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A-24

Prisão preventiva

por A-24, em 11.12.14
Via Blasfémias

Qualquer que seja o motivo que leva a uma prisão preventiva, ele será sempre uma confissão de incompetência do estado. Incompetência em evitar que o suspeito fuja do país, incompetência em evitar que ele prejudique o andamento do inquérito, incompetência em evitar que ele perturbe a ordem social, e, obviamente, nos países que permitem períodos dilatados desse regime, incompetência em acusá-lo, julgá-lo e condená-lo num período de tempo razoável para todos os envolvidos no processo. Deste modo, fora dos crimes de sangue detectados em flagrante delito, ou de cuja autoria subsistam poucas dúvidas, dificilmente qualquer outra prisão preventiva não deixará de ser também uma grave censura para o estado que a comete.

A Podridão do Regime

por A-24, em 08.12.14
Via História Maximus


"Não vale nada um povo que não sabe defender a honra da sua Pátria." - Friedrich von Schiller (1759-1805)


A gravíssima crise de regime a que temos assistido nos últimos tempos em Portugal já era de esperar há muito para quem é conhecedor daquilo que já aconteceu durante a Primeira República Portuguesa.
A fórmula política que foi imposta aos portugueses em consequência do 25 de Abril de 1974 não passa de uma cópia actualizada da já malograda Primeira República e por isso mesmo um desastre à espera de acontecer. O rotativismo partidário, a corrupção em larga escala e a todos os níveis da máquina do Estado, a incompetência, a cobardia, a traição, a mentira compulsiva e todos os restantes elementos nefastos que acabaram por culminar no colapso da Primeira República estão hoje presentes na actual versão da República que só ainda não colapsou ou foi derrubada pela força por não existirem condições internacionais (ainda...) que permitam tal aventura. 
Nunca escondi o facto de ser totalmente avesso ao actual regime e por isso espero e anseio ardentemente para que os ventos políticos na Europa mudem o mais rapidamente possível de forma a permitir as condições necessárias no plano internacional para a derrota e destruição definitiva do regime de traição e corrupção ilimitada que hoje governa Portugal.
Se os portugueses ainda não perceberam, então é hora de perceberem que a raiz do mal no regime republicano e já anteriormente no regime da monarquia liberal (a verdadeira origem de quase todos os males...) foi desde sempre os partidos políticos. Um partido, tal como o nome o indica, representa uma parte da Nação e não o todo. Mais grave ainda do que isto é o facto de os partidos existirem apenas para se combaterem perpétuamente uns aos outros numa luta fratricida e extremamente dispendiosa para os bolsos do contribuinte. O resultado desta situação é que raramente os partidos conseguem chegar a acordo seja no que for e mais raramente ainda defendem o interesse nacional, pois acima de tudo está a defesa dos interesses do partido e dos seus respectivos militantes.
Por outro lado, os partidos políticos funcionam como empresas e tal como qualquer empresa o seu objectivo é ter lucro. A forma de obter este lucro é mediante a corrupção, nomeadamente favorecendo determinadas empresas, sociedades de advogados e bancos que em troca de determinados favores financiam campanhas eleitorais e garantem prémios chorudos aos políticos que as beneficiam. 
O jogo "democrático" ou jogo dos partidos apesar de ser teoricamente atraente e até mesmo sedutor, na prática é extremamente prejudicial aos interesses colectivos da Nação e à sociedade civil como um todo, pois enfraquece a mesma e torna-a permeável a inúmeros vícios. O alto capital apátrida e internacionalista entretanto agradece e esfrega as mãos de felicidade com esta situação, pois quanto mais decadente ficar a sociedade civil e quanto mais fracas ficaram as instituições nacionais, mais fácil é para o mesmo dominar uma Nação e escravizar os seus habitantes.
Como é que os portugueses passaram de um povo guerreiro que em tempos se destacou pela tenacidade com que empreenderam a Reconquista e posteriormente a fantástica epopeia dos Descobrimentos, para um povo que arrisco chamar de letárgico, é coisa que não consigo compreender e sinceramente duvido que alguém seja capaz de tal.
Orlando Braga escreveu há poucos dias atrás que "a irracionalidade da nossa sociedade só poderá ser superada com muita violência"[1], hoje, mais do que nunca sou obrigado a concordar com este pensamento não por ser um psicopata, pois decerto que não o sou, mas porque já percebi que na História normalmente o que nasce afogado em sangue, morre afogado em sangue. O actual regime que governa Portugal foi erguido sobre a pilha de mais de um milhão de cadáveres que resultaram da "descolonização exemplar", quando cair e há-de cair, é provável que deixe atrás de si outro banho de sangue.
Resta-nos então esperar que soprem ventos de mudança do resto da Europa e que o actual regime continue a apodrecer a rápida velocidade de forma a que quando chegar a hora de "atravessar o Rubicão" o mesmo possa ser facilmente removido, com o mínimo de danos colaterais possíveis e que os seus agentes, servos de Mamon e vassalos de Lúcifer, sejam devidamente julgados e condenados à única pena adequada a patifes da sua laia. 
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Notas:
[1] BRAGA, Orlando - A irracionalidade da nossa sociedade só poderá ser superada com muita violência. Algol Mínima, 21 de Novembro de 2014. Link: http://www.algolminima.blogspot.pt/2014/11/a-irracionalidade-da-nossa-sociedade-so.html

