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A-24

Uma opinião sobre a Igreja e o Universalismo

por A-24, em 09.12.14
Via Gladio

Fontes
Novopress
Stanzavaticane


Nos últimos dias de Novembro, certos bairros populares de Roma, nomeadamente Tor Sapienza, foram abalados por manifestações contra os centros de acolhimento de imigrantes clandestinos e as consequências que tal presença imigrante tem tido para os autóctones... 
A propósito disso, a TGcom24 (uma das cadeias do grupo Mediaset) entrevistou Dom Francesco Montenegro, arcebispo de Agrigento, presidente da comissão da Conferência Episcopal italiana para as migrações e da fundação «Migrantes» para acolhimento de imigrantes.

Quando o jornalista lhe pergunta se é justo protestar contra a presença dos imigrantes, o vigário do Judeu Morto responde:
"Protestos em Tor Sapienza? Espero que não seja algo que esconde alguns problemas políticos. (...) cada ocasião é aproveitada para se colocar uma casca de banana para que o presidente da câmara caia. (...)
O jornalista comenta: «até mesmo a Liga Norte foi às ruas de Roma juntamente com os moradores para protestar contra os imigrantes...»
O arcebispo responde: 
«É confortável, é um trunfo para alguns políticos. Por exemplo, é importante para eles usar a história da imigração. Mas esta é uma batalha entre os pobres. Porque porque é que a Liga Norte, no protesto, não pediu também aos jogadores negros para se irem embora? Alguns adeptos queixam-se mas muitos batem palmas se os jogadores jogarem bem. E porque não dizer para se irem todos embora? Com esta lógica devemos mandar embora, por exemplo, todos que cuidadores que ajudam a manter as nossas crianças. (...)»
E quando depois o jornalista faz notar que alguns dos imigrantes em Tor Sapienza seriam autores de roubos e danos, o arauto da fé cristã diz assim:
«Pense-se que estes refugiados têm de estar nos centros de acolhimento em toda a Itália durante meses, alguns até mesmo anos, antes de receberem uma resposta. Se eu por exemplo fosse um imigrante de vinte ou trinta anos, que devesse ficar o dia todo sem fazer nada esperando por uma resposta sobre o meu futuro, depois de alguns dias eu também me revoltaria! (...)»

O drama, a tragédia, o horror, ficarem o dia todo sem fazerem corno, a serem sustentados por um Estado europeu, sem saberem o que vai acontecer amanhã...
Curioso, os nativos das classes populares europeias também não sabem o que lhes vai acontecer amanhã, desconhecem o seu futuro, só não estão é a ser sustentados sem fazer nada, com a agravante de que estão na sua própria terra... será que estes também se podem revoltar, segundo o arcebispo?...

Continuando...

Depois de justificar subtilmente que o cartão social seja dado a imigrantes ilegais, o que, note-se, constitui uma violação da própria lógica da lei que os faz «ilegais», é-lhe perguntado o que pensa do risco de que entre os imigrantes chegam do norte de África haja militantes do califado islâmico da Síria e do Iraque. F. Montenegro responde:
«Isso é possível, o mundo é sempre uma mistura de bem e mal. É preciso ser capaz de fazer o bom controlo e de filtrar. Quando os nossos imigrantes italianos partiram para a América ou outros países, nós exportámos a máfia. É um risco, mesmo assim. Nós não podemos viver como se estivéssemos numa bolha, como diz o papa Francisco. Talvez devêssemos ser menos colonizadores e tentar investir naquelas terras pensando no bem daquelas pessoas e não apenas nos nossos interesses. Porque se hoje há migração, o mal não é migrar, a migração é apenas um sintoma, o maior mal é a injustiça. Os migrantes denunciam a injustiça que existe. Não podemos pensar que tudo será sempre resolvido da maneira mais agradável.»


A resposta de uma das maiores autoridades do Cristianismo em Itália é pois assim:
- relativismo criminoso, comparando crime de rua, quotidiano, com risco de massacre de milhares de pessoas;
- chantagem moral criminosa, insinuando que por ter havido meliantes italianos noutros países, os Italianos agora são moralmente obrigados a deixar entrar em sua casa terroristas de um credo inimigo que ameaçam assassinar europeus em massa - isto é uma nova versão, particularmente mais violenta e despudorada, da «velha» chantagem moral que quer obrigar os Europeus a aceitar os imigrantes «porque os Europeus também emigraram», como se um indivíduo fosse obrigado a aceitar que o vizinho lhe entre em casa só porque o irmão desse indivíduo saiu dessa casa e foi viver para casa doutrem, como se, isto é de mais, como se a pessoa pudesse obrigar um familiar a ficar na mesma casa em que mora... se um irmão meu mora comigo e quiser ir-se embora, então eu fico obrigado a deixar que outro tipo qualquer venha morar para minha casa, como se eu fosse responsável por ter dado ao meu irmão a liberdade de sair daqui... é tão primariamente desonesto como isto, o discurso dos imigracionistas, mas enfim, não têm outro, e repetem-no à exaustão...
- culpabilização dos Europeus, baseada na velha acusação de que os Europeus são colonizadores, como se o melhor que os Povos do terceiro mundo têm, a sua própria sobrevivência alimentar, não estivesse a ser fornecida pelos Europeus.

E é isto o discurso de um dos principais representantes da religião que a patrioteiragem beata quer que seja um dos fundamentos da Europa, porque coisa e tal os valentes cruzados bateram nos muçulmanos em casa do caralho mais velho e assim...

Com uma Igreja «nacional» assim, quem é que precisa da Esquerda anti-racista?...

Isto é, de resto, a mais pura coerência cristã - porque o Cristianismo é realmente uma militância pelo Universalismo e por isso mesmo é visceralmente inimigo do Nacionalismo e perigosamente contrário à defesa da Nação e da Civilização, como a seguir se lê - quando lhe falam das operações europeias «Mare Nostrum» e «Triton», para controlar a imigração por mar, diz ele o seguinte:
"É preciso ver como se define a Triton. O risco é que sse quer fazer um muro para nos defendermos. Mas que futuro há se nós nos protegermos e não nos sentarmos à mesa com todos? Não acho que vamos salvar a humanidade levantando paredes! Agora a humanidade está tomando uma velocidade diferente. Infelizmente, no coração da Europa é o financiamento que interessa, não o homem. (...)»

