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A-24

Política Nacional: O bando dos seis do BE

por A-24, em 03.12.14
Observador

João Semedo saiu para dar provas de que não ia ficar tudo na mesma. Catarina Martins continuou como porta-voz, mas ao seu lado estão agora mais cinco pessoas, incluindo Pedro Filipe Soares, o desafiante, que se mantém como líder da bancada. Foi esta a solução encontrada pelos dirigentes do BE para ultrapassar o impasse em que o partido mergulhou na IX convenção da semana passada, que culminou com um empate técnico entre a lista de Catarina Martins e João Semedo, e a lista de Pedro Filipe Soares. E serão estas seis pessoas que daqui para a frente vão dirigir a Comissão Política do Bloco de Esquerda e tomar todas as decisões, em conjunto.

As funções que cada um dos elementos desempenhará no novo modelo de coordenação deverão ser definidas esta semana, quando a comissão permanente se começar a reunir. Eis os novos coordenadores do Bloco de Esquerda:

Catarina Martins

Apresentação pública da Moção Unitária em Construção do BE
Com a saída de João Semedo, que não vai integrar a Comissão Política, mantendo apenas o cargo de deputado e de dirigente eleito para a Mesa Nacional, Catarina Martins passa a ser o símbolo da continuidade. No final da reunião da Mesa Nacional, a agora porta-voz do partido (um partido que, em todo o caso, nunca reconheceu a figura do líder) disse que a solução encontrada era uma resposta ao “apelo de João Semedo na convenção para enterrar a disputa interna e construir um Bloco unido”.

Formada em Teatro, Catarina Martins tornou-se deputada pelo Bloco de Esquerda em 2009 e foi o nome escolhido em 2012, juntamente com João Semedo, para suceder a Francisco Louçã na coordenação do partido. Ao longo destes dois anos coordenou o BE ao lado de Semedo segurando a bandeira da paridade, sempre sublinhando o orgulho de o Bloco de Esquerda ser o primeiro partido português a instituir a paridade de género em todos os órgãos de direção. Um modelo que, de certa maneira, cai agora por terra. Passa agora a ser porta-voz do partido, um degrau relativamente à frente dos restantes cinco elementos da direção permanente, para fazer jus ao facto de o seu projeto político ter sido o mais votado na convenção.

Não tem origem política em nenhuma das três correntes fundadoras do Bloco de Esquerda (até porque ingressou já tardiamente no partido), mas é uma das promotoras da atual tendência Socialismo, que foi criada em 2013 para agregar várias sensibilidades – do PSR à Política XXI, passando pelos aderentes que não estavam previamente ligados a nenhuma corrente. Desta, só a UDP ficou de fora. Ideologicamente é mais próxima de Francisco Louçã e Fernando Rosas. E no trabalho de preparação das moções à convenção, Catarina Martins orgulhou-se de dizer que históricos da UDP, como Mário Tomé, Manuela Tavares e Pedro Soares, também se dispuseram ao seu lado.

Pedro Soares

À falta de João Semedo, e para cumprir a regra da paridade, Pedro Rodrigues Soares (não confundir com Pedro Filipe Soares) foi o nome masculino proposto pela moção U para integrar esta comissão de apoio à porta-voz.

Foi eleito deputado do Bloco de Esquerda em 2009, função que exerceu até 2012. Ideologicamente, esteve ao lado da UDP no processo de formação do Bloco, mas, a par de outros históricos desta corrente como Mário Tomé e Manuel Tavares, não subscreveu a tendência Esquerda Alternativa criada recentemente por Luís Fazenda e Pedro Filipe Soares e, para esta convenção, optou por ficar ao lado de Catarina Martins e João Semedo na elaboração da moção U.

É formado em Geografia e professor no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa. Um histórico dirigente bloquista que volta agora para a ribalta, fazendo par com Catarina Martins na representação daquela lista na comissão permanente.

Pedro Filipe Soares

BE/Convenção: Pedro Filipe Soares diz que "participação recorde" mostra "vontade de mudança"

Foi o desafiador, na convenção do Bloco de Esquerda. Não saiu vencedor, mas também não se pode dizer que tenha sido derrotado. Com o empate que conseguiu na eleição da Mesa Nacional, impediu que a lista de Catarina e Semedo vencesse e que, assim, os dois continuassem como coordenadores do partido. O modelo de coordenação a dois, aliás, nunca foi bem acolhido pela ala da UDP (onde Pedro Filipe se encontra) que antes teria preferido uma solução com vários porta-vozes, semelhante àquela que agora foi aprovada. Ou seja, não tendo sido eleito coordenador, pode dizer-se que conseguiu levar avante o seu plano B.

Licenciado em Matemática Aplicada à Tecnologia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, foi investigador na Universidade de Aveiro, sempre nas áreas da matemática e engenharia eletrónica, pelo que, em política, é destacado o seu pensamento lógico e calculado. É deputado na Assembleia da República desde 2009, líder da bancada parlamentar desde 2012 e, apesar do clima de divergências internas, vai continuar a ser o líder do grupo parlamentar neste novo ciclo bloquista. Mais uma vitória.

