Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

A-24

Imagine Lisboa só com hotéis

por A-24, em 24.11.14
Lucy Pepper

Imagine o que será Lisboa daqui a 15 anos.
Na Baixa inteira, não haverá mais do que hotéis e apartamentos de luxo. Lojas e restaurantes de cadeias grandes e franchisings de comida de plástico irão, a pouco e pouco, substituir as lojas que agora gozam de rendas controladas no rés-do-chão. O néon será a nova cor. Alfama, Castelo, Intendente, Santa Catarina e Bairro Alto vão estar cheios de “hostels” e apartamentos, enquanto os residentes actuais morrem ou mudam-se, e os prédios abandonados serão dados a novas vidas turísticas.
As ruas e as passadeiras no centro da cidade, hoje horrivelmente estragadas, serão reconstruídas e as obras à volta do Carmo acabadas (após a “Grande Subida” da Taxa Turística em 2019, a €20 a noitada). Com o novo clima sub-tropical, a Baixa sofrerá inundações 4 ou 5 vezes por ano, mas o dilúvio urbano será “rebranded” como “um fenómeno fabuloso”, para atrair ainda mais turistas. A menos, claro está, que um investidor chinês tenha comprado a rede de esgotos à câmara municipal e descubra que, de facto, existe uma coisa chamada “limpar os esgotos”.

As linhas abandonadas do eléctrico — que, misteriosamente, ninguém removeu em 30 anos — serão reutilizados para um novo sistema de eléctricos turísticos, mascarados como eléctricos antigos, mas sem tectos e com Wifi e guias áudio. Hão de ser conduzidos por robôs vestidos de condutores dos anos 1930, e terão prioridade absoluta na estrada.
Se os Vistos Gold não tiverem sido proibidos nessa altura (por causa das inevitáveis “irregularidades alegadas” … ó, isso não era previsível, pois não?), a Avenida da Liberdade terá ainda mais lojas de luxo  e residentes extremamente ricos, e será reclassificada só para peões, menos as duas ruas de cada lado, que serão para o uso exclusivo dos carros exclusivos dos residentes exclusivos. Uma grande loja com vários departamentos, tipo “Harrods”, ocupará um palácio antigo no Restauradores, para atrair turistas que miram nas montras coisas que não podem comprar.
Um teleférico ligará o Castelo de S. Jorge à colina do Carmo, e o Elevador de Santa Justa há-de parecer pequeno e triste por comparação com a torre deslumbrante que surgirá de dentro do centro de visitantes  da “Experiência 1974”, construído dentro da sede da GNR no Largo do Carmo.
O centro da cidade tornar-se-á cada vez mais uma máquina de imprimir dinheiro. Haverá mais uns milhares de empregos nas indústrias de restauração e hotelaria e turismo, e os sortudos proprietários de imobiliário do centro da cidade ficarão ricos sem terem de se mexer.
E depois, um dia, todos vão descobrir que afinal esta explosão de turismo é apenas uma moda passageira, um “boom” ocasional, e haverá um “bust”.

Lisboa não é Paris, Roma, Londres, Madrid, Tóquio nem Nova Iorque. Essas capitais, muito maiores, têm outras vidas para viverem além do turismo. Se os turistas deixassem de as visitar amanhã, notariam a diferença, mas continuariam a viver e a prosperar.

No entanto, Lisboa parece estar a dirigir todas as suas energias só para turismo. O problema é que Lisboa é capaz de se matar nesse processo. É que a cidade não tem o tamanho suficiente. Se todos se concentrarem demasiado nos turistas durante demasiado tempo, ao fim restará pouca outra vida em Lisboa. E quando os turistas deixarem de a visitar em números vastos, Lisboa enfrentará mais uma crise. O centro da cidade ter-se-á tornado uma casca vazia, sem alma, com os pastéis de nata no lugar do “tumbleweed” que rolava nas ruas das cidades abandonadas dos Westerns. Toda a vida genuína terá sido empurrada outra vez para os subúrbios, depois de ter começado a voltar recentemente ao centro.
Muito dependerá dos homens com dinheiro. Terão eles a imaginação suficiente para não tornarem o próximo prédio abandonado em mais um hotel? Perguntar-se-ão eles se não seria uma boa ideia oferecer tal prédio a gente com ainda mais imaginação de que eles, para fazerem coisas maravilhosas e coisas importantes, de modo a que a cidade adquira algo mais importante do que mais um hotel de luxo para visitantes chineses ou mais uma cadeia de hamburguerias ou mais um café dedicado aos pastéis de nata — algo que possa alimentar a gente e a alma de Lisboa? Talvez até servisse para sustentar a indústria de turismo durante muito mais tempo. Nunca se sabe.

Brilhante poesia sobre a Lisboa contemporânea

por A-24, em 03.11.14
Rodrigo Moita de Deus

Estou farto.

