A primeira reacção ao resultado do clássico entre o Real Madrid só pode ser … Olé! As razões para vermos este clássico eram muitas. E entre o melhor ataque e a melhor da Liga Espanhola … a vitória do ataque da capital espanhola foi inequívoca.
Carlo Ancelotti calou os críticos e o mesmo pode dizer … Iker Casillas. Eu diria que o momento-chave do jogo foi a defesa do capitão Casillas de um golo quase certo de Leo Messi que teria dado ao Barcelona o 2-0. Mais do que Ronaldo, que marcou de forma impecável o penálti que deu o primeiro golo ao Real Madrid, o que sobressaiu nesta equipa foi justamente o colectivo e o contributo de outras estrelas como Benzema e James. E talvez o terceiro golo simbolize justamente a articulação de uma equipa que vinha sendo criticada neste início de época por ser «apenas» um conjunto de estrelas galácticas. Será difícil fazer esquecer dois jogadores fabulosos como Xabi Alonso e Di Maria mas Carlo Ancelotti tem com esta vitória o caminho mais facilitado para impor as suas ideias num clube que não tem uma estrutura dirigente e massa associativa fácil.
E do lado catalão? Cláudio Bravo foi finalmente batido e por três vezes, Messi não brilhou e Telmo Zarra continua ainda a ser o recordista dos golos na Liga espanhola e o «tridente» deu… um ar da sua graça. Foi dos pés do uruguaio Luís Suárez que saiu o passe para o golo de Neymar. Há quem diga que o Clássico foi «muito cedo» para um jogador que regressa agora aos relvados. Foi uma opção arriscada e Luis Enrique assumiu-a sem complexos mesmo na conferência de imprensa depois do jogo. Diria que este tridente sul-americano vai dar muito que falar tendo em conta a já evidente parceria entre Messi e Neymar e a extraordinária qualidade de Suárez, um jogador com um «instinto assassino» no que toca a golos. Mas foi a opção pelo meio-campo «da casa» que se revelou desastrosa tendo em conta a exibição apagada de Iniesta-Xavi-Busquets. Foi surpreendente Rakitic ter começado o jogo no banco… Depois da derrota em Paris e agora esta em Madrid há quem comece a questionar a capacidade do Barcelona de ganhar «jogos grandes». Luis Enrique não encontrou ainda o seu Barcelona e está agora mais pressionado para fazê-lo. Será fundamental vencer o PSG no dia 10 de Dezembro e o Atlético de Madrid a 10 de Janeiro em Camp Nou.
Para além do jogo há outro aspecto igualmente extraordinário: o «fenómeno mediático global». Este clássico foi transmitido para mais de 100 países e foi visto por 400 milhões de espectadores. Sim, eu repito: 400 milhões. Como explicar este número? Em primeiro lugar estamos a falar dos dois clubes mais valiososdo futebol mundial. De acordo com a Revista Forbes a instituição desportiva mais valiosa do mundo é o Real Madrid com 3440 milhões de dólares, seguido de perto pelo Barcelona com 3200. Depois temos o Manchester United, o Bayern de Munique e … a equipa de basebol dos New York Yankees.
Esta magnitude financeira do Barcelona e do Real Madrid está evidentemente ligada à popularidade do futebol a nível global mas em particular à mediatização da Liga Espanhola. E o que tem o futebol espanhol de tão especial? Penso que para respondermos a esta pergunta temos de olhar para os ingredientes de uma rivalidade a vários níveis e também para o sucesso do Barcelona na formação de talentos espanhóise a sua afirmação enquanto potência europeia.
A rivalidade desportiva entre o Barcelona e o Real Madrid é um espelho das tensões políticas e da história da própria Espanha. Hoje em dia, a questão da independência catalã está na ordem do dia como atesta a controvérsia à volta do referendo, agora inviabilizado pelo Tribunal Constitucional e transformado em consulta popular, do próximo dia 9 de Novembro. Para percebermos melhor o contexto desta questão temos que recuar no tempo. A Catalunha tem uma história multisecular enquanto entidade política e cultural tendo sido absorvida no século XV através do casamento de Fernando de Aragão com Isabel de Castela. A forte tradição de autonomia política e, paralelamente, a manutenção de uma identidade cultural e linguística própria fizeram da Catalunha uma dor de cabeça para os vários reis espanhóis. Foi justamente a uma das suas revoltas que os portugueses devem, em grande parte, a restauração da sua independência em 1640. A esta forte identidade histórica temos que juntar o período franquista para podermos compreender o impacto da rivalidade entre os dois grandes clubes espanhóis.
Franco não foi diferente de outros ditadores e considerou o futebol fundamental para o triunfo do seu regime quer interna quer externamente, um tema ao qual voltarei mais tarde. Do ponto de vista interno associou o projecto de centralização política a um clube da capital: o Real Madrid. Ao longo dos anos promoveu de forma consistente este clube como exemplo do que a sua Espanha deveria ser em detrimento de outros como, por exemplo, os bascos do Athletic e os catalães do Barcelona. Esta abordagem reflectia a opressão intransigente dos vários símbolos regionais e a supremacia do castelhano enquanto língua. O sucesso do Real Madrid a nível externo com a conquista das cinco primeiras Taças dos Clubes Campeões Europeus (que em 1992/93 deu origem à Liga dos Campões) deu a Franco uma ajuda importante no combate à marginalização política do seu regime. Esta foi a equipa do fabuloso Di Stéfano e de jogadores não menos fabulosos que Puskás.
