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A-24

Allez les Bleus et vive la France!

por A-24, em 11.12.14
Raquel Vaz-Pinto via Malomil

A França é a nação anfitriã do próximo Campeonato da Europa em 2016. E há uma grande expectativa que les bleus consigam repetir os feitos do Europeu de 1984 e do Mundial de 1998 quando Michel Platini e Zinedine Zidane lideraram a equipa francesa à vitória … em casa. Tudo indica que a França já fez a sua «estrada de Damasco» e depois de anos muito tumultuosos voltou à ribalta. Foi difícil levar a cabo a renovação da sua selecção depois de uma geração de ouro que «terminou» em 2006 com a derrota na final face à Itália. Aliás é sempre difícil levar a cabo uma renovação depois de uma geração excepcional (mesmo com imenso talento individual) sendo a Espanha de hoje o caso mais evidente. Em relação à França assistimos a exibições decepcionantes que culminaram com o seu afastamento na fase de grupos no Mundial em 2010. Foi pública a divisão do grupo, a contestação relativa ao episódio Anelka e a relação difícil com o treinador Raymond Domenech. O «escândalo» de ter ficado em último lugar do grupo na África do Sul foi tão grande que ficou célebre a conversa entre o capitão Thierry Henry e o Presidente francês de então Nicholas Sarkozy sobre o «fiasco francês».
Mas a julgar pela presença em massa do público francês nos jogos de preparação (a França como anfitriã está automaticamente qualificada), e dos quais o último em Marselha, no Stade Vélodrome, face à Suécia a 19 de Novembro é um excelente exemplo, diria que os anos tumultuosos e infelizes são águas passadas. Do ponto de vista do «regresso do público» o momento de viragem foi a vitória francesa em casa, em 2013, face à Ucrânia no caminho para a «Copa» no Brasil. Os franceses conseguiram anular a vantagem de dois golos dos ucranianos e acabaram por vencer por 3 a zero.








O nacionalismo francês e o orgulho na sua selecção nacional voltaram a estar na moda. Esta vaga nacionalista é, obviamente, potenciada e instrumentalizada pela elite política com o intuito de projectar a imagem de uma França «poderosa» além-fronteiras.
No entanto, esta mensagem de apoio à selecção não é consensual na vida política francesa quando incluímos a Frente Nacional. Sem dúvida que a actual líder, Marine Le Pen, tem um discurso muito mais inteligente que o seu pai mas a questão mantém-se para os seus correligionários: esta selecção representa a França? O que é a identidade francesa face à imigração? Há um modelo? Os filhos de imigrantes nascidos em França são «verdadeiros» franceses?


Mas na formulação destas perguntas os franceses da Frente Nacional não estão sozinhos a nível europeu. Ainda neste fim-de-semana a Suíça teve mais um referendo onde a questão da imigração foi um tema forte. Não deixa de ser curioso que uma das maiores vítimas de uma política mais restritiva será a … selecção suíça. Se olharmos para os jogadores que venceram a Lituânia no último jogo relativo à qualificação para o Campeonato da Europa temos: Jacques Moubandje (nascido em Douala, Camarões), Johan Djourou (nascido em Abidjan, Costa do Marfim), Gökhan Inler (filho de pais turcos), Haris Seferovic, Granit Xhaka, Xherdan Shaqiri, Blemi Dzemaili, Valon Behrami e Admir Mehmedi (ascendência de países resultantes do fim da Jugoslávia). E se olharmos para outros jogadores igualmente importantes temos ainda Ricardo Rodriguez e Philippe Senderos que têm também nacionalidade espanhola. O impacto da «imigração» tem sido muito positivo e a Suíça fez a Argentina tremer nos oitavos-de-final no Brasil. Tendo em conta este factor há quem imagine o que seria a selecção suíça sem os «imigrantes».

E há quemfaça o exercício ao nível das várias selecções nacionais e mesmo quem o faça relativamente a jogadores de origem africana. O que seriam as selecções sem os seus jogadores filhos de imigrantes ou naturalizados? Há muitos exemplos mas poderíamos olhar para os italianos Angelo Ogbonna (pais nigerianos) ou Mario Balotelli (nascido em Palermo de pais ganeses). A Bélgica seria também uma selecção com baixas de peso tendo em conta o capitão Vincent Kompany, Romero Lukaku, Kevin Mirallas, Moussa Dembélé, Marouane Fellaini e Axel Witsel. A estes nomes apontados teríamos que juntar o agora titular Radja Nainggolan da Roma. E os campeões do Mundo? A Alemanha ficaria sem Mezut Özil, Shkodran Mustafi, Sami Khedira, Lukas Podolski e Miroslav Klose (agora retirado da selecção). Mas é, sem dúvida, Jérôme Boateng, um dos centrais indiscutíveis da selecção alemã e do Bayern de Munique, que melhor ilustra esta questão já que o seu irmão Kevin-Prince Boateng optou pela selecção ganesa.


Como podemos ver a imigração é um factor a ter em conta no futebol. Para alguns destes imigrantes ou dos seus filhos o futebol é uma forma de melhorarem a sua vida. Para os poucos que são talentosos o futebol ao mais alto nível permite-lhes ter uma vida que muito dificilmente conseguiriam alcançar. Jogadores de famílias abastadas como Andrea Pirlo ou Gian Luca Vialli são a excepção à regra num mundo onde a maioria dos jogadores tem um background humilde e muito difícil. Estes jogadores, tal como Atlas era responsável por carregar o mundo sobre os seus ombros, têm a seu cargo toda a família. Para além do seu talento e do mérito de o trabalharem, há outros factores importantes na «curta» carreira de um futebolista tais como o seu agente ou os clubes onde joga. A forma como os jogadores gerem a sua carreira é um tema fascinante ao qual voltarei mais tarde.
E a selecção francesa? Se olharmos para a selecção que deu o primeiro título internacional à França, em 1984, liderada por Michel Hidalgo temos, entre outros, Jean Tiganá, nascido em Bamako, Mali e naturalizado francês, Luis Fernández nascido em Espanha e … Michel Platini, filho de imigrantes italianos. Mas foi a diversidade da equipa campeã do mundo em 1998 (e que voltou a ser campeã europeia em 2000) que foi colocada no centro das atenções. Desde logo, o herói Zinedine Zidane era filho de argelinos e muçulmano não praticante. E também tínhamos, por exemplo, Marcel Desailly, Lilian Thuram, Christian Karembeu, Patrick Vieira, Thierry Henry e David Trezeguet. Ficaram famosas as declarações de Jean-Marie Le Pen insurgindo-se contra uma selecção que era «artificial», ou seja, não suficientemente «branca» para ser francesa. A vitória categórica dos bleus na final contra o Brasil fez calar a Frente Nacional mas não por muito tempo.

