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A-24

O estranho Festival Vegetariano de Phuket

por A-24, em 09.11.14
Observador


O Festival Vegetariano é um evento anual celebrado no mês de outubro na ilha tailandesa de Phuket e que coincide com o nono mês lunar do calendário chinês. Durante nove dias, a comunidade chinesa faz uma dieta estritamente vegetariana ou “vegan” para limpar o corpo e a mente. São também realizados vários rituais religiosos, que se acreditam atrair boa sorte.
Apesar de não se conhecerem as origens do festival, acredita-se que este tenha sido trazido para Phuket por um grupo itinerante de ópera chinês. Depois de terem atuado na ilha, o grupo terá ficado doente com malária. Os cantores decidiram então fazer uma dieta vegetariana rigorosa e rezar aos Nove Deuses Imperadores para alcançarem a purificação do corpo e da mente. Para o espanto de todos, o grupo acabou por recuperar da doença que era, na altura, fatal. Para celebrar, a população local organizou um festival em honra dos deuses.



Com o passar dos anos, o festival foi crescendo até ganhar a dimensão que tem hoje. Todos os anos, centenas de pessoas vindas da China e de outras regiões da Ásia viajam até Phuket para participarem nas celebrações.
Os participantes acreditam que ao evitarem comer carne e outros produtos de origem animal estão a atrair boa sorte, paz de espírito e a contribuir para uma saúde melhor. Apesar de também existir em outros países como a Malásia ou Singapura com o nome de Festival dos Nove Deuses Imperadores, a província de Phuket tem uma série de tradições muito próprias. Para além dos rituais praticados nos vários templos chineses da região, são também realizadas outras práticas menos comuns, que atraem um grande número de curiosos a Phuket durante a celebração.

São várias as práticas de auto-mutilação associadas ao Festival Vegetariano e todos os anos dezenas de pessoas são feridas com gravidade. De acordo com oHuffington Post, em 2011, 74 pessoas ficaram feridas e uma morreu. Essas práticas são realizadas por “mediums”, os “mah song” (“cavalos dos deuses”), homens e mulheres que furam as bochechas e outras partes do corpo com diferentes objetos, de paus a espadas. Acreditam que ao perfurarem o próprio corpo, os deuses absorvem as más energias, livrando-os do mau “karma”, da doença e da tristeza.

Multiplicai-vos e crescei

por A-24, em 23.08.14
A Batalha


O Parlamento aprovou mais uma proibição. No Irão passou a ser proibido que os médicos pratiquem actos que impeçam os pacientes de ter descendência de forma permanente. A lei vai no mesmo sentido das indicações do líder supremo, o Ayatollah Ali Khamenei, que pretende duplicar a população do Irão. No princípio do ano, Ali Khamenei referiu mesmo que “o Irão deveria ser um país de 150 milhões de pessoas e não de 77″, como é na actualidade. A lei prevê uma excepção à regra: os médicos poderão levar a cabo este tipo de intervenções quando não efectuá-las resulte em colocar em risco a saúde do paciente. A lei prevê também outra proibição complementar: os meios de comunicação social ficam impedidos de publicarem artigos que possam pormover o controlo da natalidade. Em Junho, o Parlamento aprovou uma norma geral que estabelece penas de prisão para quem efectue procedimentos de controlo de natalidade. A justificação da lei foi dada pela “necessidade de incrementar a fertilidade no país e impedir que haja uma diminuição da população.” Antes das proibições, as vasectomias deixaram de ser financiadas, em prol da natalidade.
Dentro da maré de proibições, as autoridades iranianas não permitirão que a BBC volte a emitir do país. A promessa foi assegurada pelo Ministro da Cultura e Orientação Islâmica, Alí Yanati. “Não se deu nenhuma licença À BBC e a redacção de notícias daquele canal não irá reabrir. Está claro que os foram indiferentes ou que se opuseram à revolução islâmica e tomaram medidas nesse sentido, nunca gozarão do nosso apoio.” A decisão oficial é produzida alguns dias após se ter anunciado a reabertura para breve da Embaixada britância em Teerão, encerrada em 2011 como protesto político contra a violenta repressão das autoridades iranianas aos manifestantes iranianos que se seguiram à polémica reeleição do Presidente Mahmud Ahmadineyad.
Dois anos após os acontecimentos, os serviços secretos do Irão passaram a considerar que qualquer forma de colaboração com a BBC seria considerada como um acto de espionagem. De passagem, dezenas de pessoas foram acusadas de cooperar com a edição persa da BBC, à qual milhares de iranianos acedem através de satélites, também eles proibidos. A partir de 2013, a repressão aumentou e assumiu as formas de ameaças de morte a jornalistas e seus familiares, perfis falsos nas redes sociais, campanhas de intimidação e descrédito em meios de comunicação afectos ao regime iraniano e que incluíram informações falasas sobre hábitos sexuais, corrupção e tráfico de droga. Recentemente foram detidos e interrogados quatro jornalistas norte-americanos ao serviço do The Washington Post, dois deles fotógrafos. No passado dia quatro de Agosto, Hassan Rohani cumpriu o primeiro ano como Presidente do país mas têm sido moderados os avanços na economia e no capítulo da (falta de) liberdade.

