livre circulação das populações. O “site de sinalização” dá a entender que não somos obrigados a tratar da mesma forma todos os cidadãos da União, e os seus criadores consideram que a abertura das fronteiras é um erro enorme.
Tudo isto esconde uma diferença ainda mais substancial relativamente à forma de abordar a imigração. Quando os políticos do Partido da liberdade (PVV) propõem que se continue a qualificar a terceira geração como allochtone, ou seja, os netos dos que imigraram, revelam uma opção óbvia. O que quer dizer que os novos imigrantes e os seus descendentes – que em 2025 representarão cerca de um quarto da população –, verdadeiramente, nunca poderão fazer parte da sociedade.
O “site de sinalização” e o silêncio de Rutte testemunham uma divisão crescente. A condenação por parte do Parlamento Europeu é preocupante, mas mais grave é a timidez dos partidos do centro, incluindo os da oposição. Estes nem sempre conseguem manter um discurso com uma visão de futuro sobre a economia e o simbolismo de uma sociedade de imigração. Em dez anos tudo foi dito acerca da integração, mas ainda não conseguimos sair do impasse político.
"Para onde vai o dinheiro sujo das alfândegas?", é a pergunta na primeira página do Gândul, que, adianta, "um em cada quatro polícias de alfândega é investigado por corrupção". Uma atividade que regista diariamente uma média de cinco mil euros em cada posto alfandegário. Depois da intervenção levada a cabo no início de fevereiro na alfândega de Vama Siret, a Direção Nacional Anticorrupção deteve e enviou para Bucareste de helicóptero nada menos que 140 agentes de postos alfandegários existentes na fronteira com a Hungria, tendo encerrado dois, refere o diário. Perante a gravidade da situação, o Gândul questiona se não seria preferível "importar funcionários aduaneiros devidamente remunerados. E políticos também", e põe em causa, tal como o ministro do Interior, os sindicatos dos agentes. O governo "mexe nos peões", mas deixa de lado as "peças" (o peixe graúdo da administração das alfândegas), as "rainhas" (os políticos que utilizam o dinheiro sujo a financiar os seus partidos) e o "rei", reage o sindicato Pro Lex, em comunicado, citado pelo EUobserver.com. O Pro Lex afirma igualmente que "a Roménia não está preparada para a mudança. A imprensa não quer revelar o nome das peças mais importantes desta partida de xadrez".