Farto de turistas nas ruas de lisboa.

Farto das esplanadas giras e dos chapéus-de-sol coloridos.

Farto da alegria noturna no cais do Sodré.

Farto da animação que os tuk-tuk dão às ruas.

Farto de ter gente nos passeios e dos passeios que aquela gente faz no meu passeio.

Farto dos homens estátua mais das motinhas laranja.

Farto das ruinas feitas Hoteis.

Farto do dinheiro que aquilo me traz e a vida que devolve à minha cidade.

Quero que arrumem as esplanadas que deixaram abrir.

Quero que acabem os espetáculos e os jantares até às tantas.

Quero que fechem os restaurantes de moda e as lojinhas vintage também.

Quero putas no cais do Sodré, outra vez.

Quero os prédios devolutos outra vez.

Quero a baixa ao abandono, outra vez.

Quero os taxistas malcriados, outra vez.

Quero a cidade deserta outra vez e o terreiro do paço para estacionamento…

Quero a merda da minha cidade de volta

e vou fazer um regulamento só para isso.

Lisboa à beira de um ataque de nervos

por A-24, em 25.10.14
Vitor Belanciano

Os bairros históricos de Lisboa estão a viver momentos de mudança. Nos últimos anos foram surgindo novos polos de animação nocturna e cultural, ao mesmo tempo que a pressão turística se intensificou para níveis nunca vistos.
Inicialmente o sentimento predominante foi de regozijo. Aos olhos da maioria o turismo era sinónimo de desenvolvimento económico, fortalecendo também o sentimento de orgulho pelo reconhecimento no exterior.
Já o surgimento de novos centros de animação nocturna e cultural, no Cais do Sodré, Santos, Príncipe Real, Bica, Intendente, Santa Apolónia, Martim Moniz ou a faixa de Alcântara, através da Lx Factory, foram deslocando a cidade, diversificando-a, ao mesmo tempo que desanuviaram o congestionado eixo Bairro Alto-Chiado. 
Mas o sentimento predominante está a modificar-se. Os protestos recentes de moradores de algumas dessas zonas, do Cais do Sodré a Santos, por causa do ruído e consumo de álcool na rua, e o intuito da Câmara em restringir os horários de actividade dos espaços nocturnos, constituem o mais recente episódio que revela que esse tipo de conflitos, decorrentes da mutação, vieram para ficar.
Ainda não estamos ao nível de Barcelona, onde no quotidiano se vislumbra alguma hostilidade entre autóctones e forasteiros, mas é perceptível um descontentamento crescente dos residentes em relação ao turismo e à nova vida dos bairros. Em Lisboa estamos a passar com grande rapidez do oito, e dessa ideia romântica que o turismo é a salvação da pátria, para o oitenta, e para a ideia que as mutações só trazem estragos.
A preocupação é bem-vinda. O Antagonismo não. Durante muitos anos Lisboa viveu ao largo destas lógicas, mas elas são inevitáveis. A questão é como é que elas se podem operar de uma forma a mais equilibrada possível.
Não vale a pena termos ilusões. Se queremos acolher a mudança, temos que estar preparados para entender o seu alcance e privilégios, mas também os constrangimentos.
As cidades reorganizam-se e reconfiguram-se. As que não o fazem vão expirando. Por isso, em vez de reagirmos epidermicamente contra o turismo em Lisboa ou contra a renovada vida de alguns bairros, devemos sim equacionar as melhores formas de coexistir com esses fenómenos.
Este tipo de dinâmicas é comum em cidades onde as centralidades se vão renovando. Não foi o caso de Lisboa durante anos. Basta pensar que o Bairro Alto manteve a centralidade durante três décadas. Agora não só a pressão turística é novidade, como também a acelerada renovação urbanística por via das dinâmicas de boémia e cultura.
Um bairro é um ecossistema complexo. Não surpreende a tensão que se manifesta entre residentes e frequentadores, entre comércio tradicional e novas actividades, entre utilizadores nocturnos e diurnos. A harmonia é quase sempre instável. Mas é dessa conjugação de actuações, e da forma como os diferentes actores se relacionam entre si, que depende o equilíbrio.
A coexistência não é fácil. Mas é possível. Exige-se actuação pública. Mas com pinças. Às vezes mais vale ser orientadora do que pró-activa, especialmente se não se tiver em linha de atenção as especificidades dos lugares.
A actuação pública deve facilitar a apropriação pelas actividades culturais, distinguindo espaços nocturnos que geram interesse cultural ou que funcionam como veículo de requalificação urbanística, de outros que só vendem copos. Ao mesmo tempo essa acção deve facilitar a simetria entre actividades diurnas e nocturnas, disciplinar operações urbanísticas e regular o espaço público
Os perigos dos excessos (de ruído, de bares ou de pessoas) colocam em causa os equilíbrios. Mas a questão dos horários é apenas uma, entre outras, reveladora de conflito de interesses, num momento de mudança.
É uma medida que não será solução (para além de poder criar problemas colaterais de concorrência desleal e de criação de fluxos de tensão, por causa da desmobilização à mesma hora), se não for integrada em políticas transversais que garantam a estabilidade dessas áreas. 
Não basta tornar os centros das cidades apelativos, ficando os residentes remetidos à condição de figurantes. Ninguém deseja que os bairros se transformem em cenários rasurados e artificiais, destituídos justamente dos atributos que, por agora, atraem, quem os habita ou visita.
O turismo, ou a reconversão de zonas anteriormente esquecidas, não tem de gerar um fluxo negativo. Pelo contrário. Podem ser alavancas de dinamização. Basta que os poderes públicos percebam que os residentes são a maior garantia de sustentabilidade desses locais. Da mesma forma esses moradores terão de compreender que a regeneração das suas zonas lhes traz benefícios, mas também que algumas situações de tensão são quase inevitáveis.
O que há a fazer é manter uma cidadania atenta, negociar e gerir essas situações o mais coerentemente possível. Se a cidade se mantiver heterógena, movendo-se com equilíbrio – necessariamente instável – entre lisboetas e turistas, entre moradores de um bairro e visitantes do mesmo, não se desvirtuará. Pelo contrário. Valorizar-se-á.

