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A-24

Estudo: Pior seca na Califórnia dos últimos 1200 anos

por A-24, em 06.12.14
Via Breitbart

As chuvas em todo o estado desta semana tiveram pouco impacto no alívio de seca extrema , na Califórnia. Na verdade, de acordo com um novo estudo científico, esta seca é a pior que a Califórnia tem experimentado nos últimos 1200 anos . Pesquisadores que estudam os anéis das árvores concluiu que " o evento atual é a seca mais severa dos últimos 1.200 anos, com único ano (2014) e os déficits de humidade acumulados, pior do que qualquer período contínuo anterior de anos secos. 
"O estudo publicado como uma pesquisa na revista da American Geophysical Union, foi escrito por Daniel Griffin, da Universidade de Minnesota e Kevin J Anchukaitis do Woods Hole Oceanographic Institution. Ao medir anéis de árvores a partir de cerca de 300 carvalhos azuis, e comparando essas medidas com dados de árvores mais velhas, como sequóias gigantes, os cientistas foram capazes de gerar estimativas de precipitação por séculos. Como o San Jose Mercury News informou: "Os investigadores recolheram amostras de núcleo, que não prejudicam as árvores vivas, de carvalhos com cerca de 500 anos e troncos de carvalho que datam mais de 700 anos (...)
 " Apesar de já terem ocorrido 37 vezes ao longo dos últimos 1.200 anos, quando havia três anos de períodos de seca na Califórnia, nenhum período teve tão pouca chuva e foi tão quente de temperaturas tão 2012-14", relatou o Mercury News. Enquanto isso, os californianos ainda esperam que as tempestades desta semana possam significar o início de uma recuperação .

Obama e Ferguson

por A-24, em 05.12.14
A morte de Ferguson, em breve uma cidade fantasma, é uma tragédia por ser obra do que há de pior na política hoje, o que chamo de Guerra contra a Verdade. George Orwell já havia previsto em “1984″ um regime totalitário em que um Ministério da Verdade seria responsável pela cultura, educação, imprensa e especialmente por reescrever a história conforme o interesse do estado. O que está acontecendo hoje em Ferguson e em várias cidades dos EUA é a materialização das piores previsões de George Orwell. 
Os sanguessugas da esquerda americana, poucas horas após a morte de Brown, roteirizaram uma farsa em que um “gigante gentil” de 18 anos foi abordado por um policial frio, desumano e racista. Mesmo desarmado, indefeso, com os braços levantados e gritando “não atire! não atire!”, o “gigante gentil” foi morto. Fotos “fofinhas” de Michael Brown criança, a mesma técnica usada no caso Trayvon Martin, inundaram o noticiário. A história, falsa como uma nota de três dólares, incendiou o país.
Você não precisa de dois minutos para entender o caso. Michael Brown, um gigante de quase 2 metros de altura e 140 kg, viciado em drogas, entra numa loja de conveniência para cometer um assalto e é filmado pelas câmeras de segurança. Ele sai da loja com o produto do roubo e a polícia é acionada. O policial Darren Wilson para o carro ao lado de Brown para fazer a abordagem, Brown impede que Wilson saia do carro. Brown se projeta para dentro do carro pela janela desferindo vários socos no policial. Brown tenta pegar a arma de Wilson que dispara, atingindo sua mão. Brown corre e Wilson sai atrás dele, Brown se vira e parte para cima de Wilson que dispara matando Brown. Não há qualquer dúvida: o policial matou um assaltante violento em legítima defesa.

O caso Brown, assim como foi o caso Trayvon Martin em 2012, é mais um legado tóxico e destrutivo do pior presidente da história americana, de quem foi eleito prometendo uma democracia pós-racial mas que, na prática, só jogou lenha na fogueira das tensões raciais do país.Darren Wilson matou Michael Brown em legítima defesa. Barack Obama matou Ferguson a sangue frio.