Juntamente com o histórico e fundador do BE Luís Fazenda, formou em 2013 uma tendência interna – a Esquerda Alternativa – para fazer frente à tendência Socialismo, criada pelos então coordenadores. Foi com base nessa tendência que construiu a moção E, com que desafiou os coordenadores na convenção de 22 de novembro. Ideologicamente, vem da ala fundadora da UDP, que, apesar de ser hoje uma associação política externa ao BE, é uma das alas de maior peso dentro do partido.

Mariana Mortágua

É precisamente a presidente da UDP (associação política), o que faz com que, assumidamente ou não, esta corrente possa vir a ganhar mais peso dentro da direção bloquista. Joana assinou a tendência Esquerda Alternativa quando Fazenda e Filipe Soares a criaram, colocando-a na ala oposta à da sua irmã, a deputada Mariana Mortágua.
Tem sido dirigente e membro da Comissão Política do BE, e nas eleições legislativas de 2009 chegou a ser cabeça de lista do BE no círculo de Évora. Mas nunca teve papéis de relevo mediático no partido. O facto de ser presidente da direção nacional da UDP desde 2010 e de agora estar num cargo de topo da direção do partido faz com que esta corrente exerça cada vez mais influência no seio do Bloco. Em termos de formação ideológica, diz-se profundamente marxista. Joana Mortágua é um rosto importante do partido que tem estado nos bastidores. Até agora.

Adelino Fortunato

Economista de profissão, é atualmente professor de Economia da Universidade de Coimbra e um dos primeiros subscritores da moção B (‘Refundar o Bloco na lutacontra a austeridade’), que conseguiu eleger sete dirigentes na última convenção. Tem sido a tradicional oposição à direção, servindo por vezes de refúgio para alguns descontentes (Daniel Oliveira chegou a alinhar pela moção B). Na última convenção, em 2012, elegeu 19 membros para a Mesa Nacional.

Candidato do Bloco de Esquerda à presidência da Câmara Municipal de Sesimbra nas autárquicas do ano passado, a moção B (assim como a R) acabam por ser favorecidas neste modelo de coordenação conjunta uma vez que é a única forma de ganharem assento.

Não está ligado a nenhuma corrente fundadora do partido – PSR, Política XXI ou UDP – mas tem tido um percurso político sempre ligado à esquerda. É o dirigente efetivo designado pela lista B para a comissão permanente, mas em função do seu trabalho na Universidade poderá ser substituído em determinadas ocasiões pelo suplente, o historiador João Madeira, que tem sido o principal rosto da moção B nos últimos anos.

Nuno Moniz

Natural dos Açores, é o rosto mais jovem do grupo e talvez o menos conhecido dos eleitores. Número dois da lista R (‘Reinventar o Bloco’) à Mesa Nacional, apareceu agora como o número um dessa lista para integrar a coordenação da Comissão Política do partido. Doutorando em Ciências da Computação na Universidade do Porto, é mestre em Engenharia Informática e tem sido sobretudo entre os jovens e no ativismo universitário, especificamente no norte do país, que tem feito ouvir a sua voz.

Não tem origem política em nenhuma das correntes fundadoras do Bloco de Esquerda e não faz parte de nenhuma das duas tendências que se criaram dentro do Bloco, nem da Socialismo (onde está Catarina Martins), nem da Esquerda Alternativa. Nuno Moniz deverá ser o membro da direção que fará a ponte com os eleitores mais jovens do BE, uma fatia da população que sempre foi importante para a estatística do Bloco.

Bloco ingovernável?

Como vai esta direção de tantas vozes pôr em prática o projeto político desenhado pela moção U (encabeçada por Catarina Martins e João Semedo), que foi o projeto mais votado na convenção, é a pergunta para um milhão de euros. Mas a direção bloquista relativiza essa questão. “Só seria fácil dirigir um partido com opiniões diferentes se houvesse uma pessoa a mandar em tudo”, afirma um dirigente ao Observador, realçando o facto de o BE não ser um partido “igual aos outros”, que “afunila no topo”.

“Isto não é o PS”, realça outro dirigente, para quem as várias sensibilidades existentes dentro do partido não traduzem “diferenças de fundo nem impossibilitam a colaboração” entre todos na condução diária do Bloco.”Temos opiniões diferentes, claro, mas isso é bom porque significa que vamos ter um grande debate”, diz um dirigente, desvalorizando as dificuldades de entendimento que se avistam no horizonte. A frase dita por Catarina Martins é agora repetida por todos: “A diversidade no Bloco não é defeito, é feitio”.

A proposta de dar posse a uma comissão permanente com representantes das várias listas eleitas foi avançada pela própria Catarina Martins e não esbarrou com qualquer oposição por parte dos dirigentes eleitos pela lista de Pedro Filipe Soares, sendo que só os membros das listas B e R, minoritárias, levantaram dúvidas e propuseram “pequenas” alterações. A proposta acabou por ter uma aprovação de 93% dos 79 dirigentes da Mesa, sem votos contra e com poucas abstenções.

