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A-24

Portugal sobe ligeiramente no ranking de transparência e corrupção

por A-24, em 05.12.14
Índice de Percepção de Corrupção de 2014 coloca país em 31.º. Análise não inclui casos recentes como vistos gold, Duarte Lima ou Sócrates.

Portugal subiu duas posições no Índice de Percepção de Corrupção e em 2014 está no 31.º lugar dos países mais transparentes entre os 175 analisados pela organização não governamental Transparency International.
Nos últimos dois anos, o país tinha-se mantido na 33.ª posição, mas agora teve uma oscilação ligeira e passou a apresentar 63 pontos no relatório mundial.
Dinamarca, Finlândia e Nova Zelândia lideram numa lista que tem o Afeganistão, a Coreia do Norte e a Somália como os países mais corruptos.
No ranking mundial, Portugal partilha o 31.º lugar e os 63 pontos (em 100, país totalmente transparente) com o Botswana, Chipre e Porto Rico, ficando seis posições acima de Espanha (37.º), que no índice da Transparency International recolhe um total de 60 pontos, mais um do que em 2013, ano em que se situava na 40.ª posição. Portugal é ainda mais transparente do que a Itália e a Grécia, ambas na 69.ª posição.
“A boa notícia é que desde 2000 tínhamos vindo a perder posições de forma quase desenfreada e nos últimos dois anos esta tendência de descida estancou, mas mesmo assim não estamos a subir”, considerou ao PÚBLICO João Paulo Batalha, director executivo da Transparência e Integridade – Associação Cívica (TIAC). João Paulo Batalha disse que o facto de a subida do país ter sido ligeira demonstra que "Portugal está no limite daquilo que consegue fazer no combate à corrupção".
Se a leitura for feita entre os 28 países da União Europeia (UE) e a Europa Ocidental, Portugal situa-se a meio da lista, na 17.ª posição, novamente à frente de países como Itália, Grécia, Hungria, República Checa, Polónia ou Roménia. Aqui, a liderança é partilhada pela Dinamarca, Finlândia e Suécia. 
A TIAC admite que a actual legislação é um bom instrumento para combater a corrupção, mas sublinha que é "necessário que essa legislação se traduza numa eficácia". "Estamos mais ou menos condenados ao meio da tabela europeia. Agora vamos ver de que forma se vão reflectir os casos mais recentes que têm vindo a ser revelados", acrescentou João Paulo Batalha.
O ranking apresentado esta quarta-feira não teve em conta casos tornados públicos recentemente como o dos vistos gold ou as suspeitas que recaem sob o antigo primeiro-ministro José Sócrates, vistos como casos de "grande corrupção", sublinha João Paulo Batalha, que envolvem responsáveis da administração pública e política. É possível que no índice de 2015 estes casos venham influenciar a posição de Portugal. "Num ano de grandes escândalos em Espanha – como o caso de delitos fiscais da infanta Cristina e do marido, Iñaki Urgangarín –, Espanha caiu [no ranking]", exemplifica.
"Temos um ano para mostrar o que por cá fazemos para que Justiça prossiga com estes casos", no sentido de acabar com a "política do amiguismo" e de ter uma "política mais aberta e transparente" para "melhorar a percepção internacional" sobre Portugal, continuou o responsável da TIAC.
O índice permite que se faça um levantamento da situação quanto aos países de língua portuguesa, sendo o mais transparente, por ordem de classificação no índice, Cabo Verde (42.º lugar), seguido de Brasil (69.º), São Tomé e Príncipe (76.º lugar), Moçambique (119.º), Timor-Leste (133.º), Angola (161.º), Guiné-Bissau (161.º). De fora fica a Guiné Equatorial, por falta de indicadores fiáveis. Em 2013 estava na 163.ª posição.
Do total dos 175 países cujos níveis de transparência e corrupção foram avaliados, a Transparency International colocou nos primeiros lugares a Dinamarca (92 pontos), Nova Zelândia (91), Finlândia (89) Suíça (87) e Noruega (86). No fim do ranking, a 174.ª posição foi atribuída ex aqueo à Somália e à Coreia do Norte, ambos com apenas oito pontos, a 173.ª pertence ao Sudão e a 172.ª ao Afeganistão.

Abuso de poder mina esforços contra corupção

O Índice de Percepção de Corrupção de 2014 destaca que as maiores quedas no ranking, e “apesar de um crescimento médio da economia de mais de 4% nos últimos quatro anos”, foram registadas na China, Turquia, Malawi, Ruanda e Angola. Por outro lado, países como a Costa do Marfim, Egipto, São Vicente e Granadinas subiram cinco pontos e o Afeganistão, Jordânia, Mali e Suazilândia aumentaram quatro. 
Perante estes dados, José Ugaz, que dirige a Transparency International, considera que o “crescimento económico está a ser prejudicado e os esforços para impedir a corrupção desvanecem-se quando os líderes e altos funcionários abusam do poder para se apropriarem de fundos públicos para obter ganhos pessoais”.
Aos países menos transparentes e mais corruptos a organização aconselha que “adoptem medidas anticorrupção radicais a favor das suas populações”. Por sua vez, os países que lideram o ranking mundial devem “certificar-se de que não exportam práticas corruptas para países subdesenvolvidos”. José Ugaz sublinha que a “grande corrupção em grandes economias não só bloqueia os direitos humanos básicos aos mais pobres, como cria problemas de governança e instabilidade”. “As economias de crescimento rápido cujos governos se recusam a ser transparentes, e toleram a corrupção, criam uma cultura de impunidade em que a corrupção prospera”, reforça o responsável.
O Índice de Percepção de Corrupção de 2014 é realizado com base na percepção de quão corrupto é o sector público e um país e de dados recolhidos em instituições independentes consideradas reputáveis na posse de informações sobre governança e economia. O ranking é a conclusão da análise e comparação de todos esses dados, que incluem actividades ilegais ou subornos, e que apenas se tornam públicas quando são anunciadas investigações e, posteriormente, condenações.
Público

Rússia testa vontade da NATO de se reinventar

por A-24, em 22.11.14
Paulo Rangel

Vários líderes europeus, com destaque para Angela Merkel, têm mantido uma posição de força, mas alguns analistas questionam a determinação da Aliança Atlântica para enfrentar Moscovo.

1. Os ventos que correm Europa e Mundo afora são ventos de guerra. De guerra na Líbia, de guerra na Síria, de guerra no Iraque, de guerra nas fronteiras da Ucrânia.


E as brisas que atravessam o Mundo e a Europa são brisas de vésperas, de vésperas de guerras. O Egipto ferve e fervilha e o Magrebe já sente a febre do Estado Islâmico. Os aviões russos desejam com ardência ser acompanhados; os navios russos ufanam-se em ser escoltados; os submarinos russos orgulham-se em não serem identificados. A China desafia o Japão e o Japão desafia a China. O Irão aguarda pacientemente um momentum libertador vindo das actuais negociações internacionais; a Coreia do Norte insiste na sua vocação provocadora. Os Estados Unidos todos os dias fazem nova prédica, nova prédica dura e moral. Mas quanto mais pregam, mais longe parecem de qualquer vontade de intervir, mais próximos aparecem da sua secular reticência. Obama, vindo do Hawai, promete o Pacífico, promessa que obviamente não pacifica a Europa.