 
A selecção continuou a fazer parte da discussão política e a Frente Nacional a fazer dela um exemplo do que não deveria ser considerado francês. Esta posição levou os jogadores a apelarem ao voto em Chirac em 2002 contra Jean-Marie Le Pen. Em 2006 as críticas voltaram ao centro das atenções tendo Le Pen acusado o treinador Domenech de sub-representar os «brancos». Tendo em conta os anos difíceis vividos pela selecção até 2013 houve igualmente polémica nas estruturas federativas francesas sobre a possibilidade de estabelecer quotas para jogadores árabes e negros com dupla nacionalidade. Esta controvérsia que na altura envolveu o seleccionador Laurent Blanc foi muito intensa e, em alguns aspectos, ainda está por resolver. Um exemplo desta tensão verificou-se durante o Campeonato do Mundo no Brasil relativamente à Argélia. Esta equipa fez um campeonato extraordinário tendo claudicado nos oitavos-de-final perante a Alemanha por duas bolas a uma. Não só os festejos dos sucessos argelinos levaram Marine Le Pen a afirmar que «temos que parar a imigração» e aqueles envolvidos nas celebrações «têm de escolher: ou são argelinos ou são franceses… não podem ser ambos», mas se a Argélia tivesse derrotado a Alemanha encontraria… a França nos quartos-de-final. Esta possibilidade que lembrou o desastre do jogo entre as duas selecções em 2001 levou a medidas extras de segurança.
Mas foram as recentes declarações de Willy Sagnol, antigo internacional e agora treinador do Bordéus, que fizeram «rebentar» novamente os estereótipos e o racismo no futebol francês. As reacções mais fortes vieram do jogador francês com mais internacionalizações na selecção nacional masculina: Lilian Thuram. Este jogador, nascido em Guadalupe, foi um defesa fabuloso na selecção (e nos vários clubes por onde passou) e desde que se reformou tem-se dedicado ao combate ao racismo através da sua Fundação. Segundo Thuram há muito para fazer em França e, em especial, em tempos de maior vulnerabilidade económica. Asondagem efectuada este ano pela Comissão Nacional Consultiva de Direitos Humanos demonstrou que o número de franceses que admitiam ser bastante ou um pouco racistas tinha aumentado de 22% em 2012 para 35%. A estes dados temos que acrescentar a popularidade eleitoral da Frente Nacional que inclui, pela primeira vez, lugares no Senado e há mesmo quem advogue a candidatura de Marine Le Pen a presidente em 2017.
O contexto francês é preocupante mas não é o único a nível europeu. Para além do caso suíço há muitos outros países onde há problemas sérios de racismo a nível do futebol: desde a Itália à Hungria. E apesar da campanha da UEFA e da promoção de tolerância zero em matéria de racismo há muito por fazer. Andrea Pirlo escreve na sua autobiografia como Mário Balotelli tem sido vítima de insultos racistas nos campos de futebol italianos e como a sua figura é em si mesma um «antídoto ao racismo» (pp. 131-134).




E o que pode ser feito? Durante a controvérsia sobre a possibilidade de se impor quotas no futebol francês a jogadores negros e árabes com dupla nacionalidade Arsene Wenger foi claríssimo: «o futebol nacional tem de ser identificado pela sua cultura e pela qualidade da educação, não com as origens dos jogadores». E se há selecção onde encontramos talento e mérito é, sem dúvida, a francesa.

 

Apesar da enorme falta que Franck Ribéry vai fazer (faria em qualquer selecção no mundo) temos jogadores como Blaise Matuidi, Mathieu Valbuena, Karim Benzema, Yohan Cabaye, Patrice Evra (agora na Juventus depois de oito anos no Man. United) e Antoine Griezmann. Mas gostaria de destacar dois jogadores: Raphaël Varane e Paul Pogba. Ambos são dois jogadores de classe mundial com ... 21 anos. É um prazer ver Pogba a jogar na Juventus e tenho pena que Varane não jogue mais no Real Madrid mas a competição é de facto (ainda) muito dura.
Como podemos ver pelo enorme talento à disposição do treinador Didier Deschamps (outro grande jogador) a renovação da selecção parece garantida. Eu vou continuar a admirar o futebol e os seus jogadores pelo seu mérito e talento. E esta selecção continuará a dar muitas dores de cabeça à Frente Nacional.
Como diria Lilian Thuram vive la France, la vraie!

Fortuna, Jugoslávia, Dinamarca e jogar em casa.

por A-24, em 27.11.14
Raquel Vaz-Pinto via Malomil

O futebol de hoje é um desporto altamente profissional em que nada é deixado ao acaso. Jogar ao mais alto nível implica, para além do aperfeiçoamento técnico, preparação física e mental, treinos infindáveis com jogadas, transições, posicionamento táctico e marcações. A evolução da equipa técnica é disso um excelente reflexo. Se olharmos para o Bayern Munique a equipa de Pep Guardiola conta com dois treinadores adjuntos, um treinador para guarda-redes, cinco fisioterapeutas, uma unidade médica com quatro profissionais, incluindo um especialista em cardiologia, e três preparadores físicos. Claro que ainda faltam os «observadores» que fazem a prospecção e a análise de jogadores e muitos, muitos mais. Guillem Balague na sua biografia sobre o treinador catalão revela que a equipa técnica era constituída por mais de vinte pessoas.

Um dos aspectos mais reveladores da rigorosa preparação a que os jogadores estão sujeitos é o «treino mental». É muito importante prepará-los para uma época muito intensa e longa (alguns diriam excessiva) que começa em Agosto e termina em Junho. Este ano, a nível de clubes tudo acaba na primeira semana de Junho com a final da Liga dos Campeões em Berlim e, uma semana depois, temos a sexta ronda do apuramento para o Euro 2016. A preparação «mental» é talvez o aspecto mais difícil de trabalhar e nem todos conseguem chegar ao nível de concentração total do Chelsea de Mourinho ou do Atlético de Madrid de Simeone. Se é certo que a equipa de Simeone tem tido um arranque de época mais irregular ninguém tem dúvidas que em campo farão jus ao lema dos colchoneros: «juega cada partido como si fuera el último».



Para além de tudo isto há ainda aquele elemento a que chamamos… sorte ou azar. Desde sempre a humanidade tem tentado lidar com o imprevisível. Os antigos gregos apelavam a Tychee os romanos à deusa Fortuna. Talvez o romano que melhor tenha personificado a Fortunaseja Júlio César como nos descreve Adrian Goldsworthy na sua excelente biografia. Talvez influenciada pelo jogo de apuramento para o Euro 2016 entre a Sérvia e a Dinamarca de sexta-feira lembrei-me do Campeonato Europeu de 1992. E, pensando bem, não há melhor exemplo da Fortunano futebol. A Jugoslávia foi ao longo da sua história uma boa escola de futebol (vice-campeões europeus em 1960 e 1968) e no início dos anos noventa tinha uma equipa extraordinária. Desde logo os seus jogadores tinham sido campeões mundiais sub-20 em 1987. No Chile brilharam talentos como Robert Prosinecki e Davor Suker. E no Campeonato do Mundo de 1990 os jugoslavos deixaram uma excelente impressão perdendo nos quartos-de-final com a selecção argentina e…nos penaltis.
 