Mais uma vez, o primado do universalismo moralmente tido como obrigatório - o primado deste ideal cristão sobre a segurança dos Europeus. E claro que na eventualidade de se darem grandes atentados bombistas muçulmanos em solo europeu, ou de se registarem sérios confrontos armados na Europa entre islamistas e autóctones, a Igreja estará obviamente na linha da frente a dar muito conforto moral e auxílio de primeiros socorros e apoio alimentar, sendo por isso gabada pela beatagem do costume...

E diz mais, o grandessíssimo padre:
«Precisamos de uma política que fomenta o acolhimento, que torne possível viajar, não crie medo, que permita que todos vivam, porque a Constituição diz que todo o homem que esteja sem pátria tem o direito de ser aceite. É a Constituição que o diz. »
Onde é que eu já ouvi isto, «é a Constituição que diz!», isto é realmente a velha converseta da cambada antirra que diz que «é a Constituição que diz!» que, por exemplo, os partidos racistas não podem existir porque não... porque os donos da antirraria dizem que não e escreveram-no. É um bocado como dizer que a prova de que Jeová existe é que a Bíblia diz que sim, que existe... neste caso, de F. Montenegro, é simplesmente um sequaz de um universalismo a legitimar o que diz um texto escrito por outros universalistas, para o caso vai dar ao mesmo.
Ainda bem que este credo está a perder terreno em toda a Europa... imagine-se a chatice que era as igrejas de todo o Ocidente estarem pejadas de Europeus a engolirem semanalmente veneno deste...

Diálogo entre Católicos e Ortodoxos passa por Moscovo e não por Istambul

por A-24, em 05.12.14
José Milhazes


A visita do Papa Francisco a Istambul e os seus encontros com o Patriarca de Constantinopla não permite criar ilusões: a chave para a aproximação entre católicos e ortodoxos está em Moscovo.


Durante a sua visita à Turquia, o Papa Francisco fez vários gestos simbólicos e lançou apelos ao diálogo entre católicos e ortodoxos, que parecem ter sido ouvidos e apoiados pelo Patriarca de Constantinopla Bartolomeu, mas o problema é que a chave do diálogo entre essas duas correntes cristãs está nas relações entre Moscovo e o Vaticano. A Igreja Ortodoxa Russa é a mais numerosa quanto ao número de membros e quanto à influência política na Rússia.
Não foi por acaso que o Papa Francisco, na viagem de avião de regresso a Roma, declarou aos jornalistas: “Eu disse que vou aonde for necessário, chamai-me e eu vou. Ele [Kirill, Patriarca russo] manifestou o mesmo desejo”. Porém, a realização deste desejo enfrenta sérios obstáculos.

Não obstante o Papa Francisco ser mais “aceitável” para o clérigo ortodoxo russo, pois não é eslavo como João Paulo II e é “menos agressivo” no que respeita ao “proselitismo católico na Rússia”, a guerra na Ucrânia voltou a reacender ódios e inimizades também no campo religioso.

Grosso modo, os cristãos na Ucrânia estão divididos entre três grandes grupos: os ortodoxos que se mantêm fiéis ao Patriarcado de Moscovo, os ortodoxos que se reúnem em torno da Igreja Ortodoxa Ucraniana e os uniatas (católicos de rito oriental).

Quando da cerimónia da proclamação da “adesão da Crimeia à Rússia”, realizada no Kremlin com pompa e circunstância e na presença de altos dignitários políticos e religiosos, o Patriarca Kirill teve a sabedoria de estar ausente, pois isso contribuiria para afastar muito do rebanho ortodoxo ucraniano da Igreja Ortodoxa Russa.
Porém isso não faz com que, ao nível de bases, a guerra no Leste da Ucrânia esteja desprovida do “factor religioso”. São muitos os ucranianos que veem na Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscovo um “agente” do Kremlin e apoiante dos separatistas. Nos territórios ocupados da Ucrânia, grande parte dos ortodoxos não esconde a sua simpatia pró-russa. Como resultado, todos os grupos religiosos tentam tirar dividendos desta crise. Na parte ocidental e central do país, observa-se uma passagem de paróquias do Patriarcado de Moscovo para as Igrejas Ortodoxa Ucraniana e Uniata, e vice-versa na parte oriental.
É também de recordar que a Igreja Ortodoxa Russa sujeitou-se completamente ao estado laico a fim de conseguir maiores apoios e impor-se como culto dominante num país multi-religioso como a Rússia. Isto faz com que Kirill seja mais um dos condutores da política externa do Kremlin e, no meio de uma histeria anti-ocidental e anti-europeia como a que reina no país, é quase impossível ver a diferença entre a ideia da defesa do “território canónico tradicional”, defendida pela Igreja Ortodoxa Russa, e a ideia da “defesa do mundo russo”, proclamada pelo Kremlin.
É difícil imaginar o que levará a juntar os chefes máximos das Igrejas Católica Romana e Ortodoxa Russa. Os “valores tradicionais” poderiam ser uma das bases, mas até aqui as posições não são coincidentes.
Além disso, dentro das próprias Igrejas Ortodoxas existem questões difíceis de ultrapassar, nomeadamente no que diz respeita ao lugar do Patriarca de Constantinopla no mundo ortodoxo. Tradicionalmente, ele tem o “primado de honra”, mas Moscovo sublinha que isso não lhe dá o mesmo estatuto que tem o Bispo de Roma entre os bispos católicos.
O metropolita Ilarion, chefe das Relações Externas do Patriarcado de Moscovo, afirma em relação ao Concílio Mundial Ortodoxo que está previsto realizar-se em 2016: “O presidente será o ‘primeiro entre iguais’ [Patriarca de Constantinopla], mas ele irá estar rodeado por representantes de outras igrejas ortodoxas autocéfalas. Desse modo, o quadro externo do concílio não fará lembrar um concílio católico, onde o Papa está à cabeça e todos os restantes bispos na sala. Ele irá antes reflectir a doutrina ortodoxa sobre a Igreja, segundo a qual as igrejas ortodoxas autocéfalas são chefiadas por chefes iguais em dignidade: patriarcas, metropolitas e arcebispos”.

