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A-24

Critica: Contra mim eu escrevo

por A-24, em 04.11.14
António Lobo Antunes (Lisboa, 1942) contou numa crónica como lhe surgiu este romance: a desenhar uma casa na página que tinha em frente, incapaz de escrever uma frase. A casa ganhou pisos, que o escritor dividiu em esquerdo e direito, e tornou-se um prédio, um “edifício a um canto da cidade, longe do rio, com um salão de cabeleireiro à esquerda”. Depois foi arranjar inquilinos para esse prédio, dar-lhes um quotidiano e uma relação de vizinhança, paredes que deixam passar falas e com elas a hipótese, quase sempre fracassada, de adivinhar cada existência interpretando sinais. É uma tarefa semelhante à do leitor do romance, alguém que neste caso tem mais acesso a cada habitante do que a um seu vizinho, mas que nunca está na posse de todos os elementos para resolver o enigma de cada vida, apesar de ela lhe ir sendo narrada na primeira pessoa.
O “eu” de Lobo Antunes constrói-se do mesmo elemento de que é feita a memória, pouco cronológica, por vezes de uma precisão avassaladora, outras difusa, alterada por estados de alma, dispersa, múltipla. Entre o delírio e a visitação de outras vozes, todas as que compõem cada vida, num puzzle que cabe ao leitor ir montando com a sensação de que está a partilhar o ritmo e o fôlego do escritor, a seguir as pistas que este lhe vai dando, com a certeza (intuída) de que no fim vão faltar peças e o enigma há-de persistir.

Autoria:António Lobo Antunes
D. Quixote

Apesar de se tratar de um romance polifónico — uma característica dos livros de António Lobo Antunes (e mesmo das crónicas) —, da leitura subsiste a sensação de que podia ser apenas a uma voz, a história de gente que vive num prédio com quatro andares mais sótão numa rua de Lisboa contada por um habitante imaginário que tem acesso a quase tudo. Cada capítulo, um andar, direito e esquerdo, com quem o habita. O viúvo de uma mulher que nunca o amou e a quem o filho mais velho pede dinheiro; uma juíza solitária angustiada com o envelhecimento e as memórias; dois irmãos judeus fugidos do Holocausto; uma velha actriz ex-amante de Salazar; um bêbado sempre a gritar pela filha; o ex-combatente em Angola, racista, às voltas com o amor de uma mulata que lá deixou e com uma guerra que não o deixa; a gorda do primeiro direito que demorou anos a perceber que existiam “arrepios sem gripe”; o velho à espera de morrer, como afinal todos os outros.

Essa é a única certeza da existência humana, parece querer escrever o escritor, que tem sempre muito próxima (pelo lado essencial) a sabedoria popular como guia, do que resulta uma paródia de sentidos, uma lengalenga, uma cantilena tantas vezes alucinante. “Rei capitão soldado ladrão”, entoa uma personagem que diz ter “miolos de ferro velho”. Não se cala: “Dança o cão dança o gato dança o feijão carrapato.” O escritor pega em cada frase como numa ideia e desconstrói-a, seja mudando-lhe a perspectiva, alterando-lhe o contexto, ou repetindo-a até se tornar numa quase abstracção: o que é estar aqui e envelhecer até a morte chegar? No fundo tudo se resume a isto. Neste e em cada um dos 25 romances de António Lobo Antunes. Uma interrogação-síntese onde cabem um país e os seus fantasmas, uma memória recente doída, cada vez mais sentida do que a dor que a foi alimentando.

Mas nada é só passado. As percepções são presentes, só que quem é que as agarra? Caminhar como uma casa em chamas é andar nesse desequilíbrio existencial. Seja um indivíduo, um prédio ou um país. “Caminho como uma casa em chamas, reparem nas minhas empenas, nos meus algerozes e nas minhas paredes a arderem, somos todos irmãos”: é a voz da juíza com medo do fim aos 59 anos, a ouvir o bêbado gritar “Alexandra”, o nome da filha, “dobrando o cinto no pulso”, com medo de acordar sem companhia e também a caminhar como uma casa em chamas. Como todos. A frase repete-se como o coro numa tragédia. Um baralhar de sentidos sem sair do mesmo em que o escritor se tornou exímio — e a pergunta que se faz é: até que ponto, sem cansar, sem soar a já visto? No dosear está muita da sua arte de manipular emoções. Não revela cartas, mas sempre que elas vão a jogo são reconhecíveis como suas. Sempre a loucura de estar aqui num sem-sentido. Quem não se reconhece? É vertiginoso.
Já se percebeu que estamos perante todos os ingredientes de Lobo Antunes nesse tratar o delírio existencial que, mais uma vez, nos coloca perante a sua capacidade de trabalhar a língua, captando-lhe tiques, socorrendo-se de cada um dos seus utensílios, da fala de rua ou da erudição, para criar um universo onde a ironia entra em doses curtas mas letais e a angústia do fim surge no seu peso eterno. Onde vive isso neste prédio? Em cada um dos que o habitam, mas sobretudo no sótão, onde mora a “presença atenuada de uma autoridade extinta”, um Salazar tornado divindade, porque “infinito”, que décadas depois continua a achar que comanda o país.
E o país ainda a tentar perceber o que é depois dele, com ele “no sótão” — pese todo o facilitismo da expressão. Fascistas, comunistas e outra geração, a que nasceu depois da memória do fascismo, sem identidade. “O que é ser eu?”, interroga-se a sobrinha da actriz do terceiro direito, e a pergunta é um espelho para quem a lê. Para os vizinhos, ela é “a criada da maluca”, sem saberem que ela é também a que leva a “sopinha” ao sótão.
Ao 27.º romance, António Lobo Antunes toma um tema batido na literatura — um prédio e os seus habitantes — para mostrar o que se pode fazer com ele. E é muito bom. Mas António Lobo Antunes tem-se a si mesmo como termo de comparação. Caminho Como uma Casa em Chamas é um excelentíssimo livro, mas a memória traz outros onde foi capaz do tal arrebatamento, da surpresa maior. Estarão os grandes escritores sempre a escrever contra si mesmos?

