Sobre marinho Pinto II - O populismo na Europa
por A-24, em 27.09.14
Via Dinheiro Vivo
A candidatura de Marinho e Pinto às eleições europeias, juntamente com outros populistas pela Europa fora, confirmou a força eleitoral do discurso antipartidos (e anti tudo). Isto acontece sempre que há uma crise. Por isso, é fácil e cómodo encolher os ombros e sorrir perante todo o folclore Marinho e Pinto. Mas há um problema mais profundo e complicado na Europa que não deve ser ignorado.
Na depressão económica portuguesa, que já dura há 14 anos, todos temos sofrido. Mas uns têm sofrido mais do que outros. Quem tem poucos anos de escolaridade, não fala inglês, e não pode ou não consegue deslocar-se profissionalmente além-fronteiras, tem perdido emprego e rendimentos. Já quem consegue trabalhar pela Europa fora, fala bem inglês e estudou nas nossas universidades com algum prestígio externo, tem beneficiado bastante com o mercado único e a moeda única.
Embora seja preocupante que tantos recém-licenciados tenham emigrado em busca de trabalho nos últimos anos, a maioria deles vive bem melhor do que os seus colegas que ficaram no país e estão hoje desempregados ou com salários precários.
Não é preciso passar muito tempo em Bruxelas para constatar o óbvio. Quem são os portugueses nas instituições europeias? Falam inglês, têm estudos superiores e são geograficamente móveis. Ou seja, quem nos representa na Europa é quem mais tem beneficiado da integração europeia. Para eles, pessoalmente e nos seus grupos sociais, a UE tem tido um papel fundamental no progresso e no bem-estar.
Não se trata só de uma questão de classe social ou económica. Simplesmente, todo o vasto grupo de burocratas, tecnocratas e políticos em Lisboa é bastante mais representativo do país do que os burocratas, tecnocratas e políticos portugueses em Bruxelas. É inevitável. Mas convém tê-lo em mente para perceber porque é que em Bruxelas há tanto entusiasmo pela aprofundação da integração europeia sem correspondência no terreno.
Há uns tempos, ouvia a história de um tecnocrata de topo de um país do Sul da Europa, que apoiava fervorosamente a integração europeia. Era um prazer ir às reuniões. As discussões eram ótimas, os colegas fantásticos, aprendia-se imenso, e as decisões tomadas com vista ao bem-estar da Europa eram de muito melhor qualidade do que nas instituições do seu país. Só que, mais tarde, notava também que as políticas europeias dos últimos anos tinham sido péssimas para os desempregados no seu país. Não lhe passava pela cabeça a gravidade deste conflito.
É deste vazio de representatividade que se alimentam os populistas. Na semana passada, discuti o problema das quotas e da representatividade das mulheres na Comissão Europeia. A falta de representatividade dos desempregados portugueses em Bruxelas pode ter consequências ainda mais graves e não é nada fácil de resolver.