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A-24

A secessão de um país depende do tamanho do seu território?

por A-24, em 09.10.14
Via Instituto Ludwig Von Mises

Quando eu ainda era um mero aluno de faculdade vivendo em Montreal, o Quebec já estava pleiteando sua secessão do Canadá. Foi uma época intelectualmente empolgante, especialmente para um americano como eu, que sabe que, caso o mesmo debate ocorresse nos EUA, as ferrovias que vão para o estado secessionista seriam destruídas e sua população seria esfaimada.
Agora que a Escócia está planejando fazer o mesmo, seria legal açular novamente as controvérsias, só que em termos puramente econômicos.
Em 1995, a pergunta era se Quebec deveria se separar da Confederação Canadense. As emoções falaram mais alto. Um dos líderes secessionistas argumentou, imprudentemente, que a vitória do "Sim" faria com que todos os demais eleitores canadenses se sentissem como "lagostas jogadas na água fervente". Açulando ainda mais os nervos estavam os federalistas alertando sobre um iminente caos econômico, político e monetário em caso de secessão. No final, o voto foi incrivelmente apertado: 49,4% votaram pela secessão; 50,6% votaram pelo não.
Com a Escócia indo às urnas semana que vem para decidir se irá ou não se separar do Reino Unido, o tom da campanha, novamente, é de paixão e emoção. E os secessionistas, novamente, já estão se aproximando do valor mágico dos 50%. Mas isso ainda não é o suficiente para abrir aquela garrafa de malte: até o momento, as casas de aposta em Londres ainda estão pagando 4 para 1 contra a vitória dos secessionistas. (O que significa que, se você apostar uma libra na vitória da secessão, você ganhará 4 libras caso sua aposta seja a vencedora).

Mas, ainda assim, a secessão permanece uma possibilidade real.

Um dos principais debates é sobre se a Escócia é pequena demais ou insignificante demais para se tornar independente. Durante o referendo de Quebec ocorreu um debate praticamente idêntico, com os secessionistas argumentando que o Quebec possuía uma população maior que a da Suíça e um território maior que o da França, ao passo que os federalistas preferiam comparar Quebec aos EUA ou ao "resto do Canadá" para mostrar sua insignificância.

Em uma curiosa coincidência, a Escócia de 2014 e o Quebec de 1994 têm praticamente a mesma população: entre 5 e 6 milhões de pessoas. Isso é praticamente o mesmo que a Dinamarca ou a Noruega, e meio milhão a mais que a Irlanda. Mesmo em termos territoriais, a Escócia se impõe: praticamente o mesmo tamanho da Holanda e da Irlanda, e três vezes maior que a Jamaica. O fato de Irlanda, Noruega, Holanda e Jamaica serem considerados países de tamanho sustentável é apenas mais um ponto em prol dos separatistas.

Portanto, ser pequeno é possível. Agora, é uma boa ideia?

A resposta, talvez um tanto surpreendente, é um retumbante "sim!". Ao menos estatisticamente. Por quê? De acordo com os números do World Bank Development Indicators (Indicadores de Desenvolvimento do Banco Mundial), dentre as 45 nações soberanas da Europa, os países pequenos são quase duas vezes mais ricos que os países grandes. A diferença da riqueza per capita entre os 10 maiores e os 10 menores é de 84% quando se considera toda a Europa, ou 79% quando se considera somente a Europa Ocidental.
Trata-se de uma diferença abismal. Para colocar um pouco de perspectiva, uma diferença de riqueza de 79% é a diferença entre a Rússia e a Dinamarca. Isso é impressionante quando se considera as similaridades históricas e culturais dentro da própria Europa Ocidental.
Mesmo entre as nações de mesmo idioma, as diferenças são gritantes: a Alemanha é mais pobre, em termos per capita, do que as pequenas nações que também falam alemão (Suíça, Áustria, Luxemburgo e Liechtenstein); a França é mais pobre, em termos per capita, do que as pequenas nações que falam francês (Bélgica, Andorra, Luxemburgo, Suíça novamente, e, é claro, Mônaco). Até mesmo a Irlanda, que foi durante séculos devastada pelos ingleses belicistas, é hoje mais rica do que seus senhores do Reino Unido, que possui um território 15 vezes maior.
Por que isso ocorre? Há duas razões. A primeira é que os governos de países menores tendem a ser mais suscetíveis às demandas de sua população e mais intimidados por ameaças de emigração. Quanto menor o país, mais forte tende a ser a reação da população a políticas insensatas, e consequentemente mais sensatas tendem a ser as políticas adotadas por seus governos. Ideias ruins tendem a ser corrigidas mais precocemente. 

Como explicou Hans-Hermann Hoppe:

Governos pequenos possuem vários concorrentes geograficamente próximos. Se um governo passar a tributar e a regulamentar mais do que seus concorrentes, a população emigrará, e o país sofrerá uma fuga de capital e mão-de-obra. O governo ficará sem recursos e será forçado a revogar suas políticas confiscatórias. Quanto menor o país, maior a pressão para que ele adote um genuíno livre comércio e maior será a oposição a medidas protecionistas. 
Toda e qualquer interferência governamental sobre o comércio exterior leva a um empobrecimento relativo, tanto no país quanto no exterior. Porém, quanto menor um território e seu mercado interno, mais dramático será esse efeito. Se os EUA adotarem um protecionismo mais forte, o padrão de vida médio dos americanos cairá, mas ninguém passará fome. Já se uma pequena cidade, como Mônaco, fizesse o mesmo, haveria uma quase que imediata inanição generalizada.
Imagine uma casa de família como sendo a menor unidade secessionista concebível. Ao praticar um livre comércio irrestrito, até mesmo o menor dos territórios pode se integrar completamente ao mercado mundial e desfrutar todas as vantagens oferecidas pela divisão do trabalho. Com efeito, seus proprietários podem se tornar os mais ricos da terra. 
Por outro lado, se a mesma família decidir se abster de todo o comércio inter-territorial, o resultado será a pobreza abjeta ou até mesmo a morte. Consequentemente, quanto menor for o território e seu mercado interno, maior a probabilidade de sua adesão ao livre comércio.
Caso Mao Tsé-Tung fosse o prefeito de uma pequena cidade em vez de chefe de um país de quase um bilhão de pessoas (à época), suas ideias insanas não teriam chacinado milhões de pessoas.
A segunda é que países pequenos não têm dinheiro para desperdiçar em ideias megalômanas. Coisas como guerra ao terror, guerra às drogas, invadir outros países, mandar tropas para outros países, ou espalhar bases militares ao redor do mundo não estão na agenda desses países. Uma Escócia independente, ou o Quebec, não irão invadir o Iraque. É necessário um país grande para se fazer coisas realmente insanas.
É claro que há outras questões mais prementes a serem consideradas pelos escoceses, de impostos e subsídios a empresas ameaçando ir para a Inglaterra em caso de secessão. Além de, é claro, as profundas questões histórico-culturais da região.
Ainda assim, como economistas, o que podemos dizer é que a Escócia é grande o suficiente para "sobreviver" por conta própria; e, com efeito, é bem provável que ela se torne mais rica após a secessão. É melhor se tornar pequena e rica como a Irlanda do que continuar grande e pobre (sempre em termos per capita) como o Reino Unido.

Escócia continua a ser parte do Reino Unido. "Não" venceu com 55%

por A-24, em 19.09.14


O “não” à independência da Escócia ganhou com uma vantagem de dez pontos percentuais, mas o verdadeiro resultado final pode ter mais consequências para o Reino Unido do que se esperava: o primeiro-ministro escocês, Alex Salmond, já avisou que vai cobrar as promessas de maior autonomia feitas por Londres e o chefe do Governo britânico, David Cameron, respondeu com uma proposta de reforma constitucional que também prevê um reforço dos poderes dos deputados ingleses.
As sondagens das últimas semanas indicavam um resultado mais renhido, mas as empresas de estudos de opinião tinham avisado que os cálculos podiam bater muito ao lado, o que acabou por acontecer.
O "não" recolheu 55,3% dos votos e o "sim" 44,7%, depois de várias sondagens terem apontado para um empate técnico. Traduzido em número de eleitores, dois milhões de escoceses deixaram bem claro que preferem continuar a fazer parte do Reino Unido, mais 400 mil do que os defensores da independência.
O "sim" até ganhou com votações expressivas em grandes regiões, como Glasgow e Dundee, mas na grande maioria do território os escoceses votaram preferencialmente a favor da manutenção no Reino Unido.
Em Edimburgo, o "não" registou 61,1% dos votos, sendo este um dos dez círculos em que a rejeição da independência ficou acima da barreira dos 60% – nas ilhas Orkney o “não” obteve 67,2% e nas Shetland 63,7%.
Além de Glasgow, o "sim" venceu em West Dunbartonshire (54%), Dundee (57%) e North Lanarkshire (51%).
A afluência às urnas foi histórica, algo que já não se via numa votação desde a década de 1950 – 84,59% dos eleitores responderam à chamada.
É um resultado que pode ser aproveitado por ambas as partes para reclamar um prémio – maior para Londres, porque o resultado foi mais expressivo do que faziam prever as sondagens mais recentes, e um prémio de consolação bastante generoso para os independentistas, porque foi este referendo que lhes abriu as portas a uma autonomia mais alargada.
Estes dois sentimentos ficaram bem patentes nos discursos do primeiro-ministro escocês, Alex Salmond, e do chefe do Governo do Reino Unido, David Cameron.
Salmond aceitou a derrota, mas incluiu duas palavras no seu discurso que têm como objectivo continuar a deixar Londres em sentido – sim, os escoceses decidiram permanecer no Reino Unido, mas apenas "nesta fase".
"É importante dizer que o nosso referendo foi um processo consentido e acordado e que a Escócia decidiu por maioria não se tornar, nesta fase, num país independente", disse Salmond. "Aceito o veredicto do povo e apelo a todos na Escócia a fazerem o mesmo e a aceitarem o veredicto democrático do povo da Escócia"
O líder da campanha pelo “sim” agradeceu às pessoas que o acompanharam no sentido de voto, e sublinhou que ter "1,6 milhões de pessoas" (1.617.989, segundo os números oficiais) a pedir a saída do Reino Unido "é uma votação substancial pela independência da Escócia".
"Uma afluência de 86% é uma das mais elevadas de sempre no mundo democrático em qualquer eleição ou referendo. Foi um triunfo para o processo democrático e para a participação na política", frisou Alex Salmond.
Mas a aceitação da derrota fez-se acompanhar por um aviso de que as promessas de Londres vão ser cobradas, e não só pelos que votaram a favor da independência.
"Os partidos unionistas prometeram devolver mais poderes à Escócia, nos derradeiros momentos da campanha. A Escócia espera que essas promessas sejam honradas rapidamente", declarou o primeiro-ministro escocês.
No dia 9 de Setembro, numa tentativa de garantir a vitória do "não" no referendo, os líderes dos três partidos unionistas – David Cameron (conservadores), Ed Miliband (trabalhistas) e Nick Clegg (democratas liberais) – prometeram apoiar um plano para a devolução de poderes à Escócia traçado pelo antigo primeiro-ministro britânico Gordon Brown.
David Cameron, que jogava grande parte do seu futuro político neste referendo, acabou por conseguir manter-se à tona, e lançou um contra-ataque que serve também para aplacar a fúria de muitos dos seus colegas de partido contra as promessas de devolução de poderes à Escócia.
"Ouvimos a voz da Escócia, e agora as milhões de vozes da Inglaterra também devem ser ouvidas", disse o primeiro-ministro britânico, na reacção aos resultados do referendo.
Cameron comprometeu-se a cumprir as promessas feitas nos últimos dias da campanha na Escócia, mas elevou a parada, comprometendo-se com uma "revolução de devoluções" em todo o Reino Unido, como escreve o jornal The Guardian.