Este poderio jugoslavo também encontrou expressão na final da Taça dos Clubes Campões Europeus de 1991 em que o Estrela Vermelha de Belgrado bateu o Marselha. O grande jogador jugoslavo era Robert Prosinecki. Por tudo isto muitos apontavam a Jugoslávia como sendo uma das favoritas à vitória no Euro 1992. No entanto, a equipa jugoslava foi uma das muitas vítimas de uma guerra civil de tal maneira brutal e cruel que levou à criação de um tribunal internacional para julgar as atrocidades cometidas. Após a morte do ditador Tito em 1980 a Jugoslávia tinha-se vindo a tornar cada vez mais uma «mera» associação de várias nações. A tentativa de fomentar o nacionalismo sérvio sob a liderança de Slobodan Milosevic foi a gota de água para os croatas, bósnios, eslovenos, macedónios, kosovares e montenegrinos.


O fim da Jugoslávia significou o fim de uma grande selecção. A qualidade dos seus jogadores e em especial o terceiro lugar da Croácia no Mundial de 1998 levou muitos a pensar o que a selecção «jugoslava» teria sido capaz de alcançar. Ainda hoje são muito frequentes os comentários televisivos e na imprensa sobre esta selecção imaginária. Aliás todos os anos em que temos Campeonatos da Europa ou Mundial a pergunta vem à superfície: e se a equipa de futebol jugoslava ainda existisse? É realmente muito tentador imaginarmos uma selecção com os bósnios Edin Dzeko do Man. City, Miralem Pjanic da Roma e Sened Lulic da Lazio, o montenegrino Stevan Jovetic e o sérvio Koralov do Man. City, os sérvios Ivanovic e Matic do Chelsea, o esloveno Valter Birsa do Chievo, e os croatas Mário Mandzukic do Atletico de Madrid, Ivan Rakitic do Barcelona, Luka Modric do Real Madrid, Mateo Kovacic do Inter ou Danijel Subasic do Mónaco. A este conjunto de estrelas teríamos também que acrescentar jogadores cujas famílias fugiram do conflito e que adoptaram a nacionalidade do país onde vivem. Na selecção suíça temos, por exemplo, Xherdan Shaqiri que joga no Bayern de Munique, Blemi Dzemaili que este ano alinha pelo Galatasaray e Valon Behrami no Hamburgo. Mas tendo em conta todo este talento tenho a certeza que a «Jugoslávia» seria uma forte candidata a ser campeã da Europa e do Mundo.
Sorte diferente teve a selecção chamada a substituir a Jugoslávia no Campeonato da Europa em 1992: a Dinamarca. O pedido oficial chegou apenas dez dias antes do começo do campeonato e embora a selecção dinamarquesa estivesse de sobreaviso, tiveram pouco tempo para se preparar «à séria». A sua participação no campeonato realizado nos vizinhos (e rivais) suecos fez de facto história: a Dinamarca foi campeã da Europa. Este feito deixou todos os que assistiram a esta prova incrédulos sobretudo se pensarmos que a selecção dinamarquesa não contava com a sua grande estrela, Michael Laudrup, e também na qualidade das outras equipas como a francesa, alemã e holandesa. Como foi possível? Desde logo a enorme capacidade colectiva e os talentos que sobressaíram nesta prova. Há muitos exemplos mas destacaria o guarda-redes Peter Schmeichel que teve na final contra a Alemanha o jogo da sua vida. Como nos diz a própria UEFA Schmeichel defendeu tudo o que havia para defender. A fotografia de um dos heróis dinamarqueses, Brian Laudrup, com as mãos na cabeça fala por si só.

Dinamarca, campeã da Europa em 1992
Como foi possível? Eu diria que o factor crucial, para além do talento e profissionalismo, foi a gestão das expectativas. Dito de outra forma, ninguém estava à espera que uma selecção repescada sequer passasse da primeira fase. E por isso me parece que jogar sem qualquer tipo de pressão fez toda a diferença. À medida que iam vencendo os jogos os jogadores dinamarqueses foram ganhando uma enorme confiança mas sem pensarem seriamente na possibilidade de serem campeões. E em matéria de expectativas também se fala muitas vezes do factor «casa», ou seja, que as selecções anfitriãs dos campeonatos do mundo e da Europa contam com um factor adicional: o factor público. Será mesmo assim? Ou é um factor extra de pressão para os jogadores? Se olharmos para a história destas duas provas internacionais temos respostas diferentes. Das vinte vezes que o Campeonato do Mundo foi organizado só seis vezes a equipa anfitriã foi vitoriosa. Aliás jogar em casa para o Brasil tem sido uma … tragédia. Das duas vezes que o Brasil organizou esta prova perdeu a final no Maracanã perante o Uruguai em 1950 e este ano aquela meia-final com a Alemanha…

Pelo contrário, o Uruguai e a Argentina foram vencedores, respectivamente em 1930 e 1978. E se olharmos para os países europeus temos a Itália que venceu em 1934 e nem chegou à final em 1990. O mesmo aconteceu com a França e a Alemanha que, respectivamente, não chegaram à final de 1938 e 2006 mas venceram em 1998 e 1974. Já a Inglaterra foi vitoriosa em 1966 (infelizmente para nós…). E em relação ao Campeonato da Europa? Das catorze edições da prova apenas três foram ganhas pela equipa anfitriã: Espanha em 1964, Itália em 1968 e França em 1984. E tirando Portugal em 2004 nenhuma das restantes equipas anfitriãs chegou à final.
O futebol, tal como todas as actividades humanas, não é imune à Fortuna. E é justamente essa imprevisibilidade que o torna ainda mais apaixonante.

No Brasil, México e II Liga Inglesa pagam mais que em Portugal

por A-24, em 20.11.14

Em Portugal um jogador ganha em média 320 mil euros por ano, bem distante dos 2,8 milhões dos jogadores da Premier League, o que não impede que o campeonato português esteja no top-5 do ranking da UEFA.


