Sócrates - Líder da oposição
por A-24, em 14.04.13
Quando Sócrates foi derrubado e se exilou voluntariamente em Paris, muita gente julgou que tinha sido o seu fim político. Não foi o meu caso. Apesar do desastre que tinha sido o seu Governo, com a permanente revelação de escândalos, achei que no fim tinha conseguido passar para a opinião pública uma mensagem importante: a de que tinha lutado até ao fim das suas forças para evitar a ajuda externa, tendo sido traído nesse combate. Pelo contrário, os partidos da maioria cairam na altura no erro de defender publicamente essa ajuda, parecendo que a desejavam, o que os converteu em partidos pró-troika. Ora, sabendo-se das gravíssimas consequências para o país que a intervenção externa viria a ter, Sócrates conseguiu guardar um capital político que lhe seria precioso logo que o povo começasse a sofrer na pele as consequências da austeridade.
Esse capital permite-lhe agora um regresso em força. O que se passou nesta semana demonstrou claramente quem é o líder da oposição. Como o Pedro bem refere abaixo, António José Seguro mostrou ser um autêntico vácuo político, apresentando uma moção de censura que só serviu para legitimar o Governo, e revelando-se incapaz de apresentar qualquer solução para os problemas nacionais. Apesar disso, acha que deve ser nomeado Primeiro-Ministro, mas mais ninguém no país parece ter a mesma opinião.
Pelo contrário, José Sócrates mostrou como se combate eficazmente a maioria, arrastando pelo caminho o Presidente. Quando Passos Coelho foi pedir o apoio de Belém e Cavaco lho deu, o Presidente ligou-se ao destino deste Governo. Com isso deixou de ter condições para arbitrar qualquer outra solução governativa. Sócrates não perdoou e do alto da sua tribunal televisiva resolveu atacar Passos Coelho e Cavaco simultaneamente, passando a considerar o Governo como de iniciativa presidencial. Com isso conseguiu matar dois coelhos de uma só cajadada. Passos Coelho e António José Seguro são a partir de hoje actores menores. Cavaco passou a líder da maioria e José Sócrates é o líder da oposição. A vingança é um prato que se come frio e este vai ser servido gelado.
Luís Meneses Leitão in Delito de Opinião