Se antes o Bloco de Esquerda era uma espécie de “bando dos quatro“, numa referência aos fundadores Francisco Louçã, Luís Fazenda, Fernando Rosas e Miguel Portas, a verdade é que esses tempos já lá vão. “Hoje em dia, a grande maioria dos aderentes já não tem origem em nenhuma das quatro correntes fundadoras”, explica ao Observador um dos membros da direção. Razão pela qual o novo modelo de coordenação foi pensado para ir ao encontro dessa “nova realidade”. Em vez de quatro, agora são seis, em representação de três visões diferentes para o rumo do Bloco de Esquerda.

Também querem !

por A-24, em 02.08.14
Portugal Glorioso

Ana Drago e Daniel Oliveira são dois exemplos felizes de como a coisa política funciona aqui na paróquia. Ganhar protagonismo em causas e políticas que sabem não chegar alguma vez ao poder. Porque o povo português pode ser politicamente inculto mas não é totalmente estúpido. E isso favorece as Anas e os Daniéis que se vão notabilizando na esquadria mediática onde, queiramos ou não, estamos enfiados. Já que é fácil manter uma berraria mais ou menos controlada sobre o que está mal, havendo tanto o que está mal e sabendo-se como a grei gosta de ouvir essa berraria, ao mesmo tempo que dispomos de uma importante percentagem (sem paralelo?) dos chamados idiotas úteis que ajudam à formatação das personagens.

No caso de Ana (uma cara laroca e simpática e de verbo escorreito) e de Daniel (grosseirão mas hábil na manipulação por via de ideias que ele sabe caírem bem), notava-se algum desgaste de imagem e de ideias. Quer pelas suas frequentes aparições na comunicação social, quer porque ambos perceberam que o terreno lhes fugia debaixo dos seus determinados pés. Daí se terem atirado a um «Manifesto» que pouca gente saberá verdadeiramente o que vai manifestar. Basta-lhes saber que os dois se meteram noutra «estrangeirinha» em que a nossa política é fértil.
Vale-nos que muitos de nós percebemos que o que verdadeiramente os move é a necessidade imperiosa de «irem ao pote», expressão que qualquer deles usou com profusão desde aquela tirada tosca de Passos Coelho, pois Ana e Daniel querem ir ao pote também. Fizeram as contas e acham que o PS será a via mais indicada. Por mim… quantos mais Anas e Daniéis engrossarem as alas socialistas melhor. O problema, esse sim, o problema é eu saber que vou ter de levar com mais uma série de sessões contínuas de Ana Lourenço sobre o assunto – ela própria devota no cumprimento do seu mister, que isto de potes não está fácil e Lourenço não quererá perder o seu.

Em defesa da direção patriótica do BE

por A-24, em 24.07.14
Maria João Marques

Venho aqui dar o meu apoio público à direção do BE, que apesar de tudo tenta prestar o melhor serviço ao país que consegue, mesmo pagando o preço de purgas, deserções e afins. (Haver purgas e deserções, na verdade, é apenas um caso de respeitar a tradição dos partidos extremistas de esquerda, pelo que os tradicionalistas ficam certamente embevecidos com esta coerência bloquista.) É mesmo um caso claro de no good deed goes unpunished. Fações e pessoas conhecidas – Daniel Oliveira, Rui Tavares, Ana Drago – têm saído do BE, em discordância com a política das direções de não participação em governos e de não se aliarem ao PS. (Reprimam os apupos por ideias tão aberrantes, sff.) Como qualquer pessoa com juízo entende, de facto quando se têm as ideias políticas com o potencial destrutivo da economia, dos mais basilares direitos dos cidadãos (o direito à propriedade privada, desde logo e como se viu na bomba atómica disfarçada de proposta de reestruturação da dívida que Louçã patrocinou), da confiança que os cidadãos podem ter uns nos outros e nas instituições, enfim, de tudo – nestes casos, a única posição decente que os portadores destas ideias podem ter é mesmo ficarem o mais longe possível de um governo. Devemos, portanto, agradecer à direção do BE e pedir-lhe que se mantenha inflexível nesse ponto. Entre o BE e as cabecinhas de Oliveira, Tavares e Drago – que não se distanciam do caos e destruição que o BE propõe, a única diferença é que querem mesmo implementá-lo em vez de apenas brincarem com a ideia – não hesitemos em elogiar a auto-exclusão do BE. O partido está a dizer-nos que o melhor que pode suceder ao país é não governar e eu não vejo motivo nenhum para não acreditar nisso. Além de que aprecio sempre que as pessoas sejam sinceras sobre as suas próprias limitações.

O fim do Bloco de Esquerda

por A-24, em 18.07.14
Via Delito de Opinião

É difícil perceber por que motivo o Bloco de Esquerda continua a ostentar este nome tão cheio de presunção. Porque, como hoje é evidente aos olhos de todos, o BE é tudo menos um bloco. Com dissidências contínuas, pela esquerda e pela direita, este movimento que chegou há 15 anos à política portuguesa com a pretensão de unir a esquerda está a atingir resultados opostos. Em vez de unir, divide. Em vez de congregar, separa.