Os 10 locais mais românticos de Lisboa

por A-24, em 04.08.14
Os 10 locais mais românticos de Lisboa:

O guia salienta a vista do Miradouro de São Pedro de Alcântara, que dá para ver o Castelo de São Jorge e o rio, um “enquadramento perfeito” para tirar uma foto a dois, sugerem.

Miradouro das Portas do Sol é um ponto elogiado pela zona em que se encontra: Alfama. “É um dos pontos mais bonitos, com uma vista capaz de “tirar o ar”. Quando se fala de amor, é isso que se pretende, certo?

No Elevador de Santa Justa, o destaque vai para a altura “avassaladora” que permite ter uma visão fantástica da cidade pelo topo. “Vão sentir-se os dois nas nuvens”, escrevem. Para os corações apaixonados, é uma sensação tentadora.

Torre de Belém é apresentada como “o monumento mais fotografado” da cidade. No que diz respeito ao amor, o guia sugere um passeio romântico à beira-rio, ali mesmo ao lado, e uma paragem nas Docas de Santo Amaro.

Talvez o nome Jardim do Ultramar, em Belém, não lhe diga nada, mas essa pode ser uma vantagem. Como isto da paixão tem muita complexidade à mistura, eis a explicação. “Poucas pessoas conhecem este jardim adorável, ou seja, o casal terá apenas as bonitas árvores e os patos como companhia, o que pode ser uma grande vantagem”.

O castelo mais antigo da cidade não escapa à seleção. O Castelo de São Jorgeé um sítio “no topo do mundo”. Remetendo para as histórias de encantar, aqui “podem sentir-se o rei e a rainha”.

E para um amor vivido em tranquilidade e protegido por todas as entidades, é impensável não passar pelo Miradouro da Nossa Senhora do Monte. “Mesmo que não sejam crentes, vão sentir-se abençoados pela imagem da Virgem naquele espaço”, avisam.

Se houver tempo para sair da cidade, o Palácio da Pena, em Sintra, é uma excelente opção. A obra é apelidada como “uma das construções europeias mais românticas”. A distinção aguça o peso da responsabilidade. Como se não fosse suficiente, os responsáveis da eleição prometem que ali se vive “um verdadeiro conto-de-fadas”. Não é aquilo com que todos os apaixonados sonham?

Sim, é “apenas” um meio de transporte, mas o elétrico 25 também consta do guia romântico. O elétrico 28 é o mais popular no que diz respeito às atrações de Lisboa e, por isso mesmo, é desaconselhado para um encontro a dois. “O 28 está sempre cheio de turistas. É bonito, mas a experiência pode tornar-se muito irritante.” E fazem valer as potencialidades do 25: “a viagem não é tão longa, mas podem disfrutar melhor da viagem romântica neste veículo ‘vintage’”.

