"The languages in Angola are those originally spoken by the different ethnic groups and Portuguese, introduced during the Portuguese colonial era. The indigenous languages with the largest usage are Umbundu, Kimbundu, and Kikongo, in that order. Portuguese is the official language of the country.
Mastery of the official language is probably more extended in Angola than it is elsewhere in Africa, and this certainly applies to its use in everyday life. Moreover, and above all, the proportion of native (or near native) speakers of the language of the former colonizer, turned official after independence, is no doubt considerably higher than in any other African country.[citation needed]
There are three intertwined historical reasons for this situation.
In the Portuguese "bridgeheads" Luanda and Benguela, which existed on the coast of what today is Angola since the 15th and 16th century, respectively, Portuguese was spoken not only by the Portuguese and their mestiço descendents, but—especially in and around Luanda—by a significant number of Africans, although these always remained native speakers of their local African language.
Since the Portuguese conquest of the present territory of Angola, and especially since its "effective occupation" in the mid-1920s, schooling in Portuguese was slowly developed by the colonial state as well as by Catholic and Protestant missions. The rhythm of this expansion was considerably accelerated during the late colonial period, 1961–1974, so that by the end of the colonial period children all over the territory (with relatively few exceptions) had at least some access to the Portuguese language.[75]
In the same late colonial period, the legal discrimination of the black population was abolished, and the state apparatus in fields like health, education, social work, and rural development was enlarged. This entailed a significant increase in jobs for Africans, under the condition that they spoke Portuguese.
As a consequence of all this, the African “lower middle class” which at that stage formed in Luanda and other cities began to often prevent their children from learning the local African language, in order to guarantee that they learned Portuguese as their native language. At the same time, the white and “mestiço” population, where some knowledge of African languages could previously often been found, neglected this aspect more and more, to the point of frequently ignoring it totally. After independence, these tendencies continued, and were even strengthened, under the rule of the MPLA which has its main social roots exactly in those social segments where the mastery of Portuguese as well as the proportion of native Portuguese speakers was highest. This became a political side issue, as FNLA and UNITA, given their regional constituencies, came out in favour of a greater attention to the African languages, and as the FNLA favoured French over Portuguese.
The dynamics of the language situation, as described above, were additionally fostered by the massive migrations triggered by the Civil War. Ovimbundu, the most populous ethnic group and the most affected by the war, appeared in great numbers in urban areas outside their areas, especially in Luanda and surroundings. At the same time, a majority of the Bakongo who had fled to the Democratic Republic of Congo in the early 1960s, or of their children and grandchildren, returned to Angola, but mostly did not settle in their original "habitat", but in the cities—and again above all in Luanda. As a consequence, more than half the population is now living in the cities which, from the linguistic point of view, have become highly heterogeneous. This means, of course, that Portuguese as the overall language of communication is by now of paramount importance, and that the role of the African languages is steadily decreasing among the urban population—a trend which is beginning to spread into rural areas as well.
The exact numbers of those fluent in Portuguese or who speak Portuguese as a first language are unknown, although a census is expected to be carried out in July–August 2013.[76][dated info]Quite a number of voices demand the recognition of "Angolan Portuguese" as a specific variant, comparable to those spoken in Portugal or in Brazil. However, while there exists a certain number of idiomatic particularities in everyday Portuguese, as spoken by Angolans, it remains to be seen whether or not the Angolan government comes to the conclusion that these particularities constitute a configuration that justifies the claim to be a new language variant."
Falar uma segunda língua aumenta a inteligência, a fluência verbal e a fluência de leitura, mesmo quando o idioma é aprendido na idade adulta, de acordo com um estudo da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Investigadores liderados por Thomas Bak, do Centre for Cognitive Ageing and Cognitive Epidemiology, compararam testes de inteligência de 262 pessoas. O primeiro teste foi feito quando as pessoas tinham 11 anos de idade, o segundo quando já tinham mais de 70 anos.
O estudo, publicado na revista científica Annals of Neurology, concluiu que o grupo apresentava habilidades cognitivas significativamente melhores do que as registadas na infância.
Tomando como ponto de partida resultados de testes de inteligência feitos em 262 escoceses quando tinham 11 anos de idade, os investigadores submeteram o mesmo grupo, agora com mais de 70 anos de idade, a novos testes, e analisaram o estado de suas habilidades cognitivas na velhice.
Todos os participantes disseram ser capazes de se comunicar em pelo menos uma outra língua além do inglês. Desse grupo, 195 aprenderam a segunda língua antes dos 18 e 65 aprenderam depois dos 18 anos de idade. O estudo foi feito entre 2008 e 2010.
Inteligência e leitura
As áreas mais afetadas pelo aprendizado de uma nova língua é a da inteligência e leitura. As conclusões foram as mesmas tanto no grupo que aprendeu o segundo idioma na infância quanto no que aprendeu mais tarde.
Durante o estudo, uma das questões levantadas foi se as pessoas eram mais inteligentes e por isso aprenderam uma segunda língua ou se, por aprenderem um segundo idioma, tornaram-se mais inteligentes.
Bak disse que o padrão revelado pelo estudo era “significativo” e que as melhorias na atenção, concentração e fluência não podiam ser explicadas pela inteligência original (constatada a partir dos testes feitos na infância). Aprender uma segunda língua torna-nos, portanto, mais inteligentes.
“Esses resultados são de relevância prática considerável. Milhões de pessoas no mundo aprendem uma segunda língua mais tarde na vida. O nosso estudo mostra que ser bilingue, mesmo quando a segunda língua é aprendida na idade adulta, pode ser benéfico para o cérebro em envelhecimento”.