A Herança de Sócrates

por A-24, em 06.12.14
via Viriatos da Economia

- Dívida Pública aumentou 90.000 milhões de euros entre 2005 e 2010.
- Nacionalizou o BPN, com o contribuinte a pagar, aumentando o seu buraco em 4.300 milhões em 2 anos, e fornecendo ainda mais 4.000 milhões em avales da CGD que irão provavelmente aumentar a conta final para perto de 8.000 milhões, depois de ter garantido que não nos ia custar um euro.
- Derrapagem de 695 milhões nas PPPs só em 2011.
- Aumentou custo do Campus da Justiça de 52 para 235 milhões.
- A CGD emprestou 300 milhões a um amigo do partido para comprar ações de um banco privado rival, que agora valem pouco mais que zero.
- Injectou 450 milhões no BPP para pagar salários dos administradores.
- Desbaratou 587 milhões do OE de 2011 em atrasos e erros de projeto nas SCUTs Norte.
- Desapareceram 200 milhões de euros entre a proposta e o contrato da Autoestrada do Douro Interior.
- Anulou e deixou prescrever 5.800 milhões em impostos.
- Perdeu 7.200 milhões de fundos europeus pela incapacidade do governo de programar o seu uso.
- Enterrou 360 milhões em empresas que prometeu extinguir.
- Contratou 60.000 milhões em PPPs até 2040.
- Usou Reformas para financiar a dívida de SCUTs e PPPs.
- Deu de mão beijada 14.000 milhões aos concessionários das SCUTs na última renegociação.
- Deixou agravar o passivo da Estradas de Portugal em 400 milhõesem 2009.
- Deu 270 milhões às Fundações em apenas dois anos.
- Pagou à EDP, em rendas excessivas, 3.900 milhões tirados à força da vossa fatura da eletricidade.
- Deixou os sindicatos afundar as EPs em 30.000 milhões de passivo para os camaradas sindicalizados com salários chorudos e mordomias, pagos pelo contribuinte.
- Aprovou um TGV que já nos custou 300 milhões só em papelada, e vai custar outro tanto em indemnizações
- Mais todos os milhões enterrados no Aeroporto fantasma de Beja, totalmente inoperacional, inaugurado à pressa antes das eleições para fechar logo de seguida.

Vistos gold, turismo e ajustamento

por A-24, em 03.12.14
Carlos Guimarães Pinto

Voltemos ao princípio das história: Portugal entrou no Euro, os bancos ganharam acesso a financiamento mais barato que passaram aos seus clientes sob a forma de taxas de juro baixas. O estado também aproveitou a benesse para se endividar a um ritmo nunca antes visto. Com tanto dinheiro barato a entrar, a economia virou-se para dentro, focando-se na produção de bens não transaccionáveis, perdendo competitividade nas exportações.

Chegamos a 2009: financiamento externo começa a secar. Em 2011 seca quase por completo, obrigando o estado a recorrer à Troika. O crédito que antes alimentava os sectores da economia não transaccionável deixou de estar disponível. A economia entrou num processo duro de ajustamento em que pessoas, infraestruturas e capital precisam de ser redireccionadas para a produção de bens de exportação. Este processo é doloroso por um motivo simples: pessoas, infraestrutura e capital não alteram as suas valências de um dia para o outro. Neste processo longo, haverá pessoas desempregadas, infraestruturas desaproveitadas e capital indisponível.

O processo será tão mais longo e doloroso quanto mais as valências dos sectores exportadores estiverem distantes das valências dos sectores não transaccionáveis. Na maior parte dos casos, estão bastante distantes. Mas há um caso específico em que não estão: o turismo, na sua forma de lazer e residencial.

Os turistas usam a mesma infraestrutura (lojas, serviços e habitações) que se alimentaram da procura interna no passado. Com pequenas modificações, a estrutura que servia a procura interna pode servir o turismo. O mesmo acontece com turismo residencial: uma empresa construtora que vivia à custa de obras públicas, pode construir casas de luxo para estrangeiros passando apenas por um pequeno período de ajustamento. Claro que para conseguir vender casas de luxo a estrangeiros, é preciso que os estrangeiros possam viver nelas. Os vistos gold (um péssimo nome para uma política sensata) facilitavam precisamente esse percurso. Permitiam que cidadãos fora da União Europeia não tivessem que passar pelo longo processo de obtenção de visto cada vez que quisessem visitar. Não foi uma medida estatista, antes pelo contrário. Foi uma medida que eliminou alguns obstáculos burocráticos que se colocavam a quem, sendo não-europeu, quisesse viver numa casa em Portugal. Ao fazê-lo não veio distorcer um mercado, veio torná-lo mais líquido, eliminando obstáculos à entrada de compradores.

Depois há a questão moral ligada aos vistos gold, relacionada com a atribuição de residência a pessoas apenas por terem dinheiro. Com aqueles para quem cada estrangeiro que entra em Portugal é um estrangeiro a mais, não há muito por onde discutir. Com os que acham que não deveria haver fronteiras, também não. Mas para a maioria das pessoas que aceitem que Portugal não se deve fechar completamente à entrada de estrangeiros, mas que ao mesmo tempo compreendem que não pode ter uma política de portas abertas, a necessidade de critérios à entrada parece fundamental. Um dos principais critérios será inevitavelmente económico. Pessoas com emprego são preferíveis a pessoas sem emprego e pessoas com capacidade para se sustentarem são preferidas a pessoas sem essa capacidade. Os vistos gold aplicam precisamente este último critério.

Ainda sobre o ranking das escolas

por A-24, em 02.12.14
Via Portugal Contemporâneo

Por que é que o filho de um licenciado tem maior probabilidade de tirar uma licenciatura do que o filho de um analfabeto? E pode, ou deve, o Estado corrigir esta diferença?

A resposta a estas duas questões é tão simples que brada aos céus tentar ocultá-la. De um modo geral, e aceitando o princípio de que não há regra sem exceção, o filho do licenciado tem melhor desempenho escolar do que o do analfabeto porque tem um QI mais elevado.
O QI é uma característica genética, como a cor da pele, a altura ou a aptidão para a música. Podemos aperfeiçoar algumas destas características, através da educação e do treino, mas não podemos transformar um burro num Einstein, como não podemos transformar um duro de ouvido num Mozart.
Agora, a segunda questão. O Estado deve tentar corrigir estas diferenças? Na minha opinião, não. A educação não pertence ao Estado, por muito que os socialistas se esforcem em contrário.
Nem é possível corrigir diferenças de QI, como não é possível fabricar Mozarts. Se a escola for igualitária (tratar todos os alunos de forma idêntica) os alunos com QI mais elevado aproveitam mais. Se a escola concentrar recursos nos alunos com QI mais baixo, os outros piram-se para outras escolas.
Talvez seja isto que está a acontecer em Portugal. Os melhores alunos piraram-se para as escolas privadas e é por isso que estas se destacam no ranking nacional.
O Estado pode tentar corrigir diferenças de aproveitamento escolar, o que não pode é escapar às consequências desastrosas que daí resultam. As escolas públicas cada vez piores e as privadas cada vez melhores.

Sobre o catolicismo e o ranking das escolas

por A-24, em 02.12.14
Pedro Arroja


I
No ranking das Escolas o facto saliente não é apenas que a primeira escola pública aparece em 34º lugar. É também que as escolas públicas têm vindo a decair no ranking. Habitualmente só colocavam uma nos primeiros dez lugares. No ano passado colocaram uma (19ª) nos primeiros vinte lugares. E este ano só colocam uma nos primeiros 35 lugares.

