Vale a pena ler este artigo da Economist sobre a Polónia dedicado aos portadores do discurso: “É preciso ir com calma para que o doente não morra da cura”
When the Iron Curtain came down in 1989, Poland was nearly bankrupt, with a big, inefficient agricultural sector, terrible roads and rail links and an economy no bigger than that of neighbouring (and much larger) Ukraine. At the time the ex-communist countries with the best prospects were widely thought to be Czechoslovakia and Hungary. Hopes for Poland were low. But rigorous economic shock therapy in the early 1990s put Poland on the right track. Market-oriented reforms included removing price controls, restraining wage increases, slashing subsidies for goods and services and balancing the budget. The cure was painful, but after a couple of years of sharp recession in 1990-91 Poland started to grow again. It has not stopped since, and received a further boost when it joined the EU in 2004. Since then economic growth has averaged 4% a year. GDP per person at purchasing-power parity is now 67% of the EU average, compared with 33% in 1989, and the economy is almost three times the size of Ukraine’s. The country has redirected much of its trade from its eastern neighbours to the EU, started to modernise its transport infrastructure and restructured some of its ailing state-owned industrial behemoths.(…) Many Poles are aware that other EU countries have missed their chance of using EU funds for structural reforms. “Portugal has good highways but no competitive companies,” says Mr Jankowiak.
Ao menos na maioria dos países civilizados, ninguém sairia às ruas com camisetas ostentando a suástica, sob risco de estar cometendo crime. Entretanto, não apenas o símbolo do nacional-socialismo de Hitler foi banido mundo afora, mas também o do comunismo, o qual já matou mais de 100 milhões de pessoas.
Vejamos alguns países onde é crime utilizar a foice e o martelo cruzados ou a estrela vermelha, símbolos do comunismo e do socialismo.
Polônia - Na Polônia não é mais possível os jovens andarem com camisetas de Che Guevara, pois em 8 de junho de 2010 entrou em vigor a lei que proíbe a exibição dos símbolos comunistas. O país foi um dos que mais sofreu com o Comunismo. Os historiadores Andrzej Paczkowski e Karel Bartosek afirmam que entre 1948 e 1956, a etapa mais dura da repressão comunista, dezenas de milhar de pessoas perderam a vida, foram presas, enviadas a campos de trabalho, ou para a URSS. A Polônia recuperou sua independência no ano de 1991.
Lituânia - Em 2008 a antiga república soviética da Lituânia, hoje membro da União Europeia, criminalizou a exibição pública de símbolos comunistas e nazistas. Em 1939, a Lituânia foi vítima do pacto Molotov-Ribbentrop, entre a Rússia Soviética e a Alemanha nazista, levando a ocupação e sua incorporação à União Soviética em 1940. A Lituânia perdeu 780.000 cidadãos como resultado da ocupação comunista, incluindo 275,697 deportados ou condenados aos gulags. O país restaurou a sua independência em 11 de Março de 1990.
Geórgia - O parlamento da Geórgia baniu em 2011 o uso de símbolos nazistas e comunistas no país. Durante o domínio soviético, 1500 igrejas foram destruídas, milhares de inocentes foram mortos na Geórgia ou enviadas para os gulags, onde a maioria morreu. Entre essas pessoas estavam notáveis representantes da cultura georgiana, como o escritor M. Javakhishvili, os poetas T. Tabidze e P. Iashvili e o cientista-filólogo Gr. Tsereteli. A independência da Geórgia foi proclamada em 9 de abril de 1991, porém a data nacional é 26 de maio, quando foi eleito o primeiro presidente.
Moldávia - A Moldávia condenou em 2012 os crimes do regime que governou o país na época em que o território fazia parte da URSS e proibiu o uso de símbolos do comunismo. Em 1991 a Moldávia tornou-se um Estado independente, o que desencadeou conflitos militares. Na primeira metade, em 1992, fizeram 1000 mortos e 130.000 deslocados e refugiados, envolvendo as tropas russas que intervieram sob o pretexto de estarem a proteger a minoria russa. No ano seguinte, os moldavos recusam a proposta de reunificação com a Romênia.
Numa altura em que a austeridade e o desemprego obrigam os jovens espanhóis, portugueses, italianos e gregos a abandonar os seus países para arranjar emprego, a Polónia está a tornar-se um destino altamente atrativo.
Elena Barcia Fernandez, da bela ilha solarenga de Maiorca, tinha 20 anos quando a crise atingiu a UE. Na época, em 2008, o fenómeno ainda era considerado uma crise financeira. Dois anos mais tarde, tornou-se uma crise económica. Hoje em dia, Elena é direta: é uma crise existencial. Não há trabalho, dinheiro nem perspetivas. Um em cada dois espanhóis entre os 18 e 30 anos está desempregado. E quando se tem um emprego, nunca se sabe por quanto tempo, uma vez que em Espanha há pessoas a ficar sem emprego a cada minuto. O número de desempregados aumentou para um máximo histórico de seis milhões. “Comparada com a Espanha, a Polónia é atualmente um país próspero”, disse Fernandez ao Przekrój.
Segundo ela, os jovens espanhóis estão a abandonar o país por já não acreditarem nos políticos. E por que haveriam de o fazer? Antes das eleições, o Partido Popular (no poder) declarou que iria criar 3,5 milhões de postos de emprego. O Governo anunciou recentemente que durante o seu mandato, que acaba em 2015, não iria haver novos postos de trabalho.