Dir-se-á: isto só começou a suceder agora.
Nada mais errado. Os sinais de desagregação do pseudo-bloco já vinham de longe. E tinham tudo a ver com a sua desorientação estratégica. O BE está para a política portuguesa como a selecção brasileira comandada por Scolari esteve neste Mundial de futebol. Sem unidade, sem coesão, sem prioridades definidas, transformando cada malogro táctico numa nova oportunidade desperdiçada para congregar o que resta das hostes, numa reafirmação dos velhos princípios da esquerda mais sectária: somos poucos mas bons, só faz falta quem está.
Sai agora Ana Drago, que foi uma das melhores deputadas da Assembleia da República nascidas após o 25 de Abril. Como anteriormente saíram fundadores, militantes, aderentes ou notáveis simpatizantes como Miguel Vale de Almeida, José Sá Fernandes, Joana Amaral Dias, Rui Tavares, Gil Garcia, Daniel Oliveira e tantos outros.
Estarão todos eles errados ou, pelo contrário, o erro reside na prática política cada vez mais intolerante e cada vez mais fechada do antigo Bloco?

Acompanhei, como jornalista, os primeiros passos do BE. Percebi, logo em 1999, que estava ali um movimento importante a que convinha dar a devida atenção. Escrevi muitos artigos sobre o proto-partido fundado por Francisco Louçã, Miguel Portas, Fernando Rosas e Luís Fazenda. Não tive dúvida de que faria movimentar a esquerda portuguesa situada à esquerda do PS numa altura em que, em matéria de costumes, o PCP ainda vogava no período do paleolítico.

Por tudo isto, a minha desilusão foi ainda maior ao perceber, antes da maior parte dos observadores, que o BE estava a ser canibalizado pelos comunistas, que pretendem transformá-lo numa segunda versão dos ridículos 'Verdes', revista e aumentada. Várias vezes alertei, aqui e noutros locais, contra o clamoroso erro estratégico dos bloquistas ao transformarem-se numa cópia do PCP, esgotando-se numa força de protesto inconsequente e transformando o PS no inimigo principal. Esquecendo que, entre o original e a cópia, a comparação é sempre desfavorável a esta.
Permitam-me que relembre aqui alguns textos que fui publicando no DELITO sobre o agora impropriamente chamado Bloco de Esquerda:

20 de Fevereiro de 2009: «Assumirão PCP e BE o ónus do regresso da direita ao poder? Será para isso que um número crescente de portugueses manifesta a intenção de votar nestes dois partidos?»

27 de Abril de 2011: «A última coisa de que o sistema português precisa é de um segundo partido comunista, apenas um pouco mais citadino e com vestuário de marca.»

22 de Junho de 2011: «O Bloco não pode cometer o erro dos partidos tradicionais, que se fecham sobre si mesmos nos momentos do desaire. O aparelho bloquista, numa reacção instintiva, recusa debater com a profundidade que a situação exige a derrocada eleitoral do dia 5. Mas há um problema de fundo que o BE tem de resolver: ou se contenta em ser uma cópia do PCP, o que o condena à extinção a curto prazo, ou se assume como parceiro de soluções governativas à esquerda, o que implica fatalmente um diálogo com o PS.»

8 de Outubro de 2013: «O BE só revelará utilidade, à esquerda, se tiver ambições de governo. Ou seja, se estiver receptivo a uma futura coligação com o PS, único partido português com hipótese de constituir alternativa à actual maioria governamental. Se imitam os Verdes alemães na liderança bicéfala, por maioria de razão também devem imitá-los nesta matéria: os ecologistas atingiram a maioridade política em Berlim ao aceitarem coligar-se em 1998 com o chanceler social-democrata Gerhard Schroeder.»

Reitero tudo quanto escrevi. Não satisfeito, devo confessar, pelo facto de o tempo me ter dado razão. Porque considero hoje, como sempre considerei, que o sistema político português sofre de uma grave assimetria: só é possível formar maiorias governativas à direita. A esquerda, que tem o PS como partido maioritário, continua a viver neste dilema: ou se alia à direita ou jamais voltará a ser governo.

Por culpa de quem?
Dela própria. Do seu vazio estratégico. Dos monumentais egos dos seus próceres. Do seu incurável sectarismo.

Bloco de Esquerda: uma análise de mercado

por A-24, em 11.02.14

In BLASFÉMIAS

O mercado político português é um mercado fechado à concorrência, um regime oligopolista concentrado em quatro grandes prestadores de serviços: PS, PSD, PCP e CDS.

Estes quatro partidos, não por acaso os fundadores do regime e da Constituição política que o rege, definiram, em seu favor, as leis que regem o sistema eleitoral, o mesmo é dizer, o sistema partidário. Criaram regras leoninas que, na prática, impedem a concorrência: limitação de candidaturas independentes, círculos plurinominais com acesso exclusivo a listas partidárias, método de Hondt, financiamentos discriminatórios em razão de resultados eleitorais precedentes, acesso diferenciado aos meios de comunicação social em períodos de campanha eleitoral, limitações rígidas ao financiamento privado dos partidos, etc..