O petróleo como arma geopolítica

por A-24, em 19.11.14
João Marques de Almeida


A descoberta do “petróleo de xisto” nos Estados Unidos constitui uma das transformações geopolíticas mais relevantes dos últimos anos e terá repercussões enormes na política mundial.
O preço do petróleo está nos 80 dólares (mais precisamente nos 83). Eis um dos acontecimentos mais relevantes da política mundial. Há poucos meses custava cerca de 120 dólares. A redução do preço resulta de uma maior produção, desde o “petróleo de xisto” nos Estados Unidos até ao “pré-sal” no Brasil e em Angola. Mas também de uma menor procura, como resultado da crise económica, tanto nos países desenvolvidos como nas economias emergentes.
Petróleo de Xisto
A descoberta do “petróleo de xisto” nos Estados Unidos constitui uma das transformações geopolíticas mais relevantes dos últimos anos e terá repercussões enormes na política mundial. Os Estados Unidos tornaram-se independentes energeticamente e a partir do próximo ano tornar-se-ão exportadores de petróleo. Apesar das fraquezas conjunturais, a prazo os Estados Unidos serão mais poderosos. Como disse um famoso historiador norte-americano, “os Estados Unidos não só nasceram em liberdade mas também com sorte”. E a sorte continua. Além disso, ao contrário de muitos países, nos EUA a descoberta de petróleo não provoca corrupção. Desenvolve novas tecnologias, novas empresas e cria empregos.
O petróleo de xisto serve igualmente como uma arma geopolítica. E Washington já começou a utilizá-la. O Financial Times deste fim de semana publicou um artigo sobre o preço do petróleo com dados interessantes. Para a Venezuela manter as finanças públicas equilibradas – e estamos a falar de uma país que não tem acesso ao financiamento dos mercados internacionais – e não incorrer em bancarrota, o preço do petróleo deverá ser 160 dólares o barril. Para o Irão, seria 130 dólares. E para a Rússia, seria 110 dólares. Isto significa que a manter-se o actual preço de 80 dólares, o futuro destes três países não será brilhante.
Em particular, para a Rússia, a situação pode tornar-se dramática. Como resultado das sanções económicas, os seus bancos deixaram de ter acesso aos mercados, o que torna cada vez mais difícil o crédito às empresas e aos consumidores, afectando gravemente a economia russa. Preocupado com a situação económica, Putin não recorreu, pelo menos por agora, à arma do gás, tendo assinado um acordo com a Ucrânia. Com uma dívida elevada, a Gazprom precisa de vender gás à Europa; e a China não é a melhor alternativa porque, aproveitando as dificuldades da Rússia, impôs um preço do gás inferior ao praticado com a Europa.
Ao mesmo tempo, a maioria das empresas norte americanas produtoras de petróleo de xisto, para ter lucro, precisa de um preço do barril de petróleo entre os 40 e os 60 dólares. Ou seja, os Estados Unidos enfraquecem os seus adversários externos sem prejudicarem a sua economia. A outra boa notícia refere-se à transferência de riqueza e de recursos financeiros dos produtores para os consumidores de petróleo. Ou seja, num país como Portugal, todos nós. Um bom exemplo de alinhamento dos interesses transatlânticos.

Depois de Obama vem o quê?