Putin e a Independência da Escócia

por A-24, em 18.09.14
via Estado Sentido

Os movimentos falsamente separatistas ou de anexação que se têm vindo a desenovolver nos limites da Europa convencional ou para além da sua matriz política, instigados e levados a cabo pela Rússia, na Geórgia, na Ucrânia, com uma nítida expressão na Crimeia em tempos mais recentes, embora desligados dos pressupostos nacionais europeus, podem ser reconduzidos aos mesmos. O referendo escocês, respeitante à sua independência, intensificou reinvindicações antigas e certamente fará eclodir novas solicitações de autonomia. Ambrose Evans-Pritchard releva, de um modo abrangente, quais os candidatos à fragmentação da Europa. Uma interpretação excêntrica e ousada destes eventos de dispersão, obriga os decisores da União Europeia a ter de pensar uma lógica inversa na (de) construção europeia. A haver expressão democrática e positiva no sentido da independência nacional de um conjunto de povos residentes na União Europeia, o Tratado da União Europeia torna-se parcialmente obsoleto ou conceptualmente irrelevante. As forças centrifugas e de concentração política que se acham firmadas na constituição europeia, estão a ser ultrapassadas pela realidade. Embora seja impensável uma intervenção britânica para proteger os direitos dos cidadãos que residem na Escócia, Putin lança no seio da Europa ocidental o perfume dos seus argumentos e da sua acção. De um modo pensado ou não, a verdade é que a analogia entre um cenário e outro, poderá ser resgatada para plantar divisões nas hostes da centralidade da União Europeia. Existem muitos modos de levar a guerra ao inimigo, e a Rússia não hesitará em partilhar os seus métodos com as partes interessadas. Numa lógica ainda mais ultrajante, imaginemos o apoio que a grande Rússia poderia emprestar aos diferentes movimentos nacionais que se encontram espalhados pelo mainland da Europa ocidental. Eu sei que talvez seja uma extrapolação exagerada, a roçar os limites da racionalidade teutónica, mas todas as possibilidades devem ser colocadas em cima da mesa. De Berlim a Londres, da Catalunha ao reino dos Algarves.

O Reino Desunido

por A-24, em 17.09.14
Lucy Pepper

Ainda bem que não posso votar. Um lado, um grande lado, da minha família é escocesa, e faz-me impressão que de repente possa pertencer a um novo estado.
Na semana passada, sugeri que, aos olhos do resto do mundo, Portugal não tem muito mais existência do que a de um destino de férias. Esta semana, acontece o referendo da independência da Escócia, e é possível que o Reino Unido deixe de existir — e não apenas metaforicamente.
No corrente Reino Unido, as relações entre os países individuais que o compõem são de facto complicadas… Os ingleses e os galeses odeiam-se uns aos outros. Os ingleses e os irlandeses do Norte suspeitam uns dos outros. Os galeses, os irlandeses do Norte e os escoceses (e por vezes, a gente da Cornualha, que também aspira à independência) sentem-se irmanados na luta contra o grande opressor inglês: os Celtas contra os “Normandos”… Esta semana, é a relação entre os escoceses e os ingleses que vai mesmo vai ser testada.
No corrente Reino Unido, a maior parte das pessoas que tem sangue escocês está sempre disposta a contar ao resto do mundo que tem sangue escocês. Ser escocês é fixe, é ter genes de guerreiro, pertencer às antigas tribos selvagens, forte e sem medo, o corajoso “underdog”. Coisas boas saíram da Escócia ao longo dos anos; o telefone, a televisão… o “teacake” de Tunnocks (é como uma bomboca, nojenta e doce — mas adoro-os). Nem preciso de mencionar Irn Bru (pode googlar) e whisky. A Escócia é atrevida, divertida e forte. É altamente refinada mas também rebarbativa. A Escócia é severa, cinzenta e escura, mas ao mesmo tempo consegue ver a piada das coisas.
Os ingleses gozam com os escoceses por serem preguiçosos, beberem e fumarem demasiado, só comerem fritos e morrerem de ataques cardíacos aos 27 anos, ou por serem presbiterianos velhos e rabugentos, contrários a tudo que é bom. No entanto, têm de admitir que adoram os escoceses, e desejariam ser tão resistentes e adorados como eles. Por isso, nas últimas semanas, os ingleses entraram em pânico, ao perceberem que podem mesmo perder a Escócia. Londres deixou tudo suspenso e correu a implorar aos escoceses que fiquem.
Do outro lado, os escoceses que têm sangue inglês nunca o declaram. Para eles, os ingleses são convencidos, arrogantes, fracos, pomposos — totós carecas que não sabem que o que têm é bom. Para os escoceses, os ingleses não são divertidos e queixam-se, em vez de fazer o que os escoceses fariam: continuarem a fazer o que tem de ser feito, mesmo à chuva e sem botas. Quanto mais do sul da Inglaterra é um inglês, pior é para os escoceses.
Os escoceses não confiam nada nos ingleses e, historicamente, têm razão. Nos últimos séculos, a Escócia foi muito mal tratada por Londres, embora eu não creia que Escócia tenha sido tratada de maneira pior do que o norte da Inglaterra ou outras regiões suficientemente remotas para Londres não lhes ligar nenhuma. Os londrinos, tal como os lisboetas, esquecem-se facilmente de que o país, e as vezes o mundo inteiro, não roda à volta deles.
O desprezo pelos ingleses na Escócia é forte, e é bem capaz de afectar o voto. Se o resultado for Sim, haverá pânico (nos dois lados), mas haverá optimismo (nos escoceses). Há tanta incógnitas por decifrar (a moeda e a filiação na UE; quanto petróleo ainda resta no Mar do Norte?; haverá passaportes novos e visas para os totós ingleses?), que será uma época difícil mas emocionante, essa de descobrir como vai ser um novo país.
Se o voto for Não, haverá amuos e discussões mas, acho eu, um grande sentido de alívio, especialmente no “País Ainda Chamado O Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, Graças a Deus”.
Ainda bem que não posso votar. Um lado, um grande lado, da minha família é escocesa, e faz-me impressão que de repente possa pertencer a um novo estado. A minha cabeça está interessada em ver como uma Escócia independente podia funcionar, embora me pareça arriscado, mas o meu coração não quer ver um Reino Desunido.

