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A-24

Sou tão fascista que até tenho boas notícias

por A-24, em 22.04.13
Henrique Raposo

Nunca fica bem dizer coisas esperançosas sobre Portugal. O sub-queirosianismo que se tornou a segunda pele do indígena letrado não o permite . Se é assim numa altura normal, o tom negro só poderia aumentar na presença da troika e de uma AD. Neste momento, dizer alguma coisa positiva sobre Portugal é o mesmo que dizer bem de um governo de fascistas neoliberais. Como sou um fascista da variante neoliberal-às-bolinhas, só me resta dar algumas boas notícias, que, verdade seja dita, nem sequer resultam da acção do governo. 
Que notícias são essas? O índice de produção industrial está a subir desde Dezembro. Esperemos que continue a subir, tal como as exportações. O mês de Janeiro foi o melhor mês dos últimos três anos no que diz respeito à constituição de empresas. Se não me engano, nasceram 5300 empresas só no primeiro mês do ano. E esta renascença empresarial deve ser cruzada com o aumento do financiamento bancário às pequenas e médias empresas (dados do Banco de Portugal). Ainda não será o suficiente, mas é um sinal. De onde vem este dinheiro para as empresas? O reforço da poupança dos portugueses pode explicar alguma coisa. As famílias estão a poupar mais, estão a deixar o dinheiro no banco em vez de consumirem como consumiam. E ainda bem. A redução do consumo tem um efeito negativo a curto-prazo (desemprego), mas tem dois efeitos positivos a médio-prazo: o financiamento dos sectores exportadores em detrimento dos serviços; sem poupança interna não sairemos da dependência doentia em relação ao crédito externo. 
E mais? A Altran (França) escolheu o Fundão para o desenvolvimento de uma estrutura de nearshore (isto é, outsourcing sem sotaque indiano). Quem diria que uma pequena Bombaim iria nascer no centro de Portugal? Por falar em tecnologias, o Centro Internacional de Engenharia da Siemens-Nokia já emprega 2500 portugueses altamente qualificados. E o que dizer do CEIIA, a empresa que está a colocar Portugal no mapa da indústria aeronáutica, aproveitando a boleia da Auto-Europa dos aviões (Embraer/Évora)? Eu poderia continuar a dar boas notícias, mas não quero dar uma congestão fascista a ninguém.