2. A Europa vive as angústias da crise e as inquietudes do enorme desgosto democrático dos cidadãos. O UKIP, mais xenófobo do que eurocéptico, progride a olhos vistos. Marine Le Pen, com a sua demagogia sedutora da desilusão, arrisca-se a ganhar eleições. A Suíça e a Noruega – outrora paraísos democráticos – convivem diariamente com a direita radical no poder. Na Itália, os cépticos e os cínicos crescem a toda a hora e ninguém faz baixar a onda populista e popular de Beppe Grillo. Na Hungria, na Holanda, na Grécia, na Suécia e na Finlândia, a direita extrema vai ganhando espaço e visibilidade. A suspeita de que a Rússia, de um modo ou de outro, apoia e financia os movimentos de extrema-direita em todos estes países aguça e estimula o aguilhão da insídia e da cizânia nas chancelarias e nos quartéis-generais. A Grécia soma ao radicalismo de direita a virtual vitória eleitoral da extrema-esquerda do Syriza e do seu projecto de dissolução anárquica da democracia liberal tal como a conhecemos. A Polónia – agora elevada ao estatuto de quase potência – e os países bálticos, temendo genuinamente o delírio imperial de Putin, pressionam a tal ponto a política externa europeia que esta acaba por fornecer a Moscovo os pretextos pelos quais Moscovo anseia e aspira. Os sinais de desagregação política em países pobres como a Roménia e a Bulgária são tudo menos discretos. As volições soberanistas da Catalunha, do País Basco, da Escócia, da Flandres e da Padânia complicam finalmente o debate do lado ocidental.

A crise das dívidas soberanas e a lentidão da sua superação encarregam-se da parte restante. A ameaça de deflação – que parece agora ser encarada com mais seriedade do que nunca – lança o espectro de fazer da Europa um novo e grande Japão. A polémica à volta da competitividade fiscal dos Estados-membros e da agressividade fiscal do Luxemburgo, outrora governado pelo novo Presidente da Comissão, também não ajudam. A ideia de que pode haver uma cesura entre Estados ricos e Estados pobres, entre Estados grandes e Estados médios e pequenos, entre Estados do Norte e Estados do sul, entre Estados atlânticos e Estados centrais e de leste continua a fazer o seu caminho.

3. A crise catalã é talvez o detonador mais visível da incerteza na Península, mas não é decerto o único. O vulcão dos escândalos políticos em Espanha não cessa de entrar em actividade: seja do lado do PP, com o caso Barcenas, seja do lado do PSOE, com a conexão andaluza, seja mesmo do lado institucional da monarquia, com o caso Nos. A formalização política do movimento dos indignados, de algum modo hipostasiada na ascensão do Podemos e do seu profeta Pablo Iglesias, não vem a ser menos preocupante. Com a sua confessa simpatia pelo “socialismo bolivariano” da Venezuela, do Equador e da Bolívia, está tudo dito quanto às suas credenciais democráticas. Com as suas promessas de distribuição omnímoda de prestações sociais, sem qualquer explicação sobre o respectivo financiamento, está tudo dito quanto ao lugar geométrico da sua demagogia. O Podemos, enquanto movimento de dissolução dos pilares da democracia liberal, não é menos pernicioso nem menos perigoso que muitos daqueles movimentos de direita radical. A Espanha vive um momento constitucional, político e partidário delicadíssimo, que, de uma maneira ou de outra terá sempre consequências sobre Portugal.

A incerteza global, a incerteza europeia e a incerteza espanhola são hoje o meio ambiente da incerteza lusa.

4. Miguel Macedo. Gostava de deixar aqui uma palavra a e sobre Miguel Macedo – para lá do “sim”, que aqui costumo registar e que hoje vai também registado a seu favor. Admiro de há muito o seu convicto sentido de Estado e de dignidade institucional, o seu conhecimento profundo da vida política e das suas vicissitudes, o seu respeito pela cultura institucional das administrações públicas. E, por isso, devo confessar que o seu gesto, tomado logo num primeiro momento, em nada me surpreendeu. Surpreender-me-ia, sim, um qualquer gesto diverso. É fundamental, designadamente, no quadro europeu que defendamos a todo custo – e independentemente de qualquer juízo precipitado ou injusto de culpabilidade sobre este ou aquele alto dirigente administrativo – a nossa polícia de fronteiras, o seu prestígio e a sua integridade. Numa altura em que Schengen, pelas boas e pelas más razões, está no epicentro da política europeia, não podem restar dúvidas sobre a honorabilidade e a competência da polícia portuguesa. Foram os valores éticos e democráticos de mais alto timbre, mas também este concreto interesse nacional vital, que o gesto de Miguel Macedo soube proteger.

SIM. Miguel Macedo. O Ministro da Administração Interna mostrou a dimensão política, ética e humana que muitos lhe reconheciam. Os bons exemplos são sempre benvindos. 

NÃO. Escândalo dos vistos Gold. A vida política de um Estado depende em muito da qualidade, do espírito de serviço e da credibilidade da alta administração pública. Eis um plano em que se passam a levantar dúvidas legítimas.

Há 35,8 milhões de escravos em todo o mundo

por A-24, em 20.11.14
Com as mesmas estimativas de 2013, Portugal ocupa o décimo lugar entre 167 dos países com menor índice de escravatura, e é o 11º entre os europeus. O Brasil é um dos países elogiados pelo combate ao trabalho forçado e escravo no Índice Global da Escravatura 2014.



Depois de no ano passado ter estimado a existência de 29 milhões de escravos modernos em todo o mundo, o Índice Global da Escravatura 2014 apresentou esta segunda-feira novas estatísticas: são 35, 8 milhões.

Os novos números representam uma subida de 20% em relação ao primeiro relatório de sempre sobre a escravatura, divulgado em 2013, mas não indicam, porém, uma subida do número de escravos, sublinha a Walk Free Foundation, uma instituição que luta pela erradicação da escravatura, e autora do relatório. Esta “subida” deve-se a uma melhoria na precisão e no rigor da metodologia usada e no facto de estarem agora a ser revelados casos de escravatura moderna em locais onde estava escondida. O índice de 2014 inclui mais cinco países do que o anterior: Taiwan, Sudão do Sul, Coreia do Norte, Kosovo e Chipre. 
O termo escravatura moderna é usado de diferentes maneiras em diferentes países, e é inclusivamente alvo de debates. Para o relatório, escravatura moderna implica o controlo ou posse de uma pessoa, retirando-lhe a sua liberdade individual, com intenção de a explorar. Inclui tráfico de pessoas e trabalho forçado. 
Com os mesmos dados do ano passado, 1400 escravos, Portugal ocupa o décimo lugar entre 167 dos países com menor índice de escravatura, e é o 11º da Europa. Cinco países - Índia, China, Paquistão, Uzbequistão e Rússia - concentram 61% do total de escravos estimados. O pior país em termos de prevalência da escravatura é, como em 2013, a Mauritânia, com 4% da população em situação de escravatura, mas em termos absolutos é a Índia que bate os recordes com 14,3 milhões estimados. O Uzbequistão vem a seguir à Mauritânia, algo que se deve a uma imposição de trabalho forçado do próprio governo na apanha de algodão, e que está documentado por várias organizações, dizem no relatório. 
O Qatar foi um dos países que “subiu” no ranking entrando no top ten dos países com maiores índices de escravatura: tem agora 1,4% da população em situação de escravatura (e os autores acham que esta é uma estimativa conservadora). A presença no top ten do Paquistão, República Democrática do Congo, Sudão, Síria e República Centro Africana é um reflexo do impacto da guerra na escravatura moderna, interpreta a Walk Free. 