Maravilhas do Islão

por A-24, em 15.07.14
De onde vem a prática
Via Totalitarismo Universalista

No Reino Unido, estima-se que 65 000 raparigas estejam em risco de ser vítimas de mutilação genital feminina (MGF), isto é, há 65 000 raparigas nesse país a quem poderá ser cortado o clitóris num futuro próximo.

Para cúmulo do absurdo, a MGF foi ilegalizada em 1985, mas só agora, quase trinta anos depois, é que começam a ser efectuadas as primeiras acusações formadas. Parece que a justiça britânica não é melhor do que a justiça "tuga"...

Lembrem-se: quaisquer objecções à realidade expressa nesta fotografia são "islamofobia".


Desde 2009, mais de 4 000 mulheres tiveram de ser atendidas nos hospitais de Londres devido a complicações decorrentes desta prática bárbar... eerrr... perdão, desta prática milenar e salutar vinda de outras partes do mundo e que nós europeus devemos respeitar incondicionalmente em nome do progresso e da boa convivência multicultural. Porque só o multiculturalismo é solução!

Mutilação genital feminina

por A-24, em 27.06.14
N.P. E não tardarão muitos anos para que a Suécia comece a aparecer no topo dos países onde mais meninas e mulheres foram genitalmente mutiladas. E porquê? Por que a Suécia certamente teve um passado colonial ou imensas responsabilidades nos conflitos em que intrevieram a Eritreia, a Somália e outros países terceiro-mundo africano de onde esses imigrantes são importados, sabe-se lá para quê.

Na Suécia as escolas examinam periodicamente os genitais dos alunos, mesmo sem autorização dos pais. E foi assim que detectaram que numa turma de 30 alunas todas tinham sofrido mutilação genital.

Parece-me urgente adoptar legislação semelhante em Portugal. Seria possível detectar precocemente alguns casos de abuso sexual, poderíamos fazer um levantamento do número de casos de mutilação genital, e os professores sempre se mantinham entretidos.



School health services in the small Swedish city of Norrköping have found 60 cases of female genital mutilation (FGM) among schoolgirls since March, with evidence of mutilation found in all 30 girls in one class, 28 of the most severe form.
In Sweden, where the EU’s Institute for Gender Equality (EIGE) says that FGM “is considered to be a serious problem,” the law enables genital examination of children to be carried out without parents’ consent.
FGM has been a crime in Sweden since 1982 and can be punished by up to four years in prison, increased to 10 years if judged to be an aggravated offence.
According to EIGE, concerns about FGM became widespread in Sweden in the early and mid-1990s with the influx of Somali migrants: “The first national action taken in the field…was initiated after alarming testimonies from the healthcare sector indicating the existence of FGM among many — if not all — women that originated from FGM-practising countries.”
Now the daughters of immigrants are in danger of undergoing FGM. According to theLocal, the risk of becoming a victim of the procedure increases in the summer when many schoolgirls visit their parents’ home country: “We're working to inform parents that they could face prison if they come back and their children have undergone female genital mutilation,” said Petra Blom Andersson, student health coordinator in Norrköping.
Mutilation carried out abroad has been a crime in Sweden since 1999.
In 2013, Somalis were the third largest group granted asylum in the EU countries, according to a Eurostat figures reported yesterday by Breitbart London, with almost 10,000 granted protection. Sweden gave refugee status to 26,400 people last year, more than any other EU country. The third largest group arriving in Sweden came from Eritrea, a country in which according to a UN report FGM is illegal but widely practised, with the rate estimated at 94 per cent.
FGM is carried out in 28 countries in the world. It involves the cutting and/or the removal of the clitoris and other vaginal tissue, often under unsanitary conditions.
According to the European Commission, “while all EU member states have legal provisions in place to prosecute the perpetrators of FGM, either under general or specific criminal laws, prosecutions are very rare. This is due to difficulties detecting cases, gathering sufficient evidence, a reluctance to report a crime and, above all, a lack of knowledge about female genital mutilation.”

