These days, the Middle East garners nonstop attention from the world; conflict, struggles, and other hardships continue to plague the region. Most of us understand vaguely what the constitutes the “Middle East” and such, but it is imperative that we understand more fully the nature of the crises and history of the region if we ever hope to live to see the day where there might actually be peace. Fundamental to understanding the region is understanding the differences between some key terms used to describe the people, places, languages, and ethnic groups, similar to explaining differences such as Race vs. Ethnicity orSpanish vs. Latin American.
Middle East / Middle Eastern
First, we must tackle this set of terms, as we’ve used it already in the intro. The Middle East is a region, revolving around the countries which surround the Arabian Peninsula, the large peninsula to the northeast of Africa that is a western part of Asia.
The countries that make up the Middle East vary slightly depending on the source, but usually consist of: Bahrain, Cyprus, Egypt, Iran, Iraq, Israel, Jordan, Kuwait, Lebanon, Northern Cyprus, Oman, Palestine, Qatar, Saudi Arabia, Syria, Turkey, United Arab Emirates, and Yemen. Some sources, including the CIA World Factbook, categorize even Armenia, Azerbaijan, and Georgia within the Middle East, though most disagree with this. A Middle Easterner is a person from the Middle East.
One point often forgotten these days is that there are several countries, such as Afghanistan and Pakistan, that are not included in the Middle East; these countries, as well as Algeria, Libya, Tunisia, and even Djibouti and Somalia have been referred to in the past as part of the Greater Middle East; however, this term went out a while ago, as it was deemed too Eurocentric and insulting.
Arab / Arabian
“Arab” is an umbrella term for a panethnic group of people, a people that comprise many different ethnicities within, sort of like saying “Southeast Asian” or such. Generally, and even more-so presently, the Arab peoples consist of the peoples of the member nations of the Arab League. The Arab League is a group of 22 nations and territories that formally formed back in 1945. However, being an Arab is much more an ethnicity, so there are people who live in the Arab countries that do not consider themselves Arabs, such as the Kurds.
Arabs are not necessarily Arabians. Arabians are those people who are from the countries of the Arabian Peninsula. The Arabian Peninsula is now home to Arabic peoples, so you could say that Arabians are Arabs, but not all Arabs are Arabians, since many live off of the peninsula. The Arab peoples are united by an identity of a shared culture and history; most speak Arabic, which is a language and not meant to refer to the people, though you could say “Arabic-speaking people.”
Persia / Persian
Persian can refer to a people of Iran and a language, but when referring to people, Persians are Iranians who speak the Persian language (Farsi). The term historically meant “from Persis,” which is around Pars, Iran, north of the Persian Gulf. With this definition, not all Iranians are Persians, but all Persians are Iranians, nationally.
However, some now designate Persian as a panethnic group (like the Arab people above), and use it as ademonym to define all people of Iran. If you are unclear, it is probably safer to call out someone from the country of Iran as an Iranian.
To confuse you more, I’ll mention one final thing: since we stated that the origin of the term “Persian” originally meant someone from Persis, many Iranians often use Persian to make a locational distinction, rather than an ethnic one. Thus, there may be non-Persian people (who don’t speak Farsi) who Iranians deem Persian, based on them being from the Persian region – again, maybe just use “Iranian.” Good luck
This is part of my ongoing series, “Versus/What’s the Difference?” With this series, I am to promote a better understanding and love of the differences that make us unique while at the same time casting out doubt; hopefully, this will make us better travelers, better citizens, and better people. For more, check out the “Versus/What’s the Difference?” category ->
Ronald Lauder O povo judeu compreende muito bem o que pode acontecer quando o mundo se mantém em silêncio. Esta campanha de morte tem de ser travada.
Porque é que o mundo se mantém em silêncio enquanto cristãos são vítimas de massacres no Médio Oriente e em África? Na Europa e nos Estados Unidos, assistimos a manifestações contra as mortes trágicas de palestinianos, utilizados como escudos humanos pelo Hamas, a organização terrorista que controla Gaza. As Nações Unidas conduziram inquéritos e focam a sua raiva em Israel por se defender contra essa mesma organização terrorista. No entanto, o massacre bárbaro de milhares e milhares de cristãos é visto com relativa indiferença.
O Médio Oriente e partes de África central estão a perder comunidades inteiras de cristãos que viveram em paz durante séculos. O grupo terrorista Boko Haram raptou e assassinou centenas de cristãos este ano – devastando a vila de Gwoza, maioritariamente cristã, em Agosto, no estado de Borno no nordeste da Nigéria. Meio milhão de cristãos árabes foram expulsos da Síria durante os mais de três anos de guerra civil. Os cristãos têm sido perseguidos e mortos em países desde o Líbano até ao Sudão.
Os historiadores podem olhar para este período e perguntar se as pessoas perderam o seu rumo. Até há pouco tempo poucos jornalistas tinham viajado até ao Iraque para testemunhar a onda de terror, semelhante ao nazismo, que se está a espalhar no país. As Nações Unidas quase não se pronunciam sobre o assunto. Os líderes mundiais parecem estar consumidos por outros assuntos neste estranho verão de 2014. Não há flotilhas em direção à Síria ou ao Iraque. E porque é que o massacre de cristãos não faz levantar as antenas das belas celebridades e das estrelas rock envelhecidas?
O Presidente Obama deve ser louvado por ter ordenado ataques aéreos para salvar dezenas de milhares de yazidis, seguidores de uma religião antiga e presos numa montanha no norte do Iraque, cercados por militantes muçulmanos sunni. No entanto, infelizmente, os ataques aéreos, por si só, não são suficientes para travar esta vaga grotesca de terrorismo.
O Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS, ou ISIL) não é uma coligação solta de grupos jihadistas, mas sim um força militar real, que conseguiu assumir o controlo de maior parte do Iraque com um modelo de negócio bem-sucedido que rivaliza com o seu arauto da morte. Esta coligação utiliza dinheiro de bancos e de lojas de ouro que foram capturados, assim como recursos de petróleo e a velha extorsão, para financiar a sua máquina de morte, sendo assim, talvez, o grupo terrorista islâmico mais rico do mundo. No entanto, é na carnificina que o ISIS se destaca, rivalizando com as orgias de morte da Idade Média. De modo brutal, têm atacado xiitas, curdos e cristãos.
“Eles decapitaram crianças e puseram as suas cabeças em paus” disse à CNN Mark Arabo, um homem de negócios caldeu norte-americano, descrevendo uma situação num parque em Mosul. “Há mais crianças a serem decapitadas, mães a serem violadas e mortas e pais enforcados.”
200.000 arameus fugiram da sua cidade-natal, perto de Nineveh, e já saíram de Mosul.
A indiferença geral em relação ao ISIS, com as suas execuções em massa de cristãos e com a sua preocupação mortífera com Israel não é apenas errada – é obscena.
Em Budapeste, num discurso proferido perante milhares de cristãos, em junho, fiz uma promessa solene de que não vou manter-me em silêncio face à crescente ameaça de antissemitismo na Europa e no Médio Oriente – e que também não vou ser indiferente ao sofrimento cristão. A História conta-nos o oposto: os judeus têm sido sempre a minoria perseguida. No entanto, Israel tem estado entre os primeiros países a prestar auxílio a cristãos no Sudão do Sul. Os cristãos podem exercer a prática da sua religião abertamente em Israel, o que não se verifica em grande parte do Médio Oriente.