A cidade pós-socialista

por A-24, em 30.09.14



Torres Gémeas, Almaty, Cazaquistão.
Projecto de Norman Foster


Há livros assim. Terríveis de tão bons. The Post-Socialist City. Continuity and change in urban space and imagery, organizado por Alfrun Kliems e Marina Dmitrieva. Uma obra colectiva, com vários artigos, em que cada um é melhor do que o outro. Leia-se de frente para trás ou de trás para a frente, cada texto é sempre mais interessante do que o anterior. Sem percorrer o índice de fio a pavio, e apenas num brevíssimo voo de pássaro, temos neste estabelecimento livreiro artigos de primeira qualidade sobre: monumentos e edifícios políticos da RDA após a reunificação da Alemanha; lugares de Praga depois da Revolução de Veludo; o majestoso Palácio da Cultura e da Ciência de Varsóvia; a famosa Praça da Independência em Kiev; a «cidade socialista» por excelência da Hungria, Dunaújváros (antiga Sztálinváros), projectada por Tibor Wiener; um subúrbio de Bucareste e o novo urbanismo da Arménia.

O livro é sobre o mais político dos organismos concebidos pelo homens – o espaço urbano – e aborda as transformações sofridas por várias cidades após a queda do comunismo. Mas, em boa verdade,The Post-Socialist Citytrata da Europa (como, aliás, se anuncia na nota introdutória, na linha dos trabalhos grande Karl Schlögel). Por muito estranho que pareça, compreendemos melhor o que é a Europa, e sobretudo o que poderá vir a ser, numa obra que dedica um capítulo inteiro à nova arquitectura ultramoderna do Cazaquistão. A «Europa», na verdade, pode ser várias coisas: uma entidade geográfica de contornos difusos; uma identidade histórica e cultural; uma comunidade de interesses. A Europa geográfica pode estender-se dos Açores aos Urais, mas a Europa dos interesses está onde a Alemanha quiser. Facto curioso: a publicação deste livro foi patrocinada por duas instituições alemãs, um centro da Universidade de Leipzig e pelo Ministério das Obras Públicas da República Federal… 
A União Europeia – e é essa uma das suas tragédias – procura ser em simultâneo todas as Europas que atrás de definiram, agrupando-as numa idée fixe. Repetimo-la: uma comunidade de interesses situada num espaço geográfico onde se forjou, através dos séculos, uma identidade cultural precisa mas difusa. Acontece que nem sempre estas três dimensões se articulam e ajustam. Nem sempre os interesses coincidem com a geografia. Raramente os interesses – sobretudo económicos – estão em consonância com os melhores valores da identidade cultural europeia (daí a proliferação de negócios com parceiros que não primam pelo seu apego à liberdade ou à democracia, ao respeito pelos direitos humanos e à tolerância).
Os interesses da Alemanha, após a reunificação, deixaram de estar – ou deixaram de estar apenas – no espaço geográfico da Europa. Após a queda do Muro, a Alemanha passou a olhar para onde sempre quis, o ponto cardeal que sempre foi a sua vocação e destino: o Leste. Para os países da Europa do Sul, a reunificação foi uma tragédia – do ponto de vista dos interesses, não no dos valores ou princípios. 