Já em relação à Mauritânia, a escravatura é algo difícil de erradicar porque está integrada na sociedade e é perpetuada pela tradição, passa de geração em geração e faz parte do sistema social, escrevem.

Meio milhão na Europa
Apesar de ser a região do globo com o menor índice de escravatura, 1,6%, a Europa continua a ter mais de meio milhão de escravos entre as suas fronteiras - a maioria é para exploração laboral e sexual. Islândia, Irlanda e Luxemburgo são os países europeus com menor incidência de escravatura na Europa, enquanto a Bulgária, República Checa e Hungria têm os níveis mais altos. A Turquia tem, porém, o número absoluto mais alto, com mais de 185 mil.
O tráfico de seres humanos para a indústria da cannabis na Irlanda e a mendicidade forçada em França são alguns dos casos mais recentes. Cerca de 65% das vítimas de tráfico serão cidadãos da União Europeia, 70% das vítimas identificadas serão para exploração sexual e 19% para exploração laboral. Continuam a existir situações de servidão doméstica de cidadãos não-europeus nas casas de pessoal diplomático, escrevem.
Uma das novidades do Índice deste ano é medir as respostas dos governos à escravatura e a taxa de vulnerabilidade da população em cada país relativamente ao problema. 
Em relação à resposta governamental, Portugal está em 23º lugar no rankingdos 167 países e em 17º no dos 37 países europeus. Já no índice de vulnerabilidade está no 150º e em 24º no europeu (neste caso, quando mais alta a posição, melhor). Para medir as respostas governamentais ao problema foram usados cinco factores que devem estar incluídos na luta contra a erradicação da escravatura, de acordo com a Walk Free: identificação e apoio a vítimas, mecanismos de justiça criminal adequados, coordenação e responsabilização do governo central, combate às atitudes, sistemas sociais e instituições que facilitam a escravatura, e subcontratação. 
O Brasil, que neste índice aparece em melhor posição do que Portugal ocupando o 14º lugar, é um dos países elogiados pelo relatório como um dos três que está a fazer um esforço para prevenir o recurso ao trabalho forçado e escravo nas cadeias de produção, ao lado dos Estados Unidos e Austrália. Estes países fizeram um compromisso público de combate à escravatura moderna nas suas cadeias de produção, como a Austrália, ou tomaram passos decisivos para garantir transparência como a criação da lista negra de empresas no Brasil em que são publicados os nomes das empresas que lucraram com trabalho forçado, escreve a Walk Free. 
Quanto à vulnerabilidade da população à escravatura, ela baseia-se em cinco factores: as políticas de combate à escravatura moderna, as protecções dadas por direitos humanos, o nível de desenvolvimento económico e social, o nível de estabilidade estatal e a extensão dos direitos das mulheres e de níveis de discriminação. 

O problema asiático
Tal como no ano passado, este índice de 2014 mostra que quase dois terços da população escravizada está na região da Ásia-Pacífico. Trabalho forçado, tráfico para exploração sexual e casamentos forçados são as formas que a escravatura assume, e em países como a Índia e Paquistão a população, por vezes famílias inteiras, são escravizadas através de trabalho escravo na construção, agricultura, produção de tijolos, etc. 
Nesta região, a Índia, Paquistão e Tailândia representam quase 50% do total da população mundial escravizada e isto “é um reflexo do facto de muitos dos países no sudeste asiático terem a mão de obra desqualificada que fornece a cadeia de produção de várias indústrias, da comida à tecnologia”. 
“Há a ideia de que a escravatura é uma coisa de uma era passada. Ou que só existe em países afectados pela guerra ou pela pobreza. Estes dados mostram que a escravatura moderna existe em todos os países” , afirma Andrew Forrest, o fundador da Walk Free, citado no comunicado de imprensa do relatório.

O estranho Festival Vegetariano de Phuket

por A-24, em 09.11.14
Observador


O Festival Vegetariano é um evento anual celebrado no mês de outubro na ilha tailandesa de Phuket e que coincide com o nono mês lunar do calendário chinês. Durante nove dias, a comunidade chinesa faz uma dieta estritamente vegetariana ou “vegan” para limpar o corpo e a mente. São também realizados vários rituais religiosos, que se acreditam atrair boa sorte.
Apesar de não se conhecerem as origens do festival, acredita-se que este tenha sido trazido para Phuket por um grupo itinerante de ópera chinês. Depois de terem atuado na ilha, o grupo terá ficado doente com malária. Os cantores decidiram então fazer uma dieta vegetariana rigorosa e rezar aos Nove Deuses Imperadores para alcançarem a purificação do corpo e da mente. Para o espanto de todos, o grupo acabou por recuperar da doença que era, na altura, fatal. Para celebrar, a população local organizou um festival em honra dos deuses.



Com o passar dos anos, o festival foi crescendo até ganhar a dimensão que tem hoje. Todos os anos, centenas de pessoas vindas da China e de outras regiões da Ásia viajam até Phuket para participarem nas celebrações.
Os participantes acreditam que ao evitarem comer carne e outros produtos de origem animal estão a atrair boa sorte, paz de espírito e a contribuir para uma saúde melhor. Apesar de também existir em outros países como a Malásia ou Singapura com o nome de Festival dos Nove Deuses Imperadores, a província de Phuket tem uma série de tradições muito próprias. Para além dos rituais praticados nos vários templos chineses da região, são também realizadas outras práticas menos comuns, que atraem um grande número de curiosos a Phuket durante a celebração.

São várias as práticas de auto-mutilação associadas ao Festival Vegetariano e todos os anos dezenas de pessoas são feridas com gravidade. De acordo com oHuffington Post, em 2011, 74 pessoas ficaram feridas e uma morreu. Essas práticas são realizadas por “mediums”, os “mah song” (“cavalos dos deuses”), homens e mulheres que furam as bochechas e outras partes do corpo com diferentes objetos, de paus a espadas. Acreditam que ao perfurarem o próprio corpo, os deuses absorvem as más energias, livrando-os do mau “karma”, da doença e da tristeza.

Timor-Leste A ilha insustentável

por A-24, em 06.11.14
via Público

Este é o retrato implacável de uma realidade que não podemos continuar a fingir que não existe. Estas são algumas das verdades, duras como punhos, sobre um país que sonhou ser diferente - e nos fez também sonhar