No entanto, ao trazer o futebol para o domínio da política Franco acabou por reforçar justamente o papel de clubes como o Barcelona enquanto símbolos. Dito de outra forma o Barcelona passou realmente a ser «mais do que um clube»: representante da Catalunha e da resistência à ditadura.
Com a morte de Franco uma das questões mais complexas da democracia espanhola foi como lidar com a questão regional. Na tentativa de agradar a todos a Constituição de 1978 acabou por consagrar a existência da nação espanhola e de «nacionalidades». Nas décadas seguintes a Catalunha manteve o seu desenvolvimento económico ao mesmo tempo que reforçou as suas tradições e a língua catalã. A Catalunha é uma região rica em Espanha e ao mesmo tempo orgulhosa da sua história. Se tivesse que escolher os melhores símbolos desta dupla condição optaria pela organização dos Jogos Olímpicos em 1992 e FC Barcelona.
É neste contexto que o sucesso do Barcelona é particularmente relevante. Em primeiro lugar a nível europeu com a conquista da sua primeira «Liga dos Campões» em 1991/1992 sob a liderança de Johan Cruyff, em 2005/2006 com Frank Rijkaard e as duas de Guardiola em 2008/2009 e 2010/2011. Paralelamente, o Real Madrid depois de 32 anos de jejum desde 1966 conquistou o «Olimpo» em 1997/1998 e depois em 1999/2000, 2001/2002 e no último ano a sua Décima. Ao longo destes tempos a rivalidade foi subindo de tom. Ainda me lembro como se fosse hoje do barulho ensurdecedor ao som de pesetero com que Luís Figo foi recebido em Barcelona enquanto jogador do … Real Madrid.
Mas foi a equipa do Barcelona a coluna vertebral da selecção espanhola que nos deu seis anos de futebol de outro mundo e que se sagrou campeã da Europa em 2008 e 2012 e Campeã do Mundo em 2010 na Africa do Sul. Não quero reduzir a aposta estratégica da Federação Espanhola na formação de jovens e a sua ligação aos clubes ao Barcelona mas, sem dúvida, que nesta matéria La Masia é a rainha das academias. São muitos os jogadores espanhóis que de lá saíram e (continuam a sair): Cesc Fabregas, Pedro Rodriguez, Victor Valdes, Gerard Pique, Sergio Busquets, Carles Puyol e, em especial, Andrés Iniesta e Xavi Hernandez. Estes dois médios entraram respectivamente aos 12 e aos 10 anos na academia do Barcelona. Deste modo, a aposta na formação de talentos espanhóis pelo Barcelona beneficiou e muito a selecção espanhola e foi uma peça importante na popularidade do futebol espanhol e da sua liga.
Há ainda um factor final à rivalidade entre o Real Madrid e o Barcelona: a «luta» entre Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. O percurso de ambos foi diferente. O argentino Leo Messi é um produto La Masia onde chegou aos 13 anos enquanto Cristiano Ronaldo chegou a Madrid em 2009. O percurso notável do número 7 madridista e o numero 10 culétornou-os símbolos do Real Madrid e Barcelona e ingredientes cruciais para a rivalidade mais mediática do mundo.
Los datos estadísticos son demoledores. En los últimos 10 años, Cataluña ha pasado de tener 30.000 inmigrantes musulmanes a tener más de 400.000. Hoy la población musulmana supera el 20% en numerosas localidades de la comunidad autónoma. Los musulmanes marroquíes, argelinos y paquistaníes se estructuran en torno a 201 mezquitas, 200 oratorios y 19 madrazas.
Nada de esto habría ocurrido sin la entusiasta colaboración de los gobiernos autonómicos catalanes. El 13 de diciembre de 2009, una mezquita de Manlleu acogió una de las más de 130 consultas independentistas que se celebraron aquel día —ante el mutismo cómplice del Gobierno y el silencio de una oposición dispuesta a hacer cualquier cosa por ganarse el “cariño” de los secesionistas «moderados» catalanes—.
La unión entre secesionistas e Islam no es solo cosa de CiU. El tripartito trabajó en una ley que equiparaba a las iglesias con las mezquitas. Este permanente trato de favor propició la inmigración masiva musulmana y provocó la llegada de imanes salafistas que lograron radicalizar a los musulmanes, muchos de los cuales ingresaron en Al Qaeda y viajaron a Irak, Afganistán y Chechenia para integrarse en la organización terrorista. Contra todo pronóstico, la segunda generación de inmigrantes se está integrando peor que la primera. Es más, los jóvenes musulmanes se sienten desarraigados, reivindican con más fuerza su identidad y buscan una oferta religiosa más radical. Algunos datos presagian el desastre al que se enfrenta Cataluña por renunciar a sus raíces hispánicas: Más de 400.000 inmigrantes musulmanes que no se integran y forman guetos. Pese a haber sido empadronados, en muchos casos sin que pudiesen demostrar su arraigo en la región y recibir toda clase de ayudas asistenciales, la mayoría ha optado por el radicalismo. De hecho, Cataluña es la región europea con un mayor número de salafistas, según coinciden todos los servicios de información europeos.
El panorama es aterrador y ya es solo cuestión de tiempo que los musulmanes de Cataluña, cuando estén organizados y sean mayoritarios en una población en la que merma alarmantemente el número de nacimientos de autóctonos, terminen imponiendo sus propias normas a través de sus propios partidos políticos.
