A descoberta do “petróleo de xisto” nos Estados Unidos constitui uma das transformações geopolíticas mais relevantes dos últimos anos e terá repercussões enormes na política mundial.
O preço do petróleo está nos 80 dólares (mais precisamente nos 83). Eis um dos acontecimentos mais relevantes da política mundial. Há poucos meses custava cerca de 120 dólares. A redução do preço resulta de uma maior produção, desde o “petróleo de xisto” nos Estados Unidos até ao “pré-sal” no Brasil e em Angola. Mas também de uma menor procura, como resultado da crise económica, tanto nos países desenvolvidos como nas economias emergentes.
Petróleo de Xisto
A descoberta do “petróleo de xisto” nos Estados Unidos constitui uma das transformações geopolíticas mais relevantes dos últimos anos e terá repercussões enormes na política mundial. Os Estados Unidos tornaram-se independentes energeticamente e a partir do próximo ano tornar-se-ão exportadores de petróleo. Apesar das fraquezas conjunturais, a prazo os Estados Unidos serão mais poderosos. Como disse um famoso historiador norte-americano, “os Estados Unidos não só nasceram em liberdade mas também com sorte”. E a sorte continua. Além disso, ao contrário de muitos países, nos EUA a descoberta de petróleo não provoca corrupção. Desenvolve novas tecnologias, novas empresas e cria empregos.
O petróleo de xisto serve igualmente como uma arma geopolítica. E Washington já começou a utilizá-la. O Financial Times deste fim de semana publicou um artigo sobre o preço do petróleo com dados interessantes. Para a Venezuela manter as finanças públicas equilibradas – e estamos a falar de uma país que não tem acesso ao financiamento dos mercados internacionais – e não incorrer em bancarrota, o preço do petróleo deverá ser 160 dólares o barril. Para o Irão, seria 130 dólares. E para a Rússia, seria 110 dólares. Isto significa que a manter-se o actual preço de 80 dólares, o futuro destes três países não será brilhante.
Em particular, para a Rússia, a situação pode tornar-se dramática. Como resultado das sanções económicas, os seus bancos deixaram de ter acesso aos mercados, o que torna cada vez mais difícil o crédito às empresas e aos consumidores, afectando gravemente a economia russa. Preocupado com a situação económica, Putin não recorreu, pelo menos por agora, à arma do gás, tendo assinado um acordo com a Ucrânia. Com uma dívida elevada, a Gazprom precisa de vender gás à Europa; e a China não é a melhor alternativa porque, aproveitando as dificuldades da Rússia, impôs um preço do gás inferior ao praticado com a Europa.
Ao mesmo tempo, a maioria das empresas norte americanas produtoras de petróleo de xisto, para ter lucro, precisa de um preço do barril de petróleo entre os 40 e os 60 dólares. Ou seja, os Estados Unidos enfraquecem os seus adversários externos sem prejudicarem a sua economia. A outra boa notícia refere-se à transferência de riqueza e de recursos financeiros dos produtores para os consumidores de petróleo. Ou seja, num país como Portugal, todos nós. Um bom exemplo de alinhamento dos interesses transatlânticos.
O Parlamento aprovou mais uma proibição. No Irão passou a ser proibido que os médicos pratiquem actos que impeçam os pacientes de ter descendência de forma permanente. A lei vai no mesmo sentido das indicações do líder supremo, o Ayatollah Ali Khamenei, que pretende duplicar a população do Irão. No princípio do ano, Ali Khamenei referiu mesmo que “o Irão deveria ser um país de 150 milhões de pessoas e não de 77″, como é na actualidade. A lei prevê uma excepção à regra: os médicos poderão levar a cabo este tipo de intervenções quando não efectuá-las resulte em colocar em risco a saúde do paciente. A lei prevê também outra proibição complementar: os meios de comunicação social ficam impedidos de publicarem artigos que possam pormover o controlo da natalidade. Em Junho, o Parlamento aprovou uma norma geral que estabelece penas de prisão para quem efectue procedimentos de controlo de natalidade. A justificação da lei foi dada pela “necessidade de incrementar a fertilidade no país e impedir que haja uma diminuição da população.” Antes das proibições, as vasectomias deixaram de ser financiadas, em prol da natalidade.