A Escócia é um dos bens maiores do Reino Unido, e não estou a falar do petróleo.

Luta entre o "Sim" e o "Não" até ao fim na Escócia

por A-24, em 16.09.14
Cerca de quatro milhões de pessoas são chamadas a participar no referendo de dia 18 sobre a independência da Escócia. E nem todas elas são escocesas. O que suscita alguma polémica. Se o "Sim" ganhar isso emitirá ondas de choque por todo o Reino Unido e toda a Europa. Se o "Não" sair vencedor, Londres terá de repensar a sua relação com o resto da União, aceitando descentralizar poderes em áreas como a dos impostos, saúde ou educação

David Cameron admitiu andar nervoso. Quase chorou, quando na semana passada foi a Edimburgo pedir aos eleitores que não votem no "Sim" à independência da Escócia. "Ficaria com o coração partido se esta família de nações que reunimos, e com as quais fizemos tantas coisas, se separasse", disse o primeiro-ministro britânico, "quase em lágrimas", reportou o 'The Guardian'.
Esta 2.ª feira, Cameron, líder do Partido Conservador, voltou à Escócia, mais precisamente ao porto petrolífero de Aberdeen, para defender o "Não". A incerteza é total, mostra a guerra de sondagens, que ora dão a vitória a uns, ora a dão a outros.O "Sim" à independência da Escócia significaria "um divórcio doloroso", disse, pedindo: "Não separem esta família".
Daí o esforço de última hora do líder britânico, que não quer ficar nos livros de História como o primeiro-ministro do Reino Unido que perdeu a Escócia (após uma União com mais de 300 anos). Atualmente, o Reino Unido é formado por Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte.
O alarme de Cameron e dos líderes dos principais partidos políticos do Reino Unido - como o vice-primeiro-ministro liberal-democrata Nick Clegg e o líder da oposição trabalhista Ed Miliband - soou alto quando, há uma semana, no dia 7, uma sondagem YouGov para o 'The Sunday Times' deu pela primeira vez o "Sim" à frente do "Não" nas intenções de voto. 51% para um lado e 49% para o outro. Uma semana depois, uma sondagem ICM, realizada on-line e divulgada este domingo pelo 'Sunday Telegraph', deu 49% ao "Sim", 42% ao "Não" e 9% de indecisos. Excluindo estes, o "Sim" tem 54%, o "Não" 46%. Porém, este inquérito foi feito junto de uma amostra de apenas 705 pessoas, refere o próprio jornal.