Um estudo anterior já havia concluído que ser bilingue pode atrasar em vários anos o desenvolvimento de demência.
Thomas Bak, no entanto, reconhece que ainda há várias questões por responder, por exemplo, se aprender mais do que uma língua é ainda mais benéfico e se existe grandes diferenças entre falar ativamente a segunda língua ou apenas aprendê-la.
O cantonês, a língua franca de Cantão, Hong Kong e Macau, é considerado um dialecto chinês pelo senhor Cao Zhiyun, considerado a maior autoridade linguística chinesa nos chamados dialectos da China, e não só. O também vice-presidente da Universidade de Línguas e Cultura de Pequim defende que a língua chinesa tem diferentes interpretações porque aquilo que se entende por chinês não está claramente definido em contexto e citou o exemplo de Hong Kong e Macau, cuja Lei Básica estipula o chinês como uma língua oficial (juntamente com o inglês em Hong Kong e o português em Macau), sendo que mais de 90% das suas populações têm o cantonês como língua materna e não o mandarim, que é a língua oficial da China.
No caso de Macau, o académico descarta-se dizendo que "é um assunto de Macau" desde que ao nível do governo central o chinês seja o mandarim e a forma escrita seja a simplificada (e não a tradicional, usada em Macau, Hong Kong e também Taiwan). Para ele, o mandarim é que é "a forma padronizada do chinês" enquanto que o cantonês, tal como os restantes dialectos da China, são "variantes da mesma língua". Em Hong Kong gerou-se uma enorme indignação depois de o governo local ter afirmado que o cantonês não é a língua oficial da antiga colónia britânica, o que acabou por agudizar ainda mais a tensão em relação ao continente (em Hong Kong já há manifestantes que querem a independência). Para Cao, "preservar o cantonês e promover o mandarim não são objectivos contraditórios", pois a promoção do mandarim é importante com a aproximação entre Macau e o continente. Ainda assim, sublinha que o ensino do mandarim não deve ser obrigatório. "O nosso trabalho é problemático porque antes nos limitávamos a promover o mandarim, negligenciando a conservação dos dialectos locais, alguns dos quais desapareceram num curto prazo", disse. "O nosso objectivo é impor um sistema bilingue nas regiões com dialectos, para que falem esse dialecto e o mandarim. A distinção entre o dialecto e o mandarim está na função ou no local dos seus usos".
Em localidades que eu conheço como Zuhai, que pertence à província de Cantão, o uso do mandarim é cada vez maior devido à migração de gentes do norte da China e também da imposição do mandarim como a língua principal, o que faz temer que o cantonês possa desaparecer como desapareceram muitos outros dialectos, em Zuhai que há menos de 20 anos atrás favala-se praticamente só o cantonês. O académico, no entanto, acredita que isso não vai acontecer porque defende que o cantonês é o dialecto que está melhor preservado, é o mais forte e é o que tem mais funções. Além disso, tem um sistema de escrita integrado, que é o que falta noutros dialectos. "A omnipresença do mandarim favorece o reconhecimento da identidade chinesa", mas "pode haver um carácter único em Hong Kong e Macau, mas pelo menos nenhum problema desses acontece no continente".
O Ministério da Educação da China está apostado em preservar os dialectos chineses e também a cultura, como a típica e própria cultura de Macau (embora não seja isso que na prática se constata). O novo livro de Cao, lançado na última sexta-feira no Instituto Politécnico de Macau, fala da particularidade de Macau em ter preservado não só o cantonês como também fenómenos culturais que já desapareceram na China. "Muitas pessoas vêm a Macau pensando apenas nos casinos e não na riqueza da sua cultura", afirmou.
O cantonês, falado por cerca de 70 milhões de pessoas, é muito mais que um dialecto, pois é bem mais antigo que o mandarim. A antiga poesia chinesa, cuja pronunciação original é incerta, rima melhor lida em cantonês do que em mandarim, o que prova que o cantonês está mais próximo das formas antigas da língua chinesa que os restantes dialectos e o próprio mandarim. Este só começou a ser promovido como a língua oficial da China em 1909 após um decreto da dinastia Qing, o que não foi aceite pela autoridade cantonesa no início do século XX. O cantonês é ainda hoje muito usado nas comunidades chinesas dos Estados Unidos, Canadá ou Reino Unido (Chinatowns), pois as primeiras comunidades chinesas imigrantes eram precisamente de Cantão, sendo o cantonês a primeira forma de expressão chinesa com a qual os ocidentais entraram primeiramente em contacto. Portanto, se o cantonês é mesmo um dialecto, então é porque a China quer apagar o seu passado e uma parte de si. Sei que o mandarim é actualmente mais importante que o cantonês devido à quantidade de gente que o fala e ao peso que tem na China, daí eu precisar urgentemente de voltar a ter aulas disso, mas tenho imenso orgulho e prazer em saber falar o cantonês desde que sou gente. O cantonês faz parte da identidade de Macau e também da própria China (Cantão), portanto se não gostam dele, hoi sêk sí lã (vão comer merda).
Perante o crescente entusiasmo dos europeus em adotar o inglês como língua franca, um intelectual romeno lança um sinal de alarme e apela à mobilização pela salvaguarda das línguas nacionais.
O facto de inúmeros trabalhos de pós-licenciatura serem entregues em inglês e o facto de apenas se valorizarem trabalhos publicados em revistas estrangeiras e redigidos nessa língua contribuiu, significativamente, para acentuar o desinteresse pelas publicações científicas romenas. Mas também para depreciar a língua, a médio e longo prazo, no seio da intelligentsia.