Dentro da maré de proibições, as autoridades iranianas não permitirão que a BBC volte a emitir do país. A promessa foi assegurada pelo Ministro da Cultura e Orientação Islâmica, Alí Yanati. “Não se deu nenhuma licença À BBC e a redacção de notícias daquele canal não irá reabrir. Está claro que os foram indiferentes ou que se opuseram à revolução islâmica e tomaram medidas nesse sentido, nunca gozarão do nosso apoio.” A decisão oficial é produzida alguns dias após se ter anunciado a reabertura para breve da Embaixada britância em Teerão, encerrada em 2011 como protesto político contra a violenta repressão das autoridades iranianas aos manifestantes iranianos que se seguiram à polémica reeleição do Presidente Mahmud Ahmadineyad.
Dois anos após os acontecimentos, os serviços secretos do Irão passaram a considerar que qualquer forma de colaboração com a BBC seria considerada como um acto de espionagem. De passagem, dezenas de pessoas foram acusadas de cooperar com a edição persa da BBC, à qual milhares de iranianos acedem através de satélites, também eles proibidos. A partir de 2013, a repressão aumentou e assumiu as formas de ameaças de morte a jornalistas e seus familiares, perfis falsos nas redes sociais, campanhas de intimidação e descrédito em meios de comunicação afectos ao regime iraniano e que incluíram informações falasas sobre hábitos sexuais, corrupção e tráfico de droga. Recentemente foram detidos e interrogados quatro jornalistas norte-americanos ao serviço do The Washington Post, dois deles fotógrafos. No passado dia quatro de Agosto, Hassan Rohani cumpriu o primeiro ano como Presidente do país mas têm sido moderados os avanços na economia e no capítulo da (falta de) liberdade.
Uma onda de euforia tomou conta do Irã depois que atletas locais conquistaram nos Jogos de Londres a maior safra de medalhas olímpicas de toda a história do país.
Até agora, a República Islâmica faturou quatro ouros, cinco pratas e um bronze. É mais do que a soma dos pódios de todo o restante do Oriente Médio reunido.
A Olimpíada londrina atiça o patriotismo à flor da pele dos iranianos e tem dominado conversas em comércios, transportes públicos e rodas de amigos. Os rostos dos heróis nacionais estão dia após dia estampados nas capas de jornais e revista
Mas a performance esportiva não escapou de ser contaminada pela política num país onde um regime ideológico governa uma sociedade altamente polarizada.
Autoridades editam a transmissão das competições, controlam cada gesto dos atletas --proibidos de falar com jornalistas estrangeiros - e apresentam cada feito como glória à Revolução Islâmica de 1979, que originou o atual regime.
A mão onipresente do governo gerou situações embaraçosas. A emissora estatal Irib teve que interromper as imagens da entrega de medalha ao campeão da luta greco-romana na categoria até 60 kg, Omid Noroozi, depois que ele apertou a mão de uma representante do COI (Comitê Olímpico Internacional).
A lei iraniana veta qualquer contato físico em público entre homens e mulheres sem vínculos familiares.
Com um batalhão de repórteres em Londres, as redes de TV iranianas só transmitem eventos que tenham participação de atletas nacionais e com imagens em "delay".
Modalidades que deixam corpos à mostra, casos de vôlei de praia e natação, são quase sempre ignoradas.
Para contornar as restrições, milhões de iranianos assistem a canais esportivos internacionais por meio de antenas parabólicas, que estão sujeitas a apreensão e multa.
UMA POPULAÇÃO DIVIDIDA
Simpatizantes do regime apoiam o cerco aos Jogos em nome da preservação moral. Eles acreditam que o logo da Olimpíada de 2012 é um símbolo sionista (pró-Israel) e endossam a proibição aos atletas iranianos de enfrentar competidores israelenses.