por A-24, em 12.11.14
Rui Ramos

A ascensão e queda de Obama é um aviso de que carisma e inteligência, mesmo à frente da maior potência, não bastam para dar ao planeta a sensação de controle e direcção.
E pronto, a era de Barack Obama parece ter chegado ao fim. Não vale a pena esperar mais: era só isto que havia para ver. Hoje, é difícil recordar a onda de credulidade que o levou à presidência. Bush era, então, o único problema do cosmos. Barack Obama, que antes mesmo de fazer fosse o que fosse já tinha um Nobel da Paz, ia mudar tudo: reconciliar o mundo com o poder americano, pôr os partidos de acordo, aproximar os grupos étnicos nos EUA. Ao fim de seis anos, nada é como previsto. Nunca se falou tanto das fracturas raciais na América, nunca a polarização política foi tão forte, e nunca, desde 1989, a primazia americana no mundo foi tão contestada. No Iraque, Obama teve de voltar à guerra, invocando aliás a autorização dada a Bush. Afinal, Bush não era o único problema, e portanto Obama não pôde ser a solução.
Mesmo antes de conhecidos os resultados, já alguém lembrava que os votantes brancos do sexo masculino, sempre os mais imunes ao obamismo, constituem geralmente uma percentagem maior do eleitorado em eleições intercalares: mas resta explicar porque é que os outros não apareceram. Obama é hoje um dos mais impopulares presidentes americanos de sempre. Os candidatos democratas tentaram distanciar-se dele, e os candidatos republicanos procuraram fazer destas eleições um referendo ao presidente.
De certa maneira, a presidência de Obama tem sido a negação dos pressupostos da sua eleição. Eleito por organizações de base, assentes nas redes sociais, revelou-se um chefe de Estado remoto, pomposo e autoritário, sem paciência para negociar compromissos e atreito a abusar do poder executivo, como fizera Bush. Promovido pela ideia do “sim, podemos”, pouco mais fez do que correr atrás de crises, sem direcção nem esperança.
O que vem a seguir? Não é claro o que será a agenda da nova maioria republicana. A sua força no senado não é suficiente para contornar a obstrução da minoria democrata ou vetos presidenciais. Bastar-lhes-á minar Obama e preparar a rotação no governo em 2016? Tentarão provar que são capazes de consensos transversais? Limitar-se-ão a sabotar o acordo com o Irão? A verdade é que os partidos americanos não são iguais aos europeus e o que a América elegeu foram umas dezenas de empresários políticos locais, cada um com os seus compromissos e ambições. Ninguém sabe com toda a certeza o que podem fazer.
Criou-se o hábito de conceber a história política do século XX em termos de grandes ciclos: o do “consenso social democrata”, da década de 1930 à década de 1970, e depois, o do “consenso liberal”, desde então. Todos esses ciclos foram iniciados por uma eleição: a de Roosevelt em 1932, no meio da Grande Depressão, e a de Reagan em 1980, no meio da Grande Inflação. O problema destes eventos eleitorais americanos é que nos últimos anos insistimos em submetê-los à astrologia política, a ver se revelam o próximo ciclo.
Em 2004, quando Bush foi reeleito, muitos republicanos decidiram que o novo século ia ser conservador. Nos quatro anos seguintes, os republicanos perderam a maioria no congresso (2006) e a presidência (2008). Em 2008, veio Obama, no meio de uma Grande Recessão, e os democratas decretaram logo o fim do “liberalismo económico”. A ilusão durou dois anos. Em 2010, um movimento anda mais libertário tirou-lhes a maioria na Câmara dos Representantes. Mas em 2012, nada disso chegou para remover Obama da Casa Branca. Da mesma maneira, a vitória republicana de ontem não é necessariamente o bilhete para a presidência em 2016, e muito menos para uma nova era conservadora. Pode apenas querer dizer, como alguns já argumentaram, que o Partido Republicanoestá a tornar-se mais regional (legislativo) do que nacional (presidencial).

É a economia, como gostava de dizer Clinton? Na América, o défice baixou, o desemprego diminuiu, o preço dos combustíveis desceu – mas nada disso dissipou a grande insegurança gerada pela crise de 2008. É tentador culpar os líderes políticos por esta incerteza. Mas a verdade é que o mundo está a passar por uma das maiores transformações de sempre, com o envelhecimento do Ocidente e a ascensão económica da China. Ninguém sabe ao certo como vai ser daqui a uns anos, e as velhas ideologias do século XIX de que ainda vivemos não ajudam a ver mais longe.

A ascensão e queda de Obama é um aviso de que carisma e inteligência, mesmo à frente da maior potência, não bastam para dar ao planeta a sensação de controle e direcção. O mundo está a mudar tanto, que uma eleição já não muda o mundo.

O princípio do fim da tv por cabo?

por A-24, em 23.10.14
Observador


A televisão começou a mudar nos Estados Unidos: Em resposta a serviços como o Netflix, a CBS e a HBO oferecem a sua grelha de canais via internet. Com isto põem em causa os fornecedores de cabo.
O dia 16 de outubro pode bem ficar na história como aquele em que a televisão começou a mudar. A cadeia norte-americana CBS, considerada uma das três grandes, anunciou que vai começar a fornecer o sinal da sua emissão via internet em 14 estados por menos de € 5. Este anúncio segue-se ao do canal de séries HBO, que na véspera tinha anunciado o mesmo a partir de 2015.
Esta é a primeira vez que um grande canal nacional norte-americano oferece a possibilidade de aceder aos conteúdos através da internet, abrindo caminho a que o utilizador tome o poder do que quer ver a cada momento. Embora o canal não forneça o serviço completo — visto que o desporto ficou de fora devido a dúvidas jurídicas sobre os direitos — está também acessível uma parte do imenso arquivo.
Poucos assinalam a crise da televisão, mas há dados que apontam para a redução do número de assinaturas nos serviços de cabo como o princípio do fim dos atuais sistemas de distribuição de sinal televisivo — o sistema de compra em pacote, correspondente a um conjunto de canais dos quais o consumidor apenas utiliza um pequeno número, satisfaz cada vez menos utilizadores.
E a verdade é que os estudos confirmam que as novas gerações continuam a ver o conteúdo televisivo, mas não no aparelho televisão. Fazem-no cada vez mais no computador, no tablet e no telemóvel, mas não na televisão. Isso implica que o sinal vídeo das estações passe a ser mais um conteúdo disponível na internet, algo em que vários canais a nível global apostaram já (casos da AlJj+, da Vice e também da Fusion). E é este o campo onde atuam empresas de serviços bem sucedidas como o Netflix, que conta já com 50 milhões de subscritores — e onde a Amazon e o Hulu estão a tentar crescer. É nesse campo que entra agora a CBS e também a HBO, começando a por em causa os fornecedores tradicionais de cabo.