Há outro facto saliente. É que entre as escolas privadas que dominam o ranking, a esmagadora maioria são escolas católicas.
O que é que uma escola católica dá às crianças e adolescentes, e que uma escola pública não dá?
Muitas coisas, mas há duas fundamentais. Dá-lhes educação religiosa e o conhecimento de Deus, sem o qual não existe racionalidade. E dá-lhes autoridade (do latim auctoritas, fazer crescer), dá-lhes pessoas que as fazem crescer, algo que, hoje em dia, praticamente não existe nas escolas públicas.

Todas (ou quase todas) as religiões oferecem um modelo de gratificação diferida, prometem a vida eterna a quem se portar Bem na Terra (pie in the sky). Sendo possível demonstrar, de forma empírica, que só os mais inteligentes conseguem resistir à tentação da recompensa imediata, é natural que o ensino religioso aproveite mais a quem já tem um QI elevado. E, já agora, meta nos carris os que tendo QI’s mais baixos também possam beneficiar de bons tutores.
O ensino católico tem ainda outra grande vantagem: é congruente com a nossa cultura. Dá uma vantagem natural aos alunos que o frequentam porque aprendem melhor a manejar as ferramentas culturais indígenas.


II
"Não fico nada surpreendido, portanto, por muitas das nossas melhores escolas serem católicas. Como não ficaria nada surpreendido se um dia se demonstrasse que, em Portugal, as pessoas mais inteligentes são católicas. De facto, que raio de esperteza é que levaria um português a tornar-se budista ou mórmon?

Melhores Escolas de Portugal (Melhores resultados nos Exames - Provas com mais de 50 alunos)
4º Ano:
Externato das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, Porto
6º Ano:
Colégio das Terras de Santa Maria, Santa Maria da Feira
9º Ano:
Colégio Nossa Senhora da Paz, Porto
12º Ano:
Colégio Nossa Senhora do Rosário, Porto
(Fonte: Público, Suplemento de 29 de Novembro de 2014)"


III
Três notas. Primeira, a tradição católica do país é mais vincada a norte do que a sul, e daí as melhores escolas católicas, e de Portugal, estarem a norte. A segunda nota é pessoal: O Colégio das Escravas do Sagrado Coração de Jesus foi o colégio frequentado por todos os meus filhos e ao qual eles devem, em parte, aquilo que são hoje. Terceira: todos os colégios mencionados aludem, no seu nome, a figuras de Mulher, que é o símbolo da Educação.

Entrevista ao sempre interessante e cáustico José Cid

por A-24, em 30.11.14
Sol


10 000 Anos Depois Entre Vénus e Marte é considerado pela revista americana Billboard um dos cem melhores discos de rock sinfónico e ajudou José Cid a recuperar a atenção do público nos últimos tempos. Aos 72 anos, o músico diz que canta melhor do que Roberto Carlos, acusa Tony Carreira de plagiador e repudia o programa apresentado por Teresa Guilherme. Monárquico convicto, fala ainda do partido recém criado Nós, Cidadãos e defende que D. Duarte daria um dos melhores reis da história de Portugal. 
"Os melhores sistemas políticos mundiais são as monarquias do Norte da Europa, onde a corrupção é quase nula, a cultura, a saúde e a educação são importantes"

No dia 15 vai revisitar, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, o disco 10 000 Anos Depois Entre Vénus e Marte, de 1978. É o seu álbum mais importante?
É uma obra irrepetível, embora não o considere o meu melhor álbum de rock sinfónico. O Vida (Sons do Quotidiano) é o melhor e também vai ser tocado no Coliseu. Mas, instrumentalmente, o 10 000 Anos é muito complexo e, por isso, vou ter mais um elemento na banda, o meu sobrinho Gonçalo Tavares, que vai tocar teclas. Em vez de dois teclistas, vão ser três, com a vantagem ainda de que ele tem os instrumentos exactos do rock sinfónico que eu não tinha quando o gravei. 

Nos últimos anos o disco tem sido acarinhado, mas em 1978 não teve aceitação.
Aqui em Portugal nenhuma. Não vendeu. Mas, às vezes, ainda me aparecem com o disco original para autografar. 

Por que não vendeu?
Era um álbum muito à frente e as pessoas queriam ouvir-me em coisas comerciais como 'No dia em que o rei faz anos', 'A minha música', 'A cabana', 'Addio adieu auf wiedersehen goodbye', '20 anos'... 

Tinha noção do risco quando o compôs?
A minha obra é muito camaleónica, não se fixa por um género. Até fado gravei, em 1988, e foi um êxito. Vendi 40 mil vinis numa altura em que ninguém vendia 300. Quanto ao 10 000 Anos aquilo estava escrito e tinha que ser feito. Escrevi o álbum pouco a pouco, já estava no Quarteto 1111, mas achei que o grupo era para outro tipo de rock e guardei este álbum para mim. Agora sinto uma responsabilidade acrescida porque, no final do milénio, depois de o disco ser editado nos Estados Unidos, a crítica americana pegou nele e o disco ganhou uma dimensão mundial. Tornou-se um álbum de culto, com a Billboard a nomeá-lo como um dos 100 melhores álbuns de sempre. O Blitz também o colocou como o segundo melhor álbum nacional de todos os tempos, atrás de Cantigas de Maio, do Zeca. Recentemente foi a Sputnik Music a nomeá-lo como um dos cinco melhores álbuns de rock sinfónico. Portanto, o rock português tem aquilo que é apontado pela crítica mundial como um dos melhores álbuns mundiais de sempre. A França não tem, a Alemanha não tem, a Espanha muito menos. 

Este reconhecimento começou há dez anos, quando a Art Sublime o editou nos EUA. Houve ainda uma edição japonesa?
Os japoneses também estavam na jogada, mas optei pelos americanos e nitidamente foi o melhor que fiz. Mas o álbum está já de tal maneira relançado pelo mundo inteiro que para aí há dois meses recebi uma chamada de um sul-americano a dizer-me que há uma edição em vinil pirata do 10 000 Anos no Peru. De tal maneira pirata, que meteram o Vida (Sons do Quotidiano). Queriam vir entregar-me direitos de autor, mas não aceito dinheiro ilegal. 