As enormidades do Papa Francisco

por A-24, em 04.12.14
Lura do Grilo

O Papa Francisco brindou-nos com uma séries de pérolas, blasfémias e indiferença ao seu rebanho aquando da visita à Turquia. Eis algumas:


*Negar a natureza violenta do Islão e que a origem dessa violência está no corão o qual é um manual de incentivo ao terrorismo. Todos os registos de violência "religiosa" que fizeram dezenas de milhares de mortos é directamente justificada pelos executantes invocando o corão.
Papa em Istanbul - Novembro 2014

*Dizer que o terrorismo se deve à fome e pobreza é de uma grande insanidade. Grande parte dos terroristas são pessoas educadas e com bons salários ou, não tendo bons salários, vivem de generosos benefícios sociais (dinheiro e alojamento) que excedem em muitos casos o salário médio de quem trabalha para os sutentar.

*Rezar virado para Meca é uma afronta ao cristianismo: um sinal de submissão a um culto hediondo e sanguinário de um "profeta" brutal.

*Visitar o Mufti, que vem na linha de um similar que colaborou directamente com o nazismo, é uma falta de respeito às raízes do cristianismo. É ainda um desprezo por mais de um milhão de mortos de cristãos arménios chacinados com requintes de horror pelos turcos.


*Falar em aproximação e em paz com o Islão, sem aludir uma única vez à mortandade dos cristãos na Síria e no Iraque e à perseguição global do cristianismo desde África ao Irão, é de um simples pastor inútil e incapaz.

O Papa Francisco não percebe que balas e facas não se param com as mãos.

O Papa que enfrentou Salazar

por A-24, em 12.11.14
O Diabo

“Vamos ter tempos difíceis com a Igreja” disse o Presidente do Conselho

O Papa Paulo VI (1963-1978), de seu nome Giovanni Montini, e que foi beatificado no passado 19 de Outubro pelo Papa Francisco, em Roma, foi o primeiro Pontífice a pisar o território de Portugal. Aliás, foi o primeiro Papa a visitar Fátima.
Veio a Fátima no dia 13 de Maio de 1967 para assinalar os 50 anos das Aparições de Nossa Senhora (1917-1967), pedir a Paz no mundo e a unidade da Igreja. Mas também para dar um sinal claro da importância da presença de Maria na sociedade, pedir a intercessão da Virgem para o futuro da Igreja, para o bom termo do Concílio Vaticano II e, claro está, chamar a atenção da Humanidade para a importante Mensagem de Fátima.
Na época, Portugal era governado por Oliveira Salazar. Sabemos hoje que Salazar pensou em recusar a necessária autorização para Sua Santidade visitar Portugal. No entanto, e apesar de uma certa crispação inicial, a viagem redundou num verdadeiro êxito.
Cardeal Cerejeira

A relação entre Salazar e Paulo VI

Apesar de na aparência a relação entre Salazar e Paulo VI ter sido sempre da maior cordialidade pública, aquela também ficou marcada, e por inúmeras vezes, por algumas fricções. Cordialidade e fricções visíveis em alguns episódios que seleccionamos para si e que se contam nas páginas seguintes.
Quando Paulo VI iniciou o seu Pontificado, em 1963, e em sequência do Concílio Vaticano II (1962-1965), respirava-se na Santa Sé um clima de novos tempos, enquanto em Lisboa se prosseguia com a questão ultramarina e outras complicações.
Alguns sectores católicos mostravam um empenho bastante visível contra o conflito, mas também a favor da mudança política e social do regime.
Após o impacto da encíclica Pacem in Terris (1963) de João XXIII, com as resoluções do Concílio Vaticano II e a linha de modernização da Igreja preconizada por Paulo VI, tinha surgido algum estímulo à procura de soluções para a guerra do Ultramar (1961-1974).
Salazar e Paulo VI e o Cardeal Cerejeira como intermediário
Eleito Papa em Junho de 1963, Paulo VI tinha um perfil que não agradava a Salazar. Um Salazar escaldado com algumas posições do antecessor: João XXIII que, em 1956, ainda Cardeal, estivera em Fátima num retiro espiritual, mas que era conhecido, na óptica de Salazar, pelas suas posições “liberais” e “progressistas”.
Num comentário à escolha de Paulo VI, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da época, Franco Nogueira, observou que se tratava de uma vitória da “ala esquerda da Igreja”. No mesmo dia, e de acordo com o Ministro, Salazar fez o seguinte desabafo: “Vamos ter tempos difíceis com a Igreja”. Era esta a opinião generalizada das elites do regime português em relação ao Vaticano da época do Concílio Vaticano II.

A visita do Papa que Salazar queria impedir

Em 1963, foi conhecido o propósito do novo Pontífice participar no Congresso Eucarístico Mundial, em Bombaim. A possibilidade de o Papa ir à Índia – que dois anos antes anexara militarmente os territórios ultramarinos portugueses de Goa, Damião e Diu – foi vista por Salazar como “inconcebível”.
A ida a Bombaim, realizada em Dezembro de 1964, constituiu um forte ponto de fricção entre o Estado Novo de Salazar e a Igreja Católica de Paulo VI.
Salazar classificou a visita de “agravo gratuito, no duplo sentido de que é inútil e de que é injusto, praticado pelo chefe do Catolicismo em relação a uma Nação católica”. Além de a ter considerado como uma “injúria feita a Portugal”.
A censura do regime impediu o noticiário sobre o acontecimento. Contudo, o então padre António Ribeiro – futuro Cardeal Patriarca de Lisboa e sucessor do Cardeal Gonçalves Cerejeira – foi afastado do seu programa semanal na RTP por insistir em abordar o tema.
Porém, e segundo alguns, foi esta visita a Bombaim que abriu a porta à possibilidade de o Papa vir a Fátima, como forma de “compensar” Portugal.
Quando se soube da possibilidade, ainda que remota, de Paulo VI visitar Fátima, através da voz do Cardeal Costa Nunes, o “País estremeceu”. Franco Nogueira afirmou que Salazar lhe dissera, quando teve conhecimento da possível visita do Papa: “Enquanto eu for vivo, o Papa não entra aqui… não lhe daremos visto”.