Astana, Cazaquistão.
Projecto de Norman Foster




Um país, dois sistemas




Palácio da Paz e da Reconciliação, Astana, Cazaquistão.
Projecto de Norman Foster












Daí que, num certo sentido, o Cazaquistão seja muito mais «Europa» do que Portugal. Os grandes gabinetes de arquitectura, que têm o faro apuradíssimo para estas coisas, perceberam-no mais cedo do que quase todos nós, incluindo os académicos da geoestratégia ou os profissionais da diplomacia. Não é por acaso que Sir Norman Foster – ou, melhor dizendo, a firma Foster and Partners – projecta edifícios arrojadíssimos para o centro de Astana ou de Almaty. Não é por acaso que Rem Koolhaas, além da Casa da Música, no Porto, elaborou um projecto visionário – e, por certo, bastante dispendioso – para uma «Cidade da Ciência», nas imediações de Almaty. Ali corre o petróleo a jorros, abundam o gás natural e os metais preciosos. O Cazaquistão é um dos maiores exportadores de matérias-primas do mundo. Tem cerca de 15 milhões, um quarto da do Reino Unido, para um território de 2,7 milhões de quilómetros quadrados, onze vezes maior do que as Ilhas Britânicas. Desde 2000 que o Cazaquistão regista colossais taxas de crescimento de 9% ao ano. É considerado pela Transparency International um dos países mais corruptos do mundo (numa lista de 145 países, conquistou um desonroso 122º lugar). Mas nada disso impediu que fosse escolhido em 2010 para assumir a presidência da OCDE. Podemos ler muita coisa sobre o Cazaquistão, mas o artigo deste livro sobre a vertiginosa ascensão da arquitectura de vanguarda em cidades como Astana, Almaty e Aktau diz-nos mais do que vários tratados de geopolítica. Edifícios de vanguarda num país que só formalmente é uma democracia, onde o presidente Nazarbaev concentra em si quase todos os poderes. Desde 2007, o parlamento só tem deputados do seu partido, o Nur Otan(«Luz da Pátria»). Não admira que os parlamentares tenham aprovado legislação que exime o presidente Nazarbaev da regra constitucional que impõe a renovação do mandato do chefe do Estado. Durante vários anos, a televisão estatal foi dirigida pela filha mais velha do presidente, Dariga Nazarbaev, que tem a sua clique de fiéis à frente das principais companhias e empresas. Nazarbaev intervém e tem a palavra final nos grandes negócios do país. Certamente que muitas das empresas que aí operam tiveram que falar com ele, ou alguém muito próximo dele, para se instalarem nas terras do Cazaquistão. A companhia Tengizchevroil, por exemplo, é uma joint venture entre a Chevron, a ExxonMobil, a Lukarco e a empresa casaque KazMunayGaz. A italiana Agip está noutra parceria, a extrair gás na região de Uralsk. Fábricas de automóveis? Nissan. Quem faz o cimento e os materiais das unidades de extracção do petróleo? ThyssenKrupp, da Alemanha. Quem faz as comboios de transporte ferroviário? General Electric, dos EUA. Tudo isto se processa num país onde a população rural vive mal, muito, e continua a viver mal, muito. A esperança de vida situa-se nos 62 anos para os homens e 73 para as mulheres, sendo cada vez mais intenso o êxodo para as cidades. Estas, sobretudo as maiores, são adornadas por edifícios desconcertantes de tão risíveis, num estilo falsamente majestoso, mas que no fundo é uma metáfora do Cazaquistão contemporâneo, uma ditadura falsamente majestosa. 

Outro caso curioso, e revelador da cupidez humana, é o do «turbo-urbanismo» em Pristina, na ex-Jugoslávia. Por muito esotérico que o termo pareça ser, ele pretende ilustrar uma realidade que vale a pena ser conhecida: após a fragmentação da Jugoslávia, interesses vários obrigaram a construir rapidamente e em força. A presença inesperada de refugiados, o afluxo de repatriados e a chegada de inúmeros funcionários de organizações internacionais fizeram com que se tivesse de edificar a uma velocidade turbo, quase sempre sem olhar a regras elementares de urbanismo e, claro está, à estética dos edifícios. Predominou a construção em vidro espelhado azul, pretendendo-se dar um ar «international» a casas construídas da noite para o dia, no meio de ruas atravessadas por fios e cabos de todas as espécies, postes de iluminação periclitantes, trânsito caótico. O artigo publicado neste The Post-Socialist é excepcional porque retrata exemplarmente o impacto no espaço público de uma necessidade social imperiosa, à mistura com a especulação imobiliária e a corrupção pública – mas também privada. Tudo a acontecer num território com uma taxa de desemprego de 40% e diversas máfias a actuar, que de súbito se vê confrontado com a chegada de hordas de gente e capitais internacionais. O saldo final é kitsch a valer, dir-se-ia numa paráfrase de Dâmaso Salcede. Se as construções do Cazaquistão são fashion e ofuscantes, aqui predomina a mixordice e edificação atamancada. Quando Rexhep Lupi, o director de planeamento urbano de Pristina, tomou as primeiras e muito tímidas medidas para pôr termo à balbúrdia do turbo-urbanismo, o que aconteceu? Foi morto a tiro. 