1. Timor não é um Estado falhado. É pior. Falhou o projecto nacional idealizado há uma década
Em nove anos de liberdade, Timor-Leste não conseguiu assegurar água, luz e esgotos para a sua pequena capital. Baucau, a segunda "cidade", é uma versão apenas ajardinada da favela que é Díli, graças à gestão autárquica (oficiosa) do bispado.
O resto, nos "distritos", é um país de cordilheiras que vive o neolítico como quotidiano, longe do mínimo humano aceitável. Chega-se lá pelas estradas e picadas deixadas pelos "indonésios". Há estradas principais onde não entrou uma picareta desde 1999.
O bem público e as necessidades do povo são ignorados há nove anos com um desprezo obsceno. O melhor exemplo é a companhia de electricidade: durante cinco anos, a central de Díli não teve manutenção de nenhum dos 14 geradores - todos oferecidos -, até que a última máquina de grande potência resfolegou.
O Hospital Nacional Guido Valadares, onde se inaugura esta semana instalações rutilantes, não teve até hoje um ecógrafo decente nem ventiladores nos Cuidados Intensivos. Não há um TAC no país (embora custe o mesmo que dois dos novos carros dos deputados); a menina timorense com que Portugal se comove teve o tumor diagnosticado pelo acaso de um navio-hospital americano que lançou âncora em Díli. A taxa de mortalidade infantil é apenas superada a nível mundial pelo Afeganistão. A mortalidade pós-parto é assustadora. Entretanto, cada mulher timorense em idade fértil tem em média 7,6 filhos.
Circulam entre diplomatas e humanitários os "transparentes" de um relatório do Banco Mundial que conclui que "a pobreza aumentou significativamente" entre 2001 e 2007 (um balanço arrasador do consulado Fretilin, porque o estudo usa indicadores até 2006). Cerca de metade dos timorenses vive com menos de 60 cêntimos de euro por dia e, desses, metade são crianças. Timor é um país rico atolado na indigência, onde os líderes se insultam por causa de orçamentos que ninguém tem sequer unhas para gastar.

2. A "identidade maubere" é uma ficção dispendiosa
A identidade "nacional" do espaço político timorense não existe, como explicam os bons historiadores, que sempre referem no plural os "povos" de Timor. Sob o mito do "povo maubere" existe um mosaico de dezena e meia de entidades etnolinguísticas que se definem por oposição (em conflito, separação, desconfiança, distância) ao "outro", mesmo em aliança. O "outro" de fora, ou o "outro" de dentro. É um tipo de coesão circunstancial e oportunista que morre com o conflito, engendrando a prazo outros conflitos, em ciclos de calma e crise numa ilha com paradigmas medievais.
A gesta "maubere" produziu, finalmente, uma inversão cronológica. A RDTL é uma cristalização política de uma sociedade que teve alforria de Estado antes de construir uma identidade que o sustentasse.
A filiação de cada timorense continua a ser à respectiva "uma lulik" (casa sagrada) e às linhagens que definem outros territórios e outras leis que não passam por ministros, juízes nem polícias, mas por monarcas, oligarcas e chefes de guerra. É isto que os líderes tentam ser - ou, de contrário, não são.

3. O Estado independente  é sabotado pelas estruturas da resistência
O Estado timorense funciona. Não significa, porém, que produza algum resultado, exceptuando a Autoridade Bancária de Pagamentos, única instituição onde a aposta na localização de quadros e a recompensa do mérito fizeram do futuro banco central um oásis de probidade nórdica.
As estruturas operativas do país são paralelas, oficiosas e opacas. Vêm do tempo da resistência e não houve coragem ou inteligência para as formalizar no jovem Estado.
Um caso óbvio é o dos veteranos das Falintil que não integraram as novas Forças de Defesa (FDTL). Em 2006, foi a 200 desses "civis" que o brigadeiro-general Taur Matan Ruak recorreu num momento crítico de sobrevivência do Estado. O Estado-Maior timorense está, porém, a contas com a justiça. Se passar da fase de inquérito, talvez o processo das armas e da milícia "20-20" abra um debate que devia ter acontecido antes. O lugar das "reservas morais" tem de ser formalizado, sob pena de não haver linha de separação entre patriotismo e delinquência. O major Alfredo Reinado ilustrou, de forma trágica, a facilidade deste salto.
As estruturas paralelas, porém, não são exclusivo do sector de segurança. O ex-comandante Xanana Gusmão não esconde que a Caixa, a rede clandestina de "inteligência", continua activa. As fidelidades, mas também os reflexos e atavismos da resistência, continuam em vigor. A "velha" voz de comando é, por vezes, a última instância e, mesmo em Conselho de Ministros, o último argumento é por vezes o voto de qualidade por murro na mesa.
José Ramos-Horta, diasporizado das Falintil e do mato até 1999, não tem cão mas caça com gato. O chefe de Estado, em linha com os símbolos maçónicos debruados nas suas camisas, é desde há dois anos o segundo "pai" da Sagrada Família. É uma sociedade fundada em 1989 pelo comandante Cornélio Gama "L7", que evoluiu para uma combinação algo mística de grupo religioso, partido político e milícia justiceira. Foi "L7", com a bênção de Xanana Gusmão, que apresentou a candidatura de Ramos-Horta à Presidência em Fevereiro de 2007, em Laga. Vários elementos da Sagrada Família integram a guarda do chefe de Estado.
A República timorense é limitada e sabotada pela recorrência do ocultismo, apadrinhamento, vassalagem e mentalidade de célula. No entanto, se não fossem as redes informais de confiança e de comando, por onde passam também os códigos de fidelidade e os valores de grupo, a RDTL já teria implodido.
Versão moderna dos Estados dentro do Estado: a última contagem, confidencial, dá conta de 350 assessores internacionais junto do IV Governo Constitucional.

4. A estratégia dominante na sociedade está tipificada no Código Penal. Chama-se extorsão
A simpatia pela "causa" timorense estagnou num ideal de sociedade e de pessoa que é desmentido pela frustrante experiência quotidiana. Ignorância, trauma, miséria e negligência, polvilhados com os venenos da complacência, paternalismo e piedade, banalizaram comportamentos de rapina, desonestidade, egoísmo e má-fé. A solidariedade, a generosidade e a gratidão estão em minoria. O que é marginal ou criminal noutros sítios faz, no Timor de hoje, catecismo nas repartições, nos negócios, no mercado, no trânsito, no lar.
A "liderança histórica" reina sobre um país intratável, em passiva desobediência civil, que pensa e age como se todo o mundo lhe devesse tudo e como se tudo estivesse disponível para ser colhido, do petróleo ao investimento e à atenção internacional. A cobiça e a inveja social infectam a esfera política, social, laboral e até familiar. "Aqui todos mandam e ninguém obedece", para citar um velho timorense educado em princípios que deixaram de ter valor corrente no seu país.
A "estabilidade" actual é comprada com um Natal todos os dias. Tudo é subsidiado, desde o arroz ao combustível, com uma chuva de benesses e compensações a um leque impensável de clientelas e capelas. A sociedade civil, digamos, é uma soma de grupos de pressão que recebem na mesma moeda em que ameaçam com incêndios e pedradas, desde os deslocados aos peticionários ou aos estudantes.
Todo esse dinheiro nada produz. Algum sai para a Indonésia, que os novos-ricos timorenses consideram um sítio mais seguro para investir. O que fica compra motorizadas e telemóveis. A Timor Telecom vai fechar o ano com 120 mil clientes na rede móvel, 12 por cento da população, uma taxa ao nível de países com o triplo de rendimento per capita do timorense.
A maioria dos timorenses não paga o que consome: água, electricidade (por isso o consumo aumenta 25 por cento ao ano, um ritmo impossível de acompanhar por qualquer investimento nas infra-estruturas), casa, terra, crédito, arroz. Este modelo de pilhagem e esbanjamento é insustentável na economia, na banca, na ecologia, na demografia e, a prazo, até na política.