Cameron, Clegg e Miliband cancelaram os compromissos que tinham na semana passada - incluindo a participação na sessão semanal de perguntas ao Governo - e partiram para a Escócia . Desde então, outras sondagens têm colocado o "Não" em vantagem. No sábado, um inquérito de opinião ICM, publicado pelo 'The Guardian', deu 42% ao "Não" e 40% ao "Sim", acusando ainda a existência de 17% de indecisos. Se estes não forem levados em conta, os inquiridos que disseram ir votar "Não" são 51% e os que disseram ir votar "Sim" são 49%.
Apoiado por conservadores, liberais-democratas e trabalhistas, o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown, natural da Escócia, prometeu que se o "Não" vencer no dia 18, no dia seguinte será apresentado um novo plano para transferir mais poderes de Londres para o Parlamento escocês. Alex Salmond, primeiro-ministro escocês, líder do Partido Nacionalista Escocês, criticou os políticos britânicos dizendo que "a equipa Westminster" está "em pânico". E recusou qualquer plano B para a Escócia que não seja a independência. Salmond e o seu partido (SNP, em inglês) conseguiram maioria absoluta nas eleições de 2011 e viram a partir daí aberto o caminho para convocar um referendo, que foi autorizado por Londres, após algumas negociações.
As esperanças dos nacionalistas na independência são, em grande parte, alimentadas pelas receitas do petróleo do Mar do Norte que, dizem, deviam ser geridas pela Escócia. Mas há muitas questões em aberto, desde a moeda, o estatuto perante a UE, a capacidade de ter um sistema de pensões sustentável, de manter o nível de despesa sem aumentar impostos, etc... A campanha do "Não", que tem o 'slogan' Better Together' (Melhor Juntos) e escolheu como líder o ex-ministro das Finanças Alistair Darling, argumenta que votar pela independência é dar um salto para o abismo e que ninguém sabe, ao certo, o que poderia acontecer no dia 19 se o "Sim" ganhasse no dia 18. Londres recusa, por exemplo, permitir que a libra esterlina seja a moeda de uma Escócia independente, como quer Salmond. Num artigo publicado no 'New York Times, na semana passada, o Nobel da Economia, Paul Krugman, deixou um alerta: "a combinação de uma independência política com um moeda partilhada é a receita para o desastre".
Desastre ou não, Salmond também já esclareceu, numa entrevista que deu este domingo, que se o "Não" vencer no dia 18, o referendo sobre a independência da Escócia não deverá ser repetido pelo menos nos próximos 20 anos. Se o "Sim" ganhar, cantará vitória, Cameron tentará fazer uma gestão de danos, podendo desde logo começar a ver surgir uma rebelião para o tirar do poder dentro do seu próprio Partido Conservador. E quanto à Rainha Isabel II? O Palácio de Buckingham fez saber que a monarca é neutra nesta questão. Até porque se a Escócia sair do Reino Unido, os escoceses querem que Isabel II continue a ser a Rainha da Escócia.Porém, no domingo, à saída de uma missa no castelo de Balmoral, na Escócia, a monarca disse a uma súbita: "pensem com cuidado no futuro".
A Europa está também atenta ao resultado da consulta popular, onde votam pessoas com mais de 16 anos e que vivem na Escócia (os escoceses a viver fora não podem votar). Países como a Espanha, por exemplo, esperam para ver, pois o desfecho do referendo escocês tanto pode desencorajar como encorajar ainda mais os nacionalistas catalães. Estes têm previsto realizar um referendo sobre a independência da Catalunha a 9 de novembro, à revelia da justiça e do Governo espanhol. Ao contrário do que aconteceu no Reino Unido, não houve qualquer acordo entre o primeiro-ministro Mariano Rajoy (do Partido Popular) e o presidente da 'Generalitat' Artur Mas (da coligação Convergência e União). DN

A União Europeia, epifenómeno da independência escocesa

por A-24, em 16.09.14

Via Combustões

A irresistível atracção de uma independência arriscada

por A-24, em 15.09.14
Público

Uma multidão corre monte acima sem saber se no topo encontrará a bandeira da vitória ou apenas um precipício. A incerteza não trava o entusiasmo, alimentado pela sensação de que a meta está próxima. Na retaguarda, um segundo grupo grita, tenta convencer os primeiros a parar e a evitar o desastre que, garantem, se avizinha. Na nação de William Wallace e Robert the Bruce, a metáfora é irresistível na tentativa de descrever o fervor que tomou conta da campanha a favor da independência da Escócia, transformando o referendo que Londres imaginava ganho à partida numa hipótese real de, muito em breve, o Reino Unido perder um terço do território e um décimo da população.

A eventual amputação do Reino Unido – união de três séculos que os defensores descrevem como “uma das mais bem-sucedidas da história”, mas que outros vêem como um arcaísmo a precisar, no mínimo, de uma urgente reforma constitucional – terá consequências imprevisíveis e que não se esgotam nas quatro nações que o compõem. Numa Europa onde os nacionalismos voltam a ganhar força, a independência escocesa servirá de alento a outros; num mundo onde os equilíbrios se desmoronam, o redesenhar de velhas fronteiras prevê-se desestabilizador.