Esta ligação entre judeus e cristãos faz todo o sentido. Partilhamos muito mais do que a maioria das religiões. Lemos a mesma Bíblia e partilhamos um núcleo moral e ético. Nos dias de hoje, infelizmente, também partilhamos um tipo de sofrimento: cristãos estão a morrer pelas suas crenças, porque estão indefesos e porque o mundo está indiferente ao seu sofrimento.
É necessário que o lado bom das pessoas se traduza em união para travar esta vaga revoltante de violência. Nós não somos impotentes. Escrevo isto como um cidadão da maior potência militar do planeta. Escrevo isto como um líder judeu que se preocupa com os seus irmãos e irmãs cristãos.
O povo judeu compreende muito bem o que pode acontecer quando o mundo se mantém em silêncio. Esta campanha de morte tem de ser travada.
Estima-se que os ataques de 11 de setembro de 2001 tenham custado aos cofres de Bin Laden e da al-Qaeda um a dois milhões de euros, entre logística, subornos e custos com os terroristas nos EUA. Com o atual ritmo a que o autodenominado Estado Islâmico (EI) consegue juntar dinheiro, este grupo terrorista tem capacidade para fazer um ataque como o do World Trade Center por dia sem precisar de recorrer a qualquer financiamento externo.
Venda e exploração de petróleo, controlo de comida e água, extorsão, impostos e resgates são apenas algumas das atividades levadas a cabo pelo EI, que fazem com que todos os dias entre dois a três milhões de dólares sejam adicionados aos cofres do grupo liderado por Abu Bakr al-Baghdadi. A consolidação da ocupação dos territórios conquistados e o avanço no terreno, tomando algumas das cidades mais importantes a nível estratégico e financeiro do Iraque, fazem com que esta organização seja autossuficiente e, por isso, cada vez mais difícil de travar.
“Eles têm uma economia estável, tanto na Síria como no Iraque”, defende Hasan Abu Hanieh.
Não há informação oficial ou números certos sobre a origem e os valores atualmente detidos pelo Estado Islâmico. Sabe-se, sim, que para alimentar o crescimento exponencial deste grupo nos últimos meses foram precisas duas coisas: financiamento e organização. O EI conta com quase 100 mil homens nas suas fileiras, todos pagos e com valores muito superiores a outros grupos rebeldes sírios, uma área de influência cada vez maior e tem armamento cada vez mais potente que vai adquirindo ou saqueando.
Algumas estimativas mostram que o grupo pode estar a gerir mais de dois mil milhões de dólares em bens e dinheiro e, assim, a desenvolver a sua própria economia. “Eles têm uma economia estável, tanto na Síria como no Iraque”, defende Hasan Abu Hanieh, um académico jordano citado pelo “Wall Street Journal”.
Algumas estimativas mostram que o grupo pode estar a gerir mais de dois mil milhões de dólares em bens e dinheiro, e assim a desenvolver a sua própria economia.
Esta estabilidade da economia está ligada ao seu avanço estratégico no Iraque, onde o grupo luta para tomar os principais campos petrolíferos e refinarias. Há semanas que os guerrilheiros do EI combatem o exército para tomarem Baiji, a maior refinaria do Iraque. Outro dos objetivos do grupo é o de chegar a Kirkuk, a maior reserva de petróleo do Iraque.
Territórios ocupados pelo Estado Islâmico em agosto de 2014
Na Síria, a organização controla oito campos de gás e petróleo nas regiões de Raqqah e Deir Ezzor, vendendo o barril de petróleo bruto entre 26 a 35 dólares – o preço atualmente situa-se nos 95 dólares nos mercados internacionais. O barril de petróleo pronto para transformação é mais caro, sendo vendido por cerca de 60 dólares. Estes combustíveis são adquiridos por intermediários locais que depois transportam o crude para refinarias na Turquia, no Irão e no Curdistão.
O grupo também não tem qualquer problema em fornecer energia às forças que combate e que apelida muitas vezes de infiéis, abastecendo por exemplo, o exército sírio. Estima-se que na Síria o Estado Islâmico esteja a conseguir produzir entre 30 mil a 70 mil barris de petróleo por dia, segundo rebeldes que desertaram.
A dimensão das vendas de combustível oriundo do Estado Islâmico no mercado negro não é difícil de constatar na região, já que o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia disse publicamente que houve um aumento de 300% na apreensão de petróleo ilegal na fronteira entre a Síria e a Turquia desde 2011, altura em que começaram os combates.
O mapa abaixo é atualizado diariamente pelo The Long War Journal, consoante o avanço das tropa dos Estado Islâmico no terreno:
O contrabando só tem agora tendência a crescer e a desenvolver-se com o avanço no território iraquiano. Esta organização, segundo avança Valerie Marcel, investigadora de Chatham House, está já a atrair mão-de-obra especializada na prospeção, tratamento e transformação do crude. “Estas pessoas têm a capacidade de pôr estas instalações [refinarias e poços] a funcionar. O EI está a produzir petróleo”, assegurou ao Buzzfeed.
Estima-se que na Síria, o Estado Islâmico esteja a conseguir produzir entre 30 mil a 70 mil barris de petróleo por dia, segundo rebeldes que desertaram.
O mealheiro dos terroristas
Mas não é só a partir do contrabando de petróleo que se faz o grupo terrorista mais rico do mundo. Apesar de no início haver especulação sobre o financiamento desta organização por parte de países como o Qatar, Arábia Saudita e Kuwait (o ministro alemão da Desenvolvimento e Cooperação económica acusou mesmo o Qatar de armar e financiar o EI), agora sabe-se que atualmente o grupo é financeiramente independente de qualquer país ou indivíduo – continuando a receber generosas doações de magnatas da região que apoiam o califado declarado a 30 de junho.
Uma das pistas mais sólidas sobre a forma como este grupo atua para obter fundos e se organiza internamente foi conseguida dias antes de o EI tomar a cidade de Mosul em junho, com a apreensão de 160 pens USB que pertenciam à organização terrorista. O exército iraquiano, assim como os serviços de informação norte-americanos, ficaram surpreendidos pelo grau de detalhe que os registos do EI demonstravam.
Para além de compilar todos os nomes, alcunhas e desempenho dos guerrilheiros vindos do estrangeiro que se juntaram ao grupo terrorista, havia um registo meticuloso das suas finanças, da hierarquia de comando e das suas fontes de informação em ministérios na Síria e no Iraque, segundo relata o “Guardian”.
Antes de tomar Mosul, o EI teria, entre bens e dinheiro, cerca de 875 milhões de dólares, segundo os registos informáticos encontrados. Para além de explorar desde 2012 campos petrolíferos na Síria, também se descobriu que vendia antiguidades pilhadas em museus sírios no mercado negro. A organização vendeu artefactos com mais de oito mil anos roubados em al-Nabuk, perto de Damasco, por 36 milhões de dólares.