Vai gravar o concerto e fazer um DVD para reforçar o projecto no mercado internacional? 
Sim, vou tentar finalmente fazer o DVD. É a altura para o fazer: amadurecemos o concerto e já que o álbum está tão bem cotado quero tentar fazer grandes concertos mundiais. No Rock in Rio Lisboa não, porque para eles eu sou mais rio do que rock. Em Portugal, há um lobby muito grande contra o José Cid porque tenho público. É impensável que tenha um álbum nomeado entre os melhores do mundo e nunca tenha ido cantar ao Rock in Rio, quando todo o gato sapato lá vai. 

Alguma vez abordou a Roberta Medina?
Já e não houve resposta. À volta dela há o tal lobby. E depois tinha de ser agressivo, tinha de lhe explicar que em Portugal sou o equivalente ao Roberto Carlos no Brasil. A diferença é que canto muito melhor do que o Roberto Carlos. 

Sente-se injustiçado pelo Rock in Rio?
Um palco é um palco e aquilo é um grande concerto. Alguns colegas meus completamente estilizados e decrépitos vão, porque não ir lá tocar também? É uma injustiça, mas o facto de não me levarem significa que têm uma grande dor de cotovelo de mim. E isso diverte-me. 

Enquanto não vai, continua a preparar o seu próximo disco de rock sinfónico, projecto que já se fala há anos?
Sim, estou a escrever um quarto álbum, e último, de rock sinfónico que se chama Vozes do Além. Poeticamente parte de uma estética mais à frente, com poesia de Natália Correia e Sophia de Mello Breyner ligado com algumas ideias poéticas minhas. Mas o próximo trabalho que vou lançar não é esse, mas sim Menino Prodígio. 

É sobre o quê?
É a minha história. Quando era pequenino tocava piano, cantava e as pessoas chamavam-me menino prodígio. É um álbum muito roqueiro, mas com textos, com opinião política e até objecção de consciência na própria poesia. 

Porque os tempos actuais o exigem? 
A publicidade do álbum vai ser assim: sem se aperceber ou querer, Portugal teve, nos anos 70, um dos maiores rockers do mundo. Quarenta anos depois, o menino prodígio vem provar isso mesmo. É uma bomba, tem tudo o que as minhas outras músicas têm, mais a originalidade de ser actual. 

Essa actualidade tem a ver com as suas convicções políticas e a recente criação do partido Nós, Cidadãos? 
Já fiz o hino e digo que é uma boa ideia, mas ainda não entrei definitivamente porque estou à espera do debate de ideias. Não assino cheques em branco. Acho que o Nós, Cidadãos tem de ser uma mesa redonda, de 12 pessoas, entre elas o D. Duarte, um homem interessantíssimo, que daria um rei melhor do que 90% dos reis que tivemos. Além de culto, tem uma visão estratosférica sobre o país. Se ele der a cara pelo partido, entro para se tomarem posições muito concretas. Uma delas é o voto obrigatório. As pessoas deviam sentir a votação como uma obrigação. Quem não vota deve ser multado pesadamente. 

Se não sentem, o Estado obriga?
Basta olhar para as percentagens de abstenção das eleições. Não é preciso uma lei se as pessoas sentirem o voto como uma obrigação cívica. É como nas rádios, não é preciso uma lei que obrigue a passar música portuguesa se os locutores se sentirem na obrigação de passar porque são portugueses. O voto é a mesma coisa. O Nós, Cidadãos não é um projecto à esquerda, nem à direita, nem ao centro. É estar por cima para idealizar e por baixo para proteger os mais necessitados.

É assumidamente monárquico. É o sistema que defende?
Os melhores sistemas políticos mundiais são as monarquias do Norte da Europa, onde a corrupção é quase nula, a cultura, a saúde e a educação são importantes. No fundo, as coisas que são importantes para as pessoas comuns. Pagam impostos, mas têm tudo facilitado. Aqui não, pagam-se impostos e ainda se é mal tratado. Neste país, politicamente não se consegue concretizar nada porque o sistema não presta, o 25 de Abril é um projecto adiado. Só aumentou consideravelmente a pobreza, destruiu a classe média e não soube controlar a classe rica, que pode criar empregos ou fazer offshores. Mas nem isso controla. Para que serve o 25 de Abril? Para termos liberdade para falar? Então é o que estou a fazer. O Presidente da República viu o país ir-se por aí abaixo, sabia o que estava a acontecer, mas não travou. Há oito anos, foi oferecido pelo Xanana [Gusmão], a custo zero, o pagamento da dívida externa de Portugal. O Sócrates não quis, este [Passos Coelho] também não e o PR está a par desta história. Timor está forrado de dinheiro por causa do petróleo e quis ajudar, mas nós não aceitámos a ajuda timorense para favorecer os interesses da Europa, da banca e dos políticos ligados ao processo da Europa que, se calhar, também recebem dinheiro por baixo da mesa. Qual é o resultado? Estamos nós, os nossos filhos, os nossos netos a sofrer consequências dramáticas por não nos ligarmos ao único país no planeta que gosta de nós. Aqui era preciso fazer como em Timor. 


Como?
Os timorenses contrataram uma polícia fiscal australiana e a ministra da Justiça e do Trabalho já foram presas. E Timor só tem dez anos de democracia. Aqui não, a classe rica age de forma escandalosa. Acredito que muita dela é honesta e trabalha para o bem do país, mas depois há as excepções que temos visto, algumas delas associadas ao poder político, que fabricam o dinheiro em Portugal e depois metem-no lá fora, sem impostos, com fugas. É por isso que digo que o 25 de Abril não é um projecto concretizado. Mas o problema vem de trás. Os últimos cem anos da nossa história são vergonhosos. Mataram um rei genial, o rei D. Carlos, um homem cultíssimo com prestigio a nível mundial, e impuseram uma República, que até já teve duas ditaduras - uma salazarista e outra marcelista. E mais recentemente teve outra, legalizada pelo voto do povo, em que o primeiro-ministro se achou no direito de fazer tudo o que queria e lhe apetecia porque tinha a maioria absoluta. Devia ter sido demitido. 

Se entrar para o Nós, Cidadãos vê-se como candidato?
Ministro da Cultura era capaz de ser, até porque tenho muito mais perfil do que o secretário de Estado que lá está. Como acho, por exemplo, que se o António Costa ganhar e puser o Carlos do Carmo como ministro da Cultura faz muitíssimo bem. 