Graças a isto, os quatro partidos fundadores do regime mantêm-se os únicos com poder político real, com acesso aos órgãos de soberania, às empresas públicas, ao poder local, aos canais de informação e de formação de opinião, ao orçamento de estado. Em quarenta anos de democracia, apenas uma força política desafiou, duradouramente, este status quo: o Bloco de Esquerda.

A eclosão do Bloco foi resultado do espírito empresarial de mercado de um grupo de pequenos empresários políticos que conseguiram antecipar as necessidades dos consumidores e aproveitar circunstâncias excepcionalmente benéficas para conseguirem furar o bloqueio oligopolista existente. Esses pequenos empresários andaram, durante muitos anos, a tentar entrar no mercado e vender os seus produtos com as suas pequenas empresas partidárias, sem nenhum sucesso. Resolveram, por conseguinte, juntar os seus pequenos partidos e criar uma empresa maior que, para além de agregar o que cada um deles já possuía, conseguiu um resultado final que ultrapassava a simples soma das partes.

O novo produto oferecido aos consumidores foi cuidadosamente pensado e preparado. Surgiu como um híbrido de radicalismo político e diletantismo académico inofensivo, explorando um conjunto de temas que tinham consumo assegurado e que ninguém à esquerda, desde logo o conservador Partido Comunista Português, tinha interesse em explorar: os direitos das minorias, a descriminalização do aborto, a liberalização do consumo de drogas, a eutanásia, o casamento gay, etc.. Os patrões do Bloco de Esquerda, utilizando o melhor do espírito empresarial, conseguiram antever as necessidades do mercado eleitoral e ofereceram aos consumidores aquilo que eles pretendiam e mais ninguém oferecia. Quando José Sócrates, preocupado com a erosão do PS por causa destes “temas fracturantes” assumidos pelo Bloco, tentou fazer deles bandeiras do seu partido e do seu governo, já era tarde: os eleitores perceberam que o PS ia a reboque do Bloco de Esquerda, o verdadeiro proprietário desses produtos políticos inovadores.

A falência dos governos de Durão Barroso e Santana Lopes abriu condições de mercado excepcionais para a esquerda, e o Bloco, que teve a sorte de estar já em plena actuação empresarial nessa ocasião, aproveitou-as muito bem. Cresceu acima do Partido Comunista nas eleições legislativas e quase formou maioria absoluta com José Sócrates naquelas que se seguiram.

A estrutura directiva do partido seguiu, também, o bom modelo da empresa capitalista: um Conselho de Administração onde se concentravam todos os poderes deliberativos, no qual tinham assento todos os representantes do seu capital social originário (UDP, PSR, etc.), que foi transposta para as listas eleitorais e para o grupo parlamentar, chefiado por um Presidente – Francisco Louçã – que inegavelmente representava a maioria do capital social da empresa.

Uma vez conseguido sucesso empresarial com um produto inovador no mercado, o Bloco entrou na bolsa de valores políticos, abriu o seu capital ao público e, em consequência, começou a contratar quadros intermédios, aos quais, devido ao crescimento inusitado do partido e à falta de dirigentes que preenchessem todas as suas necessidades, deu responsabilidades, protagonismo e poder.

Só que nenhum destes novos dirigentes do partido tinha a percepção do que custara a Louçã, Fazenda, Miguel Portas e Fernando Rosas, entre outros fundadores, terem alcançado o sucesso empresarial que conseguiram. Eram todos muito novos, estavam fascinados consigo mesmos e com o seu imenso “talento” e, por conseguinte, não valorizaram a empresa à qual foram chamados a participar.

Assim, quando a lei da vida se impôs aos fundadores do partido e estes, por uma ou por outra razão, se tiveram de afastar de funções de responsabilidade, os seus putativos sucessores, quais filhos mimados de ricos capitalistas, não foram capazes de valorizar a herança recebida e, gastando-a perdulariamente em projectos megalómanos e em birras e zangas uns com os outros, desfizeram-na alegremente. Os dois cabeças-de-casal que ficaram a administrar o espólio já não acreditam na sua sobrevivência. Alguns dos herdeiros mais conhecidos passeiam-se por aí com os seus novos carros, a velocidade tresloucada, convencidos que continuarão a ter dinheiro para sustentarem infinitamente os seus luxos. Todos dizem mal uns dos outros e ninguém respeita a memória dos seus antepassados. O PC e o PS assistem, alegremente, ao espectáculo.

A aventura empresarial do Bloco de Esquerda, verdadeiro hino ao espírito empreendedor do capitalismo de livre-mercado, terminará, assim, como muitos dos poucos grupos empresariais portugueses: sem resistir à segunda geração. Paz à sua alma!

Rui Tavares - Mais um partido para quê?

por A-24, em 08.02.14
Gil Garcia


Quem o diz é Daniel Oliveira, cronista do Expresso, ex- BE e amigo de Rui Tavares (RT): “Essa ameaça dificilmente poderá surgir, por si só, apenas de um novo partido político. Isso poderia balcanizar ainda mais o que já está dividido, bloqueando qualquer solução…”. E tem razão, ou RT pensa em construir um partido para se reeleger pessoalmente, dado que abandonou o grupo europeu do Bloco de Esquerda? Isso não passaria de uma atitude meramente oportunista.