Quando Mosul passou para o domínio do EI, o grupo fez um dos seus maiores saques, roubando quase 500 milhões de dólares do banco local. Tanto os serviços de informação norte-americanos, como o exército iraquiano não sabem onde é que a organização guarda o dinheiro, podendo estar distribuído em várias contas por todo o mundo ou guardado algures na Síria ou no Iraque.
O exército iraquiano ficou surpreendido pelo grau de detalhe que os registos do Estado islâmico demonstravam.
A violência do dinheiro
As práticas violentas do EI não fazem apenas parte da sua estratégia militar. Integram o dia-a-dia das cidades que ocupam e traduzem-se na imposição de impostos e extorsão, tanto na Síria como Iraque. Por mês, o grupo conseguirá arrecadar cerca de 12 milhões de dólares desta forma.
“É sabido que o Estado Islâmico é quase inteiramente autofinanciado”, Charles Lister
Charles Lister, investigador do Brookings Doha Center, disse, em entrevista à Der Spiegel, que o dinheiro “é a chave do EI”. “É sabido que o Estado Islâmico é quase inteiramente autofinanciado. O dinheiro vem do controlo e da venda ilícita de petróleo e gás, produtos agrícolas como cereais, controlo da água e da eletricidade e de cobrar impostos nas áreas que controla”. O académico relata que o grupo está a tentar cumprir as funções de um governo, controlando até ao pormenor a vida das pessoas que vivem nos seus territórios.
Assim, cabe à estrutura montada em cada cidade pelo EI regular o comércio, especialmente o tradicional comércio de rua, e recolher o pagamento pela “proteção” das suas milícias – o nível de organização é tão grande, que o grupo também exerce o poder judicial, instituindo tribunais que decidem segundo a lei islâmica os mais diferentes casos, desde disputas de terras a adultérios, como se pode ver no documentário do site “VICE”, filmado na capital do Estado Islâmico, Raqqah.
Os impostos passaram a ser recolhidos pelo Estado Islâmico nas cidades que dominam. Para os cristãos e outras minorias que decidiram ficar nestes territórios, o EI impõe um imposto adicional. Também quem se dedica à agricultura e à pecuária tem de entregar uma parte da sua produção aos terroristas.
O “Business Insider” dá conta que o próprio EI já estará a fazer a sua própria farinha depois de se ter apoderado de terras nas cinco principais províncias produtoras de cereais no Iraque. Estas terras são responsáveis por 40% da produção de cereais e pelo caminho, o EI saqueou silos do governo que continham entre 40 mil a 50 mil toneladas de cereais. A farinha produzida pelo Estado Islâmico estará mesmo a ser vendida às autoridades iraquianas para arrecadar mais fundos.
Quanto a resgates, tornou-se prática comum no califado raptar pessoas para depois exigir largas somas de dinheiro em troca, não só cidadãos estrangeiros, mas também habitantes locais. Esta prática já terá rendido cerca de 125 milhões de dólares ao grupo terrorista nos últimos cinco anos, segundo avança o “New York Times”, e sabe-se agora que, antes da execução de James Foley, o Estado Islâmico pediu às autoridades norte-americanas e à família do jornalista, um resgate multimilionário.
A mais recente fonte de receitas do EI é a venda de jovens cristãs como escravas sexuais aos guerrilheiros por 150 dólares, segundo uma família fugida da região relatou ao chegar a Paris.
Para os cristãos e outras minorias que decidiram ficar nestes territórios, o IS impõe um imposto adicional. Também quem se dedica à agricultura e à pecuária tem de entregar uma parte da sua produção aos terroristas.
Como travar o Estado islâmico?
Financiando-se a nível local e dependendo só de si próprios para manter a operação militar, é impossível lidar com o EI utilizando as fórmulas do passado. Impor sanções internacionais a países que estejam a ajudar os guerrilheiros não parece ser eficaz, já que poucos analistas acreditam que nesta altura algum Estado ainda esteja a financiar um grupo tão radical.
Quanto a doações individuais, ocorrem através de países onde os fluxos de capital não são controlados, o que leva a um vazio de informação sobre a sua proveniência e sobre o seu destino. A maneira mais eficaz seria travar o mercado negro de petróleo na região, o que implicaria maiores controlos transfronteiriços, mas também a consciencialização, por parte dos iraquianos e dos curdos, que a compra de petróleo a intermediários que lidam com o EI só fomenta o avanço desta organização dentro do país.
Os ataques aéreos norte-americanos na zona de Kirkuk abrandaram a conquista de território por parte dos guerrilheiros na região, dando espaço para a fuga dos cristãos iraquianos que estavam encurralados nas montanhas e continua a dar frutos, já que, após várias semanas, o exército iraquiano conseguiu romper o cerco que o EI fazia à cidade de Amerli. Mas o Estado Islâmico continua a expandir-se em várias frentes, intensificando a luta pela refinaria de Erbil.
Alemanha, França e Reino Unido vão enviar durante as próximas semanas armas para os combatentes curdos. Na Alemanha o anúncio foi feito este domingo e o ministro da Defesa referiu que a situação é crítica”. Berlim vai enviar 70 milhões de euros em equipamento militar, incluindo oito mil espingardas G36, cinco tanques, proteções corporais e sistemas de comunicação, e ainda 50 milhões de euros em ajuda humanitária.
Uma das melhores hipóteses de travar este grupo é a de a Turquia continuar a reter as águas do rio Eufrates, que é uma das principais fontes de àgua na Turquia, na Síria e no Iraque. A Turquia fechou recentemente a barragem e a capital dos terroristas, Raqqah, já se está a ressentir. No entanto, continuar a reter estas águas pode significar a morte de milhões de pessoas que dependem deste rio como fonte de água potável.
(...) Escolhi por isso um tema que cruza a nossa actualidade com o que se passa no mundo: a ida de portugueses para a Síria para combaterem ao lado dos jihadistas. Ainda serão muito poucos, sobretudo se compararmos com o que se passa noutros países europeus, mas este fim-de-semana o Expresso contou-nos ahistória de um casal – ela filha de alentejanos, ele criado na linha de Sintra – que foi juntar-se ao califado (link para assinantes). Pequeno extrato:
Ângela comenta a Jihad nas redes sociais, Fábio vai para a frente de combate. Fonte ligada aos serviços de informação portugueses coloca-o na brigada Kataub al Muhajireen do EI, constituída apenas por combatentes de países ocidentais, como a Grã-Bretanha, Alemanha, França ou Dinamarca. Ao seu lado há pelo menos mais três portugueses: dois irmãos, de 26 e 30 anos, que como Fábio, cresceram na linha de Sintra; e um jovem de Quarteira, de 28 anos. São amigos no Facebook e irmãos de armas na frente de guerra. Os quatro converteram-se ao islamismo quando estavam emigrados nos arredores de Londres e daí partiram para a Síria.
Em Portugal existirão, como se sublinhava numa recente reportagem do Fábio Monteiro no Observador, cerca de 55 mil praticantes da religião de Maomé. Entre nós não há sinais visíveis de derivas radicais semelhantes às que têm surgido noutros países europeus, não devendo ser por acaso que nos casos contados pelo Expresso a radicalização ocorreu no Reino Unido e na Holanda.