Por que parecem então os escoceses dispostos a arriscar tanto, se é verdade, como indicam as últimas sondagens, que a distância entre os que defendem a independência e os que querem manter-se britânicos é muito curta? Ou, como escreveu a Time na última edição, por que vacilam entre “um arranjo que lhes é familiar – o diabo que já conhecem, na óptica dos nacionalistas – e um salto para o desconhecido”?
Haverá motivos para todos os gostos entre os 4,2 milhões que se registaram para votar na próxima quinta-feira, um número recorde (97% da população residente com mais de 16 anos) que culmina uma campanha descrita como a mais mobilizadora da história britânica. Ao contrário do que se poderia imaginar, os séculos de guerras e rivalidade entre Londres e Edimburgo não foram chamados ao debate. Defraudando as expectativas da campanha pelo “não” à independência, também não foram os argumentos económicos que mais cativaram a atenção dos eleitores.
“Os alertas sobre os custos e os riscos da independência foram mais ou menos ignorados pelos apoiantes do ‘sim’”, disse ao PÚBLICO Christopher Whatley, professor de História Escocesa da Universidade de Dundee, explicando que os nacionalistas conseguiram passar a mensagem de que estes receios “são invenções dos políticos de Westminster, dos unionistas e dos media” e souberam centrar o debate “num princípio mais importante: o da autogovernação”. Alex Salmond, primeiro-ministro escocês e força motriz da campanha pelo “sim”, “foi extremamente bem-sucedido a convencer as pessoas de que a Escócia será um lugar muito melhor se for independente. É uma mensagem positiva que, para muita gente, é verdadeira.”
Whatley, coordenador do projecto 5 Milhões de Perguntas, com que a universidade quis ajudar a aprofundar o debate, explica que a favor de Salmond joga “o sentimento de autoconfiança redescoberto nas últimas décadas pelos escoceses”, resultado de um crescimento económico que deve muito às receitas petrolíferas do Mar do Norte e ao abandono da antiquada indústria pesada em favor de outros sectores mais dinâmicos. A isto junta-se um renascimento cultural e o sucesso do governo autónomo, que desde 1999 controla boa parte das políticas públicas, assegurando excepções (como a isenção de propinas nas universidades ou cuidados gratuitos para os idosos) que são extremamente populares.
É irónico, admite o historiador, que o sucesso recente da Escócia – que é também um sucesso da sua aliança com Londres – seja usado como argumento a favor da independência. Mas explica que os nacionalistas souberam usar a seu favor o “sentimento de que a Escócia tem sido ignorada, o que muitas vezes é verdade, e está sub-representada” em Westminster.
Por contraste, os defensores da união insistiram em defender o status quo – até que a subida do “sim” nas sondagens os obrigou a prometer mais poderes para Edimburgo – e tentaram por tudo demonstrar o irrealismo do projecto nacionalista. “A ideia de que a independência tem apenas a ver com dinheiro é suficientemente má. Pior ainda é a ameaça de que uma Escócia independente iria perder a rainha, os mísseis, os cérebros, a BBC, recebendo em troca apenas pobreza e terroristas”, escreveu no Guardian o jornalista Simon Jenkins.
Janan Ganesh, comentador político do Financial Times, acrescenta que não é só a péssima condução da campanha que explica a subida do “sim”. “A verdade crua sobre a união é que os fundamentos que a sustentavam [o império, as forças armadas, as ameaças externas] estão a enfraquecer.” Se em 1970, 40% dos escoceses se definiam também como britânicos, hoje apenas 23% o fazem.
Nos editoriais em que apelam ao voto no “não”, tanto a revista Economistcomo o FT apontam muitos erros aos cálculos do projecto de Salmond: a união monetária com o que restar do Reino Unido (e que Londres rejeita à partida) iria obrigá-lo a subir impostos e a cortar na despesa; as receitas petrolíferas para suportar o aumento das despesas sociais estão sobrestimadas; as negociações com Londres sobre a divisão da dívida ou do petróleo terão um desfecho menos positivo do que espera.
Argumentos que apelam à razão de muitos eleitores – não é coincidência que a ligeira retoma do “não” nos últimos dias tenha acontecido depois da avalancha de alertas feitos pelas grandes empresas –, mas deixam outros indiferentes. Sobretudo porque o debate se centrou muito em questões ideológicas.
O Partido Nacionalista Escocês, a que os trabalhistas puseram em tempos a alcunha “tories de tartan”, apropriou-se, sob a batuta de Salmond, de bandeiras que pertenceram no passado ao Labour. O seu nacionalismo apresenta-se como moderado – ao contrário de outros nacionalistas europeus, Salmond quer mais imigração – e defensor dos valores sociais de uma Escócia em contraciclo com o caminho político seguido pelo resto do Reino Unido. Recusando o liberalismo que faz escola em Londres, promete aos eleitores uma “Escócia mais próspera e mais justa”, inspirada no modelo norueguês (mesmo que as suas receitas petrolíferas sejam muito inferiores). É essa argumentação que levou a Salmond afirmar, com grande eco junto dos eleitores, que só a independência permitirá impedir a privatização do serviço de saúde.
Os adversários denunciam a manipulação (Edimburgo tem total controlo sobre a saúde), mas, como escreveu Johnathan Freedland na revista New Yorker, “é difícil negar que a Escócia desenvolveu uma paisagem política diferente” de Inglaterra. No artigo, o jornalista recorda que o afastamento começou com Margaret Thatcher, a primeira-ministra que privatizou as indústrias que dominavam a economia escocesa, combateu o poder dos sindicatos, numa política que afectou desproporcionalmente a Escócia operária. Os tories, que ainda em 1955 tinham vencido ali as legislativas, foram erradicados – em 2010 elegeram apenas um deputado.
Cameron, com as suas políticas de austeridade e a sua história de privilégio, acentuou o divórcio ao ponto de as suas intervenções na campanha pelo “não” serem vistas como trunfos para os independentistas. Salmond, com grande efeito político, avisa os eleitores para o risco de uma futura aliança entre os conservadores e os antieuropeus do UKIP, para assegurar que a vitória do “sim” é a garantia de que “nunca mais a Escócia será governada pelos tories”.
A perspectiva conquistou os eleitores tradicionais do Partido Trabalhista, durante muito tempo opositores ideológicos da causa independentista, mas desiludidos com as políticas centristas do New Labour fundado por Tony Blair. Um dos sucessos dos nacionalistas, escreveu a Economist, é que “ao falarem dos tories estão cada vez mais a referir-se a todo o sistema político, que os escoceses criticam tanto como qualquer outro britânico”, dando a entender que, governe quem governar em Londres, os interesses da Escócia não serão tidos em conta. Christopher Whatley concorda: “Westminster é visto, em resumo como pouco disposto a ouvir, distante e não representativo da opinião pública escocesa.”
Da direita e sobretudo da esquerda várias vozes argumentam que a austeridade que dói aos escoceses é a mesma que atinge os ingleses, galeses ou irlandeses, e que as suas exigências – seja mais poder de decisão, seja uma sociedade menos desigual – devem ser resolvidas através de reformas que abranjam todo o Reino Unido. “Percebo o entusiasmo que se vive tanto dentro como fora da Escócia. Mas deste lado da fronteira, espero que os escoceses não desistam ainda desta união estranha, confusa e imperfeita”, escreveu Freedland num artigo para o Guardian, dizendo estar antes de mais “preocupado com o país que eles podem deixar para trás”.