5. A ocupação indonésia foi implacável e a líderança timorense desmantela com zelo o que restava: a dignidade
O gangster mais conhecido do submundo de Jacarta nos anos 1990 - o timorense Hércules - é, hoje, o dono de obra no melhor jardim da capital. Os condenados por crimes contra a humanidade, como Joni Marques, da "Tim Alfa" (pôs Portugal de lenço branco em Setembro de 1999 com um massacre de freiras e padres), voltam às suas aldeias com indemnizações por casas que foram queimadas, enquanto eles estavam na prisão.
Na Comissão mista de Verdade e Amizade (CVA), foi a parte timorense, perante a surpresa indonésia, que tentou conseguir uma amnistia geral para os crimes de 1999, com uma persistência de virar o estômago.
O relatório da Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação (CAVR), uma monumentae historica de 24 anos de dor em sete volumes, espera há três anos a honra de um debate no Parlamento. Duas datas estiveram marcadas em Novembro, mas, nos bastidores, os titulares políticos tentam obter uma prévia sanitização das recomendações da CAVR.
Mari Alkatiri, Xanana Gusmão e José Ramos-Horta, ao sectarizar a memória da violência, desbarataram o capital obtido à custa de duzentos mil mortos (incluindo os seus entes queridos). A herança do genocídio é aviltada na praça como capital de risco e como cartão de visita. O resultado é uma distopia moral, um abismo de proporções tremendas em que se afunda um país cuja soberania teve, afinal, uma legitimidade essencialmente moral no seu contexto geográfico e histórico.
Os mortos são a parte nobre de Timor, merecedores de tributos em rituais, lutos e deslutos. Mas nesta terra de cruzes, valas comuns e desaparecidos, não houve ainda a caridade de 200 mil euros para instalar um laboratório de ADN que permitisse, enfim, devolver os ossos ao apaziguamento dos vivos.
A injustiça e a impunidade são valores seguros em Timor-Leste.

6. Timor fala todas as línguas e nenhuma
Timor é uma ficção lusófona onde a língua portuguesa navega contra uma geração culturalmente integrada na Indonésia, contra a geografia, contra manipulações políticas internas e contra a sabotagem de várias agências internacionais. A reintrodução do português só poderá ter êxito com a cumulação de duas coisas: firmeza política, em Díli, sobre as suas línguas oficiais; massificação de meios ao serviço de ambas.
O Instituto Nacional de Linguística tem 500 dólares de orçamento mensal (exacto, seis mil USD por ano).
Na "Babel lorosa'e", como lhe chamou Luiz Filipe Thomaz, não se fala bem nenhuma das línguas da praça (tétum, português, inglês, indonésio). Uma língua é a articulação de um mundo e do nosso lugar nele. Perdidos da gramática e do vocabulário, uma geração de timorenses chegou à idade adulta e ao mercado de trabalho sem muitas vezes conhecer conceitos como a lei da gravidade, o fuso horário ou as formas geométricas, apenas para dar exemplos fáceis.
Aos poucos bancos com balcão em Díli (três) chegam projectos de investimento estrangeiro cujos planos de amortização não prevêem mão-de-obra timorense ou que contam os timorenses como peso-morto na massa salarial, ao lado de operários ou técnicos importados que responderão pela produção. 

7. "Entrar nas Nações Unidas é ficar politicamente inimputável"
Diz um diplomata que gosta do teatro de sombras javanês: "A ONU em Díli está em sintonia com os dirigentes timorenses. Todos fabricam fantasmas: o grande estratego, o grande diplomata, o grande guerrilheiro. Se não fosse assim, as máscaras cairiam e seria um grande embaraço..."
A UNMIT, uma das missões mais caras da ONU, afunda-se penosamente no mesmo vazio moral da liderança timorense. Três mil funcionários, polícias e militares, uma massa crítica formidável que poderia ser um contrapeso à incompetência e à insensatez, são esmagados pelo cabotinismo carreirista do chefe de missão, Atul Khare, e de acólitos que acham bem em Timor aquilo que jamais admitiriam nos seus países desenvolvidos. "Entrar nas Nações Unidas é ficar politicamente inimputável", explicou um alto-
-funcionário da UNMIT.

8. Não há nenhuma bandeira de Portugal no mar de Timor
Não há interesses portugueses em Timor-Leste, porque não há condições objectivas mínimas para fazer vingar qualquer interesse mensurável. Não, decerto, pelos critérios que vigoram em qualquer outro lado. Seria bom que isto fosse entendido pelos nossos responsáveis políticos. Portugal concedeu mais de 440 milhões de euros de 1999 a 2007 em ajuda ao desenvolvimento a Timor-Leste, que consome quase metade do bolo total da nossa cooperação.
Continuando uma tradição portuguesa, as projecções pós-imperiais e os fascínios com sucessivos aprendizes de Mandela ganham precedência sobre as informações que chegam dos operadores económicos no terreno. "Mas você nunca ouvirá um governante português dizer nada contra Timor", dizia, este ano, à mesa do café, um governante português de visita.


9. "Tudo ainda não aconteceu"
A ferida feia no corpo de Ramos-Horta, quando o Presidente jazia numa poça de sangue depois de levar dois tiros de cano-longo, é um buraco tão fundo como a vergonha da nação. A ressurreição do profeta-Nobel criou um cristo gnóstico mas as chagas, nesta terra dilacerada, já não fundam religiões com a facilidade com que há dez anos fundavam Estados.
Díli, como um circo máximo de gladiadores, fervilha de jovens empurrados para a luta. Não têm emprego, educação ou perspectiva. Alguém lhes diz: "Não sois bandidos. Sois guerreiros." Mas dos aswain, os heróis das montanhas timorenses, resta-lhes a coragem física, um retalho de rituais dispersos por grupos rivais e a intransigente sacralização do seu território. Uma mistura inflamável para toda a nação. "A resistência continua mas agora sem rumo. E, sem rumo, só faz merda", diz o ex-assessor de Ramos-Horta para a Juventude José Sousa-Santos.
"Tudo ainda não aconteceu", avisava um "espírito" antepassado, pela voz de uma menina de Ermera, no Natal ainda inocente de 2005.
Díli, Novembro de 2008

Cinco tesouros que ninguém sabe onde estão

por A-24, em 26.10.14
Observador 

Apesar das histórias lendárias de tesouros perdidos e artefactos preciosos, a verdade é que se desconhece o paradeiro de algumas das mais importantes e valiosas peças da história. Algumas foram perdidas durante a guerra, outras simplesmente enterradas e esquecidas. Existem ainda algumas que estão desaparecidas há tanto tempo que as suas histórias se transformaram em lenda. Fique a conhecer alguns desses artefactos perdidos.

A cidade escondida de Paititi
A história da cidade inca de Paititi mistura-se com a da mítica El Dorado, uma cidade repleta de ouro perdida na imensidão da floresta sul-americana.
Durante cerca de 40 anos, os espanhóis tentaram conquistar o território inca. Devido aos avanços das tropas invasoras, os sul-americanos retiraram-se para o vale de Vilcabamba no Perú, que se tornou assim o último refúgio conhecido do povo inca. Quando os espanhóis conseguiram finalmente entrar na cidade, em 1572, descobriram-na deserta. Ao que parece, os incas conseguiram fugir para uma nova localização no coração da floresta do sul do Brasil sem deixar rasto. Consigo levaram o seu vasto tesouro e a verdadeira localização da nova cidade nunca foi encontrada. A história acabou por ser associada a El Dorado, cuja lenda teve início no mito de um chefe dos muíscas, uma tribo colombiana, que tinha por costume oferecer presentes à deusa do lago Guatavita coberto de pó de ouro.