No lado oposto da cidade também há sítios para despertar o amor. O Parque das Nações é um deles. O “Go Lisbon” sugere um passeio à beira-rio e pelo bairro “com arquitetura muito contemporânea e futurista”.
OBSERVADOR

Lisboa

por A-24, em 01.06.14

*Não me foi possível creditar a foto

Viaje para África sem sair da Europa!

por A-24, em 02.01.14



Podia ser o novo lema do turismo português. Em Lisboa e arredores, africanos não faltam. Agora existe também o esplendor do lixo a fazer lembrar Abidjan, Bangui ou outra qualquer cidade de um país governado por uma elite de corruptos. O turista estrangeiro pode vir até à capital sem correr o risco de apanhar malária ou disenteria - por enquanto - e gozar do exotismo africano. O que se passa em Lisboa é notável. Chamasse-se o presidente da câmara Santana Lopes e já tinha sido crucificado, flagelado e tudo o mais. Já teríamos ouvido apelos indignados a sugerir aos cidadãos que despejassem o lixo à porta da casa do edil. Como o lugar está ocupado por A. Costa (não confundir com Afonso Costa), não se passa nada. Umas notícias inócuas, uns apelos da DGS para que os cidadãos guardem o lixo em casa - talvez na banheira, no quarto dos miúdos, etc. É assim a docilidade da comunicação social lusita quando estão em causa os seus.


O lixo em Lisboa

por A-24, em 28.12.13
Luis Menezes Leitão

Só há uma função absolutamente imprescindível a uma Câmara Municipal: é tratar da higiene urbana, onde se inclui obviamente a recolha diária do lixo. No entanto, António Costa, que sempre encarou a gestão da Câmara como um trampolim para outras funções, acha naturalmente que a recolha do lixo é demasiado prosaica para ser uma função camarária, decidindo por isso atirá-la para as juntas de freguesia. Os trabalhadores da recolha do lixo é que obviamente não gostaram de serem assim atirados às juntas, pelo que decidiram fazer greve. Essa greve está a ter um impacto tal que hoje, dia 28 de Dezembro, o lixo acumula-se nas ruas de tal forma que praticamente não se pode circular. O que faz, no entanto, António Costa? Pede aos lisboetas candidadamente que esperem até 10 de Janeiro, altura em que conta ter o problema resolvido. E entretanto propõe-se colocar contentores de obras nas ruas, como se um contentor tivesse algum efeito prático perante o lixo já acumulado. Conclui-se assim que Lisboa vai ficar por mais 13 dias a ter o lixo a acumular-se nas ruas, com os inúmeros problemas inclusivamente de saúde que isto acarreta. No dia 10 de Janeiro a maioria dos lisboetas já nem deve conseguir sair de casa, tal o lixo em frente das portas. Resta-lhes apenas o consolo de estarem a contribuir para a glória da reforma autárquica imaginada pelo Senhor Presidente da Câmara. Esta pode traduzir-se por um slogan: "o lixo às freguesias — e se for preciso aos munícipes — rapidamente e em força".

Lisboa, cidade-luz numa Europa em guerra

por A-24, em 18.09.13
Público

Espiões, esplanadas cheias de refugiados, artistas, políticos e membros da realeza a encher os hotéis, jornalistas, revistas de propaganda, manobras diplomáticas: Lisboa foi, durante a II Guerra Mundial, um refúgio e uma via de fuga da Europa em guerra. Uma exposição no Terreiro do Paço recorda esses anos.
Eram as luzes iluminando a noite de Lisboa, como se a cidade estivesse em festa, que mais surpreendiam os refugiados acabados de chegar de uma Europa mergulhada na guerra e na escuridão. No Verão de 1940 Paris acabava de cair nas mãos das tropas do III Reich e milhares de pessoas tentavam fugir. A porta de saída era Lisboa.
De repente, os olhos do mundo voltavam-se para a cidade não pelos motivos que o Governo sonhara - a inauguração da ambiciosa Exposição do Mundo Português - mas para tentar perceber o que era a capital deste pequeno país europeu, que se mantinha neutral durante a guerra, e que acolhia temporariamente milhares de pessoas.
Uma refugiada no cais de Lisboa à espera da partida
(foto maior); a chegada de mais um comboio à gare do Rossio;
uma das tabacarias onde se vendiam inúmeros jornais
e revistas internacionais; e (foto em baixo) as
estátuas da capital protegidas na altura em que se começou
a recear um
ataque alemão a Portugal

É por isso, diz Margarida de Magalhães Ramalho, comissária, juntamente com António Mega Ferreira, da exposição A Última Fronteira - Lisboa em Tempo de Guerra, que a revista National Geographic decide fazer uma reportagem sobre Portugal. "Em 1941, a National Geographic não fazia praticamente reportagens fora da América, e no entanto mandam alguém cá. Portugal era uma espécie de paraíso perdido, com uma quantidade de coisas que já ninguém sabe o que são: as varinas, o homem da cortiça, o vendedor de azeite e vinagre. Isso deve ter-lhes suscitado interesse".

A reportagem, com as imagens das varinas e de mulheres embrulhadas em xailes negros, mas também de alguns edifícios que revelam um tímido desejo de modernidade, abre a exposição no Torreão Poente do Terreiro do Paço. "O tom da reportagem é de grande simpatia". Como são aliás, frisa a investigadora, a esmagadora maioria dos testemunhos que recolheu e a que teve acesso desde que há cerca de dez anos começou a trabalhar este tema a partir do projecto de uma outra exposição (nunca concretizada) sobre a passagem dos refugiados pela Figueira da Foz. Um trabalho que ainda antes da exposição no Terreiro do Paço começou por ter a forma de um livro, Lisboa, uma Cidade em Tempo de Guerra.