De acordo com uma tabela divulgada pelo Daily Mail, a liga portuguesa é a 11ª com salários mais altos a nível mundial. Esta posição é algo enganadora, uma vez que, sem os três grandes (especialmente Porto e Benfica), o nosso campeonato estaria bem mais abaixo. Sem surpresas, os campeonatos que são considerados como o top-5 europeu (apesar de isso não acontecer no ranking da UEFA) estão à frente na lista, que é encabeçada pela Premier League. Destaque também para o campeonato russo, onde, como se sabe, a maioria dos clubes tem uma grande capacidade financeira, para o Brasileirão, o campeonato onde se paga melhor fora da Europa (a tendência recente de recrutar alguns dos melhores jogadores brasileiros contribuiu bastante para isso), e para a liga mexicana, que está à frente da liga portuguesa. Estes três campeonatos (aos quais se pode juntar o da Turquia) estão no top-10 a nível de salários, o que explica a dificuldade que é contratar jogadores que actuam nestes países. Outro dado relevante desta lista é a posição do Championship. A segunda divisão inglesa, muito por culpa de uma repartição equilibrada do dinheiro dos direitos televisivos e da grande quantidade de transferências internas, está à frente de muitas ligas de valor.

Miguel Sousa Tavares... sempre bem!

por A-24, em 18.11.14
1- Acho que a única notícia relevante do fim-de-semana desportivo foi a vitória das Ilhas Feroé sobre a Grécia e em Atenas. A vitória de uma selecção de um país inventado para efeitos futebolísticos, com cerca de 50.000 habitantes, sobre a Selecção que em 2004 nos roubou nas barbas o título europeu é, de facto, qualquer coisa de verdadeiramente surpreendente. Mesmo que, desde 2004, a Grécia tenha sido, consistentemente, uma equipa que jogava um futebol feio, defensivo e sem qualquer interesse. Bem fez Fernando Santos em ir-se embora, uma vez consumada a autêntica proeza que foi levar esta Seleccão ao Mundial do Brasil.
No que me diz respeito, foi um fim-de-semana de descanso, em termos televisivo-desportivos. Vi um pouco do jogo da nossa Selecção contra a Arménia, mas, como de costume, rapidamente me aborreci. Aquilo não é futebol que me entusiasme minimamente, apesar do rol de estrelas que desfilamos, da alta cotação no ranking da FIFA e das novas esperanças criadas pela substituição de Paulo Bento por Fernando Santos. Há um mal endémico na nossa Selecção que a faz jogar sempre menos do que a soma dos seus nomes permitiria esperar. É uma equipa presa de movimentos, titubeante na defesa, amarrada no meio campo, estranhamente inóqua no ataque. Quando Ronaldo está em dia sim, ainda dá para disfarçar algumas coisas, mas não todas. Quando está em dia não, não resta nada ou quase nada que valha o espectáculo. E, depois, não sei se serei eu que sou exigente de mais, mas não consigo habituar-me a esta tendência actual de se garantir que todos os adversários são difíceis, que ganhar à Arménia por 1-0 em casa já é um bom resultado, como o teria sido um empate caseiro com a Albânia. Eu sei que os tempos do futebol de tamancos já acabaram em todo o lado, mas, mesmo assim, caramba, em contraste com a nossa constelação de vedetas internacionais, alguém é capaz de dizer de cor o nome de um jogador albanês ou arménio?

E achei engraçado que a nossa imprensa, que vive a louvar as pequenas equipes que, nos jogos entre-portas, estendem um autocarro em frente à baliza e renunciam à partida em jogar no campo todo (e agradecem se o campo todo for de dimensões mais próprias do futebol juvenil ou feminino do que de futebol de homens), desta vez, logo trataram de desculpar a exibição da nossa Selecção com o autocarro arménio estacionado em frente à sua baliza. Porém, e do pouco que vi, foi uma sorte que o autocarro arménio não tivesse facturado primeiro que o Ferrari lusitano.. .E foi outra sorte que o nosso golo não tivesse sido considerado em off-side, como me pareceu.

2- Domingo à noite, espreitei ainda um quarto-de-hora do Itália-Croácia, também para o Europeu. Grandes jogadores, tecnicamente, de um lado e do outro, e um futebol de adormecer criancinhas. E volto à minha eterna questão: não haverá jogos a mais de Selecções, para os quais os jogadores ou aparecem cansados por uma época desgastante ao serviço das suas equipas (nas fases finais), ou (na fase de qualificação), aparecem meio desmotivados, com a cabeça noutro lado, envolvidos, antes de mais, na carreira das suas equipas?
Hoje à noite, por exemplo, apesar do aliciante do cartaz, Portugal e Argentina não vão fazer nada a Manchester senão abastecerem de dólares os cofres das suas Federações. Apesar de hoje em dia o número de jogos particulares das Selecções estar limitado pela FIFA, e como forma de pôr termo aos abusos anteriores, continua a haver uma profusão de jogos sem qualquer interesse do ponto de vista competitivo e de espectáculo, que apenas aproveitam, financeiramente, às Federações e seus quadros e a alguns jogadores, para quem o prémio de presença é importante. Tudo feito, claro, em prejuízo dos clubes, que são quem paga os ordenados aos jogadores... para os ter ao seu serviço. Dentro de dois meses, por exemplo, vem ai o CAN, imposto a ferros e oferecido à Guiné Equatorial, que vai levar dos clubes europeus, durante mês e meio e no auge das competições internas e europeias, os melhores jogadores africanos ao seu dispor. E depois temos as Selecções da América do Sul, como a Argentina e, sobretudo, o Brasil, que, sem adversários nem competições à altura no seu continente, deambulam pelo mundo inteiro em jogos de exibição para que convocam as suas vedetas emigradas na Europa, enchendo de dólares os cofres que permitem aos seus dirigentes viverem como nababos. Suponho que um dia isto terá de acabar, não sei é quando.

3- Julgava que o meu fim-de-semana televisivo seria salvo pela final do Masters, mas afinal tive, eu e todos os amantes do ténis, a grande decepção de ver a final cancelada por impedimento físico de Federer. Foi uma pena, porque eu sou devoto do suíço, que considero o jogador com o ténis mais bonito e mais completo que alguma vez vi e que, além do mais e não por acaso, acaba de ser distinguido entre os seus pares e pela sexta vez, o mais desportista do circuito ATP. Independentemente de todos os recordes que regista, Federer é um verdadeiro gentleman, fora e dentro do court, representando de forma brilhante tudo aquilo que faz do ténis o mais espectacular, o mais sério e o mais elitista, no bom sentido, de todos os desportos. Já repararam que no ténis nunca houve um caso de doping ou de resultado comprado?
Enfim, embora eu não tivesse grandes esperanças de que Roger Federer conseguisse resistir a essa máquina destruidora que é Djoikovic, também não tinha dúvidas de que iria vender cara a derrota e de que nos estariam destinadas umas três horas de puro prazer. Mas Federer preferiu poupar as costas para a final da Taça Davis, entre a Suíça e a França, que é já a seguir.