A mesma situação pode ser observada no Sul da Europa: em Portugal, Itália, Grécia ou Chipre. O desemprego está a afetar todos os setores e os jovens têm imensa dificuldade em entrar no mercado de trabalho. Para melhorar as suas probabilidades com potenciais empregadores, muitos jovens, na Espanha e na Itália, decidiram remover as suas tatuagens.
Os mais corajosos e determinados imigram. Os destinos populares incluem países do Norte como a Alemanha, Áustria, Holanda, Bélgica e o Reino Unido, onde a taxa de desemprego é relativamente baixa. As condições do mercado de trabalho também são mais favoráveis em Malta, no Luxemburgo e na Polónia.
Polónia “mi casa”
“A Polónia oferece grandes oportunidades. A situação do mercado de trabalho está bem melhor do que em Espanha”, afirma Óscar Charro, 35 anos, que se instalou há ano na Polónia. Foi uma decisão bem pensada: queria abrir um negócio mas em Espanha, onde dezenas de pequenas e médias empresas fecham as portas todos os dias, não parecia boa ideia. Charro decidiu então iniciar a sua aventura num dos países da UE com um crescimento económico superior ao da Espanha. Acabou por escolher a Polónia porque aqui, diz ele, os empreendedores têm espaço para crescer. “Varsóvia é uma verdadeira capital europeia. Aqui, sinto que estou no sítio certo, na altura certa.”
Charro já lançou o seu negócio no domínio da energia solar. “Estou mesmo a considerar ficar na Polónia e continuar a minha carreira aqui”, acrescentou.
Diego Garea, 32 anos, especializado na área das TI, instalou-se em Varsóvia no mês de agosto do ano passado. Conheceu a cidade durante o campeonato da Europa de futebol de 2012 e ao regressar ao seu país foi informado de que tinha sido despedido. Surgiu-lhe a ideia de enviar o seu currículo para empresas de TI do país anfitrião do torneio. Funcionou. Desde setembro de 2012, Garea trabalha para uma pequena empresa de tecnologia digital. A sua namorada, que não conseguiu arranjar emprego em Espanha, deverá juntar-se a ele na Polónia, no próximo mês. No início, pensa trabalhar como operadora na sua língua nativa. Mas mais tarde, se os seus amigos decidirem também imigrar, tenciona abrir um restaurante espanhol.
“Para nós, arranjar emprego na Polónia é fantástico. Queremos viver sozinhos, sentir-nos responsáveis, ter os nossos deveres e despesas. Queremos ser independentes”, diz Ines Ribas Garau, uma jovem de 25 anos do Sul de Espanha. “Trabalhar permite-nos crescer”, acrescenta num tom sério. Ines Garau acredita que trabalhar, além de ser uma questão económica, é também uma questão psicológica. “O desemprego desgasta-nos mentalmente, paralisa o nosso crescimento social e emocional”, afirma.
Quando há uma década Moises Delgado se mudou para a Polónia os seus amigos espanhóis ficaram surpresos. Tal como Garau e Fernandez, a primeira vez que viajou para a Polónia foi como estudante de Eramus. Gostou do sítio, aprendeu a língua e arranjou emprego na sua área. Afirma estar feliz na Polónia: “Vir para aqui foi a melhor coisa que fiz. Sou filólogo por formação e encontrei trabalho no setor das publicações”.
Inúmeras candidaturas
Os departamentos de Recursos Humanos das empresas polacas estão estupefactos: inúmeras candidaturas a postos de trabalho vindas da Europa Ocidental amontoam-se nas suas secretárias, sobretudo para posições na área da engenharia e gestão. Muitas proveem da região mais afetada pela crise, o Sul da Europa: Portugal, Espanha, Itália. A maioria dos candidatos estrangeiros são jovens com pouca experiência, mas com formação. Outro grupo são os gestores com experiência em multinacionais. Devido à acentuada depressão no setor da construção, a procura de arquitetos em Espanha caiu em cerca de 90%. As empresas de arquitetura polacas têm sido muito procuradas.
O número de candidatos de países desenvolvidos à procura de trabalho na Polónia disparou no último ano. Algo pouco surpreendente dado que o desemprego entre as pessoas de 25 e 35 anos é de apenas 10,5%, um valor não muito mais elevado do que um dos maiores destinos de imigração, o Reino Unido, com 8%.
Ouve-se cada vez mais pessoas a falar espanhol em cidades como Cracóvia, Poznań, Wrocław ou Gdańsk. “Todas as noites vêm aqui, pelo menos, 20 espanhóis beber uns copos”, afirma um barman de Warszawska. Brindam ao sucesso. Muitos encontraram trabalho e, mesmo que ganhem menos do que na Europa Ocidental, também gastam menos. A Polónia continua a ser um país onde o custo de vida é relativamente baixo. E, ao que parece, é um lugar divertido para se viver.
“Viver aqui é extremamente divertido. A Europa de Leste costumava ser uma incógnita para nós. Estamos a descobri-la e tem sido uma agradável experiência. Aprendemos a curar a ressaca com pepino de pickles. Os polacos são muito amáveis para nós. Adoramos-vos!”, afirma Rodrigo, encostando-se ao bar. Está a pagar uma rodada de licor de noz polaco aos seus amigos espanhóis e todos erguem os copos para o tradicional brinde polaco: “Na zdrovye!”.