Para os apoiadores do governo, a recusa do Reino Unido em conceder um visto para que o presidente Mahmoud Ahmadinejad pudesse ir a Londres assistir aos Jogos prova que existe uma campanha contra o Irã.
"As medalhas são boas para o povo e para o governo", comemora o taxista Mohamad, 58, um dos apoiadores.
Para os críticos ao regime, as conquistas obtidas pelos medalhistas iranianos não devem nada às autoridades. "Estou muito orgulhoso dos nossos atletas, que fazem bonito apesar do descaso do governo em relação ao esporte", diz o médico Reza, 33.
A Olimpíada também acirra o ressentimento de muitos iranianos em relação à imagem internacional do país.
"As políticas do governo deixaram-nos isolados do mundo. E é por isso que muita gente associa os atletas iranianos aos dirigentes iranianos", lamenta Atiyeh, 23, que é funcionária de uma agência de turismo.
“Majid Jamali Fashi, espião da Mossad [serviços secretos israelitas] e responsável pelo assassinato do nosso cientista nuclear Massoud Ali Mohammadi, foi enforcado na manhã desta terça-feira na prisão de Evine, em Teerão”, informa a agência oficial Irna, citando um comunicado das autoridades iranianas.
Majid Jamali Fashi foi considerado o principal responsável pelo atentado com uma moto armadilhada que provocou a morte ao físico nuclear conhecido internacionalmente. Foi condenado à morte em Agosto de 2011 pelo Tribunal Revolucionário de Teerão. Segundo a acusação, Fashi agiu instigado pela Mossad, que lhe teria pago 120 mil dólares (mais de 93 mil euros).
Numa “confissão” transmitida pela televisão, Fashi afirmara ter recebido em Israel uma “formação” para preparar o assassinato de Mohammadi – um professor da Universidade de Teerão que trabalhava também para as Forças Armadas iranianas.
A actividade nuclear iraniana causa preocupação na comunidade internacional por causa da sua suposta dimensão militar: o Irão nega a acusação, mas há sanções aplicadas e seis resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre o assunto.
Após o homicídio de Mohammadi, três outros físicos nucleares foram mortos em atentados à bomba levados a cabo na capital iraniana. O Irão acusou Israel e os Estados Unidos de prepararem os ataques.
Os líderes da China, da Coreia do Norte, do Zimbabwe e de Cuba foram incluídos pelos Repórteres Sem Fronteiras (RSF) numa lista dos "Predadores da Liberdade de Imprensa" referente a 2010, por censurarem, prenderem ou torturarem jornalistas.
O Presidente Hu Jintao, secretário-geral do Partido Comunista Chinês, garante a implementação do seu programa de uma "sociedade harmoniosa" fazendo com que a polícia e o departamento de propaganda impeçam o surgimento de qualquer imprensa livre, disse aquele grupo defensor da liberdade dos jornalistas.
Quanto ao "paranóico Querido Líder" norte-coreano, Kim Jong-il, proibiu os meios de comunicação social de debaterem a fome que matou milhões de norte-coreanos durante a década de 1990. E em cada dia que passa as suas actividades iniciam os telejornais e ocupam as primeiras páginas dos jornais, bastando escrever ou pronunciar mal o seu nome para se ir parar a um campo de reeducação.
Do Presidente zimbabweano Robert Mugabe afirma-se que "arrasta os pés, sabotando o Governo de Unidade Nacional e garantindo que a imprensa independente não se expresse livremente", enquanto os seus adjuntos mantêm um rígido controlo da comunicação social estatizada.
No que se refere ao Presidente do Conselho de Estado de Cuba, Raúl Castro, "tem-se comportado pouco melhor do que o irmão (Fidel) no que diz respeito aos direitos humanos, apesar de alguns sinais cautelosos de uma possível abertura". E o chamado período de transição testemunhou a contínua perseguição de jornalistas independentes, com brutalidade policial e rusgas pela Segurança do Estado.