Uigures

por A-24, em 12.05.14
Os uigures são o conjunto de pessoas a quem os antigos viajantes russos chamavam de  Sart (um nome que eles usavam para definir povos sedentários, de língua turca, oriundos da Asia central), enquanto os viajantes ocidentais chamavam-nos Turki, em reconhecimento da sua língua. Os chineses costumavam chamá-los Ch'an-t'ou ('Chefes de turbante "), mas este termo foi abandonado, sendo considerado pejorativo, e os chineses, usando a sua própria pronúncia, agora chamam-nos Weiwuerh

Por curiosidade, nunca foram reconhecidos por um unico nome, houve durante séculos sem nome "nacional" para eles; as pessoas identificavam-nos com os oásis de onde vieram, como Kashgar ou Turfan ".  

Owen Lattimore, "Return to da China Northern Frontier". A Revista Geográfica, vol. 139, No. 2, junho 1973 


Ser FDP é pecado

por A-24, em 02.05.14
A Batalha
A organização terrorista nigeriana Boko Haram sequestrou 200 meninas em idade escolar, na localidade de Chibok, Estado de Borno. A polícia nigeriana confirmou o ataque a uma escola secundária feminina situada no Noroeste do país, mas não adiantou o número de crianças raptadas. De acordo com os pais de algumas das vítimas, foram mais de 200, as meninas raptadas pelo grupo islamista que só este ano matou mais de 1500 civis em três estados da região norte da Nigéria. As jovens estudantes estariam na escola a realizar um exame. O grupo terrorista está particularmente activo. No Domingo, causou 98 mortos e pouco depois protagonizou um ataque a um terminal de autocarros, causando mais de 100 mortos e quase duas centenas de feridos, que cometeram a ousadia de procurarem, como em todas as outras manhãs, chegar ao seu local de trabalho. Na língua local haússa, Boko Haram, significa “a educação ocidental é pecado”. O que dizer das acções, cometidas, de livre vontade, por esta espécie de pessoas que fazem parte de Boko Haram?

O mundo é um lugar estranho

por A-24, em 23.12.13
Na região de Shravasti, no Uttar Pradesh, uma rapariga de oito anos de idade foi a mulher mais nova a divorciar-se na Índia. Sim, leu bem: oito anos de idade. Fatima Magree casou (casaram-na, melhor dito) com Arjun Bakridi quando tinha quatro anos de idade. Sim, leu bem: quatro anos de idade. Quatro anos depois, quando perfez oito anos – uma mulher feita, portanto –, o marido quis levantar a mercadoria. O pai de Fatima opôs-se, dizendo que preferia que a rapariga ficasse até aos 18 anos no lar paterno. Após algumas peripécias, a coisa resolveu-se, e Fatima ficou onde quis, na casa de seus pais. A UNICEF estima que, naquela região, 32,9% das mulheres casem antes da idade legalmente permitida. O distrito de Shravasti tem a maior percentagem de casamentos de menores de idade da Índia. Pormenor relevante: a literacia feminina situa-se nuns baixíssimos 19% da população.

via Malomil

O país onde a violação de uma mulher é higiene pública

por A-24, em 18.12.13
Henrique Raposo

É por estas e por outras que o relativismo tem pernas curtas. Em dezembro de 2012, uma jovem de 23 anos foi violada num autocarro de Nova Deli por um grupo de indivíduos, mas grande parte da sociedade culpou a vítima e não os agressores. Um dos gurus barbudos do hinduísmo, Asaram Bapu, afirmou que a vítima procedera mal ao ter resistido às investidas. Então, não queres um gang-rape, ó beleza? Segundo Bapu, ela devia ter implorado por misericórdia através da invocação do termo 'bhaya' (qualquer coisa como 'mano'). Dessa forma, garante Bapu, os violadores tê-la-iam deixado em paz. Ó galdéria, se me tratares por 'irmão', nós deixamos o nosso plano de violação e vamos à nossa vida como se nada fosse, está bem? A rapariga morreu duas semanas depois no hospital.