Nunca houve tantos russos em Gdańsk desde a primavera de 1945. São principalmente habitantes da região de Kaliningrado, que fazem compras na Polónia. Um comércio que atinge cerca de €20 milhões por mês.
Os tanques de guerra deixaram lugar aos autocarros e aos carros matriculados “39”, que representam a região de Kaliningrado. Já não deixam a cidade de Gdańsk com os braços carregados com troféus de guerra, mas com sacos de compras, para grande satisfação dos comerciantes locais.
“Fazemos excelentes compras”, admite Tatiana Babak, que acaba de sair do Ikea, enquanto coloca sacos cheios de compras na mala do seu carro. Veio a Gdańsk com Władimir Poliakov, o amigo taxista. 130 quilómetros só a ida. O gasóleo russo é barato: 3 zł [€0,72] o litro, é uma viagem low cost. Tatiana vai a Trójmiasto (uma aglomeração portuária composta por Gdańsk, Sopot e Gdynia) pelo menos uma vez por mês, Władimir faz o trajeto mais vezes.
“Aqui é tudo mais barato”, explica, “à exceção da gasolina. O leite, os legumes, os produtos de limpeza, as fraldas ficam entre duas a duas vezes e meia mais baratos. Até as bebidas alcoólicas compensam mais. O preço é acessível, há mais escolha e pelo menos temos a certeza de que não estamos a lidar com produtos adulterados. Além disso, é uma região linda, e as pessoas são geralmente abertas e simpáticas. É um sítio onde nos sentimos bem”.
A chegada em massa de residentes de Kaliningrado a Gdańsk tornou-se possível com a introdução, no verão do ano passado, de um regime fronteiriço específico chamado “pequeno tráfego fronteiriço”, na sequência do acordo assinado em dezembro de 2011 por ambos os governos e ratificado seis meses depois.
Doravante, os russos apresentam no consulado polaco sedeado em Kaliningrado um pedido para circular no âmbito do regime do pequeno tráfego fronteiriço e, após dois meses, recebem uma autorização válida durante dois anos.
Viagem é uma primeira necessidade
“A nossa cooperação tem sido um êxito e desejamos que este sucesso se torne um argumento nas nossas discussões com Bruxelas, favorável à supressão dos vistos para os cidadãos russos que desejam entrar na UE”, explica o Cônsul-geral russo Sergei Puchkov. “Temos muitos projetos de cooperação no setor económico, cultural, universitário e desportivo. Os polacos estão ajudar-nos com os preparativos do Campeonato do Mundo de Futebol de 2018”, recorda o Cônsul.
Há mais de seis meses que, todos os fins de semana, cerca de trinta autocarros e várias centenas de veículos afluem para os centros comerciais de Gdańsk. Há de tudo: pequenos comerciantes, operários, estudantes, professores, funcionários. Mais do que uma distração luxuosa, esta viagem é, para todos eles, uma primeira necessidade.
A Polónia tem 210 km de fronteira terrestre com a Rússia e 22 km de fronteira marítima no nordeste do país. O enclave de Kaliningrado tem uma superfície de 13 mil km² e uma população de 950 mil pessoas. Faz fronteira com a Lituânia no Norte e no Leste, com a Polónia no Sul e é banhado pelo Mar Báltico no Oeste.
Cerca de dois terços da população do enclave vivem em Kaliningrado, a capital, criada após a Segunda Guerra Mundial, no local onde estava a antiga cidade alemã de Königsberg, chamada Królewiec pelos polacos. Completamente destruída durante a guerra, a cidade foi mais tarde reconstruída num estilo soviético. O mapa das ruas mudou totalmente, sendo hoje em dia impossível reconstituir, até mesmo aproximadamente, o trajeto diário do habitante mais famoso de Königsberg, Emmanuel Kant. Felizmente, foram conservadas as ruínas da antiga catedral com o túmulo do filósofo, tornando-se umas das poucas atrações turísticas do Kaliningrado pós-soviético.
Audi 100
A estadia dos polacos que atravessam a fronteira dura em média duas horas, dedicadas principalmente ao comércio do combustível.
Segundo Sergei Puchkov, o comércio fronteiriço do combustível é muito organizado: “dos cem veículos que esperam na fila da fronteira, cerca de 90 pertencem a polacos da região fronteiriça. Utilizam um tipo de carro muito específico: o Audi 100.” “Porquê? Por ter um enorme depósito, que pode conter cerca de 100 litros”, explica Puchkov.
A embaixada russa em Varsóvia sugeriu às autoridades polacas que criassem uma via especial para esses turistas, poupando assim aos outros passageiros uma fila de espera interminável. “Responderam-nos que seria contrária às regras”, relata Puchkov. “Que todos devem ter os mesmos direitos.”
Salsichas caras
Como é possível o preço de um simples iogurte comprado de um lado da fronteira duplicar depois de se atravessar a fronteira?
Adam Hlebowicz, autor de um guia turístico sobre Kaliningrado publicado recentemente, explica claramente o cerne da questão. “De onde vêm estes preços? Era, para mim, um verdadeiro mistério, até os comerciantes de Kaliningrado me explicarem que os preços incluíam os custos da… extorsão, que beneficia funcionários locais.”