Acerca da independência escocesa

por A-24, em 11.09.14
Paul Krugman


Next week Scotland will hold a referendum on whether to leave the United Kingdom. And polling suggests that support for independence has surged over the past few months, largely because pro-independence campaigners have managed to reduce the “fear factor” — that is, concern about the economic risks of going it alone. At this point the outcome looks like a tossup.
Well, I have a message for the Scots: Be afraid, be very afraid. The risks of going it alone are huge. You may think that Scotland can become another Canada, but it’s all too likely that it would end up becoming Spain without the sunshine.
Comparing Scotland with Canada seems, at first, pretty reasonable. After all, Canada, like Scotland, is a relatively small economy that does most of its trade with a much larger neighbor. Also like Scotland, it is politically to the left of that giant neighbor. And what the Canadian example shows is that this can work. Canada is prosperous, economically stable (although I worry about high household debt and what looks like a major housing bubble) and has successfully pursued policies well to the left of those south of the border: single-payer health insurance, more generous aid to the poor, higher overall taxation.
Does Canada pay any price for independence? Probably. Labor productivity is only about three-quarters as high as it is in the United States, and some of the gap may reflect the small size of the Canadian market (yes, we have a free-trade agreement, but a lot of evidence shows that borders discourage trade all the same). Still, you can argue that Canada is doing O.K.
But Canada has its own currency, which means that its government can’t run out of money, that it can bail out its own banks if necessary, and more. An independent Scotland wouldn’t. And that makes a huge difference.
Could Scotland have its own currency? Maybe, although Scotland’s economy is even more tightly integrated with that of the rest of Britain than Canada’s is with the United States, so that trying to maintain a separate currency would be hard. It’s a moot point, however: The Scottish independence movement has been very clear that it intends to keep the pound as the national currency. And the combination of political independence with a shared currency is a recipe for disaster. Which is where the cautionary tale of Spain comes in.
If Spain and the other countries that gave up their own currencies to adopt the euro were part of a true federal system, with shared institutions of government, the recent economic history of Spain would have looked a lotlike that of Florida. Both economies experienced a huge housing boom between 2000 and 2007. Both saw that boom turn into a spectacular bust. Both suffered a sharp downturn as a result of that bust. In both places the slump meant a plunge in tax receipts and a surge in spending on unemployment benefits and other forms of aid.
Then, however, the paths diverged. In Florida’s case, most of the fiscal burden of the slump fell not on the local government but on Washington, which continued to pay for the state’s Social Security and Medicare benefits, as well as for much of the increased aid to the unemployed. There were large losses on housing loans, and many Florida banks failed, but many of the losses fell on federal lending agencies, while bank depositors were protected by federal insurance. You get the picture. In effect, Florida received large-scale aid in its time of distress.
Spain, by contrast, bore all the costs of the housing bust on its own. The result was a fiscal crisis, made much worse by fears of a banking crisis that the Spanish government would be unable to manage, because it might literally run out of cash. Spanish borrowing costs soared, and the government was forced into brutal austerity measures. The result was a horrific depression — including youth unemployment above 50 percent — from which Spain has barely begun to recover.
And it wasn’t just Spain, it was all of southern Europe and more. Even euro-area countries with sound finances, like Finland and the Netherlands, have suffered deep and prolonged slumps.
In short, everything that has happened in Europe since 2009 or so has demonstrated that sharing a currency without sharing a government is very dangerous. In economics jargon, fiscal and banking integration are essential elements of an optimum currency area. And an independent Scotland using Britain’s pound would be in even worse shape than euro countries, which at least have some say in how the European Central Bank is run.
I find it mind-boggling that Scotland would consider going down this path after all that has happened in the last few years. If Scottish voters really believe that it’s safe to become a country without a currency, they have been badly misled.

Por que nos tornamos tão ricos? Aparentemente, ninguém sabe

por A-24, em 28.01.13
Ludwig Von Mises

Ao longo de toda a história humana, de tempos em tempos, um grupo que até então não usufruía nenhuma vantagem específica sobre nenhum outro grupo repentinamente dá um salto para a frente e passa a se sobressair em relação a todos os demais. Ninguém sabe por que isso acontece ou como isso acontece. Mas o fato é que acontece.
No final do século XVII, a Escócia era conhecida apenas pelos rigores de seu clima, por sua paisagem e por sua teologia calvinista. A produção de algodão vinha ocorrendo há séculos, mas a Escócia continuava sendo um país atrasado. E então, sem nenhum aviso, os escoceses começaram a dominar o pensamento europeu. Adam Smith chegou atrasado nesse processo. Antes dele houve Francis Hutcheson. Houve Lord Kames na área do direito. Houve o poderoso intelecto de David Hume. Houve Adam Ferguson na teoria social. O pensamento social nas ilhas britânicas e na América do Norte passou ter uma orientação crescentemente escocesa.
E então, no século XIX, os escoceses começaram a dominar a indústria. Começou com James Watt e sua máquina a vapor. Isso foi expandido, nos anos 1820, para uma nova invenção: as ferrovias com locomotivas a vapor. E então vieram as estradas macadamizadas, assim chamadas em homenagem ao engenheiro escocês John Loudon McAdam. Depois surgiram as ceifadeiras, criadas por Cyrus McCormick, e as siderúrgicas, criadas por Andrew Carnegie. Ambos eram escoceses que viviam nos EUA. Mais tarde, no início do século XX, os escoceses foram substituídos pelos judeus.