Os ovos perdidos de Fabergé
Durante mais de três décadas, Karl Gustavovich Fabergé trabalhou como ourives para a família real russa. Durante esse tempo, fez 52 ovos decorados para o czar e a sua família e outros 15 para compradores particulares. Os ovos, feitos com ouro e pedras preciosas, assemelhavam-se aos típicos ovos da Páscoa.
Em 1917, na sequência da revolução russa e do assassinato do czar Nicolau II e de grande parte da família real, Fabergé fugiu do país. Viajou primeiro para a Letónia e depois para a Suíça, onde acabou por morrer em 1920. Os ovos criados por Fabergé, assim como muitos outros tesouros pertencentes à família russa, foram confiscados e guardados nos cofres do Kremlin. Alguns foram vendidos para angariar fundos para o novo regime, outros não se sabe o que lhes aconteceu. Dos 52 ovos criados por Fabergé, oito estão ainda desaparecidose o seu paradeiro permanece ainda hoje um mistério.

As patentes dos irmãos Wright
Podem não ser feitas de ouro, mas as patentes dos irmãos Wright são um verdadeiro tesouro histórico. Orville e Wilbur Wright, ou simplesmente os irmãos Wright, foram dois inventores norte-americanos conhecidos por terem construído com sucesso a primeira máquina voadora mais pesada que o ar. Em 17 de dezembro de 1903, os Wright realizaram um primeiro voo motorizadoe tripulado que, apesar de ter durado apenas alguns segundos, constituiu um passo importante e decisivo na história da aviação.
As patentes da máquina estavam guardadas no Arquivo Nacional norte-americano. Ou pelo menos era o que se pensava. Em 2003, descobriu-se que tinham desaparecido e, até à data, ninguém sabe onde estão. Os roubos nos Arquivos Nacionais são comuns, de tal forma que existe uma equipa especial que se dedica a tentar encontrar as peças desaparecidas. Algumas já foram encontradas, mas muitas continuam desaparecidas.

O colar de Patiala
O colar de Patiala, desenhado pela Cartier em 1928, foi uma peça criada especialmente para o marajá Bhupinder Singh do estado de Patiala, uma localidade no nordeste da atual Índia.
De uma rara beleza, o colar era composto por cinco filas de correntes de platina, adornadas com 2.930 diamantes. Entre eles, encontrava-se o sétimo maior diamante do mundo, o “De Beers”, um diamante amarelo de 234,6 quilates e do tamanho de uma bola de golfe. Para além dos diamantes, a joia era também composta por rubis birmaneses outras pedras preciosas. O colar desapareceu por volta de 1948 e a última pessoa a usá-lo foi o filho do marajá, Yadavindra Singh. Em 1982, a joia reapareceu num leilão da Sotheby’s em Genebra e foi vendida por mais de três milhões de dólares (cerca de 2,3 milhões de euros). Porém, o colar não estava completo.
Mais de 10 anos depois, uma das partes perdidas foi encontrada numa joalharia de peças em segunda mão em Londres. As partes mais impressionantes do colar, entre elas os rubis birmaneses e o diamante “De Beers”, porém, permanecem desaparecidas. A Cartier restaurou o colar de modo a assemelhar-se à sua forma inicial. Os diamantes foram substituídos por zircónio e diamantes sintéticos. Acredita-se que o original tenha sido desmontado e vendido em várias partes pelos membros da família do marajá indiano. O seu valor total está estimado entre 20 a 30 milhões de dólares (entre 16 a 23 milhões de euros).


O tesouro de João Sem Terra
O rei João de Inglaterra, irmão de Ricardo Coração de Leão, gostava particularmente de “colecionar” joias e peças feitas de ouro. Mas se o rei não teve um fim muito feliz, as suas joias também não.
Em 1216, João viajou para King’s Lynn em Norfolk, no este de Inglaterra. A zona, conhecida por “the wash”, estava repleta de perigosos pântanos e planícies cobertas de lama. Uma vez em Lynn, o rei ficou doente e decidiu regressar. Tomou o caminho mais lento mas mais seguro, de modo a evitar os pântanos e a zona repleta de inimigos de East Anglia. Contudo, diz a lenda que os seus soldados e as carruagens que transportavam os seus bens pessoais, incluindo as joias da coroa, escolheram um caminho que atravessava os pântanos. Estes, apanhados pelas águas, morreram afogados. Com as suas mortes, perderam-se os tesouros de João, que nunca foram encontrados. O rei morreu alguns dias depois de disenteria, a 18 de outubro de 1216, provavelmente triste pelo fim trágico das suas queridas joias.

Malala Yousafzai e Kailash Satyarthi recebem o Prémio Nobel da Paz de 2014

por A-24, em 11.10.14
Observador

O Prémio Nobel da Paz de 2014 foi atribuído à paquistanesa Malala Yousafzai e ao indiano Kailash Satyarthi, ativistas dos direitos humanos “pela sua luta contra a opressão de crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação”,justificou a Academia Nobel de Oslo, responsável pela escolha deste prémio.
“Demonstrando grande coragem pessoal, Kailash Satyarthi, mantendo a tradição de Gandhi, encabeçou diversas formas de protestos e manifestações, todas elas pacíficas, focadas na grave exploração de crianças com propósitos financeiros. Ele também contribuiu para o desenvolvimento de convenções internacionais importantes no campo dos direitos humanos”, afirmam os responsáveis da escolha.
“Apesar da sua juventude, Malala Yousafzai já luta há vários anos pelo direito das raparigas à educação e mostrou através do seu exemplo que crianças e jovens podem, também, contribuir para melhorar a sua própria situação. E fê-lo sob condições muito perigosas. Durante a sua luta heroica, tornou-se numa porta-voz fundamental para o direito das raparigas à educação”, escreve a Academia.
No seu testamento, Alfred Nobel referia os contributos para o aumento da “fraternidade entre as nações” como um dos critérios para a atribuição do prémio da Paz – e foi nessa expressão que se escudou a decisão da Academia.
Malala Yousafzai, de 17 anos, que também já recebeu um Prémio Sakarov (do Parlamento Europeu) é a pessoa mais nova a receber um Prémio Nobel da Paz. Em 2013, depois de ter sobrevivido a uma tentativa de homicídio perpetrada por combatentes talibãs, aos 15 anos, Malala esteve na ONU, onde proferiu um discurso que causou forte impacto.

A cidade pós-socialista

por A-24, em 30.09.14



Torres Gémeas, Almaty, Cazaquistão.
Projecto de Norman Foster


Há livros assim. Terríveis de tão bons. The Post-Socialist City. Continuity and change in urban space and imagery, organizado por Alfrun Kliems e Marina Dmitrieva. Uma obra colectiva, com vários artigos, em que cada um é melhor do que o outro. Leia-se de frente para trás ou de trás para a frente, cada texto é sempre mais interessante do que o anterior. Sem percorrer o índice de fio a pavio, e apenas num brevíssimo voo de pássaro, temos neste estabelecimento livreiro artigos de primeira qualidade sobre: monumentos e edifícios políticos da RDA após a reunificação da Alemanha; lugares de Praga depois da Revolução de Veludo; o majestoso Palácio da Cultura e da Ciência de Varsóvia; a famosa Praça da Independência em Kiev; a «cidade socialista» por excelência da Hungria, Dunaújváros (antiga Sztálinváros), projectada por Tibor Wiener; um subúrbio de Bucareste e o novo urbanismo da Arménia.