EUA: Violência doméstica

por A-24, em 19.10.14

A guerra contra o Estado islâmico

por A-24, em 11.10.14
Luís Menezes Leitão

Uma das análises mais correctas sobre o que se estava a passar no mundo resulta de um livro de Samuel P. Huntington, de 1996, intitulado The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order. Nesse livro demonstra claramente como se estava a formar uma nova ordem mundial para o séc. XXI e que nessa nova ordem um dos factores mais decisivos era o Ressurgimento Islâmico. A seu ver a civilização islâmica estava a tornar-se cada vez mais influente a nível mundial, não apenas pela sua maior capacidade de conversão de novos crentes, mas ainda pelo maior crescimento demográfico das suas populações.


Para Huntington a influência mundial da civilização islâmica só não era maior porque o islamismo radical não tinha um Estado religioso forte que pudesse servir de sustentáculo às suas pretensões. A esmagadora maioria dos Estados árabes não apoiava uma versão radical do islamismo, preferindo estar de bem com o Ocidente, e a única excepção, o Irão, baseava-se na corrente xiita do Islão, minoritária em face dos sunitas, o que levava a que não fosse seguido pelos militantes islâmicos radicais.

Por isso o Ocidente ficou descansado com o aumento da influência islâmica no mundo, uma vez que as guerras eram travadas entre os próprios Estadoa arábes, ainda que o ataque ao Kuwait tenha pela primeira vez obrigado a uma intervenção, dado que pôs em causa os interesses ocidentais. Mas Bush pai teve a inteligência de deixar Saddam Hussein no poder, uma vez que bem sabia que o seu derrube só serviria para aumentar a influência do Irão e dos movimentos islâmicos radicais na região.


Bush filho, com uma inteligência rudimentar, e movido por uma questão pessoal, quis derrubar Saddam Hussein, seguindo a estratégia de iluminados como Wolfowitz que achava que o Iraque tinha que ser conquistado, uma vez que "nadava num mar de petróleo". Consta que terá respondido o seguinte a quem o interrogava como é que depois os americanos sairiam do Iraque: "É simples. Não saímos". Nessa estratégia teve o apoio ainda mais desastrado de Blair, Asnar e do nosso Durão Barroso, que juntos criaram um enorme sarilho.

Obama, que é inteligente e tinha a vantagem de se ter oposto desde o início a este disparate, não conseguiu, porém, ver que Wolfowitz tinha razão num ponto: é que depois de se ter entrado no Iraque já não era possível sair de lá. A saída dos EUA do Iraque, associada a um apoio às primaveras nos outros países arábes, foi um campo fértil para os militantes islâmicos radicais, que conseguiram nos territórios sírios e iraquianos aquilo que desde sempre ambicionavam: a reconstrução do califado. Ora, esse Estado islâmico vai ser seguido pelos militantes radicais de todo o mundo e pode ter um sucesso muito mais rápido que o califado original, cujos exércitos chegaram em 80 anos desde a península arábica em 632 até Poitiers em 711. E esse Estado todos os dias proclama o seu ódio aos ocidentais, como se vê pelas execuções que sistematicamente são exibidas.