El asunto se complica ante el hecho de que muchos españoles, tras años de fingido victimismo por parte de los nacionalistas catalanes, ven en la islamización de Cataluña una forma de desquite frente a los insultos e injurias de que han sido objeto. El hecho de que miles de españoles, extremadamente críticos con la influencia islámica en Europa, observen con indisimulada delectación el incremento espectacular de la comunidad musulmana en suelo catalán, debería ser un signo de preocupación para los catalanes que aún no hayan perdido la serenidad ni el buen juicio.
“Entre el deshonor y la guerra has escogido el deshonor. Ahora tendrás también la guerra”. Se lo espetó Winston Churchill al primer ministro británico, Neville Chamberlain, cuando éste volvió a su país presumiendo del acuerdo de paz que había alcanzado con Hitler a costa de la desaparición de Checoslovaquia. Las palabras de Churchill son aplicables a todos los nacionalistas catalanes que, en su odio enfermizo a España, han buscado la alianza con el islam cediendo ante ellos una y otra vez. Tenemos actualmente numerosos ejemplos de nuevos Chamberlains que siguen empeñados en ceder ante los liberticidas a fin de alcanzar la quimera secesionista.
A partir do corrente mês de junho, a Catalunha terá os seus representantes na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), com representantes próprios, “sob supervisão do Governo espanhol”, escreve o jornal El Periódico. A notícia surge na sequência da assinatura, em 3 de junho, em Paris, de um acordo entre a diretora da UNESCO, Irina Bukova, e o presidente do governo regional catalão, Artur Mas.
Nos termos desse acordo, os representantes do Governo catalão, nomeados com o aval do Governo central, poderão intervir, pontualmente, em domínios como a educação, a cultura, as ciências sociais, as ciências naturais e a comunicação, explica o jornal, que especifica que
não se trata de uma presença direta e à margem da Espanha, nem do estatuto de que o Québec [que, desde 2006, conta com um representante permanente integrado na delegação canadiana] dispõe nesta instituição internacional.
Em Bucareste, o Evenimentul Zilei explica que se trata de “um pequeno passo para a independência” da Catalunha, apesar de “a perspetiva de uma Catalunha independente não suscitar o menor entusiasmo na Europa”, porque vários países – entre os quais a Roménia, a Bélgica, Chipre, a Itália, a Eslováquia e o Reino Unido – receiam que isso possa estimular os movimentos separatistas no interior dos respetivos territórios.
Da adesão automática da Escócia à UE, no caso de separação do Reino Unido, ao tratamento dos pedidos de ajuda militar para por fim a grupos pró-independentistas, o recente aumento do espírito separatista na Europa levanta questões difíceis à União. Os líderes da UE têm de manter a calma, defende um jornalista grego.
Apesar das alegações em contrário, a UE é, essencialmente, uma união de Estados-nação e assim continuará a ser até que haja uma radical revisão do acervo comunitário, coisa que, pelo menos por agora, não se vislumbra.
Não existe melhor prova disto do que o facto de, mesmo depois da sua “modernização” no Tratado de Lisboa, o Parlamento Europeu, a única instituição diretamente eleita pelos povos da Europa, continuar a ser a mais fraca de todas as partes. Quando a crise financeira e da dívida soberana representou um desafio existencial para a UE, o processo de tomada de decisão passou imediatamente das instituições comunitárias para as representações nacionais.
Mas quando a integridade desses Estados-nação fica ameaçada, a UE não consegue manter uma distância de segurança dos acontecimentos que estão a desenrolar-se na Flandres, na Catalunha ou na Escócia, como alguns dos seus parceiros gostariam que acontecesse. O recente ressurgimento dos movimentos secessionistas, no rescaldo da crise, irá colocar vários desafios a Bruxelas.
Potencial efeito multiplicador
Primeiro, as regiões europeias que aspiram à independência já começaram a fazer perguntas perturbadoras, implicitamente, por enquanto, mas brevemente serão explícitas: se os escoceses votarem a favor da independência, no referendo de 2014, a Escócia tem de voltar a pedir para ser membro da UE? Os catalães deixarão de ser cidadãos europeus se escolherem separar-se da Espanha? Como reagirá a UE se um dos seus membros pedir ajuda porque está a enfrentar “uma ameaça à segurança nacional” por parte de um movimento independentista?
A opinião jurídica convencional diz-nos que se passar a existir um novo Estado na Europa, esse Estado terá de passar por todo o processo de adesão e garantir a aprovação unânime dos Estados-membros existentes para poder ser aceite no clube. Segundo o Tratado de Lisboa, a cidadania europeia é “complementar” da cidadania nacional de um Estado-membro.
Mesmo que a UE conseguisse gerir política e legalmente um incidente isolado de secessionismo (por exemplo, a Escócia), um potencial efeito multiplicador no País Basco, Catalunha, Tirol do Sul, Flandres, alsacianos e corsos em França, polacos na Lituânia, frísios na Holanda e muçulmanos no nordeste da Grécia desestabilizaria a União no seu todo.
Manter a calma
Mesmo hoje, o grande medo dos movimentos separatistas influencia a condução da política da UE. Por exemplo, cinco dos 27 países da UE – Chipre, Grécia, Roménia, Eslováquia e Espanha – recusam-se a reconhecer o Kosovo, para que esse reconhecimento não sirva de encorajamento aos movimentos independentistas dentro dos seus próprios territórios. A situação é especialmente complicada em Chipre, o único Estado-membro da UE que, segundo as Nações Unidas, está parcialmente sob ocupação estrangeira (turca). A aprovação da UE à independência de uma qualquer região da Europa seria vista pelas autoridades cipriotas como uma luz verde de jure[pela lei] à divisão da ilha.