A capacidade que o ISIS tem demonstrado de recrutar combatentes na Europa Ocidental justificou um artigo na última edição da Economist, onde se publica um mapa que dá uma ideia precisa, quantificada, do que está a acontecer:
Nesta vaga de combatentes, há uma novidade: a presença de mulheres (como a portuguesa Ângela):
Most Western fighters are men under 40, but this war has attracted more women than past causes. Some 10-15% of those travelling to Syria from some Western countries are female. (…) Some hope to marry, others join all-female units to ensure that women in areas under IS control obey the strictest version of Islamic rules, such as covering up; a few take part in battles.
Por todo o lado os governos começam a tomar medidas. NaHolanda tiram o passaporte às famílias que querem juntar-se ao Estado Islâmico. Em Espanha os serviços de informação já confirmaram que há 51 nacionais a combater com os jihadistas. Na Alemanha suspeita-se que pelo menos 20 antigos soldados, treinados pelas forças armadas germânicas, possam ter já ido para a Síria.
Mas é seguramente no Reino Unido que o nível de alarme é maior. Primeiro, porque se leva realmente a sério a hipótese de o país ser alvo de atentados. Depois, porque a maioria dos eleitores defende que seja retirada a cidadania a esses jihadistas e o governo de David Cameron anunciou hoje novas medidas para conter a ameaça terrorista. Finalmente porque o aparecimento destes radicais coincide com a revelação de outros escândalos que põem em causa o multiculturalismo prevalecente no modelo de integração britânico.
Comecemos pelos jihadistas e por uma interessantíssima entrevista do Wall Street Journal com um antigo radical. Shiraz Maher, cidadão britânico, foi durante alguns anos militante e, depois, dirigente do grupo radical Hizbut Tahrir, até que, ao presenciar os atentados de Londres em 2005, rompeu com o radicalismo. Hoje dedica-se a estudar o radicalismo: faz parte do International Center for the Study of Radicalization, no King’s College de Londres. É impossível resumir tudo aquilo que diz, mas deixa aqui apenas uma passagem, como aperitivo:
Hizbut Tahrir, for example, organized a 1994 conference in London about the need to establish a caliphate. The event drew Islamists from Sudan to Pakistan, yet Mr. Maher says U.K. law enforcers took a blasé attitude: "These exotic guys with beards are talking about a new state. OK." The result was that the "idea of having an Islamic state had been normalized within the Muslim discourse," Mr. Maher says, and young Muslims were taught to think of their British identity as something "filthy."
É sabido e mais que documentado que muitas mesquitas britânicas são centros de radicalização, incitamento ao ódio e violência e recrutamento de jovens desequilibrados para uma guerra que têm a falta de pudor de chamar santa. Douglas Murray, na Spectator, faz um resumo dos casos envolvendo jihadistas britânicos que as boas consciências herculeamente ignoraram. Quem avisou que este caldinho seria calamitoso foi apelidado de islamofóbico e intolerante. E quem cala, consente, não é?
Pois é. E o problema parece começar, pelo menos para muitos britânicos, quando a obsessão com o politicamente correcto impede de ver, ou de denunciar, crimes que estão a acontecer debaixo do nosso nariz. O caso mais recente é a descoberta de que pelo menos 1.400 crianças tinham sido abusadas sexualmente em Rotherham. Um relatório independente, aqui sintetizado pela Economist, revelou que ao longo de 26 anos as autoridades locais não fizeram nada para impedir esses crimes. Ou, mais exactamente, estiveram paralisadas , como escreveu a Spectator:
In Rotherham, political correctness about race seems to have paralysed police and social workers. The report says that ‘-several staff described their nervousness about identifying the ethnic origins of perpetrators for fear of being thought racist’.
Este caso levou a que de imediato se levantassem vozes contra o que foi descrito como o “legado tóxico de multiculturalismo”. O caso foi naturalmente relacionado com outro escândalo, o do “cavalo de Tróia” nas escolas de Birmingham, uma zona de forte presença de comunidades islâmicas onde nas escolas públicas já se tolerava o ensino da sharia. O problema, de resto, não é novo, como relata o director do jornal online Spiked, Brendan O'Neill: "When Political Correctness Took Over in Yorkshire - Official fear of 'giving offense' allowed 1,400 girls to be victimized".
O Curdistão tem todas as características para se tornar uma nova versão de Israel. Tal como Israel, está cercado de inimigos e sob a mira dos jihadistas. Tal como Israel, depende do apoio americano.
O Estado xiita que a retirada de Obama deixou no Iraque desfez-se perante a ofensiva do Estado Islâmico (ISIS), que o governo americano já classificou como uma ameaça maior do que a velha Al-Qaeda. E alguma gente aproveitou para ir ao sótão recuperar as acusações contra Bush: não fosse a invasão de 2003, nada disto teria acontecido. Houve até quem tivesse descoberto mais: o Iraque sob Saddam Hussein, tal como a Síria dos Assad, era uma ditadura, claro — mas uma ditadura de paz, secular, multicultural, onde todas as minorias viviam em amena tolerância mútua.
Acontece que as ditaduras de Saddam e dos Assad não eram nada disso. No Iraque, a 16 de Março de 1988, Saddam demonstrou uma peculiar concepção de multiculturalismo ao usar gás de mostarda para matar milhares de curdos. Na Síria, em Fevereiro de 1982, o pai do actual Assad desenvolveu um novo conceito de tolerância ao massacrar cerca de 20 mil sunitas na cidade de Hama. A paz do Iraque de Saddam ou da Síria da família Assad era a paz dos cemitérios. Externamente, as suas noções de boa vizinhança não eram menos originais. Saddam atacou o Irão em 1980 e invadiu o Koweit em 1990. A família Assad ocupou o Líbano em 1976. Eis os grandes pilares de paz multicultural e equilíbrio diplomático que a sabedoria de algibeira nos diz agora que o Ocidente devia ter respeitado.
Com Bush, ficámos a saber que operações de democratização-relâmpago, como a ensaiada no Iraque, não funcionam. Com Obama, percebemos que jogar golfetambém não. Obama retirou do Iraque e não quis intervir na Síria, para não repetir o “erro de Bush”. Resultado: teve de voltar ao Iraque e terá provavelmente de intervir na Síria, donde o ISIS saiu para invadir o Iraque. Em 2001, também Bush tencionava evitar o “erro” das intervenções de Clinton. Foi Bin-Laden quem o fez mudar de ideias. Tal como o ISIS a Obama.
As coisas podem ainda tornar-se mais complicadas. No Iraque, o objectivo americano não foi defender o governo de Nouri al-Maliki, que deixou cair, mas o Estado autónomo dos curdos. Ora, o Curdistão tem todas as características para se tornar uma nova versão de Israel. Tal como Israel, está cercado de inimigos e sob a mira dos jihadistas. Tal como Israel, depende do apoio americano. Ao contrário de Israel, porém, a sua defesa não dispensa a intervenção militar directa dos EUA. Por enquanto, tudo se passa no deserto, e não na cidade, como em Gaza. Senão, já estaríamos a contar as baixas civis causadas pela aviação americana.