4- Embora o tema seja complicado por natureza, não posso deixar de cumprimentar o manifesto anti-barbas do Sr. Ilhan Cavcav, presidente do modesto Gençlerbirligi, actual nono classificado do campeonato turco. As barbas de Raul Meireles, e não só, são, de facto, um espectáculo dentro do espectáculo - mas, não só não o deveriam ser (e sim o futebol por ele jogado), como também o espectáculo é esteticamente nada recomendável. E se às barbas juntarmos as tatuagens em série e os inacreditáveis e sempre alterados penteados das vedetas dos estádios, aquela mania de saírem sempre dos autocarros com headhphones colados aos ouvidos, caras de personagens superiores e inatingíveis e absoluta ausência de quaisquer sinais exteriores de que são capazes de ocupar os tempos livres a ler um livro, um jornal, uma revista, mais as eternamente repetidas e absolutamente desinteressantes declarações que fazem, recheadas de frases feitas que nem se percebe se eles percebem, temos de convir que a imagem que os jogadores de futebol de topo hoje transmitem de si mesmos é de uma pobreza intelectual e de uma falta de gosto chocantes. A imagem de quem, fora de campo, apenas se preocupa com dinheiro e contratos, tatuagens e penteados. A quem nada interessa saber do país onde vivem e do mundo que os rodeia. E, como essa é a imagem transmitida a milhões de jovens em todo o mudo que os idolatram, não se trata apenas de uma questão de gosto ou de valores, mas de responsabilidade. Lamento, mas é o que penso. A Bola

Alemanha: a estratégia de uma grande potência.

por A-24, em 13.11.14
Raquel Vaz-Pinto


No domingo comemorámos os vinte e cinco anos da queda do Muro de Berlim e por isso mesmo nada mais apropriado do que falarmos da Alemanha. Os campeões mundiais são de facto uma grande potência do futebol. Se olharmos «apenas» para os títulos da selecção alemã os números são impressionantes: 4 títulos mundiais e 3 títulos europeus. E perdemos a conta ao número de vezes que a equipa alemã chegou à final destes campeonatos. Ficaram célebres as palavras de Gary Lineker, jogador da selecção inglesa, sobre a equipa alemã: «O futebol é um jogo simples; 22 jogadores correm atrás da bola durante 90 minutos e no final a Alemanha acaba sempre por vencer.» A campanha brasileira foi plena de glória e a Alemanha justificou a sua vitória. Não só por ter imposto a pesada derrota aos anfitriões por 7 a 1 mas também pela forma como jogou desde o início (infelizmente para Portugal…).

Mas esta vitória começou a ser delineada em 2000 após uma campanha inglória no Europeu realizado em terras belgas e holandesas. A Alemanha ficou em último lugar no grupo A atrás de Portugal, Roménia e Inglaterra. Esta derrota foi fundamental e obrigou os jogadores, seleccionador e as estruturas federativas a repensarem o seu modelo de jogo em conjunto com os clubes alemães. Por outras palavras a Alemanha passou a ter uma estratégia sobre o que queria do seu futebol: jogadores com maior capacidade técnica, capazes de pensar tacticamente e formados «em casa». A criação de academias deu os seus frutos a nível dos clubes e também na selecção nacional. A capacidade financeira deste país bem como a alocação dos recursos humanos fez toda a diferença.

Para além deste esforço concertado a nível federativo temos que acrescentar a crescente competitividade da Bundesliga. A liga alemã é um exemplo de modernização de infraestruturas, segurança e bilhetes a preços muito acessíveis. Deste modo, o enorme entusiasmo pelo futebol é reflectido na presença de adeptos nos jogos. Os estádios estão sempre cheios e há quem afirme que é a Bundesliga a rainha das provas em matéria de público: em 2013/2014 a média foi de 42 609 adeptos nos estádios. Para termos uma ideia da força dos números temos ainda que olhar para os clubes individualmente. Na época actual e ao fim de onze jogos o clube que lidera em termos de público é o Borussia Dortmund. O estádio tem a capacidade máxima de acolher 80 720 adeptos e até agora a média é de … 80,340. Sim, eu repito: 80,340. Esta taxa de 99,5% é ainda mais surpreendente se tivermos em consideração que o Borussia Dortmund, apesar da campanha vitoriosa da Liga dos Campões, está em … 15º da Liga. Tem sido um começo muito difícil para aquela que é a segunda melhor equipa alemã nos últimos anos.

Em segundo lugar, temos o colosso do futebol alemão: o Bayern Munique. O líder do campeonato tem uma média de assistência de 99.8% com 71 000 lugares ocupados sendo a lotação máxima de 71,137. Ao longo destes onze jogos o Bayern ainda não perdeu e concedeu três empates. Do ponto de vista da história do futebol o Bayern tem um lugar privilegiado: 23 vezes campeão nacional e vencedor de 5 «ligas dos campeões». Paralelamente, o Bayern tem um enorme apoio da sua região, a Baviera, e tem efectuado uma gestão financeira muito criteriosa. Os resultados estão à vista e o Bayern é o quarto clube de futebol mais rico do mundo segundo a revista Forbes. Esta riqueza pode também ser constatada por um dos principais patrocinadores deste clube que também tem a sua sede em Munique: a Allianz. Esta relação é tão forte que o nome do estádio do Bayern é justamente Allianz Arena.

O poder financeiro do Bayern tem-lhe permitido efectuar algumas contratações importantes. Após dois anos notáveis com o treinador Jupp Heynckes o Bayern decidiu apostar em Pep Guardiola. Esta contratação diz muito da capacidade de atracção deste clube. Depois de quatro anos fabulosos à frente do Barça e de um ano de sabática Pep Guardiola optou por Munique. A sua primeira época a nível nacional foi extraordinária (dezanove pontos de diferença para o segundo classificado) embora tenha ficado aquém do esperado a nível europeu. E a derrota com o Real Madrid na meia-final foi muito dura. Mas este ano o Bayern parece-me mais consolidado e com um estilo de jogo mais solto. Eu diria que é um sério candidato a vencer a Liga dos Campeões. Claro que tudo pode acontecer como aliás o próprio Bayern bem sabe. Quem não se lembra da final de 1999? A equipa alemã a controlar o jogo e a vencer por uma bola a zero e nos minutos finais a equipa de Sir Alex Ferguson marca dois golos. Mais ainda, os golos foram apontados por dois jogadores, Teddy Sheringham e Ole Gunnar Solskjaer, que foram suplentes. Foi um fim de jogo absolutamente inesperado e que deixou a equipa alemã em estado de choque.