"Nos cerca de cem testemunhos a que tive acesso, muitos deles guardados na Fundação Shoah, nos Estados Unidos, se houver um a dizer mal de Portugal já é muito", afirma Margarida Ramalho. "A maioria das pessoas teve uma enorme empatia com o país, foi muito bem recebida, sentiu-se acarinhada, protegida. É raro aquele que não faz referência ao facto de ter passado de uma "terra cinzenta" para o "luminoso Portugal"." Isto apesar da política de restrição de vistos e, ponto em relação ao qual a investigadora é particularmente crítica, "a forma como Portugal se comportou com os judeus de origem portuguesa", descendentes de famílias expulsas pela Inquisição, aos quais, na maioria dos casos, não permitiu a entrada.
No início da década de 40, Lisboa tornou-se subitamente uma cidade cosmopolita. A exposição conta-nos essa história, começando com um monte de malas antigas no meio do hall e com imagens das chegadas, na maior parte dos casos em comboios que vinham até à Estação do Rossio, e das partidas, em navios ou, para os que tinham mais posses, de avião. "Muitas vezes, as pessoas apercebem-se que têm que fugir, metem tudo nas malas e despacham-nas para Portugal na esperança de virem depois. Mas alguns não conseguem vir e as malas ficam por cá e acabam por ser leiloadas".
Outros têm mais sorte, e conseguem chegar a Lisboa e até, como a coleccionadora de arte Peggy Guggenheim, fazer passar por aqui muitas obras de arte, em direcção aos EUA. "Logo a seguir à ocupação de Paris, Peggy Guggenheim compra uma série de obras a artistas que estavam desejosos de vender coisas para se irem embora, e tudo isso passou certamente por Portugal", acredita a investigadora.
Os refugiados instalavam-se sobretudo no eixo da Rotunda/Avenida da Liberdade/Rossio. "Era aí que existiam os melhores hotéis e as pensões, e, além disso, ficavam próximo das legações dos vários países beligerantes. A dos EUA era no n.º 258 da Avenida da Liberdade, por exemplo, enquanto o consulado alemão ficava do outro lado, na Av. Joaquim António de Aguiar."
O mais luxuoso destes hotéis era o Aviz, um pouco mais acima, nas Picoas, no local onde está hoje o Imaviz. Era aí que se instalava habitualmente Calouste Gulbenkian, e era aí que queriam ficar os duques de Windsor, que chegaram a Portugal em Julho de 1940. "A passagem do duque de Windsor envolve pressões alemãs para ele ficar na Europa, porque, dado que ele tinha algumas simpatias pela Alemanha, os alemães tinham esperança de o conseguir pôr no trono. Chegou a haver, do lado alemão, ordem para, se fosse necessário, usar-se a força para o reter". Mas, por pressões inglesas, o duque acabou por deixar Portugal - e não chegou a hospedar-se no Aviz.
Muitos dos refugiados frequentavam os cafés da zona e passavam grande parte do tempo nas esplanadas ou em jardins como o Botânico, ou o Parque Eduardo VII, onde gostavam em particular da Estufa Fria. Não podiam fazer muito mais do que esperar por notícias - e era isso que os levava diariamente às estações de correios dos Restauradores ou do Terreiro do Paço para saber se chegara alguma coisa à posta-restante (uma das salas da exposição tenta precisamente recriar o ambiente de uma estação de correios).
Para além de Lisboa, havia também importantes grupos de refugiados na Curia, na Figueira da Foz, na Ericeira. Mas o local que ficou mais ligado à passagem por Portugal dos que fugiam ao avanço nazi foi o Estoril, transformado num autêntico cenário de espionagem. Uma das salas da exposição mostra um goniómetro e um rádio transmissor, e relembra a estadia de Ian Fleming no Hotel Palácio do Estoril, pró-aliado, que, juntamente com o Casino, também muito frequentado pelos refugiados mais ricos, terá inspirado o livro Casino Royale. Uma das personagens com quem Fleming se cruzou - e que poderá ter inspirado o Agente 007 - foi o jugoslavo Dusko Popov, agente duplo também conhecido como Triciclo.
E, numa cidade cheia de refugiados e agentes secretos, último local de refúgio numa Europa em guerra, num país neutral, todos aproveitavam para fazer a sua propaganda. "Todos os beligerantes tinham jornais, revistas", conta Margarida Ramalho, junto a uma parede com várias dessas publicações, daGuerra Ilustrada à Allô Portugal, Aqui Alemanha, passando pela americanaEm Guarda.
"O The Anglo-Portuguese News, jornal luso-britânico, era dirigido na altura por um tio meu casado com uma inglesa. Para além de dirigirem o jornal, que era considerado pelos alemães como o porta-voz do Churchill, os dois recolhiam toda a informação relacionada com a guerra para a passar à embaixada inglesa. Quando se fala na eventualidade de uma invasão de Portugal, eles estão na lista das pessoas que devem ser retiradas com urgência para não caírem nas mãos dos alemães".
Toda a gente escolhia um lado. "A maioria tomou o partido dos ingleses. Os taxistas punham bandeiras do país que apoiavam, as lojas faziam montras pró-aliadas ou pró-germânicas." Os jornais davam notícias da guerra, e os correspondentes estrangeiros em Portugal gritavam histórias ao telefone no meio de cafés cheios de gente.
Em Belém, o país mostrava o seu império colonial, mas os refugiados que enchiam os cafés tinham outras coisas em que pensar. Lisboa tentava começar a ser moderna, mas nas zonas populares, como a Aldeia dos Trapeiros, junto ao Areeiro, as condições eram miseráveis e as pessoas ainda viviam a meias com porcos. Mas, no meio de tudo isto, o que mais espantava quem aqui chegava eram as luzes que iluminavam as ruas - as únicas luzes ainda acesas numa Europa às escuras.