 O Cardeal Cerejeira, Salazar e a visita de Paulo VI à Índia

Salazar ficou deveras irritado com a possibilidade de Paulo VI, em 1964, visitar a antiga Província Ultramarina Portuguesa. Sabemos que tudo fez no campo diplomático para impedir a realização da viagem anunciada.
Salazar ficou muito agastado com a deslocação do Papa à Índia, evocando essencialmente questões meramente políticas.
É importante, por breves instantes, reflectir um pouco sobre o que representaria para Salazar e para muitos portugueses a realização de tal viagem à Índia. Em poucas palavras, podemos afirmar que esta viagem era uma verdadeira afronta para Portugal e para os portugueses.
Mais: na perspectiva de Salazar, esta viagem seria uma legitimação que o Vaticano concedia à União Indiana, e com reflexos a nível internacional, e que Portugal não podia, de forma alguma, aceitar. A visita, no entender de Salazar, podia significar o apoio, pela Santa Sé, da anexação de Goa pela União Indiana. Mas, também, a aprovação espiritual dada a uma atitude de guerra assumida pelo Governo de Deli. E, não sendo a Índia um país católico nem Bombaim um local de peregrinação, Salazar entendeu que essa viagem possuía apenas motivos políticos e não pastorais.
E quando Salazar soube da intenção de Paulo VI visitar Goa e orar no túmulo de São Francisco Xavier, sentiu uma profunda raiva interior, misturada com um forte sentimento de indignação. Ficou, como escreveu Franco Nogueira, “possesso de revolta”.
Qual era, então, a solução para Salazar? Impedir, por todos os meios possíveis, que essa viagem tivesse lugar.
Perante isto, o governante partiu para a ameaça. Através do Cardeal Cerejeira, avisou que, se o Papa realizasse a viagem à Índia e, sobretudo, visitasse Goa, a Concordata – assinada entre Portugal e a Santa Sé, em 1940 – seria denunciada e a política religiosa de Portugal “radicalmente” alterada. Salazar ameaçou, ainda, cortar relações oficiais entre o nosso País e a Santa Sé, colocando o sector católico nacional e o Vaticano em alerta.
O Cardeal Cerejeira, extremamente preocupado e “aterrado” com a situação, encontrou-se por duas vezes com o Pontífice nesse ano de 1964. O último encontro seria a 13 de Outubro de 1964. E como parecia que estes encontros não surtiam o efeito desejado, inclusivamente no último o Papa não permitiu que se aflorasse o assunto, o Cardeal e a diplomacia nacional conseguiram contactar com diversas personalidades com vista a demover o Papa da sua visita a Goa.
Em suma, Paulo VI fez a viagem, é certo. Mas ficou-se por Bombaim e não foi a Goa, como pretendia.
Salazar, criticou e condenou, de forma clara e inequívoca, a visita de Paulo VI. Mais: sentiu a atitude do Papa como um insulto a Portugal e aos milhões de católicos nacionais.
Franco Nogueira sabia que Portugal não podia “enfrentar com êxito uma hostilidade unânime de forças reais. E a Igreja é uma força real”.
Porém, Paulo VI, veio a Fátima como peregrino mostrando, assim, a dimensão deste Santuário que em terra portuguesa era “Altar do Mundo” e não altar dos interesses de Oliveira Salazar. Também Paulo VI, com esta decisão de se deslocar a Fátima, pretendia provar, de forma clara, que não ligava a contendas de natureza política e que apenas se guiava por questões pastorais.