Paralelamente, a equipa bávara foi o «esqueleto» da selecção nacional alemã campeã no Brasil. Se olharmos para a equipa inicial que jogou a final contra a Argentina encontramos Manuel Neuer, Thomas Müller, Bastian Schweinsteiger, Jérôme Boateng,Toni Kroos (agora no Real Madrid) e o capitão Philipp Lahm (e claro Mario Götze que entrou e marcou o golo da vitória). A estes temos que juntar a qualidade de David Alaba, Arjen Robben, Franck Ribéry, Robert Lewandowski, Juan Bernat, Rafinha e Mehdi Benatia. Há ainda jogadores como Thiago Alcântara e Javi Martinez com lesões muito graves. E claro Xabi Alonso. É impressionante ver Xabi jogar no Bayern como se estivesse neste clube há anos. É de facto um grande jogador e dá ao meio-campo da equipa bávara uma excelente capacidade de recuperação e de compensação.
E há quem diga que a próxima grande contratação será Marco Reus … do rival Borussia Dortmund. Se assim for, será o terceiro jogador excepcional a sair de Dortmund para Munique depois de Mario Götze e Robert Lewandowski. Estas contratações têm levado a os dirigentes do Dortmund a declararem que o Bayern os está a tentar destruir. De certa forma, o Borussia é vítima do seu sucesso sendo quase impossível aos jogadores resistirem aos milhões «bávaros». Outro jogador de que se tem falado muito é o capitão do Borussia, Mats Hummels, um dos melhores centrais do mundo. Os clubes mais interessados são o Arsenal e o Man United e há quem aponte a sua saída em Janeiro.
A rivalidade entre Munique e Dortmund estende-se a outras cidades e regiões alemãs. Tal como no caso italiano a Alemanha foi unificada na segunda metade do século XIX e, por isso, há fortes identidades regionais que encontram no futebol uma manifestação particularmente poderosa. E o mesmo se pode dizer do orgulho na selecção – Die Mannschaft – enquanto expressão do nacionalismo alemão sobretudo no pós-Guerra Fria.
O futebol alemão é, hoje em dia, uma referência a nível de planeamento estratégico. Se olharmos para os candidatos a Bola de Ouro temos seis jogadores do Bayern, os alemães Mario Götze, Philipp Lahm, Thomas Müller, Manuel Neuer, Bastian Schweinsteiger e o holandês Arjen Robben. E apesar de Toni Kroos ser agora jogador do Real Madrid é justo dizermos que é um «produto» do Bayern onde chegou com 15 anos. A lista de dez candidatos para vencer o prémio de melhor treinador contém, para além do homem do Bayern de Munique, Pep Guardiola, dois alemães: Jürgen Klinsmann e Joachim Löw.
Quando pediram a Xabi Alonso que comparasse o Real Madrid ao Bayern de Munique a resposta foi curiosa. Para Xabi, «O Real Madrid é como o rock’n’roll, enquanto o Bayern de Munique funciona mais como o jazz». Porquê? Em Madrid, «tudo é mais rápido e mais directo. O Bayern é mais paciente, preciso e elaborado».

Quem diria?

Raquel Vaz-Pinto

Quo Vadis, Itália?

por A-24, em 10.11.14
Visão de Mercado

Itália. País de futebol. A nação transalpina já foi o país da inovação táctica, do Catenaccio e do início do futebol moderno com o Milan de Sacchi. Já foi pátria de inúmeros magos, os trequartistas , como Baggio, Zola, Totti ou Del Piero. Viu erguerem-se muros (leia-se defesas) como Fachetti, Baresi, Maldini ou Cannavaro. Os seus clubes já foram hegemónicos a nível continental, nomeadamente o Inter de Helenio Herrera ou o já citado Milan dos holandeses Rijkaard, Gullit e Van Basten, última equipa a repetir triunfo na maior prova de clubes a nível europeu. A Juve já foi a mil finais europeias liderada por génios como Platini ou Zidane e uma infinidade de diferentes clubes (Parma, Lazio, Nápoles, Inter) venceu as muito competitivas Taça Uefa e Taça das Taças no fim do século XX. A Nazionale, a mítica Squadra Azzurra, já foi 4 vezes campeã mundial, a última das quais em 2006, ano em que a FIFA deu ao já citado Cannavaro o prémio de melhor do mundo.

Mas, para o Calcio, 8 anos é uma eternidade. Hoje, Itália é uma potência decadente do futebol do velho continente. A nível individual, nem um jogador nascido no país da bota está nomeado para a Bola de Ouro. Em 2013, apenas estava na lista Pirlo, que já conta com 35 anos. Outras referências principais, como Buffon, Chielini, De Rossi, Montolivo, Di Natale ou Cassano, ultrapassam também já as 3 décadas de vida. Em consequência desta falta de talento emergente, a sua seleção vê-se também numa difícil situação, ao ponto de não ter ultrapassado a fase de grupos dos dois últimos mundiais (apesar do excelente trabalho de Prandelli, o qual culminou com a final do europeu de 2012).
A Série A, outrora recheada de ricos e poderosos emblemas e de aspirantes á Bola de Ouro, vê-se hoje hegemonicamente dominada por um tricampeão (Juventus) que na Europa nada atinge (tal como os restantes conjuntos do país), com os gigantes Milan e Inter a não conseguirem mais nada senão lutarem por uma classificação europeia . Apenas um jogador do campeonato, o fantástico Pogba, está entre os 23 melhores do ano para a FIFA, verificando-se, ano após ano, uma debandada das principais figuras do campeonato, como Thiago Silva, Zlatan, Lavezzi, Cavani, Cerci, Imobille, entre outros. Isto porque a disponibilidade financeira de outros tempos acabou, sendo hoje uma manifesta fraqueza na luta com La Liga, Premier League, Bundesliga e o milionário PSG.
Uma revolução é urgente. O espectáculo tem de melhorar (de entre as principais ligas europeias, Itália é aquela que tem uma mais baixa média de tempo útil de jogo) e é preciso uma renovação da classe dirigente (as já tradicionais suspeitas de corrupção só mancham a imagem do desporto no país). É preciso travar a compra de estrangeiros de fraca qualidade e apostar no jogador italiano, para devolver á seleção a sua competitividade. Também a grande maioria dos Estádios são velhos e obsoletos, precisando de remodelações. Porque Itália não pode ser um ator secundário no futebol europeu. Isso seria uma traição imperdoável feita á história deste jogo.

Real Madrid vs. Barcelona e o poder de 400 milhões

por A-24, em 06.11.14
Via Malomil

A primeira reacção ao resultado do clássico entre o Real Madrid só pode ser … Olé! As razões para vermos este clássico eram muitas. E entre o melhor ataque e a melhor da Liga Espanhola … a vitória do ataque da capital espanhola foi inequívoca.