A abertura da fronteira polaca começou a causar perdas consideráveis para as lojas russas. Segundo o relatório do portal de informação Kaliningrad.ru, o governador chegou mesmo a perguntar recentemente aos seus ministros se a diferença do preço de uma mesma salsicha de um lado e de outro da fronteira era justificada. A resposta foi curta e punha em causa as margens excessivas das grandes empresas de distribuição.
20 milhões de euros por mês
A corrupção é um problema sistémico na Rússia. Não se trata de criminalidade organizada no sentido ocidental do termo. Já na época dos czares prevalecia o sistema universalmente aceite de “aquisição”. O funcionário de Estado recebia um salário modesto porque, segundo uma regra não escrita, iria completá-lo “por baixo da mesa”.
Sendo os suecos intransigentes relativamente à corrupção, o Ikea demorou anos para finalizar um contrato que lhe permitiria construir uma loja em Moscovo, por recusar pagar uma quantia substancial exigida “por baixo da mesa”.
Toda a Rússia sofre de uma extorsão de fundos organizada. Os habitantes de Kaliningrado ficaram numa situação muito particular: compensa-lhes mais fazer compras na Polónia. Os benefícios vão para as empresas polacas. Não dispomos de dados exatos, mas estimamos que todos os meses o enclave perde cerca de €20 milhões, investidos na Polónia.
“Saem do país e não tencionam voltar”, titula o Gazeta Wyborcza, relativamente ao número cada vez maior de polacos que abandonam o país em busca de melhores empregos. Só em 2011, emigraram mais 60 mil pessoas para o Reino Unido, Alemanha e Noruega, do que no ano anterior. O diário de Varsóvia realça que
o número de emigrantes aumentou pela primeira vez desde 2007. São atualmente 2,6 milhões. […] A emigração aumentou apesar do crescimento económico na Polónia ter atingido os 4% do PIB.
Uma reviravolta inesperada tendo em conta o facto de que, após a primeira onda da crise ter atingido a Europa em 2007-2008, muitos polacos (cerca de 1,1 milhão de acordo com certas estimativas) foram obrigados a regressar ao país. Alguns economistas chegaram mesmo a afirmar “o fim da emigração”. Mas não é bem este o caso. Atraídos por salários mais elevados, os polacos continuam a optar por trabalhar no estrangeiro. Segundo o Banco Central da Polónia (NBP), o emigrante polaco ganha em média entre €2000 a €2200, enquanto na Polónia o seu ordenado não ultrapassa os 2000 zlotis (€500).
Além de não voltarem para o país, começam a levar as suas famílias para fora da Polónia.
Na Holanda, os europeus do Leste têm substituído os muçulmanos como alvo da extrema-direita. Uma hostilidade alimentada por ideias feitas difundidas por toda a Europa Ocidental, lastima uma jornalista lituana, que admite que os seus compatriotas também não são isentos de preconceitos.
"Tens problemas com imigrantes da Europa Central e Oriental? Queremos conhecê-los!" O sítio de Internet do partido holandês de extrema-direitaacolhe os visitantes com esta pergunta seguida do incentivo. Geert Wilders, dirigente do Partido da Liberdade, conhecido pelas suas diatribes contra o Islão e os muçulmanos, descobriu um novo filão para atrair os votos do holandês médio. Em fevereiro, o partido lançou um sítio destinado a reunir provas de problemas causados por "polacos, búlgaros, romenos e outros europeus do Leste". Segundo o Instituto Nacional de Estatística da Holanda, em 2011, instalaram-se legalmente no país cerca de 200 mil europeus de países de Leste. Os 136 mil polacos representam uma maioria significativa. Também foram registados 2708 lituanos, 1885 letões e 665 estónios. Num país de 17 milhões de habitantes, significam, no conjunto, pouco mais de 1%. É interessante constatar que o ódio da extrema-direita aos imigrantes que não respeitam os valores ocidentais esteja a mudar de alvo. Após o 11 de setembro, o Islão e os muçulmanos tornaram-se os bodes expiatórios para todos os males da sociedade. Hoje, os europeus do Leste substituem-nos nesse papel. Uma situação paradoxal Simon Kuper, jornalista de origem holandesa do Financial Times, descortina várias razões para este fenómeno. Em primeiro lugar, a Holanda tende a limitar a imigração de fora das fronteiras da União: o número de marroquinos e turcos diminuiu. Em segundo lugar, os muçulmanos estão a integrar-se mais facilmente. Falam holandês em casa e não ocupam o primeiro lugar nas estatísticas de criminalidade. Não é, pois, de surpreender, defende Simon Kuper, que os habitantes da Europa Central e Oriental, chegados em massa há alguns anos, estejam lentamente a tornar-se os "novos muçulmanos". Aos olhos dos ocidentais, têm estampado um carimbo de pós-sovietismo, falam línguas incompreensíveis e parecem tão estrangeiros como os turcos ou os marroquinos. O estigma da Guerra Fria continua a separar europeus do Ocidente e do Leste. Estes últimos tornaram-se mais um instrumento retórico para os populistas. A discriminação contra os imigrantes do Leste é alimentada pelo facto de serem considerados menos europeus do que os ocidentais, logo, menos civilizados e menos tolerantes. Há razões claras para isso. Ao contrário dos ocidentais, não são "politicamente corretos": gerem um cocktail explosivo de intolerâncias, de ódio aos negros, de