O Curdistão não é o único candidato a ter um futuro israelita. A Europa ocidental tem à sua volta Estados como a Rússia e o Irão, sob sanções, ou ex-Estados convertidos em bases da jihad, como a Líbia, a Síria ou o Iraque, donde os sucessores da Al-Qaeda esperam, através da diáspora muçulmana, levar a guerra até ao Ocidente. Estes Estados e movimentos não são iguais, mas têm isto em comum: todos reagem, não apenas contra o poder ocidental, mas também contra o modo de vida ocidental (secularismo, igualdade das mulheres, aceitação de diferentes escolhas sexuais, etc.). Os seus métodos de agressão variam, mas são igualmente perigosos. A Rússia, por exemplo, pode parecer interessada apenas em jogos diplomático-comerciais, mas ei-la a armar uma subversão na Ucrânia, provocando a morte de centenas de passageiros de um voo de Amsterdão.
E como têm respondido os EUA e os europeus a tudo isto? Com embargos, operações de contra-terrorismo, e ataques militares. Tal como Israel no Médio Oriente. Há diferenças? Há, claro. Mas talvez um dia deixem de ser suficientes para esconder as semelhanças.
James Foley, o jornalista decapitado, e Steven Sotloff, o jornalista que o jihadistas ameaçam decapitar, estavam na Síria a fazer o seu trabalho – um trabalho que, num cenário de guerra, é sempre difícil e perigoso. Outros profissionais morreram naquele conflito, apanhados pelo fogo cruzado ou no meio de um bombardeamento, alguns deles veteranos de outros conflitos. Por regra todos estavam ali como voluntários e sabiam que corriam riscos. O que não torna menos horríveis as suas mortes, sobretudo este assassinato.
Todos os que estão no terreno sabem porém que não correm apenas risco de vida – podem também pôr em jogo a sua credibilidade. Costuma dizer-se que, quando se ininia uma guerra, a primeira vítima é a verdade. E todos sabemos que a guerra da propaganda é muitas vezes mais importante do que a guerra com balas reais. Para os jornalistas o desafio é especialmente complexo porque não enfrentam apenas a dificuldade de conseguirem chegar às boas fontes de informação – confrontam-se ao mesmo tempo com tremendos desafios à sua regra de imparcialidade.
Christiane Amanpour, talvez a mais famosa repórter de guerra da CNN, disse um dia, a propósito da guerra da Bósnia: 'There was no way that a human being or a professional should be neutral.'Verdade? Na altura o seu editor corrigiu-a: 'Any good reporter caught up in a big story will occasionally go a step too far. That is why everybody has an editor.'
As dificuldades dos repórteres aumentam quando as guerras envolvem paixões não apenas nos territórios onde os exércitos se enfrentam, mas também nas opiniões públicas dos diferentes países. E poucas guerras envolvem tantas paixões como as de Israel e da Palestina. Paixões que muitas vezes também tocam os jornalistas, que até tomam partido em apaixonadas discussões. Isso mesmo está a acontecer em Israel depois de a associação da imprensa estrangeira ter feito um comunicado em que condena as pressões exercidas pelo Hamas junto dos jornalistas que seguiam o conflito a partir do interior de Faixa de Gaza: “The Foreign Press Association protests in the strongest terms the blatant, incessant, forceful and unorthodox methods employed by the Hamas authorities and their representatives against visiting international journalists in Gaza over the past month”.
A polémica estalou quando a chefe da delegação do New York Times, Jodi Rudoren, utilizou a sua conta no Twitter para considerar essa tomada de posição uma “tonteria” (“nonsense”). Mais tarde acrescentaria que era “perigosa”. A história vem contada no Haaretz: “Foreign press divided over Hamas harassment”.
Mas esta controvérsia não tem apenas por palco os círculos frequentados pela imprensa estrangeira em Israel: já transbordou para as páginas de muitos jornais em todo o mundo. O que se discute é o equilíbrio na cobertura do recente conflito, o facto de praticamente nenhum repórter destacado em Gaza ter relatado as operações militares do Hamas, sendo que muitos transmitiam as informações fornecidas pelas autoridades locais afectas a esse grupo radical sem as escrutinarem devidamente.
No britânico The Telegraph, Alan Johnson, um estudioso do Médio Oriente, recapitula alguns episódios que seriam sinais de falta de equilíbrio na cobertura jornalística do conflito. Eis um deles:
Israeli filmmaker Michael Grynszpan described on Facebookan exchange he had had with a Spanish journalist who had just left Gaza. "We talked about the situation there. He was very friendly. I asked him how come we never see on television channels reporting from Gaza any Hamas people, no gunmen, no rocket launcher, no policemen. We only see civilians on these reports, mostly women and children. He answered me frankly: 'It's very simple, we did see Hamas people there launching rockets, they were close to our hotel, but if ever we dare pointing our camera on them they would simply shoot at us and kill us.'"
Um dos pontos mais controversos da cobertura noticiosa foi o facto de poucos jornalistas referirem que o Hamas construiu um dos seus principais bunkers por baixo do mais importante hospital de Gaza e que os repórteres esperavam pelas suas conferências de imprensa no pátio desse mesmo hospital. Esse é um dos pontos focados na reportagem da New Republic, uma reportagem significativamente intitulada “Reporters Have Finally Found Hamas. What Took So Long?”. Eis uma das histórias que aí se conta:
“A Palestinian journalist wrote in France’s Liberation newspaper that he had been interrogated by Hamas and threatened with expulsion from the Strip. A colleague had even denied him shelter for the night, explaining, “You don’t mess with these people”—Hamas, that is—“during war.” Two days later, the story was pulled at the journalist’s request.”
Depois há o problema de como se reportam as vítimas, em especial as vítimas civis. Quantas são? Porque nunca foram dados números sobre as baixas militares do Hamas? E é mesmo verdade que morreram todos aqueles filhos a todas aquelas famílias? Lembro-me de, em 2002, pouco tempo depois da batalha de Jenin (um campo de refugiados na Cisjordânia) ter assistido em Bruges, num Congresso do Fórum Mundial de Directores, a uma discussão sobre uma família de nove palestinianos que a imprensa de todo o mundo tinha dado como morta e que, afinal, estava viva. Agora sucedeu o mesmo, mas com uma família de Gaza. Muitos órgãos de informação contaram a história da família de Mohammed Badran, mas raros corrigiram a informação. Um dos que o fez foi a revista da esquerda britânia New Statesman, numa nota de correcção a uma longa reportagem intitulada “Life among the ruins: ten days inside the Gaza Strip”.
Um conflito com as características do israelo-palestiniano, onde quase todos tomam partido, tende a extremar as exigências de rigor e a levar ao aparecimento de organizações da sociedade civil que se dedicam ao escrutínio dos jornalistas. Essas organizações fazem-no, por regra, a partir de um ponto de vista. Assim, para conhecer uma perspectiva pró-palestiniana, pode-se consultar o FAIR – Fairness and Accuracy in Reporting, e ver este exemplo. Já sites como CAMERA - Committee for Accuracy in Middle East Reporting in America e HonestReporting – Defending Israel from Media Bias colocam-se mais numa perspectiva pró-israelita. Mas todos contribuem para colocar pressão sobre o trabalho dos jornalistas e lembrar-lhes, como fazia o editor de Christiane Amanpour, que às vezes se deixam envolver demais e perdem equilíbrio na forma como relatam os factos.