O pelouro da Cultura deve estar entregue a um artista? 
Não se percebe como é que o Partido Socialista está anos e anos no poder e não tem uma pessoa como o Manuel Alegre na Cultura. Um homem tão brilhante a escrever. Há uma grande diferença entre pessoas cultas, que debitam frases finas, e pessoas criativas. O maestro Vitorino de Almeida é outro homem culto e criativo. 

Herdou convicções políticas de família?
Não, até era republicano ao princípio e depois percebi que os sistemas republicanos falham completamente. A minha família tinha um lado monárquico e outro republicano. O meu bisavô Albano Coutinho, um homem extraordinário, era maçom, mas rapidamente percebeu o que a República portuguesa queria fazer e saiu da maçonaria. Depois tenho um lado monárquico, com alguma ascendência. 

Aos 72 anos ainda se sente com energia para lutar pelos seus ideais? 
A idade já pesa, estou todo podre, mas a voz contínua impecável. A minha vida é escrever canções e agora que estou um pouco na recta final da minha carreira se puder armazenar alguns álbuns acho uma boa ideia. Sinto que continuo criativo e que tenho voz. Por isso, em Janeiro, lanço Menino Prodígio e durante o próximo ano vou gravar Vozes do Além. 

Está a armazenar projectos? Tem medo da velhice?
Já estou nela. Estou só a gerir a minha decadência. Além de Menino Prodígio e Vozes do Além já tenho praticamente acabado um álbum que se vai chamar Fados Fandangos, Chulas e Malhões, e tenho outros projectos que não posso dizer já para não me copiarem a ideia. 

Foi muito plagiado para ter esse medo?
Não, até porque vocalmente é muito complicado cantar José Cid. Mas é uma ideia estética muito concreta e seria dar de mão beijada uma ideia muito minha. 

Quando descobriu que podia cantar?
Comecei a cantar num grupo de jazz em Coimbra e, com 14 anos, criei com alguns amigos Os Babies, uma banda de covers que animava as festas de garagem. Primeiro tocava piano, mas um dia o vocalista não pôde cantar e substituiu-o. Aos poucos fui percebendo que podia cantar muita coisa. 

Teve aulas?
Não, tudo sozinho. Nunca tive uma aula na vida. 

Nem de piano?
Não, completamente autodidacta. 

Mas ganhou um concurso ainda muito novo…
Ganhei o primeiro prémio de canto coral no colégio de jesuítas em que andei em Santo Tirso. 

Era um colégio interno?
Sim, a casa dos meus pais ficava a 300 quilómetros. Nessa altura levava-se oito horas para lá chegar. Era quase clausura total. 

Com uma educação muito católica?
Sim, foi uma seca. Fiquei altamente traumatizado. Durante quatro anos tinha que ir todos os dias, às 8h da manhã, à missa. Isso é traumatizante para qualquer criança. Quando sai de lá passei a ir só ao domingo, mas chegava sempre atrasado e ficava no átrio à espera que as minhas amigas saíssem da missa. 

Hoje permanece desligado da Igreja?
Hoje sou capaz de parar para rezar, mas tenho outro Deus, mais antigo: o Endovélico, que é o deus que os portugueses deviam seguir. Antes de os romanos chegarem, o Endovélico era o nosso deus, mas foi silenciado pelo cristianismo. Ainda há um único altar endovélico em Portugal, no Monte da Lua, em Sintra. Só quem sabe é que lá vai e eu vou lá rezar de vez em quando. Aí e noutro sítio fantástico, que ainda tem resquícios do Endovélico, em São João da Pesqueira, na margem Sul do Douro, num promontório que se chama São Salvador do Mundo. Até escrevi uma música sobre este sítio. Não tenho nada contra Fátima, embora ache que aquilo seja um supermercado do rosário, mas São Salvador do Mundo é que devia ser o nosso Stonehenge. Se foi o colégio jesuíta que me fez procurar este outro Deus já não sei, mas fiquei traumatizado pelo isolamento. Também porque, naquela altura, tinha uma grande paixão pela minha preceptora francesa, a Monique, com quem aliás ainda hoje falo. Ela tem agora quase 90 anos e continua a ser uma mulher lindíssima. 

Como o marcou esta preceptora?
Foi ela que percebeu que era um miúdo que gostava de música, de letras, de artes. Que não era o miúdo que os meus pais queriam formar. Na Chamusca, onde cresci, a minha família era de uma classe social e económica bastante elevada, por isso não queriam que cantasse, mas sim que fosse advogado. 

Se tinha uma preceptora porque foi parar a um colégio interno?
Ela era uma mulher lindíssima, que despertou grandes paixões no Ribatejo. Os meus pais foram-na depositar a Paris porque ela e o meu primo Fernando Cid tinham uma grande paixão, uma espécie de Romeu e Julieta da época. Ela nunca mais voltou a Portugal e foi nessa altura que fui internado em Santo Tirso. Sofri imenso, os padres diziam que me fartava de chorar e chamar pela Monique. 

São as memórias de infância que guarda?
Também não me esqueço das brincadeiras com os meninos da minha rua. Era muito engraçado porque sabia que sempre que atirava um para dentro da piscina os meus pais davam-lhe roupa. Então fazia de propósito. Atirava-os e depois gritava: 'Mãe, o não sei quantos caiu para dentro da piscina. Tem de levar roupa e sapatos'. Era isso e as jangadas de canas que construíamos para andar nas cheias. A parte de trás do nosso jardim dava para uma horta a 500 metros do Tejo e, quando chovia, aquilo ficava tudo inundado e nós andávamos nas cheias de jangada. Uma vez íamos morrendo, foi preciso os bombeiros irem-nos salvar de barco. 

Ainda se dá com os amigos de infância?
A grande maioria sim, mas alguns deixei porque são meio insuportáveis, armados em snobes. Pessoas muito finas, todos engravatados, uma chatice.

E os irmãos não participavam nas brincadeiras? 
Não tinha irmãos, só duas irmãs, dez anos mais velhas. Eram como segundas mães. Vim muito mais tarde porque os meus pais sempre quiserem ter um rapaz. 

Um rapaz que lhes deu algumas dores de cabeça… 
Nunca quis estudar Direito, fui para lá empurrado pelos meus pais. Não tinha jeito nenhum, nem gostava daquilo. Fiz duas cadeiras em quatro anos. Só queria saber de desporto e de música. Eram os meus projectos de vida e isso provocou, naturalmente, muita guerra em casa. Mas desisti do curso de Direito, vim para Lisboa para o curso de Educação Física e continuei na música. 