25 anos depois do incêndio do Chiado

por A-24, em 25.08.13
Alcino Marques chegou ao Chiado passava pouco das 06:00. As chamas altas e o muito fumo faziam adivinhar que aquele fogo "ia correr mal" e que seriam necessários meios de combate de fora de Lisboa.
Na madrugada de 25 de Agosto de 1988, o bombeiro, hoje chefe do Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB) de Lisboa, estava a preparar-se para ir de férias, mas uma chamada do centro de operações a descrever um grande incêndio fez com que ficasse.

"Quando cheguei ao Chiado apercebi-me logo de que era um incêndio de grande envergadura. Já na altura as chamas eram altas, pela quantidade de fumo... Era logo de adivinhar que o incêndio ia correr mal e que ia propagar-se a outros imóveis, pelo que era preciso mobilizar outros meios", recorda.
Alcino Marques ficou a coordenar os muitos meios e operacionais exteriores a Lisboa. Inicialmente estacionavam no Rossio, eram registados e depois direccionados às várias frentes do fogo para combater as chamas.
Daquele dia, lembra ainda a rapidez com que as chamas subiram pelo Chiado: "O chefe de serviço mandou um bombeiro subir e descer a rua [do Carmo] para tocar a todas as campainhas e bater às portas para mandar sair as pessoas. Quando chegou ao topo da rua já não conseguia descer porque o fogo já tinha passado de um lado para o outro".
O incêndio chegou a ter seis frentes e foi combatido por mais de 1.500 operacionais. No terreno estiveram ainda elementos da PSP, da Polícia Judiciária e de empresas de distribuição de electricidade e de gás. As chamas foram dominadas pelas 11:00 e o fogo dado como extinto pelas 16:00.
O chefe do regimento recorda o medo da propagação do incêndio à Baixa, com o autarca Pedro Feist (que na altura era vereador mas assumiu a presidência da Câmara de Lisboa, na ausência de Nuno Krus Abecassis) a "mandar retirar todos os processos que considerava importantes" dos Paços do Concelho.
A ausência do presidente da Câmara de Lisboa, que se encontrava de férias, foi criticada na altura, mas uma das principais polémicas foi a presença de floreiras na Rua do Carmo, que impediram a entrada de carros de bombeiros.
No entanto, essa barreira acabou por funcionar "a favor" dos bombeiros: "Se nós tivéssemos a rua desimpedida e tivéssemos colocado aqui várias viaturas, elas teriam ficado queimadas", com risco também para os homens, admite.
Depois do incêndio, os bombeiros continuaram no local durante cerca de dois meses, na remoção de escombros.
Foi durante esse tempo que se depararam com uma vítima mortal, um electricista reformado do Arsenal da Marina com cerca de 70 anos.
"Foi encontrado 58 dias após o incêndio, depois de removidos todos os escombros. Só então é que foi retirado esse cadáver", diz Alcino Marques.
Outra das vítimas mortais, um bombeiro de 31 anos, Joaquim Ramos, morreu no início de Setembro de 1988 no Hospital de São José. Enquanto combatia o fogo na Rua do Carmo foi atingido por uma "língua de fogo" e "gases muito quentes". Ficou com 85% do corpo queimado.
O incêndio causou vários feridos - mais de cinquenta - entre bombeiros (outros dois estiveram internados por vários dias no Hospital de Curry Cabral) e agentes de segurança com fracturas e queimaduras "mais ligeiras".
O combate às chamas "mudou bastante" em 25 anos, da organização do teatro de operações aos postos de comando, aos próprios meios. A segurança aos bombeiros, para Alcino Marques, foi a principal mudança.
"A maior parte dos bombeiros andavam completamente desprotegidos. Havia, mas não era usado material de protecção individual: casacos, calças, botas, luvas [anti-fogo], aparelhos respiratórios... Na altura o que era visível era apenas o capacete", descreve.
Hoje, o chefe do RSB admite que com este material as queimaduras do colega não teriam sido tão graves.
"Só a partir daí se começou a olhar seriamente para este caso, para a legislação de segurança das edificações e que se começou a fazer alguma coisa", afirma.
No entanto, e 25 anos depois do incêndio do Chiado, "o maior inimigo continua a ser a acessibilidade para os bombeiros: os bairros antigos, as ruas pejadas de trânsito e o estacionamento caótico", acrescenta.