Anglização criticada na Europa
A Roménia já conheceu algo idêntico no passado. Os boiardos [aristocratas]dos finais do século XIX desprezavam tudo o que fosse romeno e imitavam os centros de poder da época: Paris, Moscovo, Istambul. Coana Chiriţa, personagem dos romances de Vasile Alecsandri, também foi inspirada pelos modos "à francesa". De igual modo, as peças de teatro de Ion Luca Caragiale punham a ridículo o facto de se imitar os modos ocidentais. E no início do século XX, o historiador Nicolae Iorga encabeçou uma grande manifestação em Bucareste para protestar contra as representações teatrais exclusivamente em francês.
Retomo hoje este assunto pois a atual anglicização começa igualmente a ser visível noutros países europeus e não apenas na Roménia. Mas esses países não são considerados retrógrados ou anti-ocidentais.
Na primavera, o Instituto Politécnico de Milão decidiu que os seus mestrados e doutoramentos deviam ser feitos unicamente em inglês. E isto em nome da internacionalização dos estudos e em prol de uma melhor competitividade das
universidades italianas. Mas o Tribunal Administrativo da Lombardia decidiu noutro sentido: determinou que o facto de se empregar a língua inglesa não tinha qualquer influência nem na qualidade, nem na valorização internacional do ensino. A mesma instância especificou que, ao obrigar os professores a lecionar em inglês, o Instituto Politécnico de Milão atentava contra a liberdade desses mesmos professores.
Proteger um patrimómio inestimável
Ainda nessa informação, o OEP constata que, em termos de anglicização do ensino superior, a Alemanha — que avançou muito mais depressa que a França e Itália, mas continua distante dos países escandinavos e da Holanda — publica cerca de 10% dos seus programas de mestrados e doutoramentos unicamente em inglês. Números que nos fazem pensar nas consequências de uma política desta natureza. É verdade que a língua inglesa oferece visibilidade internacional aos investigadores alemães, mas a língua alemã também pode muito bem contribuir para o seu êxito.
Em França criaram-se programas semelhantes para atrair mais estudantes estrangeiros e, em primeiro lugar, os chineses. Mas, hoje, o país constata que um bom número deles fala francês e muitos desejam mesmo aprender esta língua! Além disso, a Assembleia Nacional francesa e o Senado decidiram que seria preciso rever em baixa o número de cursos ministrados em inglês e que os trabalhos de fim de curso deviam ser escritos em francês.
Ao lutar para que a língua romena encontre, pelo menos no seu próprio país, a dignidade e a consideração que lhe são devidas — sem menosprezar a importância das línguas de grande circulação internacional —, contribuímos para ponderar os efeitos insidiosos da globalização. Contribuímos para proteger o inestimável património imaterial de que somos depositários e que devíamos transmitir com toda a sua riqueza.
[Esta luta] patriótica, longe de ser uma idolatria nacionalista, contribui com alguma coisa de muito positivo para a nossa cultura e também para a nossa civilização. E para a Europa em geral.
Línguas de Portugal à Sibéria têm origem comumCientistas descobrem que as línguas faladas por 2,6 mil milhões de pessoas da Europa e da Ásia (37% da população mundial) nasceram de uma só língua que existiu há quinze mil anos no sul do continente europeu.
Uma equipa de cientistas britânicos e neozelandeses descobriu que as línguas hoje faladas por 2,6 mil milhões de habitantes da Europa e da Ásia (37% da população mundial), numa vasta região que vai de Portugal à Sibéria, tem origem numa única língua falada no sul da Europa há 15 mil anos, no final da última era glaciar.
Até agora sabia-se que existia uma raiz comum para as chamadas línguas indo-europeias, faladas no norte e centro da Índia, Bangladesh, Nepal, quase todo o Afeganistão e Paquistão, Irão, leste da Turquia (Curdistão) e em toda a Europa, à exceção da Hungria, Finlândia, Estónia, País Basco, Geórgia e várias regiões do norte da Rússia.
Mas as conclusões dos cientistas vão agora muito mais longe: para além das línguas indo-europeias, existem mais seis famílias linguísticas euroasiáticas que têm a mesma origem (altaica, dravidiana, caucasiana meridional, urálica, chukchee-kamchatkan e inuíte-yupik), abrangendo aqueles três países europeus, uma vasta área da Sibéria, a maior parte da Turquia, os quatro países turcófonos da Ásia Central, o sul da Índia, a Mongólia, o Alasca e mesmo algumas regiões da China.
Palavras com quinze mil anos
Num artigo publicado na revista científica de referência internacional "Proceedings of the National Academy of Sciences", os investigadores das universidades de Reading (Reino Unido), Auckland e Waikato (Nova Zelândia) sublinham que "algumas das palavras hoje mais usadas mantiveram-se sob várias formas desde o final da última era glaciar, há 15 mil anos".
Esta conclusão é fundamental, porque a ideia de uma gigantesca família de línguas euroasiáticas é polémica, já que muitas palavras evoluem demasiado depressa para preservarem as suas raízes ancestrais.
Como refere o jornal britânico The Guardian, "a maior parte das palavras tem 50% de hipóteses de ser substituída por outras não relacionadas em cada período de 2000 a 4000 anos".
Transmissão oral de informação muito complexa
Mark Pagel, um biólogo da evolução da Universidade de Reading envolvido na descoberta, afirma que "o facto de se poderem identificar palavras que retêm traços da sua profunda ancestralidade, revela-nos que temos a capacidade de transmitir oralmente informação muito complexa e precisa ao longo de dezenas de milhares de anos".
Esta informação, contida nas palavras, é preservada em grandes espaços geográficos e durante um largo período de tempo, apesar de os cientistas terem concluído que a língua comum existente há 15 mil anos se desdobrou em línguas separadas nos cinco mil anos seguintes.