Por hoje é tudo. Bom descanso, boas férias (se for o caso) e, claro, boas leituras.
Numa das passagens mais comoventes de Errata: Revisões de uma Vida, George Steiner recorda que, quando fez seis anos, o pai lhe começou a ler trechos da Ilíada, principiando logo pelo Livro XXI. Steiner lembra a cruel passagem em que Aquiles, desvairado pela morte do seu amado Pátrocolo, massacra os troianos em fuga. «O meu pai leu o grego várias vezes. Fez-me soletrar as sílabas. O dicionário e a gramática escancararam-se diante dos meus olhos.»
O trecho que provocou tão funda impressão na criança precoce é aquele em que, sem piedade, Aquiles degola o desprezível Licáon, um dos filhos de Príamo.
Aquiles desferiu-lhe um golpe com a espada afiada
na clavícula, por baixo do pescoço; e a espada de dois gumes
penetrou. Prostrado no chão ficou Licáon, estatelado;
seu negro sangue jorrou da ferida e molhou a terra.
(Homero, Ilíada, Canto XXI, 116−119, trad. de Frederico Lourenço)
No ensaio que dedicou às decapitações na arte ocidental, Visions capitales, Arts et rituels de la décapitation, Julia Kristeva escreve, a dado passo, que «o horror destas decapitações e o impacto das suas reproduções inevitavelmente evocam em nós as reportagens fotográficas e televisivas de guerras civis recentes. No Biafra, no Vietname e de novo agora no Ruanda ou na Argélia, onde os fundamentalistas actualmente praticam massacres e cortam o pescoço das vítimas. Estas práticas são tão frequentes em certas regiões do mundo que a opinião pública global, inicialmente chocada, acaba por fechar os olhos e não ligar.» (Julia Kristeva,Severed Heads. Capital Visions, trad. norte-americana, 2012, p. 26).
Isto leva-nos a Kokito. Mohamed Hachud tem 28 anos. Kokito, nome de guerra. Vivia em Castillejos, uma localidade marroquina junto à fronteira com a praia de El Tarajal, uma povoação costeira do município de Ceuta.Kokito é casado com uma espanhola, Asia Ahmed Mohamed, que viajou até à Síria para se encontrar com o noivo num acampamento do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL ou EIIL), a milícia jihadista que, além de matar soldados e perpetrar execuções públicas nas praças de Al Atarib, adoptou um novo costume: exibir-se com as cabeças decapitadas das suas vítimas. Na cerimónia do casamento, Mohamed ofereceu à noiva um cinto com explosivos, símbolo macabro de união eterna. Antes do casamento, Mohamed comerciava em Castillejos, durante o dia, e às noites reunia com salafistas radicais. Pensava já juntar-se ao ISIL, passando horas a fio na Internet. Kokito foi recrutado por Mustafá Maya Amaya, um paralítico de 51 anos, que, dando ordens através do seu portátil, enviou já dezenas de jihadistas para o Mali, para a Síria e para a Líbia.
A fotografia mostra Kokito com cinco cabeças a seus pés, uma faca ainda ensanguentada e o indicador erguido, em sinal de aviso. Não foi captada ao acaso. Destina-se a enviar uma mensagem: para os seus companheiros de armas, para as suas vítimas mais próximas e para todos nós, que também somos suas potenciais vítimas. A linguagem de Kokito é mais eloquente e directa do que a das pinturas medievais que Julia Kristeva analisou num ensaio denso e muito erudito. «Entram nas aldeias e arrasam-nas. Não há contemplações para com os inimigos. As cabeças degoladas são uma mensagem para que as pessoas vejam o que lhes pode acontecer se não aderirem ou obedecerem», disse há dias ao insuspeito El País um especialista em terrorismo, que acrescentou: «na Síria os jihadistas estão a cometer atrocidades num grau superior ao que vimos em todas as outras guerras.» Os guerreiros da Jihad global dominam as novas tecnologias que, note-se, foram criadas no mundo ocidental, tido por corrupto e satânico. Sempre que conquista uma localidade, o ISIL distribui pen drives com cânticos jihadistas que mostram as operações da milícia sanguinária e condeam a democracia. Mohamed Hachud, Kokito, tem uma conta noTwitter, onde escreveu há tempos: «Um dia voltarei à minha terra para fazer a jihad.»
Existe uma barreira entre nós e a lâmina ensanguentada da navalha deKokito. Essa fronteira não é a linha ténue e prosas que separa Ceuta de Marrocos; ou Marrocos da Península Ibérica, onde o ISIL aspira a reconstruir o Califado. Essa barreira está situada um pouco mais longe, não muito – e chama-se Israel. Considerem isto maniqueísmo, simplificação demagógica, afirmem que o Hamas e o ISIL são realidades diversas, digam o que bem entenderem: a Caixa de Comentários encontra-se ali em baixo, registando com plena liberdade todas as opiniões, por mais insultuosas que sejam.
Nada disto, sublinhe-se claramente e sem quaisquer subterfúgios, significa aprovação acrítica por tudo quanto Israel está a fazer na Palestina contra o Hamas e, já agora, tudo o que o Hamas está a fazer na Palestina contra Israel. Em Israel, um Estado democrático, com eleições limpas e alternância política, opinião livre e imprensa crítica, há muitos que discordam do rumo que a guerra ao Hamas está a tomar. Aliás, por todo o mundo há judeus horrorizados com a violência que alastra, sobretudo quando ela atinge populações civis indefesas. Em Israel pode discordar-se e criticar-se. No mundo de Kokito, não. Ainda há pouco, em Junho deste ano, em Mosul, o bando de Kokito chacinou 13 clérigos muçulmanos sunitas que, apesar de apoiarem as pretensões do ISIL, advogavam alguma moderação nesta barbárie sem fim.
A indiscutível primazia política, ética e moral de Israel sobre todos os povos em seu redor não lhe confere, por si só, legitimidade para que possa fazer o que quiser, nem lhe dá carta branca para ultrapassar os limites do intolerável. Daquilo que temos por intolerável justamente à luz dos princípios, dos valores e das regras que, repete-se, distinguem Israel de todos os Estados seus vizinhos e das organizações que estes financiam e patrocinam. É imprescindível o diálogo entre todas as partes, na convicção de que com Kokito e a sua navalha não há «diálogo» possível. Estão a ser enviados às dezenas, de Espanha, Marrocos e até Portugal; todos prometem regressar em breve, de navalha em punho.
E para aqueles que, por cegueira político-ideológica, conspurcam as paredes de Lisboa com grafitos que gritam Free Palestine!, importaria parar por momentos e pensar um pouco. Em Portugal e em Israel, pode dizer-se o que se pensa. Com Kokito, quem se arrisca a pensar pela própria cabeça, perde-a. Perde-a decapitada, no sentido mais literal do termo. Conviria pensar nisso. Se possível, pela própria cabeça. Sem dogmas nem preconceitos.