O livro é sobre o mais político dos organismos concebidos pelo homens – o espaço urbano – e aborda as transformações sofridas por várias cidades após a queda do comunismo. Mas, em boa verdade,The Post-Socialist Citytrata da Europa (como, aliás, se anuncia na nota introdutória, na linha dos trabalhos grande Karl Schlögel). Por muito estranho que pareça, compreendemos melhor o que é a Europa, e sobretudo o que poderá vir a ser, numa obra que dedica um capítulo inteiro à nova arquitectura ultramoderna do Cazaquistão. A «Europa», na verdade, pode ser várias coisas: uma entidade geográfica de contornos difusos; uma identidade histórica e cultural; uma comunidade de interesses. A Europa geográfica pode estender-se dos Açores aos Urais, mas a Europa dos interesses está onde a Alemanha quiser. Facto curioso: a publicação deste livro foi patrocinada por duas instituições alemãs, um centro da Universidade de Leipzig e pelo Ministério das Obras Públicas da República Federal… 
A União Europeia – e é essa uma das suas tragédias – procura ser em simultâneo todas as Europas que atrás de definiram, agrupando-as numa idée fixe. Repetimo-la: uma comunidade de interesses situada num espaço geográfico onde se forjou, através dos séculos, uma identidade cultural precisa mas difusa. Acontece que nem sempre estas três dimensões se articulam e ajustam. Nem sempre os interesses coincidem com a geografia. Raramente os interesses – sobretudo económicos – estão em consonância com os melhores valores da identidade cultural europeia (daí a proliferação de negócios com parceiros que não primam pelo seu apego à liberdade ou à democracia, ao respeito pelos direitos humanos e à tolerância).
Os interesses da Alemanha, após a reunificação, deixaram de estar – ou deixaram de estar apenas – no espaço geográfico da Europa. Após a queda do Muro, a Alemanha passou a olhar para onde sempre quis, o ponto cardeal que sempre foi a sua vocação e destino: o Leste. Para os países da Europa do Sul, a reunificação foi uma tragédia – do ponto de vista dos interesses, não no dos valores ou princípios. 






Astana, Cazaquistão.
Projecto de Norman Foster




Um país, dois sistemas




Palácio da Paz e da Reconciliação, Astana, Cazaquistão.
Projecto de Norman Foster












Daí que, num certo sentido, o Cazaquistão seja muito mais «Europa» do que Portugal. Os grandes gabinetes de arquitectura, que têm o faro apuradíssimo para estas coisas, perceberam-no mais cedo do que quase todos nós, incluindo os académicos da geoestratégia ou os profissionais da diplomacia. Não é por acaso que Sir Norman Foster – ou, melhor dizendo, a firma Foster and Partners – projecta edifícios arrojadíssimos para o centro de Astana ou de Almaty. Não é por acaso que Rem Koolhaas, além da Casa da Música, no Porto, elaborou um projecto visionário – e, por certo, bastante dispendioso – para uma «Cidade da Ciência», nas imediações de Almaty. Ali corre o petróleo a jorros, abundam o gás natural e os metais preciosos. O Cazaquistão é um dos maiores exportadores de matérias-primas do mundo. Tem cerca de 15 milhões, um quarto da do Reino Unido, para um território de 2,7 milhões de quilómetros quadrados, onze vezes maior do que as Ilhas Britânicas. Desde 2000 que o Cazaquistão regista colossais taxas de crescimento de 9% ao ano. É considerado pela Transparency International um dos países mais corruptos do mundo (numa lista de 145 países, conquistou um desonroso 122º lugar). Mas nada disso impediu que fosse escolhido em 2010 para assumir a presidência da OCDE. Podemos ler muita coisa sobre o Cazaquistão, mas o artigo deste livro sobre a vertiginosa ascensão da arquitectura de vanguarda em cidades como Astana, Almaty e Aktau diz-nos mais do que vários tratados de geopolítica. Edifícios de vanguarda num país que só formalmente é uma democracia, onde o presidente Nazarbaev concentra em si quase todos os poderes. Desde 2007, o parlamento só tem deputados do seu partido, o Nur Otan(«Luz da Pátria»). Não admira que os parlamentares tenham aprovado legislação que exime o presidente Nazarbaev da regra constitucional que impõe a renovação do mandato do chefe do Estado. Durante vários anos, a televisão estatal foi dirigida pela filha mais velha do presidente, Dariga Nazarbaev, que tem a sua clique de fiéis à frente das principais companhias e empresas. Nazarbaev intervém e tem a palavra final nos grandes negócios do país. Certamente que muitas das empresas que aí operam tiveram que falar com ele, ou alguém muito próximo dele, para se instalarem nas terras do Cazaquistão. A companhia Tengizchevroil, por exemplo, é uma joint venture entre a Chevron, a ExxonMobil, a Lukarco e a empresa casaque KazMunayGaz. A italiana Agip está noutra parceria, a extrair gás na região de Uralsk. Fábricas de automóveis? Nissan. Quem faz o cimento e os materiais das unidades de extracção do petróleo? ThyssenKrupp, da Alemanha. Quem faz as comboios de transporte ferroviário? General Electric, dos EUA. Tudo isto se processa num país onde a população rural vive mal, muito, e continua a viver mal, muito. A esperança de vida situa-se nos 62 anos para os homens e 73 para as mulheres, sendo cada vez mais intenso o êxodo para as cidades. Estas, sobretudo as maiores, são adornadas por edifícios desconcertantes de tão risíveis, num estilo falsamente majestoso, mas que no fundo é uma metáfora do Cazaquistão contemporâneo, uma ditadura falsamente majestosa. 

Outro caso curioso, e revelador da cupidez humana, é o do «turbo-urbanismo» em Pristina, na ex-Jugoslávia. Por muito esotérico que o termo pareça ser, ele pretende ilustrar uma realidade que vale a pena ser conhecida: após a fragmentação da Jugoslávia, interesses vários obrigaram a construir rapidamente e em força. A presença inesperada de refugiados, o afluxo de repatriados e a chegada de inúmeros funcionários de organizações internacionais fizeram com que se tivesse de edificar a uma velocidade turbo, quase sempre sem olhar a regras elementares de urbanismo e, claro está, à estética dos edifícios. Predominou a construção em vidro espelhado azul, pretendendo-se dar um ar «international» a casas construídas da noite para o dia, no meio de ruas atravessadas por fios e cabos de todas as espécies, postes de iluminação periclitantes, trânsito caótico. O artigo publicado neste The Post-Socialist é excepcional porque retrata exemplarmente o impacto no espaço público de uma necessidade social imperiosa, à mistura com a especulação imobiliária e a corrupção pública – mas também privada. Tudo a acontecer num território com uma taxa de desemprego de 40% e diversas máfias a actuar, que de súbito se vê confrontado com a chegada de hordas de gente e capitais internacionais. O saldo final é kitsch a valer, dir-se-ia numa paráfrase de Dâmaso Salcede. Se as construções do Cazaquistão são fashion e ofuscantes, aqui predomina a mixordice e edificação atamancada. Quando Rexhep Lupi, o director de planeamento urbano de Pristina, tomou as primeiras e muito tímidas medidas para pôr termo à balbúrdia do turbo-urbanismo, o que aconteceu? Foi morto a tiro. 