Pagel usou um modelo de computador para prever quais as palavras hoje frequentemente usadas que mudaram muito pouco e identificou 23, entre as quais "eu", "nós", "homem", "mãe", o verbo "espetar", "casca" e "verme".
Uma lei sobre o ensino do castelhano em todas as escolas espanholas está a gerar polémica na Catalunha, que recusa adotar essa língua como língua principal no ensino.
A nova lei da educação, apresentada pelo ministro José Ignacio Wert, determina que se uma escola de uma região autónoma não der incidência ao castelhano como língua principal, os pais dos alunos dessa escola podem inscrever os filhos em instituições privadas que o façam, com os custos a desse encargo a pertencerem ao governo regional em causa.
A já conhecida como lei Wert não impede o ensino das outras línguas co-oficiais (catalão, basco e galego), mas determina que essas passam a ser línguas de especialidade.
É da Catalunha que surgem as maiores críticas ao projeto de lei. No momento em que José Ignacio Wert apresentava a proposta, a conselheira da Educação do Governo Regional da Catalunha, Irene Rigau, abandonou a reunião.«Um governo da Catalunha não pode aplicar esta lei», destacou Rigau, que acusa o Governo de lançar o maior ataque ao catalão desde 1978, data em que a língua passou a ser reconhecida como a principal na Catalunha.
O Partido Popular tem maioria absoluta no Parlamento, pelo que pode aprovar a medida sem ceder a eventuais posições contrárias dos restantes partidos. Caso o Governo não recue na intenção, a única hipótese de a lei ser travada é se for considerada inconstitucional.
Quando a história se repete, ela raramente é gentil. Hoje, tal como na época do colonialismo, dezenas de milhares de jovens ambiciosos, originários da periferia da Europa, estão a fugir do velho continente em busca de melhores oportunidades na América, em África e na Ásia.
Mas, ao contrário da era colonial, as saídas de pessoas não são compensadas pelas entradas de recursos naturais ou de metais preciosos. Os emigrantes europeus estavam habituados a contribuir para a glória das suas pátrias; agora, o seu êxodo está a contribuir para o declínio da Europa.
Numa tentativa extrema de resolver a falta de emprego no seu país, o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, aconselhou recentemente os jovens desempregados do seu pais a emigrarem para as antigas colónias portuguesas, como o Brasil ou Angola. No ano passado, pela primeira vez desde 1990, a Espanha era um exportador líquido de pessoas, com 31% dos emigrantes a irem para a América do Sul. Mesmo em países sem passado imperial, mas com uma longa tradição migratória, como a Irlanda, a fuga de cérebros para a Austrália e para a América do Norte está a acelerar.
A gravidade da recessão económica na Europa, as deficiências no projecto do euro e as medidas fiscais de austeridade mal concebidas alimentam o êxodo. Mas o principal impulsionador é a cultura, não a economia. O alto grau de fragmentação linguística da Europa não permite que a zona euro amorteça uma crise auto-infligida, por isso as pessoas deslocam-se para fora da zona monetária, em vez de se deslocarem dentro dela.
A mobilidade dos trabalhadores dentro de uma área monetária representa um mecanismo chave de adaptação, para preservar a eficácia da política monetária contra as assimetrias nos choques regionais: em teoria, os trabalhadores da periferia da zona euro retraída devem fluir para o núcleo em expansão. Na prática, a barreira da língua prejudica esta válvula de segurança. Deste modo, o Sul da Europa está a perder os seus melhores talentos, o Norte da Europa está a esforçar-se para preencher as vagas de emprego e toda a Europa está a tornar-se mais pobre.
A diversidade linguística na Europa é imensa. Treze línguas oficiais dos seis ramos distintos do grupo indo-europeu de línguas - germânico, eslavo, urálico, românico, celta e grego - são faladas na zona euro. Adicione uma infinidade de dialectos regionais, que só na Itália equivalem a cerca de 20 (com diversas variantes cada). Em muitas regiões secessionistas, como a Catalunha em Espanha, elas são de facto o idioma oficial.
As implicações dessa diversidade linguística são profundas. A língua não é apenas um meio sistemático de comunicar. É um sinal de identidade, cultura e orgulho nacional. De acordo com a maioria dos especialistas, os processos linguísticos moldam a forma como as pessoas percebem o mundo, como elas vivem as suas vidas e, finalmente, a sua mentalidade.
O mesmo conceito, expresso com palavras diferentes, em línguas diferentes, gera emoções diferentes. Na verdade, a indiferença da Alemanha perante a dor infligida na Grécia está inscrita na sua língua. Em inglês, como em várias outras línguas europeias, o termo austeridade deriva do grego austeros, que significa duro e severo, enquanto para os alemães é apenas um plano tecnocrático de poupança, um Sparprogramme.
Até agora, a miopia política e os interesses nacionais têm impedido os líderes europeus de elaborarem uma política de língua comum. Segundo o Eurostat, gabinete oficial de estatísticas da União Europeia, apenas 18% das pessoas com idades compreendidas entre os 18 e os 34 anos, observam ser proficientes numa outra língua (normalmente o inglês) e a percentagem diminui drasticamente com a idade.
Numa tal Torre de Babel, o apelo da chanceler alemã Angela Merkel a uma união política para salvar o euro é uma esperança vã, até mesmo para o representante europeu mais leal. As barreiras linguísticas irão obstruir o debate político continental e impedir a criação de uma identidade verdadeiramente europeia. A paixão dos cidadãos, em vez da criatividade dos tecnocratas, deveria inspirar a unificação política. Mas a Europa ainda está longe desse momento: depois de mais de 60 anos de integração económica, um povo verdadeiramente europeu, com a sua própria identidade e língua, ainda está para surgir.A implicação lógica de uma moeda que junta 17 países é uma língua oficial comum. Os fundadores da UE acreditavam que uma língua franca emergiria através da interacção económica e social. Mas eles estavam errados. Para fortalecer o euro e estabelecer as bases para uma união política, os líderes europeus devem realizar um processo rápido e explícito de integração linguística.