Mesmo em casos menos complicados, como o do Reino Unido, uma abordagem positiva da UE à independência escocesa colocaria uma pressão ainda maior sobre as relações entre Londres e Bruxelas. Então, como deve responder a UE? Acima de tudo, mantendo a calma.
Os movimentos independentistas não são irreversíveis. Por exemplo, as sondagens mostram que na Escócia uma larga maioria tenciona votar a favor da permanência do país no Reino Unido. Em Espanha, as sondagens mostram que os catalães querem um referendo mas estão divididos no que diz respeito a votarem contra ou a favor da independência. Os nacionalistas da Flandres parecem mais dispostos a aceitarem uma confederação do que uma rutura completa, enquanto o enigma de quem ficaria com Bruxelas é suficientemente complicado para ajudar a manter a Bélgica unida.
O exemplo alemão
A UE deve adotar uma posição clara sobre o estatuto jurídico das regiões separatistas – as pessoas que aspiram à independência têm o direito de tomar decisões informadas. Sente-se nas manifestações da Escócia e da Catalunha que a probabilidade de ficar fora da UE é um forte impedimento à secessão.
Na maior parte dos casos dos movimentos independentistas, o argumento principal é que os seus povos estão fartos de “subsidiarem” ou o governo central ou as regiões mais pobres. Uma utilização mais eficaz dos fundos estruturais da UE, a fim de ajudar as regiões mais pobres a apanharem as mais ricas poderá ser uma questão de sobrevivência para alguns Estados-membros.
Neste momento é quase certo um processo de revisão dos tratados que deverá ter início logo após as eleições europeias de 2014. Até agora, os cenários apocalípticos sobre o fim da zona euro ou uma desagregação da UE têm-se mostrado absolutamente errados. A crise acelerou o processo de unificação europeia em quase todos os aspetos – fiscal, financeiro, político. À medida que a UE caminha para uma maior integração, também deve ser dado às suas regiões um papel mais forte na tomada de decisão.
O caso da Alemanha – o mais bem-sucedido Estado federal da UE – ilustra bem que não há incompatibilidade entre essa forte governação regional e o federalismo. Pelo contrário, a autonomia regional na Alemanha dá legitimidade democrática à estrutura federal.
Uma lei sobre o ensino do castelhano em todas as escolas espanholas está a gerar polémica na Catalunha, que recusa adotar essa língua como língua principal no ensino.
A nova lei da educação, apresentada pelo ministro José Ignacio Wert, determina que se uma escola de uma região autónoma não der incidência ao castelhano como língua principal, os pais dos alunos dessa escola podem inscrever os filhos em instituições privadas que o façam, com os custos a desse encargo a pertencerem ao governo regional em causa.
A já conhecida como lei Wert não impede o ensino das outras línguas co-oficiais (catalão, basco e galego), mas determina que essas passam a ser línguas de especialidade.
É da Catalunha que surgem as maiores críticas ao projeto de lei. No momento em que José Ignacio Wert apresentava a proposta, a conselheira da Educação do Governo Regional da Catalunha, Irene Rigau, abandonou a reunião.«Um governo da Catalunha não pode aplicar esta lei», destacou Rigau, que acusa o Governo de lançar o maior ataque ao catalão desde 1978, data em que a língua passou a ser reconhecida como a principal na Catalunha.
O Partido Popular tem maioria absoluta no Parlamento, pelo que pode aprovar a medida sem ceder a eventuais posições contrárias dos restantes partidos. Caso o Governo não recue na intenção, a única hipótese de a lei ser travada é se for considerada inconstitucional.
As vitórias da Espanha nos campeonatos do Mundo e da Europa de futebol foram vistas como um reforço da unidade espanhola. Catalães, bascos, andaluzes, todos vibraram com a visão de jogo de Iniesta e as defesas de Casillas.
Se assim foi, só não se entende por que motivo, e tão pouco tempo depois, tenham ressurgido os ímpetos independentistas na Catalunha.
O Euro2004 foi apontado como o motor da economia que faria regressar o país aos índices de crescimento dos finais dos anos 80. A realidade, porém, mostrou-se diferente e parte da causa da crise de hoje está no endividamento a que nos obrigaram eventos como aquele.
Em 1998, a França sagrou-se campeã do mundo de futebol e, rapidamente, os mais fervorosos optimistas concluíram que o racismo estava erradicado daquele país. Agora já sabemos que o apoio francês à equipa do argelino Zidane não reflectia nada disso. Apenas a vontade de uma vitória que de outra forma não seria possível.
É impressionante como estamos cercados de lugares- -comuns como estes. A verdade é que a unidade não se impõe de cima. O que une as pessoas, quando não a mesma língua, é o interesse da paz possível. Os catalães sabem que os franceses entraram em Barcelona no curto período de 12 anos em que a Catalunha se libertou de Madrid. De mal a mal, que ficassem com Castela. Ontem como hoje. A poeira dos séculos não desaparece com jogos de bola, tal como os milagres económicos não surgem em estádios de futebol.
Press Europe - O tema central das eleições autonómicas catalãs do próximo dia 25 de novembro será a possibilidade de secessão de Espanha. O objetivo do presidente da Generalitat, Artur Mas, é conseguir uma maioria absoluta que legitime um referendo nesse sentido. Mas a tensão da campanha eleitoral revela que os acontecimentos podem ficar fora de controlo, anuncia, com preocupação, o escritor Javier Cercas.