Turbo-arquitectura, turbo-urbanismo

Local também a reter: Floreasca, arredores de Bucareste. Construído para albergar a elite da era Ceucescu (aí existia, por ex., uma escola experimental para ensino intensivo do inglês), encontra-se hoje a ser alvo de um processo de «gentrificação» e, mais ainda, de «embelização» (beautification), com arranjos florais que tentam esconder os arranhões do cimento em derrocada e coisas do género, todas lindas, muito lindas. O número de lojas diminuiu, do mesmo passo que se registaram infindos casos de apropriação do espaço público e cada qual tentou demarcar o seu território através de gradeamentos, muros, etc., interrompendo vias de passagem e até destruindo espaços verdes de fruição colectiva. A beautificationromena não anda muito longe daquilo que se faz em muitas cidades ou zonas de Portugal. Coloca-se uma «via pedonal», uma alameda de palmeiras e meia-dúzia de floreiras e pronto, já está – temos um «renovação urbana».



Floreasca, Bucareste, Roménia.


Leitura recomendável, sem dúvida, a deste livro The Post-Socialist City, que nos diz muito sobre o mundo em que vivemos, que é um lugar estranho. Dele extraiamos, e com razão, uma crítica à acção das grandes multinacionais e à venalidade de alguns nomes grandes da arquitectura contemporânea. Muito superior a outro livro que, na sua cegueira «militante», é acéfalo e superficial, Evil Paradises. Dreamworlds of Neoliberalism, editado por Mike Davis e Daniel Monk (o capítulo sobre o Brasil como «o país mais injusto do mundo» é de uma banalidade de bradar aos céus; do livro só se aproveita um belíssimo ensaio-reportagem sobre a voracidade latifundiária de Ted Turner, ex-patrão da CNN). Ainda que um pouco datado (é de 2010, creio), The Post-Socialist City traz-nos textos informados, estudos de caso que cobrem um amplo espaço geográfico. A Europa já não mora aqui. Agora, vive algures entre Berlim e o Cazaquistão. É tempo de percebermos isso.

Sai mais um califado

por A-24, em 01.09.14
A Batalha

O líder do grupo terrorista nigeriano Boko Haram, Abubakar Shekau, proclama o nascimento do califado na localidade de Gwoza, localizada no Nordeste da Nigéria, no estado de Borno. “Graças a alá, os nossos irmãos alcançaram a vitória em Gwoza, que a partir deste momento faz parte do califado islâmico.” A declaração com a duração de mais de uma hora, foi transmitida em vídeo e constitui o primeiro passo na concretização do objectivo de implantar a lei e o estado islâmico na Nigéria. Cerca de 100 pessoas, entre os quais 35 polícias, desapareceram. Em jeito de aviso às autoridades nigerianas, Abubabar Shekau informou que os islamitas resistirão a qualquer tentativa que seja feita no sentido de os desalojar das zonas ocupadas.
O grupo terrorista Boko Haram tem intensificado durante o último ano as suas acções na zona Norte do país, de maioria muçulmana. Perante a manifesta incompetênca e impotência das forças militares da Nigéria, nas últimas semanas conquistaram vários territórios, incluíndo alguns perto da fronteira com os Camarões, assassinando quem se constitui como ameaça, matando para servir de exemplo.
No vizinho Chade, militares resgataram ao grupo terrorista islâmica 85 aldeões nigerianos que haviam sido raptados das suas localidades. De acordo com as informações dadas pelos militares chadianos, durante uma inspecção de rotina, foram detidos dois autocarros repletos de reféns e de homens armados. Segundo os reféns, os terroristas terão assassinado, pelo menos, 28 pessoas e feriram muitas outras antes de levarem os reféns em direcção ao Chade.
Entretanto, o Presidente de França, François Hollande, sublinhou a necessidade de organizar uma cimeira de âmbito internacional para que se analisem as formas para combater o avanço do grupos jihadistas. François Hollande defende “uma estratégia global” para lutar contra o terrorismo.

Farc sem vergonha

por A-24, em 20.08.14
A Batalha

As negociações de paz trilham caminhos tão perigosos como promissores. Os negociadores do governo colombiano e dos guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) a 22 de Agosto irão dar início a uma comissão cujo objectivo é tratar dos aspectos técnicos que conduzam ao fim do conflito. Aquele comité tratará dos assuntos relacionados com o cessar-fogo e o fim das hostilidades. Sabe-se que o grupo inicial será formado por 10 membros de cada delegação e a sua primeira tarefa passará por estabelecer já no próximo dia 12 de Agosto um cronograma de trabalho. Um dos pontos mais quentes a ser discutido na capital cubana, local onde estão a ser conduzidas as negociações, é o de escutar as vítimas do conflito.
No sentido de virar o rumo dos acontecimentos, o núcleo duro da comissão será composto por 12 especialistas tidos como independentes e por dois relatores que dentro de um prazo de quatro meses irá elaborar pareceres sobre as origens e causas do conflito, factores que contribuíram para a sua duração e as principais consequências sobre as populações. Estas iniciativas, asseguram as autoridades, “não substituem nem determinam nenhum elemento da futura comissão da verdade” que no futuro irá ajudar a colocar um ponto final no conflito armado que persiste há mais de 50 anos.
A guerrilha marxista e o governo da Colômbia reiteram a “importância de escutar as vítimas sem discriminação.” A primeira dificuldade surge quando as delegações que viajarem para Havana lhes ser impossível representar a totalidade das vítimas causada pelo conflito, apesar de terem recebido cerca de quatro mil propostas de várias associações ligadas às vítimas, incluindo de alguns daqueles que tiveram que fugir do país. O grande problema reside, no entanto, na insistência por parte das FARC em incluir na delegação os seus combatentes que se encontram presos e feridos. O pedido para que as autoridades colombianas acedam com garantias e permissões para que os terroristas se desloquem a Havana, já foi feito. As associações de vítimas da violência provocada pela guerra na Colômbia pediram aos negociadores que ampliem o universo das vítimas reconhecidas como tal, por forma a se alcançar a máxima reparação possível a quem ficou no meio da luta entre as FARC, paramilitares e exército. Trata-se de não deixar cair no esquecimento os 220 mil mortos, 25 mil desaparecidos, quase seis milhões de refugiados e 27 mil sequestrados.
O Presidente da Colômbia Juan Manuel Santos sossegou os militares ao afirmar que as negociações de paz não implicam a discussão do futuro das forças militares e da polícia nacional. “Quero reiterar uma vez mais aos membros das nossas forças militares e polícia que vocês não estão sequer na agenda (das negociações), não são motivo de discussão.” Juan Manuel Santos garantiu na cerimónia oficial da comemoração do 195º aniversário do exército que “qualquer modificação relacionada com as forças armadas e a polícia será resolvida aqui na Colômbia, entre os comandantes, o Presidente da República e o Ministro da Defesa. Não é verdade que estejamos a discutir a redução, o aumento, as mudanças com as FARC”, assegurou. Caso não se chegue a um acordo, Juan Manuel Santos afirma que a ofensiva militar é para continuar. “Continuaremos a combater porque essa é a forma de chegar ao final do conflito mais rapidamente, por isso não iremos ceder nem um único centímetro do nosso território a qualquer conversação que se faça no exterior.”