antissemitismo e homofobia, que são tabus no Ocidente. A experiência da emigração não cura a intolerância dos lituanos, muito pelo contrário. Regressados de Londres, de Dublin ou dos países nórdicos, multiplicam histórias sobre negros, muçulmanos e outros não-europeus que ocupam a Europa, reforçando os preconceitos locais. E acima de tudo, não reconhecem que possam também ter sido considerados "ocupantes" pelos ocidentais. É precisamente o racismo, a homofobia e a falta de democracia que os europeus ocidentais agitam, para justificar a sua diferença em relação aos do Leste. Uma situação no mínimo paradoxal, pois é no Ocidente que a xenofobia e o racismo são emulados por partidos nacionalistas com cada vez maior aceitação. “O negrume na alma das pessoas” O Euro 2012 de futebol, que terminou há pouco, foi o símbolo perfeito deste estigma. A imprensa ocidental aproveitou a oportunidade para falar dos problemas da Europa de Leste, reforçando estereótipos do século passado. Produziram-se inúmeros artigos sobre o racismo e o antissemitismo na Polónia, as classes populares na Ucrânia e as mulheres fáceis do Leste. Antes do início do campeonato, um anúncio na televisão holandesa incitava as mulheres a não deixarem de todo os seus homens deslocar-se à Ucrânia e à Polónia. "Mulheres, façam um contrato de três ou cinco anos com a empresa de energia da Holanda e recebam cerveja de presente", sugeria uma voz feminina em tom de conspiração. Este anúncio é um exemplo claro de sexismo e de racismo. As mulheres do Leste europeu são apresentadas como nunca fariam a mulheres holandesas. Não é de admirar que as ativistas ucranianas do Femen, famosas pelas suas ações públicas de seios à vista, tenham recebido o Euro 2012 com a palavra de ordem: "A Ucrânia não é um bordel.” E esse ainda é um dos estereótipos menos graves. Em Lviv, o jornalistaMichael Goldfarb, do Guardian, afirma ter visto "o negrume na alma das pessoas". A Polónia era o seu alvo. Chamou ao país "o centro do Holocausto", sem mencionar a responsabilidade do regime nazi. Como mudar essa imagem na Europa de hoje, moldada pela União? A resposta está nas mãos dos "canalizadores polacos" e das "ucranianas fáceis"
Desde o início da crise, os polacos descrevem o seu país como uma “ilha verde” de prosperidade no meio de um mar de recessão. Mas as expectativas para os próximos anos não são tão otimistas, e o país deve agora criar um modelo de desenvolvimento alternativo.
O crescimento do PIB na Polónia não deixa margem para dúvidas: o abrandamento económico chegou. A economia continua a crescer, embora num ritmo mais reduzido. O crescimento anual desceu no segundo trimestre de 3,5 para 2,4 por cento. “O valor do crescimento do PIB ficou muito abaixo das expectativas”, disse Maja Goettig, economista responsável pela KBC Securities em Varsóvia e membro do conselho económico do primeiro-ministro.
Por que devemos preocupar-nos, perguntarão alguns neste momento, se na verdade a economia continua a crescer. De facto continua, mas o desenvolvimento económico do país segue regras diferentes das de um país desenvolvido. Para a Polónia, uma taxa de crescimento abaixo de quatro por cento equivale ao mesmo que uma recessão na Alemanha. Quando o crescimento abranda, o desemprego começa a aumentar e é a falta de emprego, e não a leitura do PIB, que representa o sinal mais agudo de uma queda económica. “A taxa de desemprego caiu para 12,3 por cento em julho, mas foi apenas um efeito sazonal. No final do ano poderá muito bem aumentar para 13,5 por cento”, disse Goettig.
Apesar de o Ministério das Finanças ter libertado recentemente 500 milhões de zlotis para estimular o mercado de trabalho, o plano de orçamento do próximo ano continua otimista: o ministro Jacek Rostowski aguarda oficialmente um crescimento económico anual de 2,2 por cento e uma taxa de desemprego dentro da marca dos 13 por cento. O problema é que Rostowski não tem qualquer controlo sobre estes indicadores e os economistas concordam de forma geral que as suas expectativas são irrealistas.
“Como todos, Rostowski tenta prever o futuro, porque não tem qualquer ideia da duração e dimensão da recessão na zona euro. Se o crescimento abrandar para 2,2 por cento, o desemprego aumentará para 15-16 por cento”, disse Piotr Kuczyński, economista responsável pela Dom Inwestycyjny Xelion.
Falta de amortecedores
O atual orçamento da UE está a chegar ao fim, o de 2014-2020 será provavelmente menos generoso para a Polónia, e os novos projetos apoiados pela UE não terão início antes de 2015. Tal como há três anos, a Polónia teve a sorte de ver um abrandamento económico coincidir com um pico nos subsídios da UE. De acordo com o Ministério das Finanças em Varsóvia, a contribuição da UE para o crescimento polaco em 2013 não será mais do que 0,5 pontos percentuais.
O segundo “amortecedor” de há três anos – uma expansão fiscal sem precedentes – também não fará parte dos planos. Quando em 2009 a recessão mundial atingiu a Polónia e de repente as receitas fiscais caíram bruscamente, o Governo, em vez de fazer cortes nos gastos, ensaiou um aumento no défice público para 7,4 por cento do PIB, para proteger o fraco crescimento. Mas em vez de uma recuperação surgiu outro abrandamento.