Outro dos "predadores" denunciados pelos RSF é o Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, agora muito interessado em ser membro pleno da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na qual o seu país já tem o estatuto de observador. Dele se diz que mantém o controlo absoluto do seu pequeno estado produtor de petróleo, limitando-se a imprensa privada a alguns pequenos jornais. No país não há sindicato de jornalistas nem qualquer organização que defenda a liberdade de imprensa.
No rol das "poderosas pessoas que estão por trás das violações da liberdade de imprensa" surgem de igual modo o chefe da junta militar birmanesa, general Than Shwe, o chefe dos taliban, mullah Mohammad Omar, o Presidente da Bielorússia, Alexandre Lukashenko, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, o rei Abdullah da Arábia Saudita e o Líder Supremo da República Islâmica do Irão, Ali Khamenei, tal como o Presidente desse mesmo país, Mahmoud Ahmadinejad.
Para além do coronel líbio Muammar Kadhafi e do Presidente sírio, Bashar al-Assad, a enorme lista dos "predadores da liberdade de imprensa" refere ainda os cartéis mexicanos de narcotraficantes, o grupo separatista basco ETA e as redes italianas do crime organizado, como a Cosa Nostra, a Camorra, a 'Ndrangheta e a Sacra Corona Unida.
No que diz respeito às terras do Médio Oriente, os retratos elaborados pelos RSF incluem tanto as Forças de Defesa de Israel como a Força Executiva do Hamas e as forças de segurança da Autoridade Palestiniana.
No ano passado houve em todo o mundo pelo menos 676 aplicações da pena de morte e, destas, 360 ocorreram no Irão, segundo o relatório anual que a Amnistia Internacional acaba de divulgar. Houve execuções em menos países, mas os que aplicaram a pena de morte fizeram-no “a um ritmo alarmante”.
Os dados divulgados são aqueles que a Amnistia Internacional conseguiu confirmar, mas ficam muito aquém do verdadeiro número de execuções. De fora fica, por exemplo, a China, que continua a executar “milhares” de condenados à pena de morte apesar de as autoridades continuarem a manter secreta essa informação, sublinha o relatório agora divulgado. A AI também não obteve informações relativas à Síria ou à Malásia, onde é aplicada a pena de morte.
O Irão surge na lista logo após a China, com 360 execuções (mais 108 do que em 2010), seguido da Arábia Saudita, com 82, e do Iraque, com pelo menos 68 aplicações da pena de morte. Os Estados Unidos estão em quarto lugar, com 43 execuções, menos três do que em 2010, logo depois o Iémen com 41 e a Coreia do Norte, com “pelo menos 30” execuções confirmadas.
Os EUA foram o único país do G8 – que inclui também o Japão, Canadá, Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Rússia – a aplicar a pena de morte, uma vez que no Japão não houve nenhuma execução, o que aconteceu pela primeira vez em 19 anos.
Apesar de o Irão ser o país onde foram confirmadas mais execuções, a Amnistia Internacional alerta para a probabilidade de o número ser bastante superior e refere ter “informações credíveis” acerca de 274 execuções que não foram oficialmente confirmadas. Segundo a organização, pelo menos três pessoas executadas no Irão tinham menos de 18 anos na altura em que foi cometido o crime de que foram acusadas e condenadas. Entre essas acusações pode estar, por exemplo, o adultério ou a sodomia, no caso do Irão, a “feitiçaria” na Arábia Saudita e os crimes relacionados com o consumo ou tráfico de droga em mais de dez países.
Os métodos escolhidos para as execuções vão desde a decapitação ao enforcamento, fuzilamento ou injecção letal e em todo o mundo há pelo menos 18.750 pessoas condenadas à pena de morte, adianta a AI.
Em 2011 a pena de morte foi aplicada em 20 países, menos do que os 23 onde houve execuções em 2010, mas em menos países houve mais aplicações da pena capital, e no Médio Oriente esse aumento foi de cerca de 50% sobretudo devido às execuções no Irão, Iraque, Arábia Saudita e Iémen.