Ou tem divergências substantivas, programáticas e até estratégicas com a restante esquerda e aí já se entendia a construção de mais um partido.

Todavia, se olharmos para a “Declaração de Princípios” que RT distribuiu na reunião de Lisboa, de lançamento do ‘seu’ partido, o que se pode ler? “Afirmamos como nossos princípios: Universalismo (…); Liberdade. Como autonomia pessoal (…); Igualdade (…); Solidariedade, ou fraternidade (…); Socialismo (…) Embora a acção governativa ou estatal seja crucial na criação da economia mista (…); Europeísmo (…) desenvolvimento do direito internacional e defesa dos direitos humanos.” O que estas palavras de ‘princípios’ (e para fundamentar a formação de mais um partido, note-se!) diferem do que defende o BE ou mesmo o PS? Nada. O que tem para oferecer de diferenças programáticas para justificar um novo partido? Nada.

E na reunião que já fizemos referência, instado pela ‘assistência’ (militantes?) o que respondeu sobre eventuais políticas de alianças? Que estaria aberto (o seu partido de nome Livre –do quê não se sabe…) a alianças com a ‘esquerda da sua área’. Quem? O BE, o PCP e …o PS. Talvez aqui se perceba a que jogo vem RT ou o que quer com um “novo” partido. Criar uma suposta “alternativa” que venha a ser a muleta de um futuro governo PS e talvez aí se entenda porque estavam na sala um Sá Fernandes (braço direito de António Costa na CML) e de Ana Benavente, dirigente do PS. Em suma, o actual deputado europeu não tem, de facto, divergência alguma quer com o BE ou o PS sobre magnas questões: o que fazer com a dívida pública? Pagar sem sequer qualquer moratória. Enfrentar a troika? Com a mesma resposta de um BE ou um PCP: a da renegociação da dívida sem suspender pagamentos. E sobre política europeia...nada tudo inócuo.

Lamentavelmente, Rui Tavares, consciente ou inconscientemente, vem dar razão aqueles que diante do surgimento de um partido sempre respondem: mais um para dividir a esquerda. Se tivesse alternativas programáticas e estratégicas com o PS, o BE ou o PCP sempre se compreendia. É o caso do MAS que também é um partido recente na actual conjuntura política do país. Mas do MAS sabe-se o que defende.

Sobre o Euro, que a manutenção de Portugal na moeda única leva ao ‘afundamento’ do país e que todos devemos ter o direito de nos pronunciar sobre a saída (referendo), de modo a evitar a total destruição do tecido económico português, que até há bem pouco tempo garantia mais de um milhão de empregos, hoje totalmente destruídos. Sobre alianças à esquerda o MAS tem também algo de diferente a defender quer do PS, do PC e do BE.

Nós queremos acabar com a alternância crónica no poder de governos de direita (PSD/CDS) com governos do PS que governam sempre … à direita. E esta ruptura implica nenhuma aliança com o PS, aliança que RT na verdade pretende. Implica sim alianças com os que recusam (mesmo que mais retórica que realmente) as políticas de austeridade e essa esquerda anti-troika e anti-austeridade é com o BE e o PCP ainda que estes partidos estejam sistematicamente divididos, o que só tem favorecido o … PS e a direita. RT vem romper com esta situação? Nem por perto. É mais do mesmo.

Conversaremos com ele e com a restante esquerda. Colocaremos na agenda do debate a necessidade de ir mais além (o que justificaria um partido): exigir uma aliança à esquerda dos que queremos parar a sangria do país, parar com o pagamento contínuo de juros da dívida que coloca o país a pão e água. Nunca haverá qualquer ‘renegociação da dívida’ ou ‘perdões’ substanciais da dívida, para retirar o país do pântano em que se encontra, sem uma esquerda de coragem que suspenda o pagamento do serviço da dívida.

O MAS veio para acrescentar esquerda à esquerda, o que já se viu, por exemplo, nas última eleições autárquicas, mesmo que ainda muito parcialmente. Mas em cidades importantes do país como Amadora, Coimbra e Braga já se viu o papel positivo do MAS à esquerda. E de Rui Tavares e do seu partido? Parece-nos, muito sinceramente, que ainda nem sequer se ‘Livrou’ do … PS.

"Indigno e nojento", diz a tontinha

por A-24, em 21.01.14
João Vaz

Catarina Martins, a co-líder do agrupamento que dá pelo nome de Bloco de esquerda, veio ontem guinchar a propósito do referendo sobre a co-adopção por parte dos guei. Calma, tontinha, o mais certo é nem sequer existir referendo, travado por sua excelência o presidente da república ou pelos esquerdistas do TC. Mas fica o registo: sempre que o povo pode ser chamado a decidir e há possibilidade de o fazer em sentido contrário aos iluminados esquerdalhistas, a coisa é "indigna" e "nojenta". É assim esta gente. Pedir a opinião popular? não. Eles é que sabem o caminho e detêm a verdade. O povo, esse, é um aborrecimento que pode travar o caminho às medidas progressistas.