Turbo-arquitectura, turbo-urbanismo

Local também a reter: Floreasca, arredores de Bucareste. Construído para albergar a elite da era Ceucescu (aí existia, por ex., uma escola experimental para ensino intensivo do inglês), encontra-se hoje a ser alvo de um processo de «gentrificação» e, mais ainda, de «embelização» (beautification), com arranjos florais que tentam esconder os arranhões do cimento em derrocada e coisas do género, todas lindas, muito lindas. O número de lojas diminuiu, do mesmo passo que se registaram infindos casos de apropriação do espaço público e cada qual tentou demarcar o seu território através de gradeamentos, muros, etc., interrompendo vias de passagem e até destruindo espaços verdes de fruição colectiva. A beautificationromena não anda muito longe daquilo que se faz em muitas cidades ou zonas de Portugal. Coloca-se uma «via pedonal», uma alameda de palmeiras e meia-dúzia de floreiras e pronto, já está – temos um «renovação urbana».



Floreasca, Bucareste, Roménia.


Leitura recomendável, sem dúvida, a deste livro The Post-Socialist City, que nos diz muito sobre o mundo em que vivemos, que é um lugar estranho. Dele extraiamos, e com razão, uma crítica à acção das grandes multinacionais e à venalidade de alguns nomes grandes da arquitectura contemporânea. Muito superior a outro livro que, na sua cegueira «militante», é acéfalo e superficial, Evil Paradises. Dreamworlds of Neoliberalism, editado por Mike Davis e Daniel Monk (o capítulo sobre o Brasil como «o país mais injusto do mundo» é de uma banalidade de bradar aos céus; do livro só se aproveita um belíssimo ensaio-reportagem sobre a voracidade latifundiária de Ted Turner, ex-patrão da CNN). Ainda que um pouco datado (é de 2010, creio), The Post-Socialist City traz-nos textos informados, estudos de caso que cobrem um amplo espaço geográfico. A Europa já não mora aqui. Agora, vive algures entre Berlim e o Cazaquistão. É tempo de percebermos isso.

Livros

por A-24, em 14.07.14

Numa linda edição de 2008, dois jornalistas mostram-nos como os chinas avançam pela África e exploram os seus recursos até mais não poder ser. Aproveitando a inércia ocidental, chegam e fazem negócio. Tudo isto fazendo, naturalmente, parte da sua estratégia de domínio do mundo. Antigamente eram os judeus, hoje são os chineses que querem controlar tudo. O problema é que estes são mais. Se fossem judeus, então, é que já dominavam tudo. E parece que, muitas vezes, nem respeitam os costumes locais, mas as ONG's não se importam muito com isso.

Leitura Obrigatória: Este país não é para jovens

por A-24, em 11.06.14
Depois da manifestação de 2 de março de 2013 o país mudou para sempre. Nas ruas, os mais velhos gritavam pelos «direitos adquiridos» e intocáveis e pelas «reformas» que consideravam merecidas depois de tantos anos de trabalho. Instalou-se a sensação de que o Estado, detentor de uma espécie de tesouro recheado, dá, tira e rouba. Havia sido quebrado um contrato firmado com os portugueses. Os políticos falaram de cisma grisalho. Outros perguntaram: serão sustentáveis os direitos adquiridos dos reformados? Do outro lado, temos os mais novos, que já se vinham a manifestar desde 2011 contra a sua situação precária, por mais emprego e educação. A geração voltava a ficar «à rasca» e cantava canções com palavras de ordem que demonstravam o seu desalento em relação ao futuro. Sem perspetivas de emprego, sem liberdade de escolha, com poucos ou nenhuns direitos adquiridos. O que lhes resta? Emigrar e desistir do país? Entre estas duas gerações, na casa dos 50 anos, os jornalistas Helena Matos e José Manuel Fernandes tocam num tema tabu que atravessa a sociedade portuguesa e que a divide: a equidade entre gerações. Num livro que pretende levantar situações concretas que tornam mais difícil a vida presente e futura dos jovens, os autores desafiam-nos a pensar o nosso país, desconstruindo ilusões e falsas ideias generosas. Quem vai pagar as obras megalómanas do passado? É possível continuar a manter este sistema de pensões? A legislação de trabalho que durante anos impedia o despedimento favoreceu quem? Quem defende os mais novos? É possível a uma sociedade envelhecida, governada por gente mais velha, com um peso do eleitorado grisalho a aumentar, empreender reformas políticas e sociais que levarão os mais velhos a perder direitos em nome dos mais novos? Não se pretende instaurar uma guerra entre gerações, mas apelar a que se reencontre um novo equilíbrio, mais justo entre as gerações de pais, de avós e de netos. Para que os mais jovens possam olhar para o futuro com mais optimismo. FNAC

Eleven

por A-24, em 12.09.13
Todos os voyeurs serão castigados: esta parece ser a moral a extrair de um extraordinário conto de Patricia Highsmith, um dos mais memoráveis que li até hoje de qualquer autor. Intitula-se O Observador de Caracóis e, como tantos outros desta escritora, foi publicado originalmente numa revista de ficção científica, denominada Gamma, tornando-se universalmente conhecido só a partir de 1970, quando a autora decidiu incluí-lo a abrir uma colectânea de 11 contos -- quase todos obras-primas do género -- a que deu o anódino e quase irónico título de Eleven.