Carlo Ancelotti calou os críticos e o mesmo pode dizer … Iker Casillas. Eu diria que o momento-chave do jogo foi a defesa do capitão Casillas de um golo quase certo de Leo Messi que teria dado ao Barcelona o 2-0. Mais do que Ronaldo, que marcou de forma impecável o penálti que deu o primeiro golo ao Real Madrid, o que sobressaiu nesta equipa foi justamente o colectivo e o contributo de outras estrelas como Benzema e James. E talvez o terceiro golo simbolize justamente a articulação de uma equipa que vinha sendo criticada neste início de época por ser «apenas» um conjunto de estrelas galácticas. Será difícil fazer esquecer dois jogadores fabulosos como Xabi Alonso e Di Maria mas Carlo Ancelotti tem com esta vitória o caminho mais facilitado para impor as suas ideias num clube que não tem uma estrutura dirigente e massa associativa fácil.
E do lado catalão? Cláudio Bravo foi finalmente batido e por três vezes, Messi não brilhou e Telmo Zarra continua ainda a ser o recordista dos golos na Liga espanhola e o «tridente» deu… um ar da sua graça. Foi dos pés do uruguaio Luís Suárez que saiu o passe para o golo de Neymar. Há quem diga que o Clássico foi «muito cedo» para um jogador que regressa agora aos relvados. Foi uma opção arriscada e Luis Enrique assumiu-a sem complexos mesmo na conferência de imprensa depois do jogo. Diria que este tridente sul-americano vai dar muito que falar tendo em conta a já evidente parceria entre Messi e Neymar e a extraordinária qualidade de Suárez, um jogador com um «instinto assassino» no que toca a golos. Mas foi a opção pelo meio-campo «da casa» que se revelou desastrosa tendo em conta a exibição apagada de Iniesta-Xavi-Busquets. Foi surpreendente Rakitic ter começado o jogo no banco… Depois da derrota em Paris e agora esta em Madrid há quem comece a questionar a capacidade do Barcelona de ganhar «jogos grandes». Luis Enrique não encontrou ainda o seu Barcelona e está agora mais pressionado para fazê-lo. Será fundamental vencer o PSG no dia 10 de Dezembro e o Atlético de Madrid a 10 de Janeiro em Camp Nou.
Para além do jogo há outro aspecto igualmente extraordinário: o «fenómeno mediático global». Este clássico foi transmitido para mais de 100 países e foi visto por 400 milhões de espectadores. Sim, eu repito: 400 milhões. Como explicar este número? Em primeiro lugar estamos a falar dos dois clubes mais valiososdo futebol mundial. De acordo com a Revista Forbes a instituição desportiva mais valiosa do mundo é o Real Madrid com 3440 milhões de dólares, seguido de perto pelo Barcelona com 3200. Depois temos o Manchester United, o Bayern de Munique e … a equipa de basebol dos New York Yankees.


Esta magnitude financeira do Barcelona e do Real Madrid está evidentemente ligada à popularidade do futebol a nível global mas em particular à mediatização da Liga Espanhola. E o que tem o futebol espanhol de tão especial? Penso que para respondermos a esta pergunta temos de olhar para os ingredientes de uma rivalidade a vários níveis e também para o sucesso do Barcelona na formação de talentos espanhóise a sua afirmação enquanto potência europeia.
A rivalidade desportiva entre o Barcelona e o Real Madrid é um espelho das tensões políticas e da história da própria Espanha. Hoje em dia, a questão da independência catalã está na ordem do dia como atesta a controvérsia à volta do referendo, agora inviabilizado pelo Tribunal Constitucional e transformado em consulta popular, do próximo dia 9 de Novembro. Para percebermos melhor o contexto desta questão temos que recuar no tempo. A Catalunha tem uma história multisecular enquanto entidade política e cultural tendo sido absorvida no século XV através do casamento de Fernando de Aragão com Isabel de Castela. A forte tradição de autonomia política e, paralelamente, a manutenção de uma identidade cultural e linguística própria fizeram da Catalunha uma dor de cabeça para os vários reis espanhóis. Foi justamente a uma das suas revoltas que os portugueses devem, em grande parte, a restauração da sua independência em 1640. A esta forte identidade histórica temos que juntar o período franquista para podermos compreender o impacto da rivalidade entre os dois grandes clubes espanhóis.

Franco não foi diferente de outros ditadores e considerou o futebol fundamental para o triunfo do seu regime quer interna quer externamente, um tema ao qual voltarei mais tarde. Do ponto de vista interno associou o projecto de centralização política a um clube da capital: o Real Madrid. Ao longo dos anos promoveu de forma consistente este clube como exemplo do que a sua Espanha deveria ser em detrimento de outros como, por exemplo, os bascos do Athletic e os catalães do Barcelona. Esta abordagem reflectia a opressão intransigente dos vários símbolos regionais e a supremacia do castelhano enquanto língua. O sucesso do Real Madrid a nível externo com a conquista das cinco primeiras Taças dos Clubes Campeões Europeus (que em 1992/93 deu origem à Liga dos Campões) deu a Franco uma ajuda importante no combate à marginalização política do seu regime. Esta foi a equipa do fabuloso Di Stéfano e de jogadores não menos fabulosos que Puskás.
No entanto, ao trazer o futebol para o domínio da política Franco acabou por reforçar justamente o papel de clubes como o Barcelona enquanto símbolos. Dito de outra forma o Barcelona passou realmente a ser «mais do que um clube»: representante da Catalunha e da resistência à ditadura.


Com a morte de Franco uma das questões mais complexas da democracia espanhola foi como lidar com a questão regional. Na tentativa de agradar a todos a Constituição de 1978 acabou por consagrar a existência da nação espanhola e de «nacionalidades». Nas décadas seguintes a Catalunha manteve o seu desenvolvimento económico ao mesmo tempo que reforçou as suas tradições e a língua catalã. A Catalunha é uma região rica em Espanha e ao mesmo tempo orgulhosa da sua história. Se tivesse que escolher os melhores símbolos desta dupla condição optaria pela organização dos Jogos Olímpicos em 1992 e FC Barcelona.