Resta apenas o terceiro “escudo”, isto é, a taxa de câmbio flutuante. Em 2009, as saídas de capitais desvalorizaram o zloti cerca de 30 por cento, aumentando rapidamente a falta de competitividade da Polónia nas exportações.
Não existem praticamente quaisquer “amortecedores” à exceção do zloti, e o único instrumento que pode ser utilizado a curto prazo para estimular a economia é controlado pelo banco central em vez do ramo executivo. O presidente do Banco Nacional da Polónia, Marek Belka, deixou bastante claro que estão prestes a ser feitos cortes nas taxas de juro.
Por sua vez, o Governo não está em posição de estimular muito o crescimento. Não se trata apenas do dinheiro; o ministro das Finanças está sobretudo refém das suas próprias promessas. Prometeu à Comissão Europeia que reduziria o défice público para 2,2 por cento do PIB em 2013, e se for o caso, os mercados financeiros terão o sinal necessário para começar a libertar-se das obrigações polacas. Os custos do serviço da dívida aumentarão e o orçamento ficará num estado lamentável. Quer queira ou não, o Governo vê-se obrigado a apertar ainda mais o cinto, a terrível austeridade, muito familiar à Espanha, Portugal ou Grécia, e a disciplina fiscal irão inevitavelmente abrandar ainda mais a atividade económica.
É preciso investir em novos mercados
De que forma pretende a Polónia regressar a um crescimento rápido? Como será possível atingir um crescimento anual mínimo de quatro por cento, quando o desemprego não para de aumentar e não há equilíbrio orçamental?
Após 23 anos de uma economia baseada no mercado livre, a Polónia deixou de dispor de vantagens concorrenciais simples para estimular o seu crescimento. Os salários no país não param de aumentar e, mais cedo ou mais tarde, deixaremos de poder competir como um país de mão-de-obra barata. Alguns intelectuais dizem que a Polónia deveria desenvolver a sua própria atividade de exploração industrial, através da qual poderiam aumentar a sua produção e o seu crescimento económico. Sem copiar o modelo de outros países, a Polónia deveria identificar os setores em que os polacos têm sucesso e apoiá-los sistematicamente. Isto é, deveria pôr as mãos na massa em vez de continuar à espera de um milagre.
Ao mesmo tempo, é preciso investir em novos mercados, não necessariamente no Extremo Oriente, mas além da fronteira oriental. “A Rússia acabou de aderir à OMC, a Ucrânia e a Bielorrússia são excelentes mercados onde os produtos polacos têm boa reputação. O comércio transfronteiriço em expansão é a prova disso”, disse Kuczyński.
Acontece que a política da Polónia relativamente a estes três países que poderiam constituir os seus maiores mercados é baseada em valores e não tem sido muito eficiente. Para a Europa ocidental, a Polónia continua a ser um subcontratante ou um destino de subcontratação, mas para a Europa oriental é a economia moderna mais próxima, e culturalmente mais próxima do que a alemã ou a holandesa. Sem uma expansão no Leste, a Polónia não será capaz de compensar o declínio das exportações na zona euro. PressEurope
Exemplo de determinação, Varsóvia, conhecida como a “Cidade da Fénix”, por ter superado várias guerras, vai ser o primeiro “palco” do Campeonato da Europa de futebol de 2012, organizado conjuntamente por Polónia e Ucrânia.
A histórica capital polaca foi praticamente dizimada durante os seis anos da II Guerra Mundial, com a população a rebelar-se duas vezes contra a invasão alemã, primeiro no gueto e depois em toda a cidade, com enormes custos.
Calcula-se que 85 por cento das suas construções tenham ficado destruídas e que tenham morrido 800 mil pessoas. No entanto, a “segunda Paris” reergueu-se.
As ruas, os edifícios e igrejas do centro histórico, reconhecido como património mundial da UNESCO em 1980, foram reconstruídas minuciosamente, enquanto o regime soviético “influenciou” na edificação de enormes blocos de prédios e na criação de enormes avenidas na zona leste da cidade, a paredes-meias com as traças tradicionais.
Em 14 de maio 1955, a capital polaca ofereceu o nome a um alinhamento entre países socialistas do Leste europeu, o Pacto de Varsóvia, que só expirou 36 anos depois, com a queda dos governos socialistas e o “derrube” do Muro de Berlim.
Com mais de 1,7 milhões de habitantes, Varsóvia é atualmente a maior cidade polaca e também das que apresenta melhor dinâmica na indústria, cultura e ensino superior.
Varsóvia orgulha-se de ter como “filhos” o compositor Fryderyk Chopin e Marie Skłodowska-Curie, a primeira mulher a receber o prémio Nobel da Física, em 1903, tendo recebido o da Química, em 1911. Outro ilustre, igualmente simbólico, é o "Aniołek" (pequeno anjo) Mordechaj Anielewicz, que liderou a revolta do gueto judaico de Varsóvia durante a ocupação nazi.
A cidade é atravessada pelo rio Vístula, junto ao qual foi construído o Estádio Nacional de Varsóvia, aproveitando o espaço do antigo Estádio do Décimo Aniversário, que, desde 1989, tinha sido construído num mercado.
O recinto, que custou 500 milhões de euros e tem uma capacidade para 50 mil espetadores, é o único “palco” do Euro2012 que pode ficar totalmente coberto, com um sistema retrátil semelhante ao aplicado no estádio de Frankfurt, na Alemanha.