Como a esquerda se entretém

por A-24, em 16.12.13
Vasco Pulido Valente via Dissidente


"A esquerda portuguesa é de facto extraordinária. Quando se provou que os partidos da esquerda se tinham metido num beco sem saída, a primeira ideia que veio à cabecinha das notabilidades da seita foi fabricar mais partidos, sempre à procura da mítica “unidade”, que por toda a parte desapareceu logo na sua auspiciosa criação. Excepto sob a autoridade da URSS, primeiro em Moscovo e a seguir no Comintern e no Cominform, a história do socialismo nunca passou de uma série de querelas, de cisões, de purgas, de assassinatos cometidos com suma piedade e zelo. Mas, pelos vistos, continua em Portugal, no ano de 2013, a mesma ambição de juntar os “verdadeiros” camaradas numa casa comum que domine a política nacional e acabe de uma vez com as terríveis desordens do capitalismo.

O Bloco de Esquerda, hoje defunto, começou com essas fantasias. Claro que o BE não tinha nada de esquerda: nem “massas” que o seguissem, nem um programa para a reforma do país, nem sequer uma estratégia: tinha só as famosíssimas “rupturas”. Mas protegido por alguns génios, que pretendiam enfraquecer o PC, teve até certa altura muito tempo de televisão. E apareceram de repente Miguel Portas, Francisco Louçã, Ana Drago e outros, com um arzinho de universitários sabichões, que atraíram em pouco tempo uma pequena parte da populaça. Eles diziam que eram “modernos” e a populaça julgava que a “modernidade” a esperava. Este equívoco durou quase 20 anos, enquanto a impotência do Bloco se não tornou evidente e Sócrates não se apropriou das “rupturas”. Sob vários pretextos, muitos ratos fugiram imediatamente do barco e ainda não deixaram de fugir.
Com o PC feliz no seu velho ghetto e o PS numa perpétua trapalhada, um antigo BE resolveu arranjar um “partido”, deliberadamente sem doutrina e disciplina, em que as prima-donas da esquerda pudessem falar à sua vontade e ser ouvidas, sem perturbação, por meia dúzia de gatos-pingados. Nada sairá deste concurso de asneiras, mas não interessa. A patetice pública alivia a alma. E estávamos nisto, quando Manuel Carvalho da Silva, agora munido de um doutoramento, tomou a estranha decisão de inaugurar um “movimento”, com o objectivo (adivinhem) de finalmente promover a “unidade” da esquerda. O “movimento” recebe quem lhe bater à porta: católicos, o BE, o “Partido Livre” e mesmo uns tantos comunistas na disponibilidade. É uma sopa turva de que inevitavelmente vai saltar uma dezena mais de partidos com a pedra filosofal no bolso. Deus nos dê muita paciência."

Rescaldo das autárquicas: os cinco desafios do Bloco

por A-24, em 11.10.13
Pedro Correia

1. O Bloco de Esquerda transforma cada declaração política num juízo de carácter sobre quem comunga de convicções opostas às suas, passando por sistema atestados de impureza ética aos adversários políticos. Os seus responsáveis exigem, a todo o momento, demissões pelos mais diversos motivos. Esta ética da responsabilidade, curiosamente, detém-se à porta da sede nacional do Bloco. Porque o BE pode falhar todos os objectivos e perder todas as eleições sem haver uma demissão nos seus órgãos decisórios. Uma duplicidade ainda mais difícil de entender após estas autárquicas, em que o Bloco perde 43 mil votos, recua de 3% para 2,5% em média nacional, deixa fugir a única câmara de que dispunha e não consegue eleger um vereador em qualquer cidade de grande ou média dimensão. Apesar do ruído mediático que ainda provocam, os bloquistas -- com apenas cerca de seis mil militantes e uma notória escassez de quadros partidários -- parecem condenados à irrelevância política. É inevitável uma revisão global de procedimentos, para assumir erros e corrigir a rota. Desde logo porque a ética da responsabilidade não pode ser só para os outros: há que começar em ca(u)sa própria.


Primeiro desafio: como aumentar militantes e reforçar quadros para evitar novas derrotas?

2. Paira no BE um sentimento de orfandade. O seu fundador e líder histórico, Francisco Louçã, era uma personalidade carismática que falava muito para além das fronteiras partidárias e até do reduto ideológico dos bloquistas. Louçã conseguiu operar uma espécie de milagre: fazer surgir um movimento unitário das cinzas da decrépita extrema-esquerda portuguesa. Com a sua partida voluntária, há pouco mais de um ano, vieram novamente à tona os antigos tiques e vícios estruturais das pequenas facções que constituem o Bloco e que de alguma forma desmentem o próprio nome do partido constituído em 1999 com uma agenda política inovadora em matéria de costumes e tendências sociais, logo vampirizada pelo PS de José Sócrates. Esgotada essa agenda, o Bloco não pode voltar a ser dominado pelas velhas facções extremistas da década de 70, sob pena de se descaracterizar por completo e até desaparecer.

Segundo desafio: como retomar o carácter unitário do Bloco, superando guerras de facções?