O dilema da igreja católica

por A-24, em 29.10.14
Rui Ramos


Para compreendermos o problema do sínodo, vale a pena descrevê-lo de uma maneira geral: deve a igreja admitir situações e opções que até agora repreendeu, mas hoje são socialmente aceites?
Do sínodo dos bispos, a imprensa retirou a ideia mais jeitosa: “divisões profundas na hierarquia da igreja”. Pouca gente escapou ao guião que manda ler os debates segundo a velha incompatibilidade entre “progressistas” e “conservadores”, ou entre “europeus” e “norte-americanos”. Ora, para compreendermos o problema do sínodo, vale a pena ignorarmos as matérias que em concreto o inspiraram, e descrevê-lo de uma maneira geral: deve a igreja admitir situações e opções (sejam elas quais forem) que até agora repreendeu, mas hoje são socialmente aceites? Posta assim, é possível sugerir que a questão não resulta apenas do mero prolongamento, igreja adentro, dos confrontos ideológicos ou contrastes geográficos do mundo profano, mas tem a ver com a própria ideia de igreja.
O dilema da igreja católica é que não foi concebida para ser uma parte, mas o todo. A sua vocação não é ser uma seita entre outras, mas toda a sociedade organizada religiosamente. Há correntes religiosas que não aspiram a incluir toda a gente, mas apenas os “eleitos”. Por isso, jamais admitiriam rever ensinamentos e atitudes apenas para acomodar quem não subscreve a colecção completa dos dogmas. A igreja católica é diferente. Não tem vocação para contra-cultura. Habituou-se a ser central. E para defender essa centralidade, parece tentada a dar todos os passos. 
Durante séculos, no Ocidente, a igreja foi fundamentalmente idêntica com a sociedade. Todos, com poucas excepções, nasciam para ser baptizados e tinham a sua vida regulada pelos sacramentos. Do ponto de vista histórico, isto não era apenas o resultado do zelo missionário do clero, mas da firmeza com que poderes políticos, hierarquias sociais e comunidades locais censuravam e puniam quaisquer heterodoxias.
Nas sociedades modernas, secularizadas e pluralistas, a igreja não conta com a coacção política e social ainda aceite no Islão. Ora, a catequese, só por si, será sempre vulnerável a contraditórios e a confusões. Para se identificar com toda a sociedade, resta à igreja um meio: em vez de impor as suas doutrinas, acolher as atitudes da sociedade, o que, em geral, consistirá em perfilhar, reinterpretando-as em termos religiosos, as últimas inclinações da legislação estatal ou dos programas televisivos da manhã. Se os fiéis não vão a Roma, vai Roma até aos fiéis. O problema é que, por esse caminho, a igreja pode rapidamente deixar de representar a continuidade apostólica, para cair numa “espiritualidade” de supermercado, em que cada um escolhe o que, naquele dia, mais lhe convém.
A pressão para fazer coincidir igreja e sociedade não vem só do clero e dos fiéis. Durante séculos, príncipes e comunidades jamais pensaram poder governar ou manter a coesão social sem a igreja. O cristianismo dava sentido à vida e ligava os seres humanos uns aos outros. Por isso, príncipes e comunidades tentaram frequentemente dominar a igreja, e quando a renegaram, foi para inventar outra, como os príncipes protestantes ou os revolucionários franceses no tempo de Robespierre. Essa relutância em renunciar à igreja persiste no actual Ocidente secularizado. Basta pensar no modo como toda a gente continua a ter opinião sobre a igreja católica. Mesmo agnósticos e ateus se comportam como acitvistas católicos imaginários, sempre a postos para dedicar mais um editorial às orientações do Vaticano. É como se todos sentissem que, para “ligar” a sociedade, não bastam a educação cívica e o número de contribuinte, e conviria talvez uma “religião” – mas uma “religião” (e é este o ponto) que não incomode ninguém nas suas opções e tendências.
Admito que para muitos fiéis a questão possa ser resolvida nos termos mesmos da “caridade” que manda perdoar e compreender. A tradição nunca o seria se, em certa medida, não fosse elástica. Mas até onde pode a igreja católica “progredir”, identificar-se com a actual sociedade, sem se diluir na banalidade da cultura moderna? Na igreja anglicana, o escrúpulo da modernização, por lá muito mais agudo, já produziu autoridades eclesiásticas cuja crença em Deus nem sempre parece firme. Talvez um dia a hierarquia católica tenha de escolher ser apenas uma parte, para não se perder no todo.

Revista Fortune desmente mito das «grandes riquezas» do Vaticano

por A-24, em 10.10.14
Via Mais Lusitânia

A revista norte-americana Fortune, especializada em temas económicos, desmentiu o mito das «grandes riquezas» do Vaticano, e informou que se a Santa Sé fosse uma corporação, nem sequer chegaria perto das 500 mais ricas da sua famosa lista Fortune 500.

No seu artigo intitulado «This pope means business» («Este Papa leva a sério»), a Fortune indicou que «frequentemente é assumido que o Vaticano é rico, mas se fosse uma companhia, não chegaria nem perto da lista Fortune 500».
A Fortune assinalou que o orçamento operacional do Vaticano é de apenas 700 milhões de dólares, e «em 2013 registou um pequeno superávit global de 11,5 milhões de dólares».
A revista estadunidense assinalou, além disso, que a maioria dos activos mais valiosos do Vaticano, «alguns dos maiores tesouros de arte do mundo, estão praticamente sem avaliação e não estão à venda».
«A Igreja Católica é altamente descentralizada financeiramente. Em termos de dinheiro, o Vaticano basicamente está por conta. Essa é uma importante razão pela qual as suas finanças são muito mais frágeis e a sua situação económica é muito mais modesta que a sua imagem de luxuosa riqueza».
O Vaticano, indicou a revista económica, não tem acesso ao dinheiro nem das dioceses nem das ordens religiosas.
Explicou que «cada diocese», em termos económicos, «é uma corporação separada, com os seus próprios investimentos e orçamentos, incluindo as arquidioceses metropolitanas».
A Fortune assinalou que as dioceses de todo o mundo «mandam quantidades importantes de dinheiro para o Vaticano todos os anos, mas a maior parte deste dinheiro é destinada ao trabalho missionário ou às doações de caridade do Papa».
O Vaticano, indicou, «paga salários relativamente baixos, mas oferece benefícios generosos de saúde e aposentadoria».
«Os cardeais e bispos das congregações e dos conselhos muitas vezes não recebem mais de 46 mil dólares por ano».
«Os empregados leigos do Vaticano têm emprego vitalício, e praticamente ninguém se aposenta antes da idade», assinalou.

Deus

por A-24, em 05.10.14
Hawking mostrou uma enorme indiferença pelas questões propriamente filosóficas, uma indiferença impensável nos grandes físicos da primeira metade do século XX (Einstein, Heisenberg, Bohr entre outros)