O mundo de Patricia Highsmith (1921-1995), como justamente assinalou Graham Greene em prefácio destinado a esta edição, é «irracional e claustrofóbico». Entramos nele sempre «com uma sensação de perigo pessoal» e raramente adivinhamos o seu desfecho.

Os norte-americanos, que adoram etiquetas e rótulos, apressaram-se a catalogar esta sua compatriota que optou por morar os últimos 32 anos de vida na Europa entre os autores de "suspense e mistério". Puro logro: ela é muito mais que isso. Qualquer tentativa de definição precisa da sua obra dentro dos parâmetros clássicos está condenada ao fracasso.

Que o digam todos os seus leitores atentos - entre os quais me incluo, desde o final da década de 80. Que o digam até as suas personagens, enredadas em kafkianas teias de taras, fobias e complexos de toda a espécie, onde matar ou morrer se torna tantas vezes o dilema dominante.

Personagens como o banalíssimo Peter Knoppert, residente num respeitável subúrbio nova-iorquino, um citadino inveterado tomado de uma ancestral nostalgia pelo reino da natureza que jamais conheceu. Sócio de uma firma de corretagem, um impulso momentâneo levou-o certo dia a chegar a casa com uma mão-cheia de caracóis.

«Nunca na minha vida me preocupei com a natureza», foi a lacónica justificação que deu a Edna, sua esposa (recorro aqui à tradução de Paula Reis para a edição portuguesa, com chancela da Teorema, em 1987, sob o título O Observador de Caracóis e Outros Contos, precisamente os que foram reunidos 17 anos antes emEleven).

Nada mais insignificante do que um caracol. Mas a vida naquela casa nunca mais foi a mesma. Sobretudo desde a noite em que o seco e circunspecto Knoppert se dirigiu à cozinha e fixou os olhos fascinados num casal de caracóis: «Mais ou menos erectos sobre a cauda, moviam-se um diante do outro como que dançando e, para todos os efeitos, pareciam duas serpentes hipnotizadas por um tocador de flauta. Viu, momentos depois, os seus focinhos tocarem-se num beijo de intensa volúpia. (...) Algo acontecia: uma protuberância, tipo orelha, aparecia no lado direito da cabeça de ambos os animais. O seu instinto disse-lhe que estava a observar um certo tipo de actividade sexual.»

Possuído deste insólito fascínio, passou a gastar todas as horas disponíveis na contemplação dos caracóis, ignorando as compreensíveis expressões de censura da mulher. A nível profissional, o seu desempenho melhorou. E, como tantas vezes sucede nas perturbantes páginas de ficção de Patricia Highsmith, começou a registar-se nele uma dissimulada mas crescente degeneração moral: «Tornou-se mais ousado nas suas jogadas, mais brilhante nos seus cálculos, na verdade tornou-se mesmo um pouco corrupto nos seus esquemas, mas arranjou dinheiro para a empresa. Por votação unânime, aumentaram-lhe o ordenado base, de 40 mil para 60 mil dólares. Quando alguém dava os parabéns ao Sr. Knoppert pelas suas proezas, este atribuía tudo aos seus caracóis e à descontracção benéfica que obtinha da sua observação.»


Na última vez em que Knoppert se deu ao incómodo de os inventariar, havia cerca de mil e duzentos espalhados pelo estúdio da sua casa. Depois disso, desistiu de contá-los: reproduziam-se a uma incrível velocidade, desmentindo todos os mitos sobre a lentidão dos caracóis e apoderando-se de todo o espaço disponível naquela divisão, até que a dado passo as criaturas se apossaram do criador, a natureza venceu a civilização, a animalidade mais rasteira e viscosa conquistou o sofisticadohabitat do próspero corretor, numa espécie de darwinismo às avessas.

Não é nada bonito espreitar por buracos de fechadura -- em sentido próprio ou figurado. Eis uma sábia lição de vida que teria sido certamente muito proveitosa a Peter Knoppert se ele tivesse vivido o tempo suficiente para a assimilar.

Anteriores contos desta série: 

Os Bons Serviços, de Julio Cortázar

Amor numa Rua Escura, de Irwin Shaw

Nevoeiro na Cidade, de Mário Dionísio

Empresta-nos o Seu Marido?, de Graham Greene

Um Cântico de Natal, de Charles Dickens

in Delito de Opinião

Política e religião

por A-24, em 11.09.13
in A Corte na aldeia

"A política moderna é um capítulo da história da religião. Os maiores levantamentos revolucionários que tanto moldaram a história dos últimos dois séculos foram episódios da história da fé - momentos da prolongada dissolução do cristianismo e da ascensão da moderna religião política. O mundo em que nos encontramos no início do novo milénio está cheio de detritos de projectos utópicos que, embora enquadrados em termos seculares que negavam a verdade da religião, foram, de facto, veículos de mitos religiosos.