Circula na Internet uma petição a solicitar ao governo de Portugal a interrupção das relações diplomáticas com Israel (encerramento de embaixadas, etc.) até o «genocídio em Gaza» terminar.
Esta escolha de linguagem e o apelo a sanções diplomáticas fizeram-me antecipar a publicação da seguinte infografia:
(clicar para ver maior)
Porque a realidade é esta: por via de um preconceito demasiado familiar, o “valor” de um cadáver árabe ou muçulmano é maior — muito maior — se o dedo puder ser (com maior ou menor propriedade) apontado a Israel.
Os menos de 2 mil mortos em Gaza são um «genocídio» — já a guerra civil na Síria, com mais de 200 mil mortos, é um detalhe que quase já nem passa nas notícias.
O padrão, de resto, é antigo: fala-se frequentemente da cumplicidade (por vezes, enganosamente, de autoria) do exército de Israel no massacre de Sabra e Shatila (1982), em que 750 a 3500 civis pereceram às mãos de milícias cristãs libanesas — mas esquece-se, no mesmo ano, o massacre de Hama, em que 10 mil a 40 mil cidadãos sírios foram massacrados pelo seu próprio governo.
E, ao mesmo tempo que a ofensiva israelita decorre em Gaza, os islamitas do ISIS decapitam e crucificam “hereges” na Síria, tendo conquistado recentemente a cidade de Sinjar, último refúgio de diversas minorias étnico-religiosas (yezidis, shabaks, xiitas...) no noroeste do Iraque, lançando igual perspectiva sobre o futuro desta gente.
Infelizmente, os exemplos poderiam continuar quase indefinidamente por praticamente todo o mundo árabe e muçulmano.
Who cares! Israel não está envolvido, está?
Não digo que todos os que assinam e divulgam esta petição, ou de outra forma se manifestam contra Israel, sejam antissemitas ou anti-judeus. Certamente que não: o activismo clica-e-partilha faz-se de muita inconsciência, ignorância e preguiça intelectual, também. Mas há muitos que, alegremente, saltam, como de flor em flor, do protesto contra as acções de Israel para a oposição à existência de Israel e, daí, para a apologia da perseguição aos judeus. («O Adolfo tinha razão» foi coisa lida recentemente em paredes.)
Porque, por muito que o custe dizer, o antissemitismo não tem as raízes secas e tem terreno fértil onde cair. (Não, não me refiro às críticas a Israel, muitas delas legítimas.) Viu-se recentemente, de forma particularmente caricatural, com o desaparecimento do voo MH370: não tardou muito para que surgissem mirabolantes teorias da conspiração sobre supostos interesses de um famoso banqueiro judeu; uns pouco comentários online bastaram para que o dedo acusador passasse do banqueiro em concreto para «os judeus». O facto de a “teoria” não ter pés nem cabeça era irrelevante (inclusive para a comunicação social que, em busca do eterno “colorido”, divulgou acriticamente a acusação).
Conforme disse no início, publiquei esta infografia antes do previsto. De facto, andava por estes dias a preparar um (previsivelmente longo) artigo onde exporia de uma forma sistematizada a minha posição quanto ao conflito israelo-palestiniano. É um exercício particularmente deprimente, porque se trata de fazer escolhas num conflito em que nenhum lado fica propriamente bem na fotografia. Nele discutiria, entre outras coisas, aqueles que considero serem os erros (e, nalguns casos, os crimes) de Israel. Isto porque não embarco em maniqueísmos acéfalos: não é por eu apoiar Israel que pinto a actuação do seu exército em tons de cavaleiro andante.
Nenhum dos lados fica bem na fotografia, é verdade — mas os dois lados não ficam iguais na fotografia.
O exército israelita cometeu crimes de guerra, certamente. (Algumas vez terá havido um exército, em cenário de guerra, que não os tenha cometido nunca? Duvido.) Mas a maioria desses crimes foram deliberadamente provocados pelo Hamas, como estratégia de relações públicas — estratégia, ela própria, criminosa. Um crime é sempre um crime, mesmo que em reacção a um crime anterior, mas ainda assim a superioridade moral de Israel fica aqui bem patente: existe, moralmente, uma diferença enorme — abismal, inultrapassável — entre ser implacável para com os nossos inimigos e ser maquiavélico na orquestração do telegénico massacre da nossa própria população.
O maior pecado de Israel foi deixar-se cair na emboscada mediática montada pelo Hamas.
Que fique claro, pois: apoio Israel. Porque, apesar das opções nem sempre correctas, o governo de Israel tem um objectivo legítimo: a defesa e a segurança do seu próprio povo. E, não obstante as imperfeições, Israel é um país livre e democrático: mesmo os seus cidadãos árabes (20% da população), ainda que vítimas de alguma desconfiança quanto à sua lealdade, são mais livres em Israel do que em qualquer país árabe.
O mesmo não se pode dizer do Hamas. Para o Hamas, o objectivo não é a defesa do povo palestiniano, que alegremente sacrifica, mas a promoção niilista da Causa da Fé. Uma vez vencido o «inimigo sionista», o movimento dedicar-se-ia à opressão do seu próprio povo, em nome de uma “pureza religiosa” que mais não é do que um outro nome para a barbárie obscurantista. (De resto, já o vem fazendo em Gaza.) Porque o Hamas não é um movimento de resistência palestiniano ou mesmo uma Organização de Libertação da Palestina (por mais imperfeita que esta seja). O Hamas é, assumidamente, um «Movimento de Resistência Islâmica» (sunita): toda uma variedade de palestinianos — cristãos, druzos, baha’i, muçulmanos xiitas — seria, em maior ou menor escala, excluída, subjugada ou perseguida.
(O mesmo vale para o Hezbollah, o autoproclamado «Partido de Deus», este da vertente xiita, particularmente activo no sul do Líbano.)
Mas tudo pode ser resumido a isto: apoio Israel porque uma versão israelita de mim — ateu e crítico de muitas das acções do governo e do exército — poderia viver a sua vida em Israel sem grandes medos de represálias. (Concedo: existem franjas na sociedade israelita que moralmente não distingo do Hamas — veja-se o assassino de Rabin.)
Mas, e quanto à Palestina do Hamas ou do Hezbollah? (Ou, diga-se em abono da verdade, quase todos os países árabes e muçulmanos...) Poderia o mesmo ser dito? Não, todos sabemos bem que não. Alguém como eu, sendo palestiniano, seria pura e simplesmente abatido pelo seu próprio governo (não por um tresloucado à solta: em Gaza os tresloucados estão no poder) ainda a tinta não tinha secado na palavra «ateu».
Pelo menos 13 soldados morreram 25 ficaram feridos e outros 13 encontram-se desaparecidos. Este é o resultado dos confrontos entre o exército libanês e os terroristas da Frente al Nusra, o franchising sírio da al-Qaeda. O chefe do exército do Líbano, Jean Kajwayi, afirmou que Amer Ahmad Yomaa, o responsável do grupo jihadista detido na semana passada, confessou que estava “a ser preparada uma grande operação contra o exército libanês.” Os combates que visam recuperar a cidade libanesa de Arsal e expulsar os terroristas tiveram início na tarde de Sábado. Na cidade, pelo menos dois civis morreram quando tentaram impedir o assalto a um edifício governamental por parte dos radicais. Desconhece-se o número de baixas entre os membros da Frente al Nusra. Os arredores de Arsal têm servido como palco aos confrontos entre o exército libanês e os militantes sírios, no entanto este são os considerados mais graves.