É já em Lisboa que cria o Quarteto 1111.
Sim. Um dos meus colegas no Instituto Nacional de Educação Física era irmão do Michel que tocava no Conjunto Mistério. Juntei-me ao grupo e, pouco tempo depois, mudámos o nome para Quarteto 1111. Era o número de telefone da sala de ensaios, o que facilitava o contacto com as fãs. 

Tinham muitas groupies atrás de vocês?
Sempre odiei groupies. São ninfomaníacas deslumbradas que não ouvem música. Nunca namorei com uma fã. 
Com os 1111, já com Tozé Brito na formação, criaram uma banda paralela: os Green Windows. Porquê? 
Censura. Tenho 28 canções censuradas pelo antigo regime. Começámos a contar os tostões e pensámos numa forma de ganhar o mercado. Surgiu então a ideia de fazer uma banda comercial, com vozes femininas, com as nossas companheiras. A Maria Armanda, a minha segunda mulher, cantava connosco. 'No dia em que o rei fez anos' e '20 Anos' são dessa altura.

Apesar desse sucesso, anos depois a parte comercial já não corre tão bem. 
Depois do 25 de Abril, os estigmas do grupo Ary dos Santos, da pseudo-esquerda festivaleira, tudo isso. José Cid era o perigo porque era o homem que tinha êxito e achavam que estava contra eles. Muito mais tarde fiquei muito amigo do Paulo de Carvalho, do Carlos Mendes e do Carlos do Carmo. O Carlos do Carmo diz que tenho uma língua viperina e eu respondo-lhe sempre: 'eu não contesto, constato'. 

Na década de 1980, quando se dá o chamado boom do rock português, também é posto de lado. 
Logo. Não convinha ter um rapaz como eu, que cantava ao vivo muito mais do que aqueles roqueirinhos todos. Sou de outros campeonatos vocais. Era comparar a obra-prima do mestre com a prima do mestre-de-obras. E não se pode comparar. 

Revoltava-o?
Sorri e esperei pelo meu tempo, tive essa paciência. Sou muito cínico nesse aspecto. Nos anos 90 fiz álbuns brutais, que não venderam: Camões, as Descobertas e Nós, Ode a Federico Garcia Lorca, Cais do Sodré, de jazz, Pelos Direitos do Homem, dedicado à causa de Timor-Leste, e aquele álbum da fotografia despido de preconceitos. 

Está a falar da fotografia que fez em 1994, onde aparece nu, deitado num sofá, com um disco de ouro à frente?
Sim, despi-me de preconceitos e protestei contra as playlists das rádios. Quando as pessoas têm de sujeitar a sua criatividade e talento, com um sorriso de esgar e arrogância, aos 'donos' das playlists não posso fazer outra coisa. Com essa fotografia consegui separar o trigo do joio. As pessoas preconceituosas ficaram horrorizadas, as despreconceituosas acharam um piadão, acharam-me rebelde. 

Sabia que a imagem ia perdurar?
Claro que sim. O John Lennon despiu-se com a Yoko Ono pela paz no mundo e a imagem ficou para sempre, mesmo sendo a Yoko uma mulher horrorosa e o Lennon um lingrinhas do pior que há, com uma pilinha que ninguém queria pegar a não ser a medonha da Yoko. Eu, ao menos, sou ribatejano, de uma raça superior. O Lennon nu era o oposto do seu talento. A Yoko não percebeu que estava ao lado de um homem genial e quis manipulá-lo. Comigo a Yoko não tinha um dia de existência, comprava-lhe um par de patins e vinha do Castelo de São Jorge por aí abaixo. 

Nunca foi influenciado por uma mulher?
Não! Mulher que queira mandar em mim não tem hipótese. Também nunca quis mandar em nenhuma das mulheres com quem casei. Estou muito atento à manipulação das mulheres. É essa a grande vantagem que tenho com a Gabriela [a actual mulher]. É completamente independente, e dá-me a certeza de que sou verdadeiramente amado. 

É a sua quarta mulher. Como aconteceu?
Sou amigo de todas as minhas ex-mulheres, uma infelizmente já morreu, a Maria Armanda, mas tinha decidido não casar mais. Mas depois apareceu-me uma senhora interessantíssima, pintora, que não depende de mim economicamente, que tinha conhecido há muitos anos na Austrália. Ela tinha sido Miss Timor e era jornalista em Melbourne. Foi aí que nos conhecemos, quando me fez uma entrevista. Estivemos quase 30 anos sem nos falar. 

Como foi o reencontro?
Através destas coisas modernas da internet e Facebook. Gostei logo dela, foi tórrido... Depois estivemos 30 anos sem nos ver e há três veio a Portugal e encontrámo-nos. Ela foi a Timor resolver a sua vida e voltou para nos casarmos. 

Pediu-lhe logo em casamento?
Não, na minha idade já não se pede ninguém em casamento. Aos 72 anos era um disparate. Com esta idade o que se diz é: 'Damo-nos lindamente, temos tudo em comum, o mesmo sentido de humor, até somos os dois monárquicos progressistas, é uma boa ideia termos uma companhia na recta final das nossas vidas'. 

Usando a sua expressão, então agora já não é 'tórrido', já não há paixão, sexo… 
Damo-nos com Deus e os anjos. Cuidamos muito um do outro, dormirmos muito abraçadinhos, fartamo-nos de rir de manhã quando acordamos. Estamos sempre a rir, a dizer coisas engraçadas e a provocar. Com a minha idade as pessoas têm de se habituar a gostar de quem gosta delas. Quando gostamos das pessoas que gostam de nós levamos uma vida muito mais tranquila. A Curia [concelho de Anadia] dá-nos uma qualidade de vida bestial. A minha quinta também é muito bonita, passeamos com as nossas cadelas, ela pinta, eu escrevo os meus êxitos. 

É muito vaidoso da sua carreira. 
Eu? Nada. Gosto de escrever boas canções e de cantá-las. 

Então porque reforça várias vezes o reconhecimento internacional, o facto de cantar melhor do que o Roberto Carlos…
Mas isso é tão óbvio! É o mesmo que dizer que é mais bonita que a Teresa Guilherme. São coisas tão óbvias, que se pode dizer isto sem querer sublevar o ego [ri muito]. Aquela gente com quem a Teresa Guilherme está naquela Casa, que eu chamo de Casa dos Degredos, choca-me porque não tem representatividade em relação à juventude portuguesa. 

