Somos do tempo do silêncio
por A-24, em 02.10.13
João Vaz
Por isso não somos ouvidos. Porque vivemos no mundo do ruído. Um ruído que tem a sua expressão talvez mais vergonhosa nos minutos de silêncio protagonizados nos campos e recintos desportivos e que são tudo menos silenciosos, substituídos pela estupidez dos aplausos, como se os mortos fossem artistas de circo ou actores de uma comédia qualquer.
Por isso não somos ouvidos. Porque vivemos no mundo do ruído. Um ruído que tem a sua expressão talvez mais vergonhosa nos minutos de silêncio protagonizados nos campos e recintos desportivos e que são tudo menos silenciosos, substituídos pela estupidez dos aplausos, como se os mortos fossem artistas de circo ou actores de uma comédia qualquer.
Somos do tempo do silêncio e não nos adaptamos a este mundo de ruído, a este mundo onde a falsidade fala mais alto e passa, assim, por verdade. Um mundo onde os próprios detentores daquela se submetem, se subjugam, se dispõem a falar o mais alto que lhes for possível, como se nesse aumento decibélico existisse correspondente acrescento de conteúdo.
Somos do tempo do silêncio e da vergonha. Por isso deixamos que os outros controlem os destinos como se fossem donos das certezas, das vontades, das maiorias. Porque reconhecemos o valor da contemplação, porque há em nós o pudor da verdade que não se prostitui entre a multidão e não precisa do megafone para se fazer ouvir.
Somos do tempo do silêncio, ao qual os nossos dias são alérgicos, ao qual os nossos dias abominam. Mas os nossos dias passarão e o silêncio, esse, permanecerá, como Pascal tão bem sabia. Não para nos aterrorizar, mas para nos receber na sua eternidade luminosa.