Regiões: Os independentistas não são uma ameaça

por A-24, em 22.01.13
Da adesão automática da Escócia à UE, no caso de separação do Reino Unido, ao tratamento dos pedidos de ajuda militar para por fim a grupos pró-independentistas, o recente aumento do espírito separatista na Europa levanta questões difíceis à União. Os líderes da UE têm de manter a calma, defende um jornalista grego.


Apesar das alegações em contrário, a UE é, essencialmente, uma união de Estados-nação e assim continuará a ser até que haja uma radical revisão do acervo comunitário, coisa que, pelo menos por agora, não se vislumbra.
Não existe melhor prova disto do que o facto de, mesmo depois da sua “modernização” no Tratado de Lisboa, o Parlamento Europeu, a única instituição diretamente eleita pelos povos da Europa, continuar a ser a mais fraca de todas as partes. Quando a crise financeira e da dívida soberana representou um desafio existencial para a UE, o processo de tomada de decisão passou imediatamente das instituições comunitárias para as representações nacionais.
Mas quando a integridade desses Estados-nação fica ameaçada, a UE não consegue manter uma distância de segurança dos acontecimentos que estão a desenrolar-se na Flandres, na Catalunha ou na Escócia, como alguns dos seus parceiros gostariam que acontecesse. O recente ressurgimento dos movimentos secessionistas, no rescaldo da crise, irá colocar vários desafios a Bruxelas.

Potencial efeito multiplicador
Primeiro, as regiões europeias que aspiram à independência já começaram a fazer perguntas perturbadoras, implicitamente, por enquanto, mas brevemente serão explícitas: se os escoceses votarem a favor da independência, no referendo de 2014, a Escócia tem de voltar a pedir para ser membro da UE? Os catalães deixarão de ser cidadãos europeus se escolherem separar-se da Espanha? Como reagirá a UE se um dos seus membros pedir ajuda porque está a enfrentar “uma ameaça à segurança nacional” por parte de um movimento independentista?
A opinião jurídica convencional diz-nos que se passar a existir um novo Estado na Europa, esse Estado terá de passar por todo o processo de adesão e garantir a aprovação unânime dos Estados-membros existentes para poder ser aceite no clube. Segundo o Tratado de Lisboa, a cidadania europeia é “complementar” da cidadania nacional de um Estado-membro.
Mesmo que a UE conseguisse gerir política e legalmente um incidente isolado de secessionismo (por exemplo, a Escócia), um potencial efeito multiplicador no País Basco, Catalunha, Tirol do Sul, Flandres, alsacianos e corsos em França, polacos na Lituânia, frísios na Holanda e muçulmanos no nordeste da Grécia desestabilizaria a União no seu todo.
Manter a calma
Mesmo hoje, o grande medo dos movimentos separatistas influencia a condução da política da UE. Por exemplo, cinco dos 27 países da UE – Chipre, Grécia, Roménia, Eslováquia e Espanha – recusam-se a reconhecer o Kosovo, para que esse reconhecimento não sirva de encorajamento aos movimentos independentistas dentro dos seus próprios territórios. A situação é especialmente complicada em Chipre, o único Estado-membro da UE que, segundo as Nações Unidas, está parcialmente sob ocupação estrangeira (turca). A aprovação da UE à independência de uma qualquer região da Europa seria vista pelas autoridades cipriotas como uma luz verde de jure[pela lei] à divisão da ilha.
Mesmo em casos menos complicados, como o do Reino Unido, uma abordagem positiva da UE à independência escocesa colocaria uma pressão ainda maior sobre as relações entre Londres e Bruxelas. Então, como deve responder a UE? Acima de tudo, mantendo a calma.
Os movimentos independentistas não são irreversíveis. Por exemplo, as sondagens mostram que na Escócia uma larga maioria tenciona votar a favor da permanência do país no Reino Unido. Em Espanha, as sondagens mostram que os catalães querem um referendo mas estão divididos no que diz respeito a votarem contra ou a favor da independência. Os nacionalistas da Flandres parecem mais dispostos a aceitarem uma confederação do que uma rutura completa, enquanto o enigma de quem ficaria com Bruxelas é suficientemente complicado para ajudar a manter a Bélgica unida.
O exemplo alemão
A UE deve adotar uma posição clara sobre o estatuto jurídico das regiões separatistas – as pessoas que aspiram à independência têm o direito de tomar decisões informadas. Sente-se nas manifestações da Escócia e da Catalunha que a probabilidade de ficar fora da UE é um forte impedimento à secessão.
Na maior parte dos casos dos movimentos independentistas, o argumento principal é que os seus povos estão fartos de “subsidiarem” ou o governo central ou as regiões mais pobres. Uma utilização mais eficaz dos fundos estruturais da UE, a fim de ajudar as regiões mais pobres a apanharem as mais ricas poderá ser uma questão de sobrevivência para alguns Estados-membros.
Neste momento é quase certo um processo de revisão dos tratados que deverá ter início logo após as eleições europeias de 2014. Até agora, os cenários apocalípticos sobre o fim da zona euro ou uma desagregação da UE têm-se mostrado absolutamente errados. A crise acelerou o processo de unificação europeia em quase todos os aspetos – fiscal, financeiro, político. À medida que a UE caminha para uma maior integração, também deve ser dado às suas regiões um papel mais forte na tomada de decisão.
O caso da Alemanha – o mais bem-sucedido Estado federal da UE – ilustra bem que não há incompatibilidade entre essa forte governação regional e o federalismo. Pelo contrário, a autonomia regional na Alemanha dá legitimidade democrática à estrutura federal.