É neste contexto que o sucesso do Barcelona é particularmente relevante. Em primeiro lugar a nível europeu com a conquista da sua primeira «Liga dos Campões» em 1991/1992 sob a liderança de Johan Cruyff, em 2005/2006 com Frank Rijkaard e as duas de Guardiola em 2008/2009 e 2010/2011. Paralelamente, o Real Madrid depois de 32 anos de jejum desde 1966 conquistou o «Olimpo» em 1997/1998 e depois em 1999/2000, 2001/2002 e no último ano a sua Décima. Ao longo destes tempos a rivalidade foi subindo de tom. Ainda me lembro como se fosse hoje do barulho ensurdecedor ao som de pesetero com que Luís Figo foi recebido em Barcelona enquanto jogador do … Real Madrid.
Mas foi a equipa do Barcelona a coluna vertebral da selecção espanhola que nos deu seis anos de futebol de outro mundo e que se sagrou campeã da Europa em 2008 e 2012 e Campeã do Mundo em 2010 na Africa do Sul. Não quero reduzir a aposta estratégica da Federação Espanhola na formação de jovens e a sua ligação aos clubes ao Barcelona mas, sem dúvida, que nesta matéria La Masia é a rainha das academias. São muitos os jogadores espanhóis que de lá saíram e (continuam a sair): Cesc Fabregas, Pedro Rodriguez, Victor Valdes, Gerard Pique, Sergio Busquets, Carles Puyol e, em especial, Andrés Iniesta e Xavi Hernandez. Estes dois médios entraram respectivamente aos 12 e aos 10 anos na academia do Barcelona. Deste modo, a aposta na formação de talentos espanhóis pelo Barcelona beneficiou e muito a selecção espanhola e foi uma peça importante na popularidade do futebol espanhol e da sua liga.
Há ainda um factor final à rivalidade entre o Real Madrid e o Barcelona: a «luta» entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. O percurso de ambos foi diferente. O argentino Leo Messi é um produto La Masia onde chegou aos 13 anos enquanto Cristiano Ronaldo chegou a Madrid em 2009. O percurso notável do número 7 madridista e o numero 10 culétornou-os símbolos do Real Madrid e Barcelona e ingredientes cruciais para a rivalidade mais mediática do mundo.

Raquel Vaz-Pinto

Ronaldo é três vezes bota de ouro. Portugal já tem 10

por A-24, em 05.11.14
Cristiano Ronaldo recebeu a sua a terceira Bota de Ouro, desta vez com o mesmo número de golos de Luíz Suaréz (31), igualando agora Leonel Messi no topo dos melhores goleadores do mundo.
2007, 2010 e 2013
Ronaldo recebe a terceira bota de ouro empatando com Leonel Messi. Portugal já ganhou 10 (embora algumas sejam de estrangeiros a jogar por cá). Lembra-se de quem?
Mario Jardel - 1998 e  2001

Fernando Gomes - 1982 e 1984

Hector Yazalde (1973)
Eusébio Ferreira - 1967 e 1972
Para Portugal vieram já dez troféus, embora nem todos pertençam a jogadores portugueses. Mário Jardel (pelo Porto e Sporting) e Héctor Yazalde (pelo Sporting) foram os estrangeiros a jogar por cá que receberam o troféu. O primeiro a ser atribuído foi para as mãos de Eusébio, que repetiu a dose, tal como Fernando Gomes (duas vezes pelo Porto). Ronaldo é, agora, o melhor português de sempre nesta categoria. E só precisa de mais um título para ser o melhor de sempre – só ele e Messi têm três botas de ouro, à frente de uma longa lista de jogadores que bisaram. Quer ver a lista? Clique na galeria.

Razões para preferir a Liga dos campeões ao futebol caseiro

por A-24, em 21.10.14


8 jogos - 40 golos

A essência do capitão

por A-24, em 13.10.14
Os tempos mudaram e nota-se falta de líderes. Longe vai o tempo onde Veloso, João Pinto ou Oceano impunham respeito à equipa adversária, dentro ou fora de portas. Como verdadeiros líderes.

Ainda um factor importante (ou o futebol mudou)? 
O século XX futebolístico desenvolveu-se com a ideia que o capitão tinha de ser o jogador-símbolo da equipa, quem passa a mística, quem nasceu dentro do clube e o conhece como ninguém. Sejam eles guarda-Redes (Vítor Baía, Damas), defesas (Veloso, João Pinto, Jorge Costa, Beto), médios (Oceano, Coluna, Paulinho Santos) e avançados (Manuel Fernandes, Gomes, José Torres). Mas longe vão os tempos dos eternos capitães no futebol português. Osone-club man já estão em risco sério de extinção. Aquele jogador que manda no balneário, que todos ouvem com respeito e atenção. Hoje isso não passa de uma utopia em quase todos os clubes portugueses. Com a excepção de Briguel no Marítimo e Rui Patrício no Sporting já não existem os jogadores que passam uma vida inteira no mesmo clube como sucede com Totti, Xavi, Gerrard e Casillas por exemplo.

Mas o que é afinal ser um capitão? Nesta fase, em muitos clubes parece ser só o jogador que leva a braçadeira, o elemento que vai à frente na entrada das equipas em campo e quem vai escolher campo ou bola. 
No entanto um capitão é muito mais do que isto. Um capitão tem de ser um líder, dentro e fora do campo. O jogador que sai sem voz do jogo por gritar, reclamar, incentivar a sua equipa. O elemento que passa a sua experiência aos mais novos, que lhes passa a mística, a disciplina e os valores de cada clube. O jogador que une o balneário nos momentos mais difíceis e “mete” os egocêntricos em total comunhão com a equipa. O líder que dá o exemplo em campo.
Em Portugal neste capítulo temos 3 casos completamente distintos nos "grandes". Apenas oBenfica parece ter o jogador com “aquele” perfil para capitão. Ninguém põe em causa que Luisão é o patrão da equipa encarnada. É ele quem grita, quem dá a cara nos momentos difíceis e que passa a mística dos antepassados para os novatos. Que "empurra" a equipa. É preciso nascer com essa liderança e neste campo o emblema da Luz leva claramente vantagem sobre os seus adversários, algo que até acaba por desequilibrar a balança em determinados momentos. O FC Porto por exemplo, desde a saída de Bruno Alves, algo que mais tarde recuperou com o regresso de Lucho, com os resultados que se conhece (importante nos títulos de Vítor Pereira), que está algo descaracterizado neste campo, onde até sempre foi o mais forte. Helton neste momento não conta e esta época começou logo de uma maneira atribulada em relação ao novo dono da braçadeira. Lopetegui começou por dá-la a Quaresma e pouco tempo depois passou-a a Jackson. Situações algo discutíveis, o Mustang, como tem vindo a demonstrar não tem perfil para esse papel, e Jackson, apesar de ser uma presença mais forte, corre o risco de ser uma aposta a curto-prazo, já que tem fortes possibilidades de sair no final da época. Na teoria Maicon era o que encaixava mais nas características de capitão, apresenta um perfil semelhante ao de Luisão, mas continua sem assumir esse papel. Mas o caso do Sportingé o mais intrigante. Desde a saída de Beto, Pedro Barbosa e Sá Pinto que o clube leonino não tem um verdadeiro líder. João Moutinho foi capitão muito novo, Polga não tinha o perfil e Rui Patrício parece seguir o mesmo caminho. Este parece ser um dos grandes problemas desde o último Sporting campeão. A falta de um líder para responder às adversidades. Rui Patrício, apesar de ter crescido na Academia com os valores leoninos, não tem a liderança desejada por uma equipa tão jovem com a do Sporting, que precisa de uma força extra para ultrapassar alguns obstáculos.
Visão de Mercado