O comunismo e o nazismo afirmavam que se baseavam na ciência - no caso do comunismo, na falsa ciência do materialismo histórico; no do nazismo, na salgalhada do 'racismo científico'. Estas afirmações eram fraudulentas mas o uso da pseudociência não travou o colapso do totalitarismo que culminou com a dissolução da URSS em 1991. Continuou nas teorias neoconservadoras que afirmavam que o mundo estava a convergir para um tipo único de governo e de sistema económico - a democracia universal, ou um mercado livre global. A despeito de ser apresentada com os arreios das ciências sociais, esta crença de que a humanidade estava à beira de uma nova era foi apenas a versão mais recente das crenças apocalípticas que remontam aos tempos mais antigos." -  
John Gray, A morte da utopia, Guerra e Paz, 2008



Memórias de Humberto Delgado

por A-24, em 27.07.13

Luís Menezes Leitão

Em boa hora a D. Quixote resolveu reeditar estas Memórias de Humberto Delgado, publicadas originariamente em Londres em 1964, que adquiri na última feira do livro. Sendo esta reedição de 2009, não está escrita felizmente no inenarrável "acordês" com que insistem em maltratar a nossa língua.
O livro é fascinante, permitindo-nos conhecer o percurso e o pensamento de uma personagem altamente complexa. Humberto Delgado faz uma avaliação histórica muito rigorosa do país, demonstrando uma erudição incomum. Inicialmente apoiante de Salazar, é curioso como se vai afastando dele por não conseguir concordar com o regime de ortodoxia financeira em que ele mantinha o país, em contraste com a expansão económica que a Europa vivia no pós-guerra em virtude do plano Marshall. Nas suas palavras, os outros países europeus tinham moedas fracas e inflação, mas as pessoas tinham dinheiro. Portugal tinha um escudo forte, sem inflação, mas o povo vivia na miséria. Não consegui deixar de fazer um paralelismo com a actual situação do euro.
É muito curioso que Humberto Delgado, que tinha uma posição de prestígio no Estado Novo, como Director-Geral da Aeronáutica, tenha aceite prescindir disso tudo para se envolver numa eleição presidencial, onde sabia desde o início que as cartas estavam viciadas. A explicação que ele próprio dá reside numa frase de Napoleão: "on s'engage et puis on voit". E efectivamente envolveu-se profundamente na campanha presidencial, tendo pronunciado a frase sacrílega para o regime: "Obviamente demito-o!", referindo-se a Salazar. No livro o autor refere as consequências do episódio, que a censura deixou passar, pois julgava que o país ia ficar indignado com Humberto Delgado, apressando-se os jornais a publicar diariamente ridículos comunicados de pessoas diversas, a desagravar Salazar por essa declaração. O efeito foi o contrário, sendo que a enorme adesão popular que Humberto Delgado suscitava fez o regime perceber que o país estava farto de Salazar.
Naturalmente que as eleições foram viciadas, como se esperava. Curiosamente Humberto Delgado aguardava uma reacção de indignação geral que não surgiu. Mesmo pessoas próximas encolhiam os ombros quando ele denunciava a fraude eleitoral: "Em Portugal as eleições foram sempre viciadas, até no tempo da Monarquia". O mesmo não se conformou, escolhendo o exílio, de onde procurou comandar a revolta contra o regime. Mas a oposição tradicional ia-se envolvendo nas suas questiúnculas internas, levando a que o regime ainda conseguisse durar mais 16 anos após o mais brutal ataque que sofreu.
O livro por isso diz muito, não apenas sobre um homem excepcional, mas também sobre o verdadeiro espírito do povo português, cuja enorme tolerância lhe permitiu viver 48 anos em ditadura. Não terá sido por acaso que recentemente outro Ministro das Finanças qualificou o povo português como o melhor povo do mundo.