Ao mesmo tempo, os governos nacionais poderiam minimizar os custos políticos e de transição na adopção de uma língua comum - seja ela qual for - utilizando as suas próprias línguas nos assuntos internos. Ao contrário de uma moeda, as línguas podem facilmente coexistir numa área económica. De facto, os países deviam promover as suas línguas nacionais e os seus dialectos regionais - um património cultural inestimável e fonte de identidade num mundo cada vez mais globalizado.
Mudar o curso da história europeia exige uma acção corajosa, particularmente a adopção de uma língua comum. Caso contrário, a história europeia continuará a ser um círculo vicioso de fragmentação e de esforços falhados ao nível da integração.
Sou uma defensora, embora crítica, deste AO. Recuso-me a rejeitá-lo liminarmente, e pugno por uma revisão dos pontos que carecem de correção. recente episódio da proibição de seguir a nova norma ortográfica por parte do novo diretor do CCB, Vasco Graça Moura, veio relançar, e incendiar, o debate sobre o Acordo Ortográfico (AO). Debate esse, em boa verdade, escasso, dado que, com honrosas exceções, apenas ouvimos as vozes dos detratores.
Tudo o que tenho lido e ouvido sobre o Acordo Ortográfico revela quase sempre posições extremas, a favor ou, mais frequentemente, contra. É claro que todos têm o direito de se sentirem lesados com estas mudanças, afinal aprenderam a ler e a escrever as palavras da sua língua de uma determinada maneira, e essa maneira de escrever, que se tornou automática, é agora alterada.
Mas o que mais me preocupa não é haver pessoas radicalmente contra ou a favor, é haver ainda muita ignorância e uma multiplicação de artigos de opinião que pouco fazem para esclarecer. Penso que caberia aos meios de comunicação social um papel pedagógico, expondo os factos, esclarecendo, chamando linguistas, professores, políticos e cidadãos a pronunciarem-se sobre o AO.
Este acordo é sobretudo político, fazendo com que os aspetos linguísticos, que deveriam estar à frente das preocupações dos redatores do acordo, quer em Portugal quer no Brasil, tivessem sido ou insuficientemente amadurecidos, ou demasiadamente sujeitos à lógica do acordo, o que implicou cedências, uma uniformização, mas não uma unificação. Não há uma norma absolutamente comum, não poderia haver.
Mas vamos aos factos. 1) Suprimiram-se as consoantes mudas c e p, mantendo-se quando são articuladas. 2) Suprimiram-se alguns acentos, sobretudo nas palavras graves. 3) Uniformizaram-se e clarificaram-se as regras da utilização do hífen. 4) Foram revistas as regras de utilização das maiúsculas e minúsculas. 5) Foram (re)introduzidas três novas letras no alfabeto, k, w e y. Apresentados os factos — não exemplifico por questões de espaço, mas bastaria uma folha A4 para fazê-lo —, passo a expor a minha perspetiva de falante e escrevente nativa da língua portuguesa, também na qualidade de professora de português e de tradutora. Parecem-me óbvias as vantagens de muitas das alterações propostas pelo AO, sobretudo para quem aprende a escrever: a supressão das consoantes mudas, a uniformização das regras da hifenização e da acentuação facilitam a tarefa de quem ensina e aprende a ler e a escrever, sendo as restantes menos relevantes deste ponto de vista. De entre todas, parece-me que a supressão das consoantes mudas, pela percentagem relativamente elevada de palavras sobre as quais incide, é especialmente importante. Os dois principais argumentos contra esta alteração prendem-se com: a) a etimologia e a tradição de uma certa norma gráfica e b) as exceções que esta regra admite. Quanto ao primeiro argumento, os detratores falam de uma descaraterização da língua, do perigo de fechamento das vogais que precedem as consoantes sacrificadas pelo AO; quanto ao segundo, são apontadas situações de possível dupla grafia, uma vez que, se se seguir o critério fonológico (“escrevo conforme falo”), é possível criar, no limite, regras “individuais” (ex.: se eu disser “característica” escrevo com C, se disser “caraterística” escrevo sem C).
Se em relação ao primeiro argumento, embora seja sensível ao critério etimológico da grafia, me custa aceitá-lo sem mais, em relação ao segundo, concordo com o risco de que estas exceções se revestem, sobretudo para quem tem de ensinar (e aprender) a ler e a escrever. De facto, como avaliar a escrita em função da articulação de cada aluno? Como ensinar a noção de norma se ela admite exceções e “regras facultativas”? Voltando ao primeiro argumento, o etimológico, posso contra-argumentar de várias formas: 1) Se a etimologia fosse um valor a preservar a todo o custo, não haveria sequer lugar a reformas ortográficas, como as de 1911 e 1945, em que se verificou, tanto numa como noutra, uma aproximação tendencial entre grafia e fonia (ainda deveríamos escrever “philosophia”, “addição” ou “auctor”, etc., se este critério fosse levado à risca); 2) A ortografia, ou forma correta de escrever, é um esforço para encontrar uma norma, o menos ambígua possível, de registar graficamente os sons da fala; como tal, implica convencionalidade e até um certo grau de arbitrariedade. Ora, parece-me ser desejável uma relação tão clara e inequívoca quanto possível entre a(s) letra(s) e os sons que pretendem transcrever, e penso que no caso da supressão das consoantes mudas se faz um avanço nesse sentido. 3) A análise de algumas palavras que são por certas pessoas articuladas com c ou p (e por outras não: ex.: característica vs. caraterística, sectorial vs. setorial, corrupção vs. corrução) mostra que estamos perante uma mudança linguística (fonética) ainda em curso, que tem vindo a ocorrer provavelmente desde o princípio do século XX. A nova norma trazida pelo AO dá conta dessa mudança, que não é ainda completa, pelo que admite, com as desvantagens referidas, a possibilidade de uma dupla grafia (em muito poucos casos, diga-se, e com tendência a desaparecer). 4) O argumento de que a ausência de consoante c ou p para abrir a vogal precedente não colhe. Quem apresenta este argumento, cita habitualmente palavras como setor, receção, aspeto, porque poderão vir a ser confundidas, respetivamente com s’tor (abreviatura de Sr. Dr.), recessão e espeto (o substantivo, não o verbo). E não sabe que este argumento não é totalmente fiável (por exemplo, nas palavras tactear ou exactidão o c não abre a vogal).