A cidade fronteiriça é de maioria sunita e serve de abrigo a milhares de refugiados que fugiram da guerra que se desenrola na Síria há mais de três anos. O Primeiro-Ministro do Líbano, Tammam Salam, descreveu os acontecimentos como “um flagrante ataque ao estado libanês” e o exército garantiu que “tomará acções firmes para evitar que o conflito na Síria se estenda para o Líbano.” Jean Kajwayi, afirmou que os confrontos não estão relacionados com a detenção de Amer Ahmad Yomaa, nem são fruto de uma casualidade e considerou-os mesmo como algo “planificado há muito tempo e que apenas esperava o momento oportuno para ser realizado.” O responsável militar libanês considera que as forças armadas do país estão preparadas para fazerem frente à “ameaça extremista sunita (“takfiri”)” desde que se actue com rapidez” pois se assim não for, “os grupos terroristas beneficiarão do que acontece em Arsal e irão actuar noutras regiões do país.” Jean Kajwayi, referiu que “quem atacou as forças de segurança foram maioritariamente estrangeiros que contaram com a colaboração de refugiados sírios.” Por esse motivo, pediu que se “trabalhe no sentido de evitar que os campos de refugiados sírios se convertam em fontes de terrorismo”. No final de Julho, as Brigadas Sunitas Livres de Baalbeck, grupo terrorista leal ao Estado Islâmico, ameaçaram “queimar o Líbano caso a polícia não mude de tácticas.”. Saifula al Shayah, o Emir do grupo libanês assegurou que “podem transformar o Líbano num escombro de ferro e fogo numa questão de horas” caso alguns dos seus “membros sejam atacados pelas forças de segurança.”. Desde o início da guerra na vizinha Síria, em Março de 2011, que têm aumentado o número de atentados, sequestros e confrontos violentos no Líbano, que se encontra dividido entre os partidários e os que lutam contra al Assad. Atef Saadedin, um militar libanês anunciou a deserção e a integração na Frente al Nusra por considerar que “as forças armadas são um mero instrumento nas mãos do grupo xiita Hezbollah”. A decisão foi tomada como saída “à perseguição que sofrem os sunitas, com detenções e interrogatórios constantes, enquanto os apoiantes do Hezbollah continuam a dar ordens com o pretexto de combater o terrorismo sem que ninguém os incomode.” A verdade, segundo o desertor, revela é que “o grupo xiita é o primeiro a atacar as mesquitas de Tripoli.”Este é o primeiro militar libanês a desertar do exército, que é integrado por membros originários de todas as comunidades religiosas presentes no país.
O principal aliado de Israel continuam a ser os Estados Unidos, mas nem sempre foi assim.
Quando Israel se tornou independente a posição americana foi ambígua. Por um lado, o presidente Harry Truman apressou-se a reconhecer o no Estado, assim permitindo que os Estados Unidos fossem os primeiros a fazê-lo. Mas, ao mesmo tempo, os Estados Unidos recusaram-se a vender as armas de que o jovem Estado necessitava para se defender dos exércitos árabes que tinham atacado imediatamente a seguir à proclamação da independência.
Nessa altura, depois de não ter conseguido apoios na Europa Ocidental, David Ben-Gurion virou para a União Soviética e acabaria por conseguir as armas de que necessitada junto da Checoslováquia. Estaline via com bons olhos um Estado que nascia sob a direcção de políticos fortemente ancorados à esquerda, todos de tradição trabalhista e marxista, regime esse que enfrentava países árabes ainda governados por monarcas que Moscovo via como reaccionários.
No período que vai da independência até à Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel tem como outro grande aliado a França, que lhe forneceria os aviões Mirage que se revelariam decisivos nessa campanha militar.
A Guerra dos Seis Dias provocaria uma alteração radical do sistema de alianças. A União Soviética, que entretanto começara a apoiar os regimes árabes resultantes dos golpes militares que haviam derrubado as monarquias tradicionais, retirou todo o apoio a Israel e obrigou os países satélites, incluindo a Checoslováquia, a interromperem todo o qualquer fornecimento de armas. A França do general De Gaule também se voltou contra Israel e cortou-lhe todo o apoio.
Ao mesmo tempo, uns Estados Unidos preocupados com o expansionismo soviético na região, e com a sua crescente influência junto de regimes como o de Nasser (Egipto) e Assad (Síria), abriu-se a Israel. Seis anos depois, em 1973, aquando da guerra do Yom Kippur, já seriam os EUA os principais fornecedores de armas a Israel, com a nossa base das Lages a servir de vital ponto de reabastecimento durante o período em que durou mais essa guerra. Esse alinhamento não se alterou até hoje, se bem que a administração Obama tenha marcado maiores distâncias do que era prática das anteriores administrações.
A nível regional Israel conseguiu normalizar a sua relação com o Egipto, graças ao acordo de paz de 1979, e mantém com a Jordânia uma coexistência relativamente pacífica. A relação com a Turquia, país membro da NATO, já conheceu melhores dias, tendo-se degradado desde que este país é governado por um partido islamista.
Como é a relação de Israel com os seus vizinhos?
A maioria dos países árabes continua a não reconhecer a existência de Israel, mas desde a vitória israelita na guerra do Yom Kippur (1973) que o cenário de uma guerra convencional não se coloca.
Israel assinou, em 1979, um acordo de paz com o mais poderoso dos seus vizinhos, o Egipto. Esse acordo, negociado em Camp David sob os auspícios do presidente norte-americano, foi firmado por Anwar Sadat, pelo lado do Egipto (seria assassinado pouco tempo depois), e por Menachem Begin, pelo lado de Israel (Begin vinha da direita e fora líder dos sionistas radicais do Irgun). Por via desse acordo Israel devolveu ao Egipto a península do Sinai, que tinha ocupado durante a Guerra dos Seis Dias.
O segundo vizinho mais poderoso de Israel tem sido, tradicionalmente, a Síria, que continua bastante hostil mas que se encontra paralisada por uma guerra civil. O regime de Damasco está estrategicamente alinhado com o Irão, o inimigo de Israel mais vocal da região. Os montes Golã, no sul da Síria, continuam ocupados pelo exército judaico.
As relações com o Líbano são mais complexas, pois este país encontra-se profundamente dividido entre várias facções. O sul está nas mãos das milícias do Hezbollah, aliadas do Irão e armadas pelo Irão, que utilizam as suas bases junto à fronteira para realizar ataques, nomeadamente lançando rockets que contra as cidades e aldeias do norte de Israel.
A Jordânia, o único país da região que dá cidadania plena aos palestinianos que lá vivem, também já assinou um acordo de paz com Israel. Foi em 1994, sob os auspícios de Bill Clinton, que Yitzhak Rabin apertou a mão a Hussein I da Jordânia. Entretanto os dois países também restabeleceram relações económicas.