É manifesto, por isso, que o Ocidente está a ser constantemente desafiado para a guerra, só que já não tem coragem de mandar tropas para o terreno e os ataques aéreos podem fazer mossa, mas não alterarão a situação. Quanto a Portugal, é o ridículo de sempre. Mal li aqui que o Ministro da Defesa afirmava que Portugal vai participar na coligação contra o Estado islâmico, julguei que se estava a planear uma cruzada, ao velho estilo do "Por El-Rey e São Jorge aos Mouros!". Mas afinal o Ministro explicou que "a seu momento se verá" de que forma Portugal participará, tendo em conta que a colaboração pode acontecer de várias formas, designadamente através "de treino, de inteligência, de formação" ou humanitária. Quanto a tropas no terreno, cruzes canhoto. Está visto assim que o Ocidente não vai ter a mínima hipótese de ganhar esta guerra.

Aliança impossível de EUA com a Rússia no combate ao “Estado Islâmico”

por A-24, em 03.10.14
José Milhazes

Não obstante os terroristas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante terem também ameaçado a Rússia e o próprio Presidente Putin, este não se apressa a juntar à coligação internacional que luta contra o ISIS, pois parece recear que o objectivo dos Estados Unidos e seus aliados seja derrubar o regime sírio de Bashar Assad à sombra do combate aos jihadistas.
Numa conversa telefónica com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o Presidente russo defende que, nas operações contra o ISIS na Síria se “deve respeitar o Direito Internacional” e os bombardeamentos aéreos nesse país só deverão realizar-se com o “consentimento do governo sírio”.

Tendo em contra que Washington e os seus aliados deram ouvidos a Putin quando este evitou a invasão da Síria a troco da entrega das armas químicas por Damasco à comunidade internacional, poder-se-ia pensar que também desta vez será possível chegar a um acordo, mas tal não deverá acontecer. Isto porque, ao espezinhar o Direito Internacional na Ucrânia com a anexação da Crimeia e o apoio aos separatistas do leste do país, o Kremlin perdeu o direito de dar lições de moral aos outros, se é que já não tinha perdido esse direito quando da guerra na Chechénia ou da invasão da Geórgia.
E, pelos vistos, os EUA e os seus aliados irão resolver os problemas da Síria e do ISIS à sua maneira, enquanto que a Rússia irá continuar a sua política no país vizinho, embora com mais êxito. O conflito entre Kiev e os separatistas pró-russos está a caminho do congelamento, o que permitirá a consolidação dos poderes nas regiões separatistas e a criação de uma situação como a que existe na Transdnistria em relação à Moldávia. Isto se Putin não avançar ainda para a conquista de corredores para ligar a Rússia à Transdnístria e à Crimeia.
Nesta situação, é difícil esperar uma coordenação de acções entre a Rússia e a NATO face a qualquer problema mundial, a não ser que a Terra seja invadida por extraterrestres. E mesmo assim...

Aliança impossível de EUA com a Rússia no combate ao Estado Islâmico

por A-24, em 28.09.14
José Milhazes


É difícil esperar qualquer coordenação de acções entre a Rússia e a NATO face a um problema mundial, a não ser que a Terra seja invadida por extraterrestres. E mesmo assim...
Não obstante os terroristas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante terem também ameaçado a Rússia e o próprio Presidente Putin, este não se apressa a juntar-se à coligação internacional que luta contra o ISIS, pois parece recear que o objectivo dos Estados Unidos e seus aliados seja derrubar o regime sírio de Bashar Assad à sombra do combate aos jihadistas.
Numa conversa telefónica com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o Presidente russo defende que, nas operações contra o ISIS na Síria, se “deve respeitar o Direito Internacional” e os bombardeamentos aéreos nesse país só deverão realizar-se com “o consentimento do governo sírio”.
Tendo em conta que Washington e os seus aliados deram ouvidos a Putin quando este evitou a invasão da Síria a troco da entrega das armas químicas por Damasco à comunidade internacional, poder-se-ia pensar que também desta vez será possível chegar a um acordo, mas tal não deverá acontecer. Isto porque, ao espezinhar o Direito Internacional na Ucrânia com a anexação da Crimeia e o apoio aos separatistas do leste do país, o Kremlin perdeu o direito de dar lições de moral aos outros, se é que já não tinha perdido esse direito quando da guerra na Tchechénia ou da invasão da Geórgia.
E, pelos vistos, os EUA e os seus aliados irão resolver os problemas da Síria e do ISIS à sua maneira, enquanto a Rússia irá continuar a sua política no país vizinho, embora com mais êxito. O conflito entre Kiev e os separatistas pró-russos está a caminho do congelamento, o que permitirá a consolidação dos poderes nas regiões separatistas e a criação de uma situação como a que existe na Transdnistria em relação à Moldávia. Isto se Putin não avançar ainda para a conquista de corredores para ligar a Rússia à Transdnístria e à Crimeia.
Face a esta situação é difícil esperar uma coordenação de acções entre a Rússia e a NATO face a qualquer problema mundial, a não ser que a Terra seja invadida por extraterrestres. E mesmo assim…