Em síntese: 1.º Parece-me que este acordo tem algumas vantagens (haver uma maior aproximação entre fala e escrita, e uma maior uniformidade de critérios, nomeadamente na hifenização); 2.º Tem, no entanto, muitas insuficiências e cria problemas novos onde não existiam (as “facultatividades”). 3.º Vai ser mais problemático para as escolas, para os professores que têm de ensinar a escrever e que se vão confrontar com as inconsistências da nova norma. 4.º Parece-me que algumas mudanças são empoladas e dramatizadas (e serão assim tantas e com tantos efeitos? Experimentem ler textos de jornal, aqui no PÚBLICO, por exemplo, onde as duas normas convivem, e não vão notar assim tantas diferenças). Aqui d’el-rei!, como irá um professor explicar ao pobre aluno que ‘Egito’ se escreve sem p e ‘egípcio’ com? Do mesmo modo que terá de explicar, por exemplo, que ‘dicção’ se escreve com c e ‘dicionário’ sem. E outras irregularidades (não só ortográficas) da língua. 5.º Ninguém é obrigado a escrever segundo a nova norma, a não ser que vá ser avaliado por isso. Fernando Pessoa recusou-se a aceitar a reforma ortográfica de 1911 e ninguém o multou por isso, Teixeira de Pascoaes também tinha muitas reservas em deixar de escrever “abysmo” com y porque, segundo ele, escrever abismo com i o convertia numa superfície banal.
Sou uma defensora, embora crítica, deste AO. Recusome a rejeitá-lo liminarmente, e pugno por uma revisão dos pontos que carecem de correção. É importante que surjam críticas, movimentos de desacordo, mas é importante também que haja uma discussão informada e serena, em que todos os lados e protagonistas estejam representados.
An old woman in a plain gray dress and a shopping bag full of oblong orange squashes called out to me from down the street. I had no idea what she was saying – and that couldn’t have made me happier. After all, I had come to her rural village – Malhadas, in the northeast corner of Portugal – with the specific hope of not understanding anyone.
Seth KugelA local woman in Malhadas, who thought the author was in town to read the electric meters.
“Ah, you don’t speak Mirandese,” she said, switching to Portuguese, a language I speak fluently after living for several years in Brazil. “I thought you were the guy who comes to read the electric meters.”
It was a reasonable guess: strangers in isolated Malhadas are not common. But in fact I was there to take a reading of sorts. I wanted to hear as much as I could of Mirandese, Portugal’s second official language — whether from the customers at the nearby Café Córdoba, old men chatting on a bench, or a woman on her way home from shopping. People build trips around all kinds of things: scenery, wildlife, food, folklore, music. Why not language?
I didn’t plan to learn Mirandese, mind you. Three days wouldn’t get me very far, and the language, spoken by just 10,000 or 15,000 people on what is known as the Planalto Mirandês (or Mirandese Plateau), who all also speak Portuguese, is hardly a useful tongue. But I had often run across references to isolated linguistic pockets in Europe, and this time I wanted to explore one first hand. And I could think of few defining travel concepts more frugal than a language: some say talk is cheap, but in fact, it’s free.
In 1999, Mirandese became Portugal’s second official language, thanks to regional lobbying and a lawmaker sympathetic to the cause. That doesn’t mean much in practice, but symbolically it was a matter of great pride to just about everyone I met; the distinction all but stopped dismissive talk of Mirandese as a dialect of Portuguese. A Romance language in the Astur-Leonese family, it is now taught as an elective in the region’s public schools, and bookstores sell a handful of books written in or translated into Mirandese, including a translation of the epic Portuguese poem “The Lusaids” and that oft-translated children’s classic, “L Princepico” — “The Little Prince.”
The entire region spoke Leonese, a language that predates Mirandese, when the area was part of the kingdom of León in the Middle Ages, explained Carlos Ferreira, a Mirandese speaker who runs a regional tourism organization. After Portuguese independence in the 12th century, the Mirandese region became distant and isolated enough from the rest of the country that efforts to preserve the language began.
The language is least in evidence in Miranda do Douro, at about 2,000 inhabitants the region’s largest town. But I did visit the beautifully preserved old city, where the Andrade book store sells Mirandese books and a museum, Museu da Terra de Miranda, celebrates the region’s agricultural and cultural traditions with exhibits of ancient handmade furniture, farm and artisan tools, and a collection of capas de honra – traditional and oddly religious-looking robes that until early last century were daily dress for men.