Felizmente, as mulheres indianas não aceitam a tese do "isto é a cultura deles". A violência do caso furou pela primeira vez o véu da negação ou da indiferença em relação a este problema endémico. Surgiu na sociedade indiana uma onda de manifestações nunca antes vista contra a normalidade das violações, contra o machismo dos costumes e das leis. Ainda antes do julgamento dos violadores, o quadro legal foi alterado. O estupro deixou a brandura jurídica e entrou no terreno mortal: 20 anos de pena mínima, pena de morte para os casos que provoquem a morte ou o estado vegetativo da vítima. Em setembro, no julgamento mais famoso da história indiana, o tribunal condenou à morte quatro dos agressores. Em paralelo, o número de denúncias aumentou. O caso do autocarro quebrou mesmo a capa da vergonha de muitas mulheres. Em 2012, a polícia de Nova Deli registou 706 denúncias de estupro; entre janeiro e outubro de 2013, o número já estava em 1330. Idem para os casos de abuso sexual: 727 em 2012, 2844 entre janeiro e outubro deste ano.

Mas será que este novo quadro legal resolve o problema? Não. Como dizem os grupos de mulheres indianas, o problema é cultural, está integrado na cultura masculina do país, uma cultura que diz "a culpa é dela" porque tinha um decote às 10 da noite, "estava mesmo a pedi-las". Boa parte da rapaziada indiana não vê a violação colectiva de uma rapariga como um crime ou como um acto imoral, mas sim como uma celebração da masculinidade e, acima de tudo, como uma punição da emancipação feminina. Ó beleza, então andas sozinha por aí, a trabalhar e a ir ao cinema? Ele, o violador, não se sente culpado, é apenas um membro da equipa dos bons costumes; ainda por cima, a culpa fica convenientemente diluída no colectivo do gang-rape. A coragem colectiva é sempre uma tapeçaria de cobardias individuais, não é verdade? E, por falar em cobardia, convém registar que o tal guru foi preso em novembro. A polícia diz que Asaram Bapu violou uma rapariga de 16 anos num comício religioso. Saliente-se que este homem é famoso devido à defesa de uma "vida pia" e afastada dos "prazeres carnais".

As mulheres divinas

por A-24, em 15.08.13

Isoladas em uma floresta no Nepal, as Hana Tharu criaram uma sociedade que já dura 400 anos

Com um bebê no colo e as criancas maiores já dormindo, Ram Putti senta-se à fogueira noturna com membros de sua família ampliada, que inclui várias mulheres que dividem as tarefas domésticas. Algumas fumam e, num canto, dois homens remendam redes de pesca. Logo elas começam a discutir sobre um casamento arranjado que não deu certo.