Há poucos dias, Rui Ramos escreveu aqui sobre umas recentes declarações do eminente astrofísico Stephen Hawking, para o qual de uma forma ou de outra o progresso da ciência teria provado, ou iria provar, a inexistência de Deus. Não era o ateísmo de Hawking, obviamente, que chocava Rui Ramos, mas, se bem o percebi, o particular modo da sua justificação: no fundo, a pura e simples ideia segundo a qual a ciência poderia provar algo no capítulo em questão.
Pela minha parte, quase subscreveria por inteiro o que Rui Ramos disse no seu artigo. E até me permito acrescentar algo. Não é aqui, de resto, a questão de Deus propriamente dita que me parece a mais significativa, mas sim duas atitudes mais gerais que são trazidas à luz por aquilo que Hawking (um exemplo entre muitos) exprimiu.
Em primeiro lugar, uma enorme indiferença pelas questões propriamente filosóficas, uma indiferença impensável nos grandes físicos da primeira metade do século XX (Einstein, Heisenberg, Bohr, entre muitos outros), mas que se tornou, até com alguma coquetterie, comum desde há várias décadas. E nas questões filosóficas incluo aquelas que dizem respeito à natureza da ciência e ao tipo de inteligibildade do mundo que ela nos assegura.
Em segundo lugar, e isso é o mais importante, a ideia de que as crenças científicas constituem o modelo único de todas as crenças e que a maneira de pensar das ciências natureza é válida, sem perda de eficácia, para todos os assuntos humanos. Seria pedante fazer aqui a história das muitas encarnações desta convicção. Apontar alguns dos seus defeitos certamente não o é.
Um desses defeitos é uma espécie de cegueira sobre a natureza da sociedade e os modos do seu funcionamento. As sociedades não podem sobreviver sem um conjunto de crenças colectivas (“significações imaginárias”, chamava-lhes um filósofo) que são em larga medida arbitrárias e que se corporizam em instituições e criações de todo o tipo, que variam de sociedade para sociedade. Não há racionalidade científica que as possa explicar, embora, é claro, a sua natureza, tal como a sua bondade ou maldade, possam ser discutidas com os instrumentos de uma racionalidade comum, também ela variável na forma e no estilo.
A crença em Deus é, de resto, um bom exemplo na matéria. Deixo de lado a questão do conforto que, numa vida em que o sofrimento é, de um modo ou de outro, inescapável, a religião pode oferecer, um facto que um ateu (é o meu caso) tem obrigação de reconhecer e que a barbárie a que por vezes a religião induz, algo hoje em dia particularmente patente em certas paragens, de modo algum põe em causa. Deus é um bom exemplo porque, entre outras coisas, a crença religiosa é inseparável da maior parte da criação artística do Ocidente, que sem tal crença não poderia existir. Fra Angelico não poderia existir, nem Dante, nem A Paixão segundo Mateus de Bach. Limito-me aos exemplos mais óbvios, mas o seu número é infinito. O magma que isso constitui é perfeitamente imune a uma (impossível, de resto) prova da não-existência de Deus. Pretender que o progresso científico pode provar que Bach, apesar do seu génio, estava errado (tinha crenças erradas) é um absurdo palpável. O exercício não faz sentido algum: a questão da verdade e do erro não se aplica nestas matérias. É, no entanto, a consequência directa da ideia que aparentemente Hawking quis transmitir.
Um outro exemplo dos efeitos nefastos da convicção segundo a qual o conhecimento científico possui absoluta jurisdição em todos os domínios é o prestígio espúrio de que gozam os cientistas (falo de “cientistas” no sentido corrente de investigadores das ciências da natureza) quando se pronunciam sobre matérias políticas. Nada, ou praticamente nada, na racionalidade científica assegura uma opinião justa nas coisas políticas. Nem é preciso, para o constatar, lembrar exemplos extremos, como a imoderada simpatia, em tempos idos, de vários ilustres sábios por Estaline. Basta olhar à volta e, se se quiser, ler certos nomes em petições públicas que quase diariamente circulam. Sobre Israel, por exemplo. E, se aceitarmos, com alguma bondade, alargar a acepção da palavra “cientista” às chamadas “ciências humanas”, o simples nome de Noam Chomsky, cujos trabalhos em linguística e em certas áreas da filosofia são, qualquer que seja a avaliação que deles se faça, apaixonantes, basta quase para dizer tudo.
É como se, quando se passa de um objecto para outro, da natureza para a sociedade, se perdesse todo o cepticismo (algo que Rui Ramos referiu) e se mergulhasse por inteiro na facilidade de acreditar e no pensamento a crédito. Pensamos a sociedade de uma maneira muito diferente daquela que pensamos a natureza porque os objectos são mesmo muito diferentes. E quando queremos julgar uma a partir dos critérios que nos servem para julgar a outra, a asneira, ou até a monstruosidade, são quase certas.
De todas as utopias, a utopia de uma colaboração colectiva, de um trabalho em comum, no conhecimento científico da natureza foi, pelo menos a partir do século XVII, a única verdadeiramente triunfante e os seus resultados foram extraordinários. Mas se quisermos pensar a sociedade através dos seus critérios arriscamo-nos a acabar como os sábios da Academia de Lagado, nas Viagens de Gulliver de Swift, que, na sua paixão pela uniformidade e pelo geométrico, comem as costeletas de cordeiro cortadas em triângulos equiláteros, a carne de vaca em forma de rombóides e o chouriço é cicloidal. Não consta que a sociedade possua essas formas. E, pelo que tenho lido, Deus também não.
Pode-se acreditar que Deus não existe, mas não é com chouriços cicloidais que o podemos provar. Nem, para dizer a verdade, de uma outra maneira qualquer. Tal como a crença religiosa, o ateísmo é insusceptível de prova. Se não fosse, os jornais e as televisões já nos teriam informado do caso.

Quem defende os cristãos?

por A-24, em 13.09.14
Ronald Lauder

O povo judeu compreende muito bem o que pode acontecer quando o mundo se mantém em silêncio. Esta campanha de morte tem de ser travada.

Porque é que o mundo se mantém em silêncio enquanto cristãos são vítimas de massacres no Médio Oriente e em África? Na Europa e nos Estados Unidos, assistimos a manifestações contra as mortes trágicas de palestinianos, utilizados como escudos humanos pelo Hamas, a organização terrorista que controla Gaza. As Nações Unidas conduziram inquéritos e focam a sua raiva em Israel por se defender contra essa mesma organização terrorista. No entanto, o massacre bárbaro de milhares e milhares de cristãos é visto com relativa indiferença.

O Médio Oriente e partes de África central estão a perder comunidades inteiras de cristãos que viveram em paz durante séculos. O grupo terrorista Boko Haram raptou e assassinou centenas de cristãos este ano – devastando a vila de Gwoza, maioritariamente cristã, em Agosto, no estado de Borno no nordeste da Nigéria. Meio milhão de cristãos árabes foram expulsos da Síria durante os mais de três anos de guerra civil. Os cristãos têm sido perseguidos e mortos em países desde o Líbano até ao Sudão.