Instead of staying in Miranda do Douro, as the mostly Portuguese and Spanish tourists who come every summer do, I searched for a room in one of the surrounding smaller towns. I chose the cheapest option: the Restaurante Residencial Gabriela in Sendim, about a half-hour from Miranda. For 25 euros (about $30) a night, breakfast included, I spent two days in one of a dozen or so immaculate, modern rooms that would easily fetch two or three times as much in other parts of Europe.
As I found out that night at the inn’s restaurant, I was not just the only guest at the hotel, but also the only diner. It took just a few minutes for Lurdinhas Fernandes, who runs the place with her sister, to invite me to eat with the family in the kitchen. They were gathered next to the fireplace that simultaneously warms people, grills meat and smokes the homemade alheira sausage that hung overhead.
The centerpiece of dinner was posta Mirandesa, the region’s signature dish. It’s a veal steak cut from the hind quarters of Mirandese cattle, served with a vinaigrette sauce that Lurdinhas claimed was invented by her grandmother for whom the restaurant is named. It came with quartered and fried potatoes, salad, a pitcher of red wine, and for dessert, a mild cheese of mixed cow’s and sheep’s milk served with exquisite homemade jams in seven (!) flavors: pear, squash, fig, plum, cherry, sour cherry and quince.
They would end up charging me 21 euros, but it was more than worth it, especially when you include the value of the hours-long Mirandese lesson I got at the table from Lurdinhas’s husband, Altino Martins.
Altino, who had grown up speaking Mirandese in the village of Paradela on the Douro River bordering Spain, helped me through a children’s illustrated vocabulary book I had bought in Miranda do Douro hours earlier: “Las Mies Purmeiras Palabras an Mirandés” (“My First Words in Mirandese”). We worked on pronunciation and he pointed out words that were quite different from their Spanish or Portuguese equivalents: sheep is canhona, knee is zinolho, snowflake is farrapa. Most memorable was how Mirandese distinguishes grandmother and grandfather, both of which are spelled abó. When necessary, grandfather becomes l abó de las calças (grandparent of the pants) and grandmother is l’abó de la saia (grandparent of the skirt). Insensitivity to male cross-dressers and female jeans-wearers notwithstanding, can we all agree that that is adorable? (Another favorite: the phrase for rainbow is cinta de la raposa, fox’s belt.)
Altino explained how isolated the region had been even in the 1950s, when he was a small child. He did not see his first motor vehicle until he was 5 or 6; later, Spanish engineers building a hydroelectric dam on the river “zoomed” through town in cars going 20 or 25 miles per hour, delighting and terrifying the children. He also said that when local donkeys were no longer able to work, villagers would lead them to the cliff by the river and push them over, their bones to be picked clean eaten by vultures.
As I wandered the villages over the next two days, I found fluency in Mirandese to be more common among older villagers, but one of many exceptions is Duarte Martins (not related to Altino), a young man from Malhadas who is a Mirandese teacher. “I speak Mirandese to defend my way of being, my way of interpreting the world,” he said over beers in the Rochedo Bar in Miranda do Douro. Indeed, he added, there are locals with whom he only speaks Mirandese.
I was welcome to attend his class, he said, but school was out for Christmas break. Instead, he gave me several editions of La Gameta, the annual journal of student works in Mirandese he has professionally published. (“La Gameta” means “The Lentil.”)
Because written Mirandese resembles Spanish and Portuguese, I could at least catch the drift of the stories and essays in the journal – some of which were clearly personal and others which seemed to be recounting folk tales told by family or neighbors – stories of hens and monsters and shepherds and religion. History lent a poignant note to the texts: Mirandese had been forbidden under the Portuguse dictator António de Oliveira Salazar (who ruled from 1932 to 1968); many of the students’ parents had not learned to speak Mirandese, let alone write it. Now their children could see their own Mirandese works in print.
The day after I met Duarte, I set off to visit more villages. In tiny Paradela, Altino’s birthplace, I stopped in a little cafe called O Paradela. They weren’t serving lunch, but a friendly young woman named Teresa seated me by the fireplace and said she could make me a plate of housemade chouriço (the local sausage), ham and cheese (4 euros). I thumbed through an edition of La Gameta as I waited.
As she brought me the food, she saw what I was reading. “Hey, I wrote something in there,” she told me. “That’s from 2004, right?” It was. She leafed through until she found a short story called “L pastor i l spagnolo,” (“The Pastor and the Spaniard”). At the bottom, it read “Teresa Preto, 9th Grade.”
I couldn’t make it all out, but the gist was clear: a Mirandese shepherd was tending his flock near the border and was approached by a Spaniard. “Who eats more, the white sheep or the black sheep?” the Spaniard joked. The shepherd, preferring not to be bothered, responded with a racy nonanswer involving kissing the sheep’s posterior, and the Spaniard learned never to pester local shepherds again.
It may not have been great literature, but its setting could not have been more local: the Spanish border was just a few hundred yards away. I drove up after lunch, stopping at the edge of a striking cliff overlooking the Douro River and, beyond it, Spain. No shepherds or Spaniards in sight. I wondered, though, if this was the spot where old donkeys met their sad fate. My gaze wandered to the still-functioning hydroelectric dam, which brought the first cars (ls purmeiros carros, if my Mirandese is correct) to the village little more than half a century ago.
Não é fácil chegar a Tugu, a nordeste de Jacarta, capital da Indonésia. Mesmo ao fim-de-semana, o trânsito que liga à aldeia é caótico, devido à proximidade do porto de Tanjung Priok, o principal do país, com cerca de 430 hectares.
Apesar dos inúmeros camiões que entopem a estrada principal, sente-se uma tranquilidade ao chegar a Tugu, um ex-líbris de Portugal. Junto ao cemitério e à igreja branca datada do século XVII, há um espaço aberto e arvoredo que lembra o centro de algumas aldeias portuguesas, até pelos idosos que por ali vão deixando cair o tempo.