Quando se trata de questões amorosas, o sorriso das mulheres vira uma acirrada troca de opiniões que se intensifica com a fumaça. Diz uma lenda que foi um assunto do coração que levou o povo tharu à isolada região em que vive no sul do Nepal.
Lal Bahadur, um ancião desse subgrupo conhecido por rana tharu, contou-me que, após a invasão da Índia pelos mongóis no século 16, os rajputs, então membros de uma casta superior do Rajastão, entraram em conflito com um rei muçulmano que queria se casar com uma jovem rajput. As mulheres e as crianças fugiram para o leste, através da Índia, enquanto os homens ficaram para lutar.
Os tharus, como os refugiados ficaram conhecidos, estabeleceram-se numa região de florestas chamada tarai, que se estende por 885 quilômetros no sopé do Himalaia, ao longo da atual fronteira entre o Nepal e a Índia. Quando souberam que todos os homens rajputs estavam mortos, as mulheres começaram a casar-se com os escravos que as acompanharam ao tarai. Os tharus continuaram isolados do mundo externo – protegidos, ironicamente, pelos mosquitos transmissores da malária, que afastou da região os forasteiros.
Embora não sejam imunes, os tharus desenvolveram certa resistência a essa doença letal. Construíram suas casas com materiais da própria floresta e passaram a cultivar a terra e a pescar nas corredeiras dos rios locais.
A vida dos tharus permaneceu simples por quatro séculos. Pouco do que vejo ao redor não foi feito por suas mãos. Rebocadas por dentro e por fora com lama e esterco de vaca, as paredes de suas casas são tão macias que parecem ser de pele.
Os recipientes de argila, os trajes bordados, as redes de pesca que tecem – tudo o que tocam, enfim – são obras de arte.
Contudo, o que vem de fora do tarai – mesmo que seja em nome do progresso – é menos benigno. Estrangeiros introduziram o inseticida DDT durante a década de 50.
A malária foi erradicada, mas com ela desapareceu também a barreira natural contra a intrusão do exterior. Ao contrair empréstimos para pagar as mercadorias que os forasteiros lhes traziam, muitos tharus assinaram documentos que não entendiam – e isso os tornou arrendatários da própria terra. A excessiva derrubada de árvores e um mau gerenciamento das florestas também ameaçam o futuro desse povo.
Mas os dias vão passando. Sempre chove à noite. Ao acordar, deparo com manhãs úmidas e cinzentas. No crepúsculo, retorno à minha tenda. Em uma dessas noites, Chanda, uma mulher idosa, convida-me à sua casa. Ela quer me agradecer por tê-la ajudado a conseguir remédios. Chanda desaparece em seu jardim. Ouço os sons de um pequeno tumulto e, em seguida, ela aparece com uma galinha gorda na mão, os pés da ave amarrados por uma corda. Aqueles que menos têm são os mais generosos. Eu não preciso da galinha, mas Chanda não dá atenção a meu protesto e empurra a ave na direção de minha barriga, querendo dizer que é para ser comida. Por alguns minutos empurramos para lá e para cá a galinha dependurada – até que esta pára de resistir e fecha os olhos.
Preciso aceitar alguma coisa e aponto para uma cabaça pendurada no teto. Chanda ergue as sobrancelhas, perguntando-se o motivo de eu escolher um objeto sem valor em vez de uma refeição quente. Enquanto desamarra o pote, sua filha Kurowa sai da casa e me diz para levar o pote e a galinha. Estou feliz com o pote. Aperto as mãos de Chanda e deixo mãe e filha com a galinha.
As mulheres rana tharus nunca perguntam quando partirei e sim quando estarei de volta. Elas não consideram seu mundo pequeno. Tampouco vêem a floresta como uma camada de proteção contra o resto do planeta.
Mas, quando se forem sua floresta e a cultura que ela sustenta, a perda será incalculável. No dia da minha partida olho para trás através do vidro empoeirado do meu jipe e vejo as mulheres acenando.

Elas são como flores fechadas em uma cápsula de tempo, como a própria divindade.

Veja EDIÇÃO 05/SETEMBRO DE 2000

O sistema de castas na Índia VIII

por A-24, em 09.08.13
A raiva ressoa até no mais alto escalão do governo. De 1997 a 2002, K.R. Narayanan assumiu o cargo de presidente da Índia, o primeiro intocável nessa função. O presidente extrapolou os limites de seu papel e criticou o sistema de castas. Em 2000, na cerimônia do Dia da República, ele parafraseou Ambedkar e disse que, se intocabilidade e discriminação contra as mulheres não fossem eliminadas, “o edifício de nossa democracia será como um palácio erigido sobre um monte de esterco”.
Mas nenhuma retórica porá fim ao drama dos intocáveis, vítimas de uma religião que os julga subumanos e de uma sociedade rural que os explora como escravos. Existe esperança na nova geração de ativistas que emergiu para combater usando as armas do sistema legal. E as linhas divisórias das castas perderam nitidez nos cenários mais anônimos e pragmáticos das cidades. Mas, enquanto não surgir um líder intocável como Ambedkar ou o hinduísmo não deixar de ter papel central na política e na imposição da lei – duas perspectivas distantes –, a vergonha da condição de intocável persistirá.


A mudança fundamental, quando e se vier, será traumática. Acontecerá de aldeia em aldeia, onde os primeiros passos serão atos de desafio. Como o passo dado por Babulal Bairwa, dono de terra na aldeia de Chakwara, no Rajastão.
Certa manhã, Bairwa decidiu banhar-se na lagoa da vila, não freqüentada por intocáveis.
À noite, uma turba cercou sua casa e ameaçou matá-lo. Ele deu queixa à polícia e a um grupo de defesa dos direitos humanos. Agora Bairwa nunca anda sozinho. Ele tem esperança de que seu apelo à Justiça acabe levando à abertura da lagoa para todas as castas. Mas, enquanto isso, vive do único modo que lhe é possível. “Sou limpo. Não fumo, não bebo nem como carne. Trabalho muito. Faço tudo direito. Por que então sou intocável?”
Porque nasceu intocável. Há 160 milhões de indianos que cumprem essa sentença vitalícia.

Veja