Lusa/SOL

Lisboa Maçónica

por A-24, em 09.12.12
A Maçonaria é uma seita demoníaca travestida de sociedade secreta que está disseminada por todo o mundo e que domina praticamente todos os aspectos da sociedade portuguesa desde o século XVIII. Lisboa, a capital de Portugal e do antigo império português, é uma cidade moldada pelas referências maçónicas. Verdade ou mentira?

Em 1755 ocorreu em Lisboa um enorme terramoto que devastou quase por completo toda a baixa da cidade. Foi aí que o maçon Sebastião José Carvalho e Melo, vulgo Marquês de Pombal, iniciou uma imensa obra de reconstrução maçónica, com todo um conceito de arte real, simbolismo oculto, geometria sagrada e alquimia. Segundo alguns autores e especialistas na matéria, Marquês de Pombal usou na reconstrução da baixa lisboeta como cálculo base o número de ouro - 0,618033989 -, tendo como ponto de medida o eixo que divide a actual Rua Augusta, rodando o mesmo 13º em relação ao Norte. Toda a obra de reconstrução pombalina/maçónica é de elevado valor filosófico-hermético.

A Praça do Comércio ou Terreiro do Paço foi construído segundo o livro "sagrado" de Thot, conhecido também por Tarot. O cais das colunas é, maçonicamente, a entrada do "grande templo". As colunas poderão representar as colunas do Templo de Salomão (colunas B e J, Boaz e Jaquin respectivamente, simbolizando força e estabilidade, rigor e misericórdia, força e beleza, ciência e conhecimento, o Ocidente e o Oriente). O "estar entre colunas" maçonicamente significa estar em segredo entre irmãos.

O Arco da Rua Augusta é outro monumento maçónico. Suportado por duas colunas, o monumento tem um significado profundamente esotérico. Todas as cidades alicerçadas sobre sete colinas (Lisboa, Roma, Jerusalém) são consideradas urbes sagradas pela tradição teúrgica (da obra do Eterno na face da Terra, onde a magia e a sublimidade se tornam realidade) e possuem o seu Arco do Triunfo ou da Salvação que designam o umbral dos mistérios, a passagem das trevas para a luz, da morte para a imortalidade, que é concedida pela sabedoria das idades. A estátua da águia que está no cruzamento da Rua de São Nicolau com a Rua Augusta, na esquina, é o símbolo supremo da regência das constelações zodiacais de Balança e Vénus em Lisboa, configurando o nascimento para a luz augusta, indicadora da perfeição humana. O número 17 é o número da "estrela dos magos", sendo Portugal o país sob o biorritmo do valor 17, e este número é encontrado na quadrícula da baixa lisboeta onde sete ruas longitudinais cruzam-se com sete ruas transversais intersectadas por três praças.

No centro do Terreiro do Paço há todo um fabuloso conjunto arquitectónico de edifícios adornados de escadas em todo o redor. Os reconstrutores, todos eles ligados à Maçonaria (Karl Mardel, Manuel da Maia e Eugénio dos Santos), não fizeram as coisas por acaso: tudo tem um propósito bem vincado apesar da secreta discrição. Os 78 arcos (11 à direita e 11 à esquerda da Rua Augusta, e 28 arcos de cada um dos lados nos edifícios laterais à volta da praça) simbolizam as 78 cartas ou lâminas de ouro fino ou crisopeico e prata argiopeica que constituem o livro de Thot (Tarot), sendo que as primeiras 22 lâminas pertencem aos arcanos maiores ou esotéricos (iniciáticos) e as restantes 56 aos arcanos menores ou exotéricos. Os 56 arcos do Terreiro do Paço representam a manifestação profana e os 22 arcos frontais entre a Rua do Ouro e a Rua da Prata são a realização oculta. O professor Henrique José de Souza escreveu, no seu livro "O Livro do Loto", o seguinte: "(...) Repare-se como o Arco da Rua Augusta se parece com o do Palácio da Aclamação, na capital baiana. VIRTUTIBUS MAIORUM (melhor dito, MAJORUM), é o lema da Rua Augusta. De cada lado do referido Arco da Rua Augusta, figuram 11 portais. Ele é, portanto, o 23º, como primeiro Arcano Menor. A estátua do frontispício, na sua parte mais alta, coroa um Homem e uma Mulher. Em baixo também se fala num DOCUMENTO P.P.D., que antes deveria ser L.P.D. Deve ser um lema latino referente a PORTUGAL".