Os ancestrais dos tugu estão ligados aos escravos dos portugueses na Índia que foram levados para a Batávia, antiga Jacarta, por holandeses. Ainda no século XVII, após o fim do império colonial português no Sudeste Asiático, chegaram àquela zona comerciantes, artesãos e aventureiros oriundos de Malaca, Ceilão, Cochim e Calecute. O cruzamento entre os dois grupos fez nascer os chamados “Portugueses Negros”, que tinham em comum a língua portuguesa e a religião cristã.
Os holandeses esforçaram-se por apagar as marcas portuguesas, alterando nomes e impondo o calvinismo mas a língua papiá tugu resistiu. O último falante deste crioulo morreu em 1978. Agora, o idioma é apenas usado na música.
Há ainda uma biblioteca, construída com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, onde a comunidade pode ler em português. A zona é organizada, limpa e agradável e é comum ouvirem-se latidos, ao contrário do que acontece em Jacarta, já que para a maioria dos muçulmanos os cães são animais sujos.
Amor nunca consumado
Arthur, Lisa e Andre são três dos sete irmãos da família Michiels, uma das 150 famílias habitantes de Tugu, embora existam outros elementos da comunidade espalhados pelo país e também na Holanda.
Arthur, o porta-voz da comunidade, é o único que já visitou Portugal. Mas o país está no coração dos restantes, que provavelmente nunca terão oportunidade de pisar terras lusas.
A entrevista decorre numa sala que serve para os ensaios do grupo de música Keroncong Tugu e também para exibir prémios e fotografias. Há uma bandeira portuguesa a ocupar boa parte de uma parede, debaixo da fotografia dos pais da família Michiels, prémios e fotografias com altas personalidades do país, incluindo o actual Presidente da República, Susilo Bambang Yudhoyono.
Apesar de já terem passado 11 gerações desde a chegada dos portugueses a Batávia, alguns deles ainda têm características físicas europeias como uma senhora com cabelos ruivos encaracolados. Andre tem os olhos castanhos e não pretos, contrariando a fisionomia predominante na Indonésia, e também o nariz do irmão Arthur é diferente do da maioria. O porta-voz da comunidade diz que carrega “muitos sentimentos no coração”, porque quando viajou até Portugal não se sentiu português e na Indonésia distancia-se dos restantes por ter um nome europeu. “Quem sou eu?”, questiona, mostrando-se “orgulhoso, mas também triste”.
Até à geração dos pais de Lisa, os tugu tentavam casar entre si, mas agora a situação é diferente, pelo que as características físicas europeias deixarão de se notar, diz.
Os tugu ainda conservam algumas tradições portuguesas, como “beber algum vinho no Natal e no Ano Novo”, mas “a comida é totalmente diferente”, refere Lisa.
Música popular e Ronaldo
O estilo de música popular Keroncong começou a ser tocado com a chegada dos portugueses e do cavaquinho à Indonésia no século XVI. Hoje existem vários músicos de Keroncong no país, mas o Keroncong Tugu, que nasceu em 1998 – embora na comunidade já existisse outro grupo –, é muito famoso porque os indonésios sabem que o estilo nasceu naquela aldeia. O Keroncong alia elementos ocidentais e orientais, algo que também é visível nas vestes usadas pelo grupo.
Segundo Lisa Michiels, “ultimamente os jovens estão a gostar mais do keroncong”. “Nós tentamos apresentar o estilo nas escolas e na comunidade jovem”, acrescenta.
Através da música, os tugu têm aparecido várias vezes na televisão, viajaram pelo país e até para o estrangeiro, como Holanda, Singapura e Malásia. “Queremos mesmo muito, um dia, tocar esta música em Portugal”, confessa Lisa.
Em 2008, foi criado o grupo de dança tradicional portuguesa Romeiros de Tugu, com a ajuda do Instituto Camões. Há ainda um grupo de música para os mais novos, a maioria deles da família Michiels, sendo que durante o encontro com o PÚBLICO há uma criança que canta “Três pombinhas a voar”.
Além disso, os tugu participam em eventos e organizam o festival Mandi-mandi na primeira semana de Janeiro na aldeia, que desperta a curiosidade dos visitantes.
Arthur, que se diz orgulhoso de a comunidade tugu ser portuguesa, afiança que os indonésios gostam de Portugal não só porque os portugueses não tiveram uma atitude “expansiva” na Indonésia como os holandeses, mas também por causa do futebol. “O Cristiano Ronaldo é como um deus”, diz, rematando com um riso aberto.
A música como suporte da cultura tugu
A comunidade faz questão de convidar as pessoas de fora para visitarem Tugu e aprenderem mais sobre a cultura, cujo maior sustentáculo é a música.
O Instituto Camões, que neste momento não tem leitor na Indonésia, ofereceu aulas de Português à comunidade tugu e Lisa e Arthur aproveitam a entrevista para ir recordando palavras e até pratos da gastronomia lusa.
Os irmãos falam com nostalgia também do tempo em que aprenderam a cozinhar e a fazer “renda” e do carinho e atenção que dizem ter recebido do último embaixador português, Carlos Frota, que se reformou este ano. Actualmente, não há embaixador português na Indonésia.
Agora apenas podem treinar o português quando contactam com “alguns amigos portugueses” nas redes sociais. Mas os irmãos estão muito gratos pelas aulas, porque antes disso cantavam as músicas sem saberem o significado das letras.
“O meu pai apresentou-nos a cultura quando ainda éramos crianças. É por isso que nós amamos a nossa cultura e queremos que a nossa próxima geração também goste da cultura e a proteja”, vinca Lisa.