A Bielorrússia é o único país da Europa ou dos antigos países da União Soviética onde houve aplicação da pena de morte e pelo menos duas pessoas foram executadas. Em grande parte das condenações à pena capital os julgamentos não decorreram de acordo com os padrões internacionais de um julgamento justo, adianta a AI.
“A grande maioria dos países pararam de recorrer à pena de morte”, sublinhou em declarações à AFP o secretário-geral da Amnistia Internacional, Salil Shetty. Ao todo, 96 países já aboliram por completo a pena capital, outros nove aboliram-na para crimes de delito comum e 35 são ainda considerados abolicionistas de facto por não procederem a qualquer execução há pelo menos 10 anos.
Luís Braga, coordenador do grupo sobre a pena de morte da Amnistia Internacional em Portugal, destaca sobretudo três situações em relação à pena de morte: os Estados Unidos, “onde há problemas de discriminação relacionados com a origem social e étnica”, a China, “que é o desconhecido”, e o Médio Oriente. Depois, no caso da Europa, há a situação na Bielorrússia, “É um objectivo importante que a Europa seja um território livre da pena de morte”. PÚBLICO
Um tribunal de recurso iraniano confirmou a condenação a seis anos de prisão do cineasta Jafar Panahi, que fica também proibido de realizar filmes durante vinte anos, viajar ou dar entrevistas.
Há vários anos que o Irão figura nas listas de países onde se registam maiores níveis de censura estatal à actividade online dos seus cidadãos, a par com nações como a China, Arábia Saudita, Síria, Cuba, Vietname, Turquemenistão e Uzbequistão.
Precisamente para tornar agilizar este trabalho de censura, o regime iraniano está a desenvolver uma rede paralela de Internet para os seus cidadãos, em vez de se limitar a bloquear sites como o Facebook e sobretudo blogues reaccionários.
A nova rede já começou a ser experimentada nas escolas públicas. “A rede interna vai fortalecer o país e preservar a nossa sociedade e a ameaça das invasões culturais”, disse o Presidente Mahmud Ahmadinejad recentemente.
Actualmente, o acesso à Internet é dificultado: os utilizadores precisam de pedir permissão estatal ou pagar preços incomportáveis pela ligação.
Apesar destas dificuldades, as estimativas dão conta que quase 40 por cento dos habitantes do Irão estão ligados à Internet. O Irão foi, aliás, o primeiro país islâmico a ligar-se à Internet no Médio Oriente e o segundo da região, depois de Israel. Porém, desde a chegada à presidência do país de Ahmadinejad que a censura tem vindo a aumentar.
De acordo com o “The Wall Street Journal”, as autoridades estão a explicar aos cidadãos que com a adopção desta rede paralela e interna, estes pagarão menos pela Internet e continuarão a salvaguardar os princípios islâmicos da revolução.
Em Fevereiro, enquanto os protestos se estendiam pelo mundo árabe exigindo mais democracia, o director das telecomunicações do Irão, Reza Bagheri, anunciou que em breve 60 por cento dos lares do país e das empresas teriam acesso à nova rede interna de comunicação e que, dentro de dois anos, esta estaria disseminada por todo o país.
O OpenNet, que monitoriza a censura online no mundo, também já reconheceu que o Irão produziu tecnologia própria para filtrar e bloquear os conteúdos de Internet no país.
No seu mais recente relatório, este instituto adverte para o crescente protagonismo dos Guardiães da Revolução (que velam pela pureza religiosa do país) neste domínio.
Durante as eleições presidenciais de 2009, o regime bloqueou as páginas dissidentes.
Alguns media locais dão igualmente conta que o país terá o seu próprio sistema operativo, em vez de usar o omnipresente Windows, da Microsoft, e que está igualmente a arranjar alternativas aos serviço de correio electrónicos mais usuais, nomeadamente o Gmail, Hotmail e Yahoo.
A luta de poder entre o Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e o Supremo Líder, ayatollah Ali Khamenei, parece estar a atingir o apogeu com prisões e acusações de bruxaria, slogans nas orações nas mesquitas e um ultimato.