A estátua de El-Rei D. José, no centro da praça, poderá ter sido esculpida por alguém que possuía no seu carácter a arte e o saber iniciático das confrarias esotéricas. A estátua de D. José trajado de imperador romano empunha um ceptro imperial - o que parece querer simbolizar a sacralidade - e monta um cavalo branco que esmaga as serpentes - símbolos das forças das trevas -, sendo muito possivelmente baseada na figura de São Jorge. Alguns templários oriundos de Inglaterra terão ajudado as tropas de D. Afonso Henriques a tomar a cidade de Lisboa aos mouros gritando o nome do seu santo protector, São Jorge, grito de guerra que terá sido também adoptado pelos portugueses. Qualquer semelhança entre a estátua de D. José com uma representação de São Jorge - um vulto de longos cabelos a cair em cachos sobre os ombros montado num cavalo branco e a exterminar algum réptil (serpentes ou dragão) - não deve ser pura coincidência.

As três ruas que compõem o conjunto do grande templo são a Rua do Ouro, a Rua da Prata e a Rua Augusta. O ouro é o objectivo alquímico final representado por um círculo com um ponto no meio (glifo), que significa a luz, o dia e o elemento masculino: Homem. A prata é, na alquimia, o símbolo feminino e lunar. Em união com o ouro, dá-se a "Unio Mystica", o que astrologicamente significa o preenchimento das carências da lua através do sol. Já augusta vem de Augusto, que significa supremo, superior, o mais importante. Marquês de Pombal poderá ter homenageado o imperador Franz I, um dos maiores maçons de Germânia e a quem ele deve a iniciação maçónica em Viena, com a Rua Augusta, que simboliza a imponente figura do imperador, ladeada pelos importantes símbolos maçónicos que são o sol e a lua.

O livro "O Maçon de Viena", de José Braga de Gonçalves, confirma a simbologia maçónica oculta nas ruas da baixa lisboeta: "(...) Assim se satisfaziam todos os gostos e requisitos maçónicos no tocante a pares de colunas à entrada do Templo-alto: duas para quem vem do Tejo, duas para quem entra na praça por terra e duas, monumentais e apenas visíveis na planta geral, demarcando a antecâmara da Cidade-Templo, a Praça do Comércio. Fosse por onde fosse, passando duas colunas, surgiam em frente as três portas frontais do Templo de Salomão: a do meio para os Mestres e, de cada lado, uma para os companheiros e outra para os aprendizes, formadas pelas embocaduras das ruas Augusta, do Ouro e da Prata. Depois, franqueando aquelas, surgiam três fiadas de prédios dispostos horizontalmente, por oposição aos seguintes cinco, dispostos verticalmente. A interpretação tornava-se subitamente cristalina. As três primeiras fiadas de prédios na horizontal representavam os três passos de entrada em Loja do aprendiz, passos ritualmente curtos e receosos ante o desconhecido. As outras cinco fiadas de prédios, dispostos na vertical, significavam os cinco passos de entrada em Loja dos companheiros. A soma dos dois dava o número de passos de entrada em Loja dos mestres (...)".

A Rua do Ouro e a Rua da Prata com a Rua Augusta, as principais artérias que partem do Terreiro do Paço, representam também o caduceu de Hermes, ou de Thot, que é uma coluna em torno do qual sobem duas serpentes, uma dourada e outra prateada (solar e lunar, quente/activo e frio/passivo), que simbolizam as duas energias fundamentais do universo, os contrários que se contemplam, atraem e repelem. O bastão central (a coluna) simboliza a fusão e síntese das duas forças polares, sendo que é através do caduceu pombalino que temos acesso às sete colinas ou selos de Lisboa (Liz + Boa; "Liz", da Flor de Liz, é o símbolo da iniciação e mistério, da Santíssima Trindade ou do sol tríplice; "Boa" designa a "água" e a coluna salomónica Boz ou Boaz, o pilar de Deus no cais ao pé do rio Tejo): São Vicente em Alfama, Santo André na Graça, São Jorge na Mouraria, São Roque no Bairro Alto, Santa Catarina a partir do Camões, Santana sobre o Largo da Anunciada e Chagas no Carmo. Os sete padroeiros detêm o enigma críptico da capital portuguesa.

Nota: informações retiradas do sítio Lusophia de Vítor Manuel Adrião, um escritor esotérico português e presidente-fundador da Comunidade Teúrgica Portuguesa, e também do blogue Cruzada Católica.