Se fizessem com celebridades e o convidassem entrava?
Está fora de questão. Não sou uma celebridade, sou um mito. E os mitos não se misturam com celebridades. Os mitos pairam a outros níveis. 

Isso não é contraditório com o que disse antes da sublevação do ego? 
Qual é o problema de as pessoas terem ego? Sou um mito porque, com 72 anos, tenho uma homenagem pública cada vez que dou um concerto, para salas completamente cheias, com gente a cantar comigo do princípio ao fim. Estou mitificado pelo público nacional. A Amália e o Zeca, injustamente, não tiveram uma homenagem destas. 

Nessa lógica o Tony Carreira também é um mito.
Não tenho a menor dúvida que sim. O Tony Carreira canta lindamente, tem poemas geniais, da mais alta qualidade poética, e tem músicas extremamente originais, basta ir à internet e ver. É um monstro de palco.

Está a ser irónico?
Não estou. Ele canta qualquer tipo de música: jazz, blues, rock. A voz dele presta-se a tudo. É do melhor que há. 

Continua a soar irónico.
Se pela negativa não vou lá, agora falo sempre pela positiva. Quem quiser que vá à internet e escreva ''L'Idiot' Herve Vilard', oiça e depois tire as suas conclusões. Como essa canção há mais 40. E as centenas de multas que já pagou por plágios na América do Sul e Central? O Marco Paulo, que cantava mesmo, tinha voz, e agora estou a falar a sério, punha poetas portugueses a fazer a tradução de letras e assumia-se como cantor de versões. A Sociedade Portuguesa de Autores paga-me a mim como paga aos plagiadores. Isso não é justo. Eu sou um criativo, um poeta, autor de toda a minha obra, não tenho nada que ser misturado com esta merda. 

Ser irónico e desbocado ajuda a construir o mito?
Não sou desbocado, é uma palavra sua. Eu não contesto, constato. Não sou malévolo a analisar as coisas. Obrigo é as pessoas a terem sentido de humor, se não têm nunca vão gostar do José Cid. 

Dos comentários valiosos II - Sobre Portugal e a RDA

por A-24, em 28.11.14
Fernando Vieira, comentando esta notícia no Observador

Em finais da década de 80, antes da queda do muro, tive o privilégio de conviver, por motivo de trabalho, com um cidadão da então RDA (República Democrática da Alemanha), de seu nome Hans e de cujo sobrenome já não me lembro. A empresa para a qual eu trabalhava tinha adquirido algumas máquinas da RDA, e o Hans foi o técnico que veio para nos ajudar a instalar e colocar as referidas máquinas em funcionamento. É verdade, não se admirem, porque nessa época a RDA exportava máquinas para os países ocidentais, não só para a empresa que eu trabalhava, que era uma das maiores multinacionais do ramo no mundo e de origem francesa, mas também para muitas outras empresas.
Como eu era o responsável pela manutenção, e o único técnico da empresa em Portugal que falava inglês, era comigo que o Hans falava sobre quase todos os assuntos, não só de trabalho, mas também pessoais. Ele já tinha estado em outros países de quatro continentes. As despesas de alojamento e de alimentação do Hans eram por conta da empresa dele, e o transporte de ida e volta à nossa fábrica era por conta da nossa empresa. O Hans estava instalado numa pousada da região, que era a mais barata e nem sequer tinha restaurante. De manhã, alguém da nossa empresa passava na pousada para o trazer, e ao final da tarde levava-o de volta, não para a pousada, mas sim para o centro da cidade, porque ele queria passear e ver as montras das mais diversas lojas. Depois, ele seguia a pé para a pousada que ficava a 8 Km de distância do centro, para o merecido descanso.
A nossa empresa não tinha cantina, apenas um refeitório para quem levasse comida de casa, e o Hans ia almoçar lá, leite e pão sem mais nada, que ele mesmo levava. Um dia, ele ficou indisposto, quase desmaiou, e eu mesmo levei-o ao hospital local. Lá, fiquei a saber que ele estava com a pressão arterial demasiado baixa, e que, além de almoçar só pão e leite, raramente jantava. Porquê? Porque os dólares que a empresa dele lhe passara para o seu alojamento e alimentação, cujo valor não posso precisar agora, eram o valor máximo que alguma lei (estúpida) da RDA permitia, em função do número de dias que estaria fora do país dele. Esse valor mal dava para pagar a pousada barata. Falei com a direção da empresa e passei a levá-lo a almoçar comigo e a pagar-lhe também o jantar.
Entretanto, ele ia-me contando como vivia na RDA, com um salário muito melhor que o nosso (quase o triplo), com uma casa com aquecimento central muito mais barata do que seria possível em Portugal, com um carro mais barato do que os que se podiam comprar em Portugal, com vestuário e alimentação mais baratos do que em Portugal, etc. Mas, o carro por exemplo, ele teve que esperar 8 anos para o poder comprar, não por falta e dinheiro, e sim por causa da escassez de oferta. Os produtos alimentares eram em abundância, mas escassos em quantidade de géneros, por exemplo, não tinham bananas e outros frutos meridionais, etc. Com os produtos de vestuário passava-se o mesmo, eram quase todos iguais, não havia calças jeans por exemplo, quem as quisesse teria que as ir comprar na Hungria, que era o país do então Bloco de Leste que mais produtos ocidentais tinha, apesar de também haver restrições para comprar quantidades maiores.
Por isso o Hans gostava tanto de ver as montras cá, apesar de não poder comprar quase nada.
Quando lhe perguntei se ele gostaria de viver fora da RDA, ele respondeu-me que não, que lá era a terra dele, mas que gostaria muito que lá se pudesse viver como na Alemanha Federal ou na França. E gostaria de viver em Portugal? Perguntei. Portugal é muito bonito mas o vosso nível de vida é muito baixo, respondeu ele.
Estávamos em 1987. O sonho do Hans concretizou-se pouco depois. O meu não.