Os historiadores podem olhar para este período e perguntar se as pessoas perderam o seu rumo. Até há pouco tempo poucos jornalistas tinham viajado até ao Iraque para testemunhar a onda de terror, semelhante ao nazismo, que se está a espalhar no país. As Nações Unidas quase não se pronunciam sobre o assunto. Os líderes mundiais parecem estar consumidos por outros assuntos neste estranho verão de 2014. Não há flotilhas em direção à Síria ou ao Iraque. E porque é que o massacre de cristãos não faz levantar as antenas das belas celebridades e das estrelas rock envelhecidas?
O Presidente Obama deve ser louvado por ter ordenado ataques aéreos para salvar dezenas de milhares de yazidis, seguidores de uma religião antiga e presos numa montanha no norte do Iraque, cercados por militantes muçulmanos sunni. No entanto, infelizmente, os ataques aéreos, por si só, não são suficientes para travar esta vaga grotesca de terrorismo.
O Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS, ou ISIL) não é uma coligação solta de grupos jihadistas, mas sim um força militar real, que conseguiu assumir o controlo de maior parte do Iraque com um modelo de negócio bem-sucedido que rivaliza com o seu arauto da morte. Esta coligação utiliza dinheiro de bancos e de lojas de ouro que foram capturados, assim como recursos de petróleo e a velha extorsão, para financiar a sua máquina de morte, sendo assim, talvez, o grupo terrorista islâmico mais rico do mundo. No entanto, é na carnificina que o ISIS se destaca, rivalizando com as orgias de morte da Idade Média. De modo brutal, têm atacado xiitas, curdos e cristãos.
“Eles decapitaram crianças e puseram as suas cabeças em paus” disse à CNN Mark Arabo, um homem de negócios caldeu norte-americano, descrevendo uma situação num parque em Mosul. “Há mais crianças a serem decapitadas, mães a serem violadas e mortas e pais enforcados.”
200.000 arameus fugiram da sua cidade-natal, perto de Nineveh, e já saíram de Mosul.
A indiferença geral em relação ao ISIS, com as suas execuções em massa de cristãos e com a sua preocupação mortífera com Israel não é apenas errada – é obscena.
Em Budapeste, num discurso proferido perante milhares de cristãos, em junho, fiz uma promessa solene de que não vou manter-me em silêncio face à crescente ameaça de antissemitismo na Europa e no Médio Oriente – e que também não vou ser indiferente ao sofrimento cristão. A História conta-nos o oposto: os judeus têm sido sempre a minoria perseguida. No entanto, Israel tem estado entre os primeiros países a prestar auxílio a cristãos no Sudão do Sul. Os cristãos podem exercer a prática da sua religião abertamente em Israel, o que não se verifica em grande parte do Médio Oriente.
Esta ligação entre judeus e cristãos faz todo o sentido. Partilhamos muito mais do que a maioria das religiões. Lemos a mesma Bíblia e partilhamos um núcleo moral e ético. Nos dias de hoje, infelizmente, também partilhamos um tipo de sofrimento: cristãos estão a morrer pelas suas crenças, porque estão indefesos e porque o mundo está indiferente ao seu sofrimento.
É necessário que o lado bom das pessoas se traduza em união para travar esta vaga revoltante de violência. Nós não somos impotentes. Escrevo isto como um cidadão da maior potência militar do planeta. Escrevo isto como um líder judeu que se preocupa com os seus irmãos e irmãs cristãos.
O povo judeu compreende muito bem o que pode acontecer quando o mundo se mantém em silêncio. Esta campanha de morte tem de ser travada.
Ronald S. Lauder é o presidente do World Jewish Congress. Texto publicado originalmente no New York Times

Tradução de Francisco Ferreira

Todos ao ataque contra Marina Silva na campanha eleitoral do Brasil

por A-24, em 05.09.14
A repentina mudança de opinião da candidata da coligação Unidos pelo Brasil, que de um dia para o outro deixou cair o apoio à legalização do casamento gay, pode ser explorada pelos seus adversários.