Uma nação encarcerada?

por A-24, em 27.09.14
Via Malomil


Em 2000, o número de reclusos nos Estados Unidos atingiu o impressionante valor de 2 milhões, o que é aproximadamente o quíntuplo do que ocorria em meados dos anos 70. Na América, a taxa de encarceramento per capita é a maior do planeta, sendo aproximadamente dez vezes superior à verificada na Europa ocidental [1] ou entre seis a dez vezes superior à de países congéneres[2]. Enquanto nos Estados Unidos existem 709 reclusos por 100.000 habitantes, esse número é de 129/100.000ha no Canadá, 110/100.000ha no México e 85/100.000ha em França[3]. Curiosamente, na Europa ocidental Portugal é o país com maior população prisional per capita – 145 por 100.000 –, seguindo-se a Grã-Bretanha (125/100.000ha) e a Espanha (110/100.000ha)[4].
Henri Cartier-Bresson, EUA, 1975

Os apelos feitos no início da década de 70 para uma reforma do modo de aplicação das penas, cristalizados no que já se designou por Sentencing Reform Movement, resultaram, de acordo com a opinião unânime de defensores e detractores, num endurecimento claríssimo das sanções aplicadas[5]. Tal fenómeno surgiu no contexto de uma cultura policial marcada por conceitos como zero tolerance, broken windows[6] ou life-style crimes[7] e de uma cultura judiciária caracterizada por uma severidade sem paralelo. A pena de prisão é, de longe, a sanção mais aplicada nos tribunais estaduais e federais. Apesar de se verificarem taxas de criminalidade estáveis ou mesmo mais reduzidas, o número de reclusos subiu de 329.821 em 1980 para 1.284.894 em 1999, um aumento de cerca de 400%, tanto mais vertiginoso quanto uma análise diacrónica ampla, que cobriu o período 1925-1975, revelou que a taxa de encarceramento se mantivera relativamente estável ao longo desses cinquenta anos. Na viragem para o século XXI, 6,3 milhões de pessoas (cerca de 3,1% dos residentes adultos nos Estados Unidos) encontravam-se na prisão ou em liberdade condicional. Há quem fale numunprecedent imprisionment binge nas últimas duas décadas[8], que se deve à confluência perversa do medo colectivo perante o crime e a droga e de uma cultura judiciária para a qual «só a prisão é verdadeira pena»[9]. A maioria das condenações – em percentagens que em algumas áreas se aproximam dos 90% – resultam de declarações de culpabilidade (guilty pleas) dos arguidos.

Para além disso, existem claros padrões de selectividade social que levam a que os arguidos com menos escolaridade, mais pobres ou desempregados sejam alvos de sanções mais pesadas[10], a par de padrões de discriminação racial ainda mais evidentes; na Geórgia, os acusados de matar um branco têm 4 vezes mais hipóteses de serem condenados à morte do que os acusados de matar um negro; nos Estados Unidos em geral, 86% dos negros que cometem crimes sexuais contra mulheres brancas são condenados a penas de prisão, ao passo que apenas 66% dos negros que agridem sexualmente mulheres negras são presos e, menos ainda, somente 54% dos brancos que praticam crimes de natureza sexual com mulheres brancas são encarcerados. Nos crimes sexuais, inúmeros estudos demonstram que a gravidade das penas depende de forma clara das características e do estilo de vida da vítima – idade, cor, profissão, nível de escolaridade, reputação, adopção de «comportamentos de risco» (andar à boleia, consumir bebidas ou estupefacientes) – bem como, nos crimes em que as vítimas são mulheres, do tipo de relacionamento entre o agressor e a vítima: os agressores que não têm qualquer relação com a vítima são mais severamente punidos, ainda que o tipo de crime seja o mesmo. Curiosamente, as juízas são mais severas do que os juízes: a possibilidade de uma juíza aplicar uma pena de prisão, controladas as demais variáveis, é 11 vezes superior à de um seu colega do sexo masculino.