Como já se vê Portugal, desde o Brasil "Colonizadores colonizados"

por A-24, em 27.11.14
Via Ao sul do Capital

Em 1808, quando Dom João VI e sua Corte aportaram no Rio de Janeiro, o Brasil transformava-se na sede de todo o Império Ultra-Marino português. A vinda da Corte trouxe innúmeros benefícios para a ex-colônia que ganhou calçamento, teatros, escolas de arte, ampliação, reforma e construção de várias igrejas; faculdades e a aberturas dos portos. 
Nos dias atuais, chineses, brasileiros e angolanos protagonizaram as mais recentes e maiores aquisições de empresas portuguesas. Ficaram para trás os anos da invasão espanhola e, portanto, o receio em relação ao país vizinho. Hoje, a água, a eletricidade e os hospitais portugueses caíram nas mãos de chineses.
A China Three Gorges pagou 2,7 bilhões de euros (8,6 bilhões de reais) por 21,3% da elétrica EDP; o grupo Fosun, do mesmo país, assumiu o controle da Fidelidade, seguradora líder de mercado, pagando 1,01 bilhão de euros (3,2 bilhões de reais) e há um mês deu outro passo, ao desembolsar 480 milhões de euros (1,5 bilhão de reais) pela Espírito Santo Saúde, que administra cerca de 20 centros hospitalares no país.
A State Grid, outra estatal chinesa, comprou 25% da Red Eléctrica Nacional (por 387 milhões de euros, ou 1,2 bilhão de reais) —depois o grupo Fosun adquiriu outros 5%—, e a Beijing Enterprises Water Group, de Pequim, adquiriu por 95 milhões de euros (304 milhões de reais) a Veolia, empresa de abastecimento de água de Portugal. Em três anos, a China gastou 5,38 bilhões de euros (17,2 bilhões de reais) na aquisição de empresas portuguesas; em termos de volume, Portugal é o quarto país europeu com investimentos chineses, mas o primeiro em proporção à sua população.
O Brasil também colocou seu antigo colonizador no radar. A Camargo Corrêa comprou a Cimpor por mais de 5 bilhões de euros; dois anos antes de a operadora Oi usar a PT como moeda de troca para levantar fundos e adquirir a subsidiária brasileira da Telecom Italia, e assim se consolidar em seu país de origem.
Se os investidores chineses se concentraram em serviços básicos, os angolanos preferiram o mundo financeiro e os meios de comunicação. Em Portugal, se consolidaram com sucursais de seus próprios bancos (BIC, Atlântico, BAI, BANC e BNI), mas também entraram como acionistas de instituições locais. Uma parceria da filha do presidente de Angola, Isabel dos Santos, tem uma participação de 10% no BPI; e a Sonagol, petrolífera estatal africana, possui uma fatia de 20% do BCP, além disso controla a petrolífera portuguesa Galp. Dos Santos também tem uma elevada participação na operadora NOS, líder em TV por assinatura, e agora disputa a PT.
No setor de mídia, os fundos angolanos também são donos do grupo Controlinveste (Diario de Noticias, Jornal de Noticias, rádio TSF e o jornal de esportes O Jogo), e já manifestaram interesse pela estatal Rádio e Televisão de Portugal, caso seja privatizada.
Os angolanos, que desembarcam nos fins de semana em Lisboa para fechar as lojas de luxo da avenida Liberdade, os chineses, mais discretos, e os brasileiros são hoje os colonizadores da antiga metrópole. Portugal começa a ver a Espanha com menos receio do que antes, e os espanhóis olham os portugueses com menos arrogância, solidários diante de suas semelhantes dificuldades.

Monarquia ou República: porque não podemos escolher?

por A-24, em 25.11.14
O Diabo


O Partido Popular Monárquico apresentou à Assembleia da República um Projecto de Resolução em que recomendava aquilo que, para muitos portugueses, se tornou uma necessidade óbvia e urgente: a alteração da Constituição de forma a permitir o sufrágio livre e directo do regime político – Monarquia ou República – em que queremos viver.

O Projecto, apresentado pelo deputado regional açoriano Paulo Estêvão, depois de previamente aprovado pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, foi rejeitado pela presidente do Parlamento nacional, Assunção Esteves, com base em pretextos regulamentares.





Em causa está, mais uma vez, um pequeno parágrafo da Constituição em vigor, que há anos vem sendo contestado nos meios monárquicos (e até em meios republicanos menos facciosos): a alínea b) do Artigo 288º. Na passagem referente aos “limites materiais” impostos em caso de revisão constitucional, esta – diz a lei fundamental – “terá de respeitar” a “forma republicana de governo”. Os contestatários sugerem a simples alteração de uma palavra: que a lei fundamental consagre, em alternativa, “a forma democrática do Estado”.
A luta pela alteração daquele parágrafo da Constituição vem de longe. Logo que a versão inicial foi aprovada, em 1976, vários constitucionalistas e inúmeros políticos contestaram a consagração do regime republicano como obrigatório – mais ainda, como incontestável, já que a lei expressamente proíbe qualquer alteração constitucional que o ponha em causa.
Ao longo dos anos, os partidos do centro-direita têm tratado a questão com algum embaraço: por um lado, não desejam incomodar as forças e figuras do sistema que fazem finca-pé no republicanismo constitucional; por outro, é inegável que o artigo 288º é a negação da própria democracia, ao impedir o povo (teoricamente “soberano”) de escolher o regime político que bem entender.
Nem os exemplos do Brasil e da Austrália, que organizaram referendos sobre o regime (em 1993 e 1999, respectivamente), amaciou o coração de pedra do jacobinismo nacional. O famigerado Artigo continua por rever.
No início do corrente ano, o presidente da Comissão Política Nacional do PPM, Paulo Estêvão, que é igualmente deputado à Assembleia Legislativa dos Açores, iniciou uma nova campanha em favor da revisão constitucional. “Qual é o medo, meus senhores?”, perguntou então. “Em democracia, ninguém é dono do voto de ninguém. Deixem o povo português pronunciar-se sobre a natureza do regime. Não se façam donos da vontade dos portugueses”.
Mas não bastava protestar: uma iniciativa legislativa concreta e fundamentada teria de ser tomada no Parlamento. Não dispondo de representação na AR, o PPM decidiu alcançar o mesmo fim por outros meios. Assim, por proposta sua, a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores decidiu no início de Outubro recomendar à Assembleia da República “que promova as alterações necessárias ao sistema político, de forma a permitir o directo e livre sufrágio do Povo Português em relação à natureza republicana ou monárquica do Estado”. Escassos dias depois, a presidente da Assembleia da República indeferia “a admissibilidade do Projecto de Resolução”.