O recente surto independentista na Catalunha causa-me um misto de perplexidade e apreensão. Talvez por isso resolvi quase guardar silêncio escrito sobre o assunto, até porque imagino que haja uma certa afinidade com os leitores desta coluna, e o que tenho para dizer devia ser dito a quem não pensa como eu. Mas esse surto coincidiu com a publicação do meu último romance [Las Leyes de La Frontera (As Leis da Fronteira)] e, nas entrevistas promocionais, fizeram-me perguntas sobre este assunto; respondi, mais ou menos, o seguinte: “Percebo que haja pessoas zangadas e desesperadas. E também entendo que a zanga e o desespero nos levem a pensar que não poderemos ficar pior do que já estamos e que é preferível entrar em aventuras do que continuar fechados neste beco sem saída.
A isto só posso responder com uma certeza e uma confissão. A certeza, evidentemente, é que poderemos vir a ficar não pior mas muitíssimo pior do que estamos (de facto, foi assim que estivemos quase sempre). A confissão é que gosto de aventuras, mas nos livros e nos filmes; na política, não: em política sou um feroz partidário do mais terrível aborrecimento, de um tédio letal, suíço ou, no mínimo, escandinavo (e do sistema político mais aborrecido possível, que é a democracia).
Por isso, fico com os cabelos em pé quando oiço o presidente Mas declarar que irmos até à independência significa entrarmos em ‘terreno desconhecido’. Para os escritores e para os cientistas pisar terreno desconhecido é obrigatório, ir ‘au fond de l’Inconnu pour trouver du nouveau’ [ao fundo do desconhecido para encontrar o novo], como disse Baudelaire; mas, para os políticos, isso deveria ser proibido: se, ao embrenhar-se no desconhecido, o escritor cair no abismo, não acontece nada, porque só ele cai; mas se o político cai no abismo, caímos todos com ele (e o abismo é o abismo da história). Não sei se será necessário acrescentar, além do mais, que não sou nem nacionalista nem independentista.”
Ilusória sensação de unanimidade
Foi isto que eu disse. E desde que o disse a minha surpresa não para de crescer. Surpreendo-me por haver quem me tenha felicitado pela coragem de pronunciar essas palavras. Surpreendi-me quando me cruzei com uma historiadora “catalanista” que me lembrou que Pierre Vilar cunhou a palavra “unanimismo” para se referir a esses momentos sociais em que o medo cala toda a dissidência e cria uma ilusória sensação de unanimidade, e por ela me ter confessado que não se atrevia a dizer em público que discorda do fervor independentista.
Surpreende-me que ainda haja idiotas que continuam sem perceber que, hoje, a esquerda e o nacionalismo – começando em Espanha pelo nacionalismo espanhol – são incompatíveis, e idiotas mais idiotas ainda que não percebem que uma coisa é o nacionalismo catalão, que é só de alguns, e outra coisa é a língua catalã, que é de todos, oferecendo assim um bem comum aos nacionalistas.
Surpreende-me a surpresa que José Manuel Lara provocou ao dizer que a Planeta [a editora que dirige] sairia de uma Catalunha independente e que o secretário-geral da ERC [Esquerra Republicana de Catalunya, um partido independentista de esquerda] diga que uma Catalunha independente seria bilingue, quando o independentismo sempre defendeu que o bilinguismo conduz à extinção do catalão.
Na história não há nada impossível
Surpreende-me a genialidade de Artur Mas que, de um dia para o outro, conseguiu que a Catalunha tenha deixado de o culpar a ele por todos os seus males e tenha passado a atribuir a Espanha a culpa de todos os seus males. Surpreende-me (e horroriza-me) que um ex-presidente [do governo regional da Estremadura] estremenho diga que os estremenhos da Catalunha deveriam ser devolvidos à Estremadura, como se fossemos gado, e surpreende-me (e horroriza-me) que o presidente catalão, encarregue de elaborar as leis e de velar pelo seu cumprimento, afirme que passará por cima da lei.
Dito isto, já me surpreende menos que um escritor quase apele à insurreição armada ou que um político [Alejo Vidal Quadras, deputado do Partido Popular] peça uma intervenção da Guardia Civil na Catalunha. Mas o que mais me surpreende é que pessoas aparentemente sensatas defendam que a secessão da Catalunha se realizaria de maneira cordial e sem traumas e que quase todos pareçam acreditar que é impossível a situação degenerar em violência.
Santo Deus, nem sequer aprendemos que na história não há nada impossível, e que as grandes mudanças quase sempre se fizeram a sangue e fogo? Voltámos a ficar outra vez tão insensatos e pusilânimes que já nem somos capazes de arranjar uma saída civilizada para este imbróglio? Press Europe
Não é a primeira vez que votam, mas desta vez vão fazê-lo com um entusiasmo diferente. Silvia, de 19 anos, e Alba, de 20, acreditam que quando votarem no próximo domingo estarão a dar um passo de gigante para alcançarem o que cresceram a querer sem nunca pensar que fosse possível: a independência da Catalunha, a que chamam, com naturalidade, o seu país.
Quando Silvia e Alba falam, Ana, de 21 anos, assusta-se. “Eu percebo a vontade. Também sou catalã. Mas, ao mesmo tempo, sou espanhola. Acho que primeiro sou catalã, mas gosto de Espanha, não quero deixar de ser espanhola. E dá-me medo. Não sei se é tão fácil como querem fazer parecer. E não sei se vai servir para melhorar alguma coisa.”