O motivo imediato do estranhamente
público desentendimento entre as duas principais figuras da República Islâmica é o cargo do ministro da Informação e Espionagem, Heydar Moslehi, que foi afastado por Ahmadinejad e recolocado no cargo por Khamenei.
Ahmadinejad ficou então 11 dias sem presidir a reuniões do Governo num aparente protesto, e nas reuniões a que assistiu, o ministro não esteve presente. Agora, segundo relatos de Teerão, o Supremo Líder terá feito um ultimato: ou Ahmadinejad aceita o ministro, ou terá de se demitir.
Embora a composição do Governo seja competência do Presidente, o Supremo Líder é quem tem a última palavra na gestão da República Islâmica. E Khamenei tem vindo nos últimos dias, aparentemente, a mostrar este poder. Primeiro, com a detenção de vários aliados do chefe de gabinete de Ahmadinejad, Esfandiar Rahim Mashaei, acusados de serem “mágicos” e de terem invocado “espíritos”, segundo o diário britânico "The Guardian". Depois, nas orações de sexta-feira, as mais importantes da semana, muitos líderes religiosos sublinharam a importância do Supremo Líder e multidões responderam com cânticos: “Morte aos opositores do Supremo Líder”, descreve o "New York Times".
Nacionalismo pagão
No centro da disputa parece estar justamente o chefe de gabinete de Ahamdinejad, Esfandiar Rahim Mashaei, cuja filha é casada com o filho de Ahmadinejad, e que tinha já sido o motivo de uma repressão do ayatollah Khamenei a Ahmadinejad em Agosto passado. Mashaei, que muitos vêem como o possível candidato à sucessão a Ahmadinejad (que já não se poderá candidatar) em 2013, tinha defendido no ano passado uma “escola iraniana” do islão, levando à indignação vários líderes religiosos, que o acusaram de “nacionalismo pagão”.
Desta vez, os poderosos Guardas da Revolução, cuja influência terá sido essencial para a reeleição de Ahamdinejad, pareceram alinhar-se com a autoridade máxima no Irão. “As pessoas [próximas do Supremo Líder] não estão a apoiar-se em espíritos, fadas e demónios”, comentou o comandante dos Guardas, Mohammad Ali Jafari. Os Guardas da Revolução têm-se afastado de Ahmadinejad nos últimos meses à medida que as tendências “seculares” estão a ser mais visíveis.
O Supremo Líder iraniano ayatollah Ali Khamenei saudou hoje o que descreveu como o “movimento de libertação islâmico” em curso no mundo árabe, aconselhando directamente os povos do Egipto e Tunísia a unirem-se na religião e contra o Ocidente.
“O acordar do povo islâmico egípcio é um movimento de libertação islâmico e, em nome do Governo iraniano, saúdo os povos egípcio e tunisino”, afirmou durante as orações desta manhã, em Teerão, transmitidas pela televisão estatal. Khamenei elogiou a “revolução” em curso e a “explosão da raiva sagrada” no Médio Oriente.
As declarações do líder espiritual iraniano – o qual condenara veementemente os protestos maciços de rua no Irão contra a reeleição do Presidente, Mahmoud Ahmadinejad, em Junho de 2009 – vão seguramente aumentar os receios no Ocidente, e em Israel, de se assistir a um ganho de força do movimento islamista e, em particular, da Irmandade Muçulmana em eleições livres no Egipto, onde aquela organização está banida como partido.
Khamenei dirigiu-se directamente aos povos do mundo árabe, região predominantemente de muçulmanos sunitas que historicamente sempre viu o Irão xiita como um adversário, e instou-os a estarem “alerta” para as influências ocidentais que “subvertem as revoluções”.
E, descrevendo-se a si mesmo como “um irmão na religião”, apelou ao exército egípcio para apoiar os manifestantes que exigem a demissão do Presidente, Hosni Mubarak, e “olhar na direcção do regime sionista”, numa referência a Israel – que tem um tratado de paz com o Egipto.