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A-24

Sebastian Vettel - O filho do carpinteiro Norbert é bicampeão

por A-24, em 10.10.11
Aos 24 anos, três meses e seis dias, Sebastian Vettel tornou-se no mais jovem bicampeão da história da Fórmula 1. O piloto da Red Bull terminou o Grande Prémio do Japão no terceiro lugar, atrás de Jenson Button e Fernando Alonso, mas garantiu pontos mais que suficientes para selar matematicamente o título mundial a quatro corridas do fim do campeonato.
Continua a ter a mesma cara de miúdo, mas Sebastian Vettel deixou para trás o jovem impulsivo de 2010 para se tornar num “veterano” de 24 anos, que faz da maturidade uma das suas qualidades. O princípio “To finish first you have first to finish” aplica-se-lhe: foi o único piloto que terminou as 15 corridas do calendário. Com seis vitórias e dois segundos lugares nas primeiras oito corridas, já não havia dúvidas que Vettel seria bicampeão. A questão era quando se concretizaria o segundo título do alemão.
“Muito obrigado a todos e cada um de vós. Não tomámos nada por garantido e conseguimos”, disse pelo rádio um eufórico Vettel, assim que cortou a meta. Bastava-lhe um ponto para ser campeão, já que Button venceu uma corrida decidida na gestão do desgaste dos pneus. Conquistou 15 e lutou quase até ao final pela vitória: só depois dos apelos da equipa o piloto alemão decidiu contentar-se com o terceiro posto e não arriscar desnecessariamente.

“Kylie marota”
Mas não é só pela atitude competitiva que se distingue Vettel. Gosta de dar nomes de mulher aos carros que pilota: este ano era Kinky Kylie (Kylie marota). Mas já tinha sido Randy Mandy, Luscious Liz ou Kate e Kate’s Dirty Sister. E gosta de festa. No ano passado, após a conquista do título na última corrida, houve festa toda a noite em Abu Dhabi e grandes ressacas no dia seguinte. Este ano não poderá ser assim, porque já no próximo fim-de-semana há o Grande Prémio da Coreia do Sul.
Fã confesso de três Michaels - Jordan, Jackson e Schumacher -, o percurso de Vettel começa a ameaçar a lenda do último, ainda que para já tenham percursos semelhantes: dois títulos e 19 vitórias nas primeiras cinco épocas na Fórmula 1. Os sucessos dos dois ajudaram a Alemanha a ultrapassar o Brasil como segundo país mais titulado na modalidade (nove contra oito). Nos troféus disputados no século XXI, metade (cinco) foi para a Alemanha. Espanha e Grã-Bretanha venceram dois e a Finlândia um.
Vettel já não vive à sombra de Schumacher. O “diamante de Heppenheim”, como o apelidava Manel Serras no El País, confirmou o talento que se lhe reconhece. Uma frase de Gerhard Noack, que durante mais de 20 anos geriu o kartódromo de Kerpen (cidade natal de Schumacher), é esclarecedora da hierarquia entre os dois. “Durante os anos que dirigi aquela pista de karts nunca tinha visto um talento tão grande como o de Michael Schumacher... até que