O encontro estava marcado à porta da Universidade de Barcelona, onde Silvia e Alba estudam. Nos dez minutos de caminho até à esplanada do Starbucks da Rambla de Catalunya, onde a conversa vai continuar, todas se esquecem da presença de uma estrangeira e falam em catalão. A partir daí, Ana e Silvia passam ao castelhano, enquanto Alba continua na língua materna, desculpando-se de vez em quando e explicando que lhe custa falar outra língua.
Silvia, estudante de Pedagogia, e Alba, quase a acabar o curso de Farmácia, nasceram em Seu d’Urgell, uma pequena cidade de quase 14.000 habitantes, junto aos Pirinéus. São filhas, netas e bisnetas de catalães. “Podes procurar e procurar e não encontras uma só pessoa que não seja catalã na minha família”, garante Alba.
Ana, no último ano de Fisioterapia, vive em Terassa, uma cidade grande a pouco mais de 20 quilómetros de Barcelona. A mãe nasceu na Catalunha, o pai veio da Andaluzia, uma viagem que quase um milhão fez nos anos 1960. “Agora já não tenho família lá. Morreram todos os que ficaram. Os meus primos andaluzes, do lado do meu pai, são os que mais medo têm da independência”, conta. Silvia tem resposta pronta: “Eu conheço um andaluz que é a pessoa mais independentista que já vi. A imagem que tem no ecrã do telemóvel é a senyera [a bandeira da Catalunha com as quatro riscas vermelhas e fundo amarelo]; o toque é o hino do Barça…”
Ana já votou duas vezes, nas últimas eleições autonómicas, há dois anos, e nas eleições nacionais que deram a maioria absoluta ao Partido Popular, há exactamente um ano. À partida, no próximo domingo voltará a votar CiU, a coligação de centro-direita Convergência e União liderada por Artur Mas, presidente da Generalitat (o governo catalão) desde 2010, mas confessa-se confusa. “Eu penso que são os mais responsáveis e confio neles, mas não percebo se querem mesmo a independência ou se dizem que querem para conseguir condições melhores para a Catalunha.”
Uma crise e uma manifestação
A CiU sempre manteve um discurso ambíguo sobre a independência. Mas tudo mudou nos últimos meses. Primeiro, a crise deixou a Catalunha sem dinheiro e a ter de pedir um empréstimo a um fundo criado por Madrid para as regiões autonómicas. Depois, a 11 de Setembro, na Diada – dia em que os catalães assinalam a derrota na Guerra da Sucessão, em 1714 –, 1,5 milhões saíram à rua em Barcelona para uma manifestação com o lema "Catalunha, o novo Estado da Europa". Na semana seguinte, Artur Mas estava em Madrid para apresentar ao presidente do Governo, Mariano Rajoy, o pacto fiscal que permitiria à Catalunha gerir o dinheiro dos seus impostos. Como se esperava, Rajoy recusou discuti-lo. Dias depois, Artur Mas marcava eleições antecipadas e pedia “uma maioria excepcional” para conduzir a região no caminho da independência.
Silvia vota Esquerra Republicana de Catalunya, partido que já defendia abertamente a independência. Alba está indecisa entre a Esquerra e o CUP, um partido independentista de esquerda que nunca se apresentou às eleições para o Parlamento da Catalunha. Ambas sabem que a CiU de Artur Mas vai vencer e ambas esperam que a Esquerra seja a segunda força política. “Assim, a CiU vai ser mesmo obrigada a avançar para o referendo sobre a independência”, explica Ana.
Todas as sondagens dão a vitória à CiU, mas nenhuma com a maioria absoluta que Artur Mas pediu. Alguns inquéritos colocam a Esquerra em segundo; outros os conservadores do PP. Todos dão uma maioria – mais ou menos alargada – ao conjunto das forças políticas que defendem a secessão.
Dinheiro e emoções
Os inquéritos anuais do Centro de Estudos de Opinião da Generalitat mostram que o sentimento independentista tem vindo a crescer de forma sustentada: este ano, pela primeira vez, 51% dos inquiridos disseram que votariam “sim” num hipotético referendo sobre a separação. Mas, de uma forma ou de outra, analistas, políticos e eleitores coincidem em afirmar que foi a crise a acelerar o movimento actual. Silvia e Alba não têm dúvidas. “Espanha rouba-nos. Rouba-nos e trata-nos mal, ainda por cima”, diz Alba.
Artur Mas também o diz. Segundo os líderes catalães, Espanha fica a dever todos os anos 16 mil milhões de euros à região. Dinheiro que é cobrado em impostos catalães e gasto por Madrid em regiões menos ricas. Assim, a culpa da crise catalã, uma das regiões mais endividadas do país, não é de Barcelona mas de Madrid.
Alba paga 2700 euros de propinas; Silvia quase 2000, muito menos do que os seus colegas de outras regiões autonómicas, garantem. Também pagam mais na farmácia e nos hospitais. E demoraram mais do que regiões com menos população a ter o comboio de alta velocidade, por exemplo.
Há argumentos mais emocionais. “Eu nem consigo ver a televisão espanhola”, diz Silvia. “A Telemadrid, a Intereconomia… Até tenho vergonha. A maneira como eles falam dos catalães”, reforça Alba. As duas têm histórias sem fim de como elas próprias e as famílias foram maltratadas em Madrid por falarem catalão em restaurantes e bares. “Foram eles que provocaram isto”, afirma Silvia.