A seleção portuguesa empatou a zero frente à Polónia na estreia do novo estádio, cuja fachada, coberta com painéis vermelhos e brancos, recria a bandeira polaca.
Durante o Euro2012, Varsóvia acolhe o Grupo A, com dois jogos da Polónia frente à Grécia, no jogo inaugural, a 08 de junho, e da Rússia, a 12, e o embate entre gregos e russos, a 16, e, na segunda fase, recebe um jogo dos quartos de final e outro das “meias”.
O Governo holandês quer apertar as regras de trabalho para a imigração proveniente dos países da UE. Primeiras vítimas: os polacos, presentes em grande número no país. Mas isso pode sair caro à economia local, adverte o Gazeta Wyborcza.
A mão de obra barata da Polónia, Roménia, Lituânia e Bulgária faz mover milhares de empresas holandesas e setores de atividade inteiros, como a agricultura. Dos 160 mil a 200 mil imigrantes radicados na Holanda desde 2004, a maioria é polaca. Para o holandês médio, os polacos bebem em demasia, estacionam mal os carros, adoram fazer festas à noite e, para cúmulo, não falam holandês. O problema é que, se não forem eles, não há ninguém para escolher tomate, construir casas ou plantar tulipas.
A presença dos nossos compatriotas é particularmente problemática em grandes cidades como Roterdão, Utrecht, Amesterdão e Haia. Marnix Norder, um dos vereadores da Haia, usou o termo "tsunami polaco" para descrever a presença polaca naquela cidade, avaliada entre 20 e 30 mil pessoas. Apesar da reação da Embaixada da Polónia, o termo foi retomado pelos políticos.
A campanha contra os imigrantes atingiu o auge com a intervenção do Partido para a Liberdade, formação xenófoba liderada por Geert Wilders, que apoia o Governo do primeiro-ministro Mark Rutte. Isso com o consentimento da sociedade holandesa, cada vez menos favorável à integração europeia.
O "turismo dos subsídios"
Infelizmente, esse clima de xenofobia, atiçado pela Comunicação Social, alcançou o poder. Em fevereiro passado, Henk Kamp, ministro dos Assuntos Sociais e do Emprego, declarou ao diário holandês De Telegraafque os imigrantes da Europa Oriental sem residência e sem emprego fixo deviam ser devolvidos aos países de origem, ou mesmo expulsos se se recusassem a sair por sua iniciativa.
No início de abril, o mesmo ministro apresentou ao Parlamento uma lista de propostas supostamente mais capazes de regular a situação neste setor do mercado de trabalho. Kamp diz pretender acabar com os intermediários fraudulentos que não respeitam a lei e sujeitam os imigrantes a trabalhos forçados. As propostas visam igualmente aquilo que é conhecido em Amesterdão e na Haia, por "turismo dos subsídios". Polacos, romenos e búlgaros vão para a Holanda em busca de uma vida melhor, mas, se perdem o emprego (ou não o encontram), ficam sem teto e passam a viver de subsídios.
Agora, o ministro sugere que, sem meios de subsistência, ao fim de três meses, os imigrantes de países da UE devem perder o direito a residir na Holanda. Assim, polacos, romenos, mas também alemães e franceses, desempregados há mais de três meses, devem despedir-se da terra dos moinhos de vento e das tulipas.
Além disso, todos os trabalhadores imigrantes de países da UE deverão sujeitar-se a registo nos serviços de imigração. As autoridades locais passariam então a ser responsáveis pela verificação das suas condições de alojamento (hoje, às vezes, vinte imigrantes polacos e romenos vivem amontoados num único apartamento). Os empregadores que explorem os imigrantes com propostas de “cama e mesa” a preços inflacionados devem ser severamente punidos. Kamp pretende também que o acesso às prestações sociais seja reservado a pessoas que dominam a língua do país.
Polónia recusa "leis discriminatórias"
Com grande número das propostas do ministro holandês a raiarem a discriminação, o Governo da Polónia foi rápido a reagir. "Temos uma posição crítica e esperamos que leis discriminatórias não entrem em vigor no Reino da Holanda. Esperamos também que a Comissão Europeia esteja muito atenta a este assunto", disse recentemente o porta-voz do ministério polaco dos Negócios Estrangeiros, Marcin Bosacki.
O ministério enviou ainda a Haia uma carta oficial, informando que a ideia de deportar os polacos desempregados da Holanda põe em causa uma das liberdades fundamentais da UE, a da livre circulação de pessoas. Neste ponto, Varsóvia conta com o apoio de Bruxelas. No final de fevereiro, Viviane Reding, vice-presidente da Comissão Europeia responsável pela Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, alertou a Haia contra qualquer tentativa de violar as regras comunitárias.
A atitude dos holandeses irritou as organizações de polacos a viver na Holanda. Malgorzata Bos-Karczewska, responsável do portal da comunidade polaca Polonia.nl e presidente da Associação de Peritos Polacos na Holanda, publicou no prestigiado diário NRC Handelsblad um artigo crítico sobre a hipocrisia holandesa. Com o título "Trabalhem ou desapareçam!", aconselha os polacos a trabalhar na Holanda a irem para a Alemanha, que abre em maio de 2011 o seu mercado de trabalho.
Os produtores do sul da Holanda manifestam a sua consternação. Alertam para que não haverá ninguém para colher morangos e maçãs, pois os holandeses não estão dispostos a sujar as mãos.