Urbano

por A-24, em 20.04.13
Ana de Amsterdam


Toda a gente tem direito às suas embirrações. Eu, que não sou mais nem menos do que os outros, tenho direito às minhas. Embirro com quase toda a gente que conheço; às tantas, reconheço, já nem sei bem por quê. É um modo de estar na vida como outro qualquer. Embirro com a Sofiazinha, com o Nuno, a Natércia e a Patrícia, embirro com quase todas as amigas da minha irmã, umas mais do que outras. Também embirrava com vários vizinhos dos meus pais, a preferência ia para o capitão do quinto direito, beato, salazarento, sempre de charuto ao canto da boca. Agora já gosto dele. A mulher perdeu de vez o tino, está completamente louca e eu sou muito sensível à loucura. Embirro com a Anabela Mota Ribeiro (uma embirração misturada com uma pontinha de inveja porque a acho verdadeiramente bela), com o Kalaf Angelo, com o valter hugo mãe e, ao ponto da náusea e arrancos vómicos, com a Michelle Obama, de sabrinas e corsários, plantando nabos e pepinos nos jardins da casa branca. Há muitos anos que desligo o televisor sempre que aparece o António José Seguro. Embirrava, e continuo a embirrar, mesmo depois de morto, enterrado, eternamente celebrado, com o Eduardo Prado Coelho. Enfim, são tudo embirrações ligeiras, inconsequentes, mas que me provocam uma sensação boa de alívio. Assim como um arroto bem dado.
Mas, às vezes, aparecem embirrações que são como carraças. Não me largam. Tornam-se fixações. Há muitos anos que embirro com o Urbano Tavares Rodrigues. É uma coisa visceral, uma reacção não controlável, basta-me topar-lhe com a fronha, o cabelo ondulado, o corpo magro e esguio, a pele velha, manchada, carcomida, para me fazer largar um esgar de nojo. A entrevista que deu há meia dúzia de meses ao Público, a propósito do seu novo livro, deixou-me num estado de irritação profunda. Não aceito mas compreendo o machismo assumido por um certo tipo de homens: conservadores, marialvas ou simplesmente boçais. Bate a bota com a perdigota, como é uso dizer-se. Mas, encontrar homens supostamente esclarecidos, desses que enchem a boca cada vez que falam de liberdade e erguem o punho por dá cá aquela palha, a falarem das mulheres como se fossem caça, reconduzindo-as sempre à sua condição menor é triste e desolador.
Ontem, rondando os escaparates da livraria do costume, dei de caras com o livro sobre o qual o escritor tão entusiasticamente falara ao Público. Parece que esteve dois dias sem dormir para escrever a primeira novela. Basta ler as duas primeiras páginas para perceber que leva ao limite do absurdo a sua ilusão de grande macho cobridor: há uma enfermeira que desfalece com os orgasmos que o narrador (ele, só pode ser ele!) lhe provoca numa sala com cheiro a clorofórmio e, mais adiante, logo na página a seguir, há uma empregada de limpeza que o venera. A sopeira chora quando o beija pela primeira vez e agradece quando o narrador lhe ensina a chupar devidamente o caralho. É tudo tão tristemente insultuoso que uma mulher fica sem saber se há-de rir ou chorar. Se não estivéssemos em crise, se não me tivessem papado subsídios e prémios, se não me tivessem cortado o salário com o qual sustento a minha prole, bem que comprava o merdoso livro do merdoso escritor Urbano Tavares Rodrigues. A minha vida é um martírio, sou uma autêntica penitente, devia ter direito a alguma diversão.

(O Urbano Tavares Rodrigues, escritor menor, foi casado com a Maria Judite de Carvalho, escritora maior, infelizmente sempre colocada na sua sombra.)

Conquista de Abril: a libertação das mulheres (que começou antes de Abril)

por A-24, em 10.02.13
Henrique Raposo

Este livro de ensaios de Helena Vasconcelos faz aquilo que um livro de ensaios deve fazer: provoca várias conversas, várias discussões, várias celebrações. Depois desta celebração , convoco agora um tema para discussão. Helena Vasconcelos diz que "a diferença entre as mulheres da minha geração e as que nasceram pós-25 de Abril é abissal". Ora, não tenho a menor dúvida em relação aos efeitos de Abril sobre a condição feminina. Aliás, quando surge a conversa das conquistas de Abril, a primeira coisa que me vem à cabeça é a emancipação feminina. Lá em casa, a minha mãe, ex-operária, ex-miss e precursora do uso da mini-saia, fazia questão de deixar isso bem claro.
Como diz a autora de Humilhação e Glória, "quando comparadas com as nossas 'irmãs' europeias" as mulheres portugueses podem sentir orgulho por terem  "percorrido um caminho bem árduo num tempo mais curto". Mas quando é que começou esse "caminho bem árduo"? Depois de 74? Não, não me parece. Esse caminho começou a ser traçado pelas mulheres mais novas da geração da minha mãe. La mia mamma é a mais nova, e sempre existiu um abismo geracional entre ela e as irmãs. Aliás, a minha tia mais velha é como se fosse a minha terceira avó. A caçula, a minha mãe, era (e é) de outro planeta. E percebe-se porquê: saiu de casa cedo para trabalhar numa fábrica. As minhas tias só saíram de casa para "ir servir" em casas de malta rica ou para casar. Foram educadas para serem seres domésticos. Por oposição, a minha mãe foi a primeira mulher urbana da família. Com o crescimento brutal da economia registado nos anos 60 e com a consequente abertura à Europa, a sociedade portuguesa mudou para sempre, porque as raparigas começaram a trabalhar em fábricas e lojas. Estas raparigas dos anos 60 e inícios do 70 foram as grandes revolucionárias, porque desafiaram a autoridade do pai e do marido. Não queriam casar para sair de casa, queriam trabalhar para casarem em pé de igualdade com o maridinho.
Abril não iniciou o processo de emancipação das mulheres portuguesas. O pós-74 continuou esse processo e, acima de tudo, deu-lhe forma jurídica. A sociedade portuguesa tem mais continuidades do que aquelas que nós, crentes na democracia, estamos dispostos a ver. E, quando recusamos ver essas continuidades, acabamos por trair a geração que começou a fazer a mudançaNaqueles anos pré-74, usar mini-saia era um acto de rebeldia quase político , recusar a vidinha do "ir aprender a servir" era um acto de bravura, desafiar pai e marido era um acto de coragem. E eu não esqueço a coragem desta geração de mulheres, a geração da minha mãe e da Helena Vasconcelos.