3. Os sinais de modernidade que os bloquistas trouxeram à política portuguesa parecem esgotados. E alguns são manifestamente inadequados. Talvez nenhum tenha sido tão prematuro e desajustado como a liderança bicéfala instalada no partido desde a partida de Louçã. Na tentativa apressada de superar as restantes forças partidárias em demonstrações de igualdade de género, o BE copiou o modelo adoptado pelos Verdes alemães e pelo Partido de Esquerda fundado em França por Jean-Luc Mélenchon, sem reflectir bem nas limitações e nos inconvenientes desta bicefalia. Que manifestamente não resulta, por mais vibrantes que sejam as intervenções públicas de Catarina Martins e por mais experiente e respeitável que seja João Semedo, ex-membro do Comité Central do PCP que abandonou as fileiras comunistas em nome dos valores da cidadania e da liberdade de consciência. E não resulta porque dispersa a mensagem, induz uma ideia de fragmentação na opinião pública e prejudica a identificação dos portugueses com o projecto bloquista. Além do mais, para que precisará o mais pequeno partido português de dois líderes?

Terceiro desafio: deve ser abandonada a actual liderança bicéfala?

4. A dada altura, o Bloco de Esquerda parecia ser um sério concorrente do PCP. Sobrava-lhe no entanto em novidade mediática o que lhe faltava em enraizamento social. Nisto, os bloquistas são incapazes de se bater com os comunistas, há décadas com forte implantação na sociedade portuguesa, particularmente na vida autárquica e no mundo do trabalho. Sem representantes nos órgãos do poder local, com uma presença irrisória no movimento sindical, o BE tem-se limitado praticamente a replicar o discurso de protesto característico dos comunistas, parecendo querer ultrapassar o PCP em radicalismo -- o que ficou bem patente na moção de censura apresentada ao governo Sócrates logo após a candidatura presidencial "unitária" de Manuel Alegre e a intransigente recusa em conferenciar com os representantes da tróica em Portugal. Havendo original, tornam-se dispensáveis as cópias.

Quarto desafio: como superar eleitoralmente o PCP?

5. O BE só revelará utilidade, à esquerda, se tiver ambições de governo. Ou seja, se estiver receptivo a uma futura coligação com o PS, único partido português com hipótese de constituir alternativa à actual maioria governamental. Se imitam os Verdes alemães na liderança bicéfala, por maioria de razão também devem imitá-los nesta matéria: os ecologistas atingiram a maioridade política em Berlim ao aceitarem coligar-se em 1998 com o chanceler social-democrata Gerhard Schroeder. Uma bem sucedida coligação que durou sete anos, consolidou os Verdes como partido de âmbito nacional e levou o seu líder, Joschka Fischer, ao cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros.

Quinto desafio: haverá alguém no Bloco disposto a ser o Joschka Fischer português?

O piropo e o ridículo mundo do Bloco

por A-24, em 02.09.13
Henrique Monteiro

Adriana Lopera e Elsa Almeida, na sessão Socialismo 2013, organizada pelo Bloco de Esquerda, dissertaram sobre o piropo. Como nas redes sociais foram satirizadas, depois recuaram e afirmaram que se tratava apenas de "abrir o debate sobre a questão do assédio verbal".

Reparem como "assédio verbal" tem um ar sério que falta a piropo. Piropo é chiste, é pilhéria. Assédio verbal é claramente um crime. Mas talvez nem seja preciso legislar sobre ele, pois o crime de injúria existe no Código Penal, no artigo 181, que diz assim: "Quem injuriar outra pessoa, imputando-lhe factos, mesmo sob a forma de suspeita, ou dirigindo-lhe palavras, ofensivos da sua honra ou consideração, é punido com pena de prisão até 3 meses ou com pena de multa até 120 dias".
Porém, o que estas senhoras querem é um crime específico de género. E cito o que dizem, para não restarem confusões: "O assédio só pode estar enquadrado na área na violência contra as mulheres, portanto da violência de género ou a violência machista, e será analisado como mais uma demonstração da relação de poder que a sociedade patriarcal estabelece".
Mais à frente, as autoras (ver em www.esquerda.net ) acrescentam: "O facto de o assédio nunca ser referenciado revela até que ponto está instituído que o piropo é inofensivo".
Ou seja, se um tipo na rua me disser uma coisa qualquer tipo: "parto-te o focinho" não sendo crime de género, não significa absolutamente nada. Nem sequer uma "demonstração da relação de poder" dos mal-educados contra os civilizados. Mas se for "Ó filha, és boa como o milho" já é um crime diferente.
O piropo, como quase tudo o que se queira analisar nas relações entre homens e mulheres (e não há piropos homossexuais? Para quem defende a igualdade absoluta já deviam ter pensado nisso), o piropo - dizia - depende da forma, do contexto, da elegância, da oportunidade. Legislar sobre essa matéria é ridículo. Como ridículo é pretender que haja leis específicas para crimes que já estão genericamente previstos e punidos na lei.
Mas o mundo do Bloco é ridículo. Divide-se em dois. E eu nem quero dizer quais são, pois ainda me acusam de alguma lei que por aí venha...