O Presidente polaco, Lech Kaczynski, e grande parte dos altos responsáveis da Polónia estão entre as vítimas mortais da queda do Tupolev Tu-154, ao serviço do Governo de Varsóvia, que esta manhã se despenhou pouco antes da aterragem em Smolensk, na Rússia. Informações avançadas por uma fonte das forças de segurança russas indicam que na origem do desastre terá estado um erro do piloto do aparelho. A hipótese de o mau tempo ter provocado o acidente também já foi colocada.
Nem as autoridades russas nem as polacas admitem a existência de quaisquer sobreviventes da queda do Tupolev Tu-154, naquele que é o mais grave acidente aéreo com cidadãos polacos e o mais devastador em termos políticos do país. Na lista de passageiros constava o Presidente Kaczynski, a sua mulher, Maria, o chefe de Estado-Maior das Forças Armadas (e toda a cúpula do exército polaco), o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Andrzej Kremer, o governador do banco central polaco, Slawomir Skrzypek, vice-presidente do Parlamento, o presidente da Casa Civil e dezenas de deputados.
Ao fim da manhã as autoridades russas fixaram o número total de mortos no acidente em 96 pessoas, incluindo 88 membros da delegação polaca.
Uma fonte das forças de segurança russas, citada pela agência noticiosa RIA Novosti, afirmou que “um erro da tripulação no momento das manobras de aproximação à pista para aterragem terá estado na origem da catástrofe”. A agência Interfax, que cita a televisão polaca Polsat, adianta, por sua vez, que as autoridades russas propuseram à tripulação do Tupolev que aterrassem em Minsk ou em Moscovo devido às condições meteorológicas, nomeadamente a existência de nevoeiro, mas o piloto decidiu manter a aterragem em Smolensk . O avião acabou por despenhar-se à quarta tentativa de aterragem, segundo a Interfax.
A confirmarem-se estas informações a responsabilidade do acidente poderá ser atribuída ao piloto por não ter alterado a rota apesar das recomendações das autoridades aeroportuárias russas. As duas caixas negras do aparelho foram, entretanto, recuperadas e é o próprio primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, quem vai liderar a comissão de inquérito para apurar as causas do acidente. Putin e o primeiro-ministro polaco Donal Tusk deslocaram-se ao local da tragédia.
“Hoje, às 10h56 (7h56 hora de Lisboa), quando tentava aterrar no aeroporto, o avião Tupolev-154, que fazia a ligação entre Varsóvia e Smolensk, despenhou-se nos arredores da cidade”, precisou Irina Andrianova, porta-voz do Ministério russo para Situações de Emergência.
"O avião incendiou-se após a queda. Equipas de socorro começaram de imediato a acorrer ao local para tentar resgatar passageiros do avião fortemente danificado", relatou, depois, o porta-voz do chefe da diplomacia polaca em Varsóvia.
O governador da região de Smolensk, Sergei Antufiev, disse, em declarações à estação de telvisão russa, que "quando o aparelho se preparava para aterrar não conseguiu chegar à pista". "De acordo com relatórios preliminares, o avião embateu contra o topo de umas árvores, despenhou-se e partiu-se em bocados. Não há sobreviventes deste acidente", sublinhou.
Eleições antecipadas
O Presidente Lech Kaczinski dirigia-se para Smolensk para participar nas cerimónias fúnebres em memória das vítimas do massacre de Katyn, em 1941, quando a polícia secreta soviética executou mais de 20 mil oficiais polacos capturados pelo Exército Vermelho.
Um porta-voz do governo polaco anunciou a realização de eleições presidenciais anticipadas. Pawel Grass disse à Reuters que, até lá, o presidente da câmara baixa do parlamento Bronislaw Komorowski “é automaticamente o Presidente em funções”. Segundo os constitucionalistas, a data das eleições deverá ser marcada no prazo de duas semanas e a ida às urnas terá que ser feita nos dois meses que se seguem à marcação das eleições.
A maldição de Katyn
O acidente é um enorme choque para a Polónia, matando muitos dos mais altos líderes do país e fazendo reviver, para alguns, o horror do massacre de Katyn.
“É um sítio maldito”, disse o antigo Presidente, Aleksander Kwasniewski, à TVN24. “Dá-me arrepios na espinha. Primeiro a elite da Segunda República polaca é assassinada na floresta de Smolensk, agora a elite intelectual da Terceira República morre neste acidente trágico quando se aproximavam do aeroporto de Smolensk. Esta é uma ferida que vai ser muito difícil de curar”, afirmou.O antigo Presidente Lech Walesa, que presidiu à transição da Polónia do comunismo, enquadrou o acidente nos mesmos termos históricos: “Este é o segundo desastre depois de Katyn”, disse ao mesmo canal de notícias TVN24. “Eles quiseram cortar a nossa cabeça lá, e lá a elite da nossa nação também morreu. Apesar das diferenças, a classe intelectual daqueles que iam no avião era verdadeiramente grande.”
Dezenas de milhares de pessoas concentraram-se junto ao palácio presidencial em Varsóvia, para prestar homenagem ao Presidente Lech Kaczynski e às outras vítimas. Já noite na capital polaca, com as luzes do centro da cidade apagadas, eram as chamas de milhares de velas acessas que iluminavam a multidão silenciosa. A Polónia está de luto.