Os nacionalismos exacerbam os nacionalismos e o nacionalismo espanhol alimenta-se do catalão e vice-versa. O Governo do PP é mais centralista do que os anteriores executivos socialistas e o actual ministro da Educação, Jose Ignacio Wert, ousou dizer que queria mais castelhano nas escolas. “Eles querem uma Espanha única, como era com Franco. Mas quanto mais nos querem tirar, mais nós nos afastamos deles”, acusa Silvia.
Medo e sentimentos
Ana não tem só medo de ver a Catalunha sem Espanha, também tem medo de uma Espanha sem Catalunha. “Não sei quem ficaria pior. E dá-me pena, faz-me impressão. Não sei o que pode acontecer depois. E se houver uma guerra? E se os bascos quiserem o mesmo? E se boicotarem os nossos produtos, como já fizeram?”, questiona-se. “Se continuarmos na União Europeia não muda nada”, responde Alba. “Claro que vai ser difícil, vai envolver muitas reformas e demorar tempo, mas é uma oportunidade de começar de novo”, acrescenta Silvia.
Nem Silvia nem Alba conseguem bem descrever o que significa para elas serem catalãs. “É um sentimento. Uma História comum. É emocionares-te quando vês os castellers”, descreve Silvia, referindo-se aos castelos humanos tradicionais na região e recentemente considerados património imaterial da humanidade pela UNESCO. “É chegares aqui e sentires ‘esta é a minha casa’”, completa Alba.
Se Artur Mas não estiver a falar a sério, Silvia e Alba vão ficar muito desiludidas. “Os meus pais são independentistas. Eu sempre quis uma Catalunha livre. Mas agora tornou-se numa coisa palpável”, diz Silvia, com um sorriso rasgado. “A independência está tão perto que já a posso sentir.”
A crise está a reavivar velhas querelas históricas e económicas entre regiões ricas com um forte sentido de identidade e governos centrais. Mas, como mostra o exemplo recente da Catalunha, a questão é se a UE impulsiona a estabilidade ou as tendências secessionistas.
A Catalunha pode ser o catalisador de uma nova vaga de separatismo na União Europeia, com a Escócia e a Flandres não muito atrás. O grande paradoxo é que a União Europeia, que assenta no conceito de soberania partilhada, reduz os riscos para as regiões que aspiram à independência.
Ao mesmo tempo que, da crise da zona euro, poderá vir a emergir uma União Europeia pós-nacional, caminhando no sentido de mais união fiscal e do controlo mais centralizado dos orçamentos e bancos nacionais, a crise acelerou os apelos à independência das regiões mais ricas de alguns Estados-membros, encolerizadas por terem de financiar as regiões mais pobres.
O presidente catalão, Artur Mas, abalou recentemente a Espanha e os mercados ao convocar eleições regionais antecipadas e ao prometer um referendo sobre a independência de Espanha, apesar de Madrid o considerar ilegal. A Escócia planeia realizar um referendo sobre a independência no outono de 2014. Os flamengos da Flandres obtiveram uma autonomia quase total, a nível administrativo e linguístico, mas ainda se ressentem daquilo que consideram ser a hegemonia remanescente dos belgas de língua francesa e da elite de Bruxelas, emoções que estarão patentes nas eleições autárquicas de 14 de outubro.
Há inúmeras coisas, como casamentos, que mantêm unidos países descontentes: história partilhada, guerras partilhadas, inimigos comuns. Mas a crise económica na União Europeia está também a pôr a nu velhos ressentimentos.
Separatismo ligado à injustiça histórica e à língua
Na Catalunha e na Flandres, por exemplo, muitos argumentam que pagam bastante mais para o tesouro nacional do que recebem, num momento em que os governos nacionais fazem cortes nos serviços públicos. Neste sentido, o argumento regional é, em escala menor, o argumento da zona euro, na qual os países mais ricos do Norte, como a Alemanha, a Finlândia e a Áustria se queixam de que a sua riqueza relativa está a ser drenada para manter à tona países como a Grécia, Portugal e a Espanha.
"O conjunto do desenvolvimento da integração europeia reduziu os riscos de separação, porque as entidades emergentes sabem que não precisam de ser plenamente independentes e autónomas", disse Mark Leonard, diretor do [think-tank pan-europeu] Conselho Europeu de Relações Externas. "Sabem que terão acesso a um mercado de 500 milhões de pessoas e algumas das proteções da UE."
Heather Grabbe, que trabalhou durante cinco anos como conselheira política do comissário europeu para o Alargamento, concorda: "Qualquer pequeno país da UE, como é o caso de Malta e do Luxemburgo, tem probabilidades de ter uma sobre-representação em Bruxelas em comparação com a sua dimensão, e por isso é de ir frente". Heather Grabbe, agora diretora do instituto Open Society, considera que a variável-chave do separatismo é menos uma questão de dinheiro e mais uma questão de injustiça histórica e de língua.
Agrupamentos regionais torneiam governo central
"Muita da pressão tem a ver com a reapreciação de velhas soluções e derrotas e com acordos sobre quem contribui com quê para os orçamentos centrais", acrescentou. "Mas, quando chega o momento da verdade, a questão não tem a ver com dinheiro mas com mitos nacionais – que tipo de pessoas somos, meta narrativas e emoções: 'Sentimo-nos oprimidos? Sentimo-nos suficientemente seguros para nos separarmos? Fantasmas de repetição da História e, apesar de a economia ter o seu papel, no fim as pessoas votam com o coração."