A cavalgada de Marina Silva nas sondagens relativas à votação presidencial no Brasil inaugurou uma nova etapa de “todos contra Marina” na campanha eleitoral, mas iriam os seus adversários políticos explorar as suas fragilidades e cerrar fogo sobre a sua candidatura no segundo debate televisivo, esta segunda-feira à noite?
A concorrente da coligação Unidos pelo Brasil – que provocou um pequeno terramoto político ao assumir a vaga que pertencia ao líder do Partido Socialista Brasileiro, Eduardo Campos, morto num desastre aéreo em campanha –, abriu o flanco às críticas, depois de ter renegado o seu apoio às iniciativas legislativas com vista à legalização do casamento gay, uma promessa que estava inscrita no seu programa de governo.
A reviravolta de Marina, que ocorreu menos de 24 horas depois da apresentação oficial da plataforma eleitoral da coligação, tornou-se o caso político mais relevante da campanha, por aparentemente confirmar a percepção do “fundamentalismo” religioso da candidata, que é missionária da Igreja Assembleia de Deus e se opõe à união de homossexuais.
Apesar de vincar o seu respeito pela laicidade do Estado, e garantir que as suas convicções pessoais não se reflectem na sua acção política, Marina Silva não conseguiu descartar a impressão de que a “correcção” do seu programa aconteceu por pressão da chamada bancada evangélica no Congresso – um poderoso lobby político em Brasília. “Bastaram quatro tweets do pastor Silas Malafaia para ela dar o dito pelo não dito” no seu apoio à luta pelo reconhecimento da igualdade de direitos, lamentou o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais, Carlos Fonseca.
Numa breve explicação sobre o ocorrido, a candidata notou que outras propostas do programa tinham sido também corrigidas, como por exemplo o apoio ao investimento na energia nuclear, e repetiu o seu “compromisso com o respeito às liberdades individuais e religiosas” e a defesa “dos interesses de todos, daquele que crê e daquele que não crê, independente de cor, orientação sexual ou religião”, frisou.
Mas o episódio abriu brechas mesmo dentro da campanha da coligação: o conhecido escritor Milton Hatoum, por exemplo, retirou o seu nome da lista de apoiantes de Marina, por classificar a marcha atrás como uma “falha moral” e de princípios éticos. “Não quero eleger um Presidente que seja refém de bancadas religiosas, tenho pavor disso”, explicou ao Estadão.
Os candidatos dos chamados partidos “nanicos” foram implacáveis ao pronunciar-se sobre a Marina Silva. “Durou pouco. Bastou um pastor ameaçar uma guerra santa e a campanha recuou”, lamentou Eduardo Jorge, dos Verdes. Luciana Genro, do PSOL, acusou Marina de “ceder à bancada da intolerância, como cedeu ao mercado, como acena aos usineiros e ao agronegócio”.
Porém, nem a Presidente Dilma Rousseff, que corre pela reeleição, nem o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Aécio Neves, exploraram a celeuma causada pela mudança de opinião de Marina Silva. A campanha do PT descreveu a sua adversária como uma “evangélica fervorosa” sem outras considerações, e um porta-voz do PSDB descreveu a sua errata como “uma agressão á nossa inteligência”. É possível que os dois se estivessem a guardar o ataque para o debate desta noite – mas também é provável que prefiram manter-se longe do tema, para não provocar a mesma reacção irada dos evangélicos.
Organizado pelo site Uol, o jornal Folha de São Paulo, a rádio Jovem Pan e o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), será o primeiro confronto directo entre Dilma Rousseff e Marina Silva, empatadas com 34% das intenções de voto de acordo com a última sondagem eleitoral realizada pelo instituto Datafolha. Com 15%, Aécio Neves está já a uma distância considerável e precisa de inverter a tendência para projectar o seu partido até à segunda volta.
No fim-de-semana, o candidato tucano mudou o tom das suas críticas (até então relativamente inócuas) a Marina, apontando por um lado as contradições, e por outro as generalidades, do seu programa político. “Entre o original e o genérico, essa nova versão adaptada das convicções da candidata Marina, acho que os brasileiros ficarão com o original”, atacou Aécio, acusando Marina de ter levantado as suas propostas económicas do manual tradicional do PSDB.

O povo que o ISIS está a perseguir

por A-24, em 11.08.14
Etnicamente, são curdos. Os yazidis, porém, seguem uma religião que tem no Anjo Pavão a principal figura. Chama-se Melek Taus. Mas o Alcorão identifica-o com o mesmo nome da figura do Satanás.

Pela fome e desidratação, se permanecerem no alto, ou pelas armas, caso optem pela tentativa de fuga. Cerca de 40 mil yazidis, encurralados no meio da cordilheira de montanhas de Sinjar, ficaram com esta dúvida na cabeça: como morrer. Na quarta-feira, era este o retrato desenhado pela imprensa internacional, após militares jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS, na sigla inglesa) cercarem milhares de pessoas na região noroeste do Iraque. A razão? Por pertencerem a uma minoria étnica e religiosa.
Os binóculos do mundo, por estes dias, têm-se focado, sobretudo, no conflito armado que israelitas e palestinianos mantêm na Faixa de Gaza. Ou nos desenvolvimentos das notícias vindas da queda do voo MH17, da Malaysia Airlines, no leste da Ucrânia. Enquanto tudo isto se passava, o ISIS, no Iraque, ia reforçando a perseguição ao povo yazidi — numa ofensiva que começou em junho.


Tanto que, esta sexta-feira, Barack Obama, presidente dos EUA, autorizou o início de ataques aéreos no noroeste do Iraque. “Para salvar milhares de cidadãos iraquianos, presos numa montanha sem comida e água, e que enfrentam uma morte quase certa”, resumiu o líder norte-americano, ao anunciar a decisão. Obama referia-se aos yazidis, uma minoria étnica e religiosa que, no mundo, não contará com mais de 700 mil pessoas.
Entretanto, a Federal Aviation Administration, entidade que gere as operações aéreas norte-americanas, também já proibiu todos os voos de entrarem no espaço aéreo iraquiano.

Quem são os yazidis?

Etnicamente, são curdos. Fundado no século XI, este povo, contudo, segue uma religião que mistura e adota elementos de várias crenças — incluindo a cristã e a islâmica –, sobretudo originárias da antiga mesopotâmia. As principais são o Sufi Islão e o Zoroastrimo, uma religião que chegou a ser maioritária no império persa e cujas origens data do século VI antes de Cristo.
Os yazidis acreditam num Deus que é representado por sete anjos. Um deles, chamado Melek Taus, ou Anjo Pavão, foi expulso do Céu e enviado por Deus para a Terra quando se recusou a curvar perante Adão, no paraíso — pois fora criado a partir da Sua iluminação, enquanto Adão nascera a partir do pó. Os yazidis encaram isto como um sinal de divindade. Os sunitas não.
Uma das razões está no outro nome pelo qual Melek Taus é conhecido: Shaytan. O mesmo que o Alcorão utiliza para se referir à figura de Satanás. Daí que muitos grupos extremistas islâmicos encarem os yazidis como um povo adorador do diabo. Entre os séculos XVII e XVIII, recordou o The Guardian, o povo yazidi foi alvo de 72 massacres. Em 2007, aliás, cerca de 800 morreram após um ataque bombista executado numa aldeia no noroeste do Iraque.

Onde estão no mundo?
Estima-se que hoje existam pouco mais de 700 mil yazidis. A vasta maioria — cerca de 500 mil — estava localizada perto das montanhas de Sinjar, a cerca de 80 quilómetros de Mosul, principal cidade no noroeste do Iraque.
Pelo menos até junho, quando o ISIS deu início aos ataques para formar um Estado Islâmico que reúna as populações sunitas da Síria e do Iraque. Na Síria estarão atualmente cerca de 15 mil yazidis, enquanto menos de 10 mil deverão estar divididos entre a Geórgia e a Arménia. Em território europeu, cerca de 50 mil estarão hoje a viver na Alemanha, sobretudo oriundos da Turquia.