No quadro deste endurecimento generalizado das penas não pode deixar de se referir ainda as leis three-strikes-and-you’re out, que impõem a prisão perpétua ao fim de três condenações e têm vindo a ser contestadas, mesmo pelos defensores da law and order, dada a sua natureza mais simbólica do que real, porquanto a generalidade dos Estados já possuía previsões legais muito severas para os casos de reincidência. 

É certo que a ideia da instauração contemporânea de uma «cultura de controlo» não pode ser absolutizada, havendo sinais de que, em alguns domínios, imperam ainda ideais de tolerância[11]. Assim, oito Estados americanos legalizaram o consumo de cannabis, do mesmo passo que outros estabeleceram programas de substituição para os toxicodependentes; lembre-se ainda que o Supremo Tribunal, atendendo aos «standards evolutivos de decência», considerou serem contrárias à 18ª Emenda à Constituição as execuções de deficientes mentais, o que levou 18 Estados a renunciarem a este tipo de execução. Mais recentemente, numa decisão por maioria tangencial – no caso Roper v. Simmons (2005) – o Supremo Tribunal considerou ser inconstitucional aplicar a pena de morte por crimes cometidos antes dos 18 anos (desde 1976, tinham sido executados 22 jovens nos Estados Unidos, 13 dos quais no Texas). E, noutras decisões igualmente recentes, como Lawrence v. Texas (2003) o Supremo tem vindo a aludir, com frequência crescente, à jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, prática que merece a contestação de alguns juízes mais conservadores, como Antonin Scalia ou Clarence Thomas.

Porém, quase todos os elementos apontam claramente para uma transformação da abordagem da criminalidade que está longe de ser um fenómeno meramente conjuntural. É corrente apontar-se a hegemonia dos meios de comunicação de massas na «fabricação» de uma opinião pública emocionalmente motivada pela divulgação sensacionalista de casos de polícia. Aponta-se ainda a explosão do consumo de estupefacientes e da criminalidade a ele associada como uma das causas não apenas do aumento da criminalidade como da sua «expansividade indiscriminada» por todos os segmentos sociais e por todas as áreas das grandes cidades. Existem, todavia, outros dados menos visíveis mas nem por isso menos importantes: o aumento da esperança de vida fez crescer o peso de camadas mais idosas no seio da população, com uma maior vulnerabilidade do ponto de vista da vitimação e uma maior sensibilidade ao apelo de valores de law and order; o aumento da taxa de divórcios e fenómenos como a gravidez na adolescência produziram um crescimento da monoparentalidade (são monoparentais 70% das famílias afro-americanas dos Estados Unidos) o que, por seu turno, induziu novos problemas de pobreza ou quase-pobreza feminina e infantil; o aumento do nível de vida das classes médias proporcionou-lhes um acesso a bens de consumo apetecíveis para delinquentes, que até aí actuavam apenas junto dos estratos mais baixos ou marginais da sociedade, existindo, por assim dizer, uma «democratização da vitimização». Em resultado de tudo isto, verificou-se um aumento da criminalidade em todas as nações industrializadas desde meados dos anos 60 até à década de 80 do século XX. A circunstância de o aumento da criminalidade ter ocorrido numa fase em que os investimentos públicos em serviços sociais eram muito intensos – nunca tendo cessado de aumentar exponencialmente desde o pós-guerra – fez entrar em crise, pelo menos para algumas correntes, a ideia de que as causas da delinquência radicavam essencialmente na pobreza ou na precariedade das condições de vida. Ao desfazer-se a associação pobreza = crime facilitou-se o caminho a abordagens que orgulhosamente reclamavam um menor «paternalismo» no tratamento da delinquência, advogando em alternativa a adopção de soluções mais simples e directas baseadas num retributivismo puro e no encarceramento em massa em estabelecimentos penitenciários caracterizados pela «dureza» das suas condições. Em nenhuma prisão norte-americana é proibido aos guardas insultar os reclusos; é prática corrente o uso de uniformes e de castigos corporais (golpes de bastão) bem como o trabalho em comum de equipas de reclusos presas entre si por uma cadeia de ferro nos tornozelos (chain gangs). A regra básica é «fazer o prisioneiro sentir-se prisioneiro» (make prisionners smell like prisionners).