Contudo, a crise também constituiu um dilema para os dirigentes regionais, por ter prejudicado os atrativos da União Europeia. Na Escócia, por exemplo, partiu-se do pressuposto de que, uma vez independente, a região passaria a ser membro da União sem grandes complicações, uma vez que os escoceses já são cidadãos da União Europeia. (Afinal, cerca de 20 milhões de alemães de Leste tornaram-se membros da União Europeia de um dia para o outro, sem terem que fazer nada.) Mas a Escócia herdaria a cláusula de autoexclusão do euro britânica, ou, como novo Estado da UE, teria de adotar o euro? E, sendo assim, quem seria responsável pelo resgate do Banco da Escócia?
Tradicionalmente, a União Europeia tem sido popular entre os dirigentes destas regiões, disse Josef Janning, diretor de estudos do Centro de Política Europeia, que acrescenta: "Encaram o reforço do poder de Bruxelas como uma perda de terreno dos governos nacionais, um processo que foi acelerado pelo mercado único na Europa”. Muitas delas formaram agrupamentos regionais que constituem uma forma de tornear o governo central – a Catalunha e, também o Baden-Württemberg na Alemanha, o Rhône-Alpes em França e a Lombardia em Itália, por exemplo, são centros de poder regionais, que se autodenominam "os quatro motores da Europa" e que, em conjunto, têm um PIB maior do que o de Espanha.
Crise representa um dilema para as regiões
"Mas depois", prosseguiu Janning, "veio a crise", que representa um dilema para as regiões, porque significa igualmente uma nova concentração de poder nas capitais nacionais que tentam fazer cortes no orçamento nacional. "Agora, os olhos estão de novo postos em Madrid, Roma, Paris e Berlim e, por isso, as oportunidades regionais diminuem e os ricos são forçados a pagar", disse ainda.
Os dirigentes europeus acreditam que a resposta para a crise é "mais Europa", o que normalmente agradaria às regiões separatistas, mas os eleitores e contribuintes europeus estão abalados, céticos e encolerizados.
Mark Leonard, do Conselho Europeu de Relações Externas, contou ter estado recentemente em Barcelona, onde as autoridades catalãs lhe fizeram perguntas insistentes sobre a Escócia. "O conhecimento que eles têm dos assuntos internos escoceses é muito maior que o meu", disse. "É óbvio que se observam uns aos outros e se viram uns para os outros."
Não é apenas na Catalunha e na Escócia que as pressões nacionalistas se fazem sentir. A vitória dos nacionalistas flamengos de Bart De Wever, nas eleições locais de 14 de outubro, "é mais do que uma advertência para a Bélgica. É uma verdadeira advertência para toda a Europa",escreve La Tribune. Para este diário económico francês,
seria ingenuidade pensar que o vento favorável a esses movimentos, nos últimos meses, é totalmente independente das turbulências que a Europa atravessa há dois anos e meio. A crise da dívida não é a sua causa mas pode ser um acelerador. Nos países onde a unidade é problemática […], a questão é saber quem vai pagar a dívida do conjunto e quem vai fazer esforços para pagar essa dívida. Por outras palavras, o combate não é lutar contra a austeridade mas evitar a austeridade, deixando-a para os outros.
Assim, os flamengos têm o sentimento de que os problemas financeiros estão ligados à má gestão do Governo central, salienta De Standaard. Neste contexto, este jornal flamengo cita Louis Vos, investigador da Universidade de Lovaina:
Quando se verifica que o nível superior [federal] não funciona bem – a crítica bem conhecida de De Wever [dirigente dos nacionalistas flamengos] – de que o governo dos impostos de Di Rupo não é apoiado pela maioria dos flamengos – isso intensifica o atrativo da autonomia.
No entanto, salienta o Financial Times Deutschland, apesar de ser "compreensível", a questão da independência "não pode ser a resposta aos problemas que a Europa tem hoje de enfrentar". Com efeito, este diário económico alemão considera que
foi avançando sem ter em conta as fronteiras e o nacionalismo que a Europa se tornou próspera e viveu em segurança. Teremos de fazer o mesmo para superar as crises bancárias, económicas e financeiras que submergiram países pequenos como a Irlanda. Apenas uma comunidade ampla tem condições para ajudar a resolver problemas que um Estado não pode enfrentar sozinho. Os separatistas perceberam bem isso: os catalães gostariam de se separar de Espanha, solicitando ao mesmo tempo a ajuda financeira de Madrid. Mas não é possível reivindicar para si os sucessos e as riquezas e delegar os problemas e os custos no Estado central ou na UE. A Europa deve preservar a sua diversidade regional, sem no entanto proclamar uma vez e outra um Estado independente. Isso serviria apenas para minar as capacidades da Europa de resolver os problemas a longo prazo.
Outros países vão em contracorrente, como salienta La Tribune, que refere o exemplo da Itália, a braços com "um processo de centralização […] que reforça o Estado central em detrimento de um processo frágil de descentralização".
Beneficiando do enfraquecimento da Liga do Norte, minada por alguns casos e pela sua participação no Governo de Berlusconi, o Governo de Monti decidiu voltar atrás quanto à lei muito descentralizadora de 2001. Mario Monti quer atribuir mais competências ao Estado central, para evitar o desperdício e a corrupção e, também, para dominar o esforço de austeridade e controlar melhor a dívida pública. […] A crise da dívida fez perder crédito aos executivos regionais e ao grande partido secessionista.