Gomorra, a Máfia Napolitana

por A-24, em 25.11.12

Esta obra já clássica na história da literatura italiana, marco de uma espécie de novo despertar da arte neste país, é um retrato devastador do domínio da máfia napolitana na Itália, a Camorra, a mais violenta organização criminal do Planeta. Gomorra – A História Real de um Jornalista Infiltrado na Violenta Máfia Napolitana, escrito pelo jornalista Roberto Saviano e lançado pela editora Bertrand Brasil em 2008, é uma corajosa denúncia sobre a ação torpe desta entidade marginal, que não respeita regra alguma, nem mesmo um único guia de conduta interna.
Tamanha é a violência e a indignidade com que esta estrutura mafiosa atua, que logo se tornou conhecida como Gomorra, um trocadilho com o nome original, Camorra, remetendo à destruição da cidade dominada pelo pecado, descrita no Antigo Testamento. Ninguém escapa das garras destes criminosos; agentes governamentais, pessoas comuns, negociantes, membros do Poder Judiciário, políticos e integrantes do clero da Igreja Católica, todos são vítimas potenciais da máfia napolitana, assassinados ou aliciados por ela.
Navios não cessam de depositar no porto de Nápoles produtos de todo gênero, procedentes do próprio território italiano e também de outras regiões européias – restos de substâncias químicas, elementos considerados venenosos e, surpreendentemente, corpos humanos. Tudo aí desembarca ilegalmente. Destes recipientes de carga ao universo da moda dos altos círculos, Saviano vai desvendando os meandros desta organização letal, revelando como ela se infiltra nos lugares e setores mais remotos, dentro e fora do país, gerando no território italiano uma situação insustentável quando eleva ao topo o nível de criminalidade no continente europeu.
A Camorra atua tanto em planos menos significativos, como a transação de produtos piratas nos mercados de camelôs e a corrupção no campo do comércio do lixo, quanto nas esferas requintadas do mundo fashion e da arte, alcançando também o universo do tráfico mundial de drogas. Toda esta movimentação tem como cenário as maiores metrópoles do Planeta, de um extremo a outro, do Leste da Europa à América do Norte, da região chinesa ao Brasil.
Ao desvelar a realidade desta organização mafiosa nos mínimos detalhes, Roberto Saviano conheceu, ao mesmo tempo, o sucesso e o medo, a fama e a reclusão. Napolitano genuíno, nascido em 1979, membro de um círculo de investigadores do Observatório sobre a Camorra e a Ilegalidade, o autor foi obrigado a deixar sua terra natal e esteve a ponto de abandonar a Itália no final de 2008.
Perseguido e ameaçado, sob constante segurança policial, isolado, sem poder desfrutar de sua súbita condição de celebridade, ele se viu de repente vivendo como um condenado, em lugar não revelado, sem poder voltar a trabalhar, aos 29 anos. Seu único livro, Gomorra, lançado na Itália em 2006, foi adaptado para as telas dos cinemas pelas mãos hábeis do diretor Matteo Garrone, que conquistou, como a obra em que se inspira, sucesso imediato, principalmente nas mostras e festivais de cinema. Protagonizado, entre outros, pela célebre Angelina Jolie, o filme conquistou o Grand Prix no Festival de Cannes.
Todo este alvoroço em torno da história fragilizou ainda mais a situação de Saviano; em 2008 a Gomorra marcou as festas natalinas como o momento em que o jornalista deveria ser executado. Ironicamente a popularidade de sua obra, que já alcançou mais de 1 milhão de cópias vendidas em pelo menos quarenta países, decretou sua sentença condenatória.
Apenas em novembro de 2008 o escritor conseguiu retornar ao convívio social, integrando manifestações em prol da liberdade de expressão e conquistando a oportunidade de realizar conferências sobre sua obra. Até mesmo a Academia Nobel, de Estocolmo, prestou homenagens a ele, por sua intrepidez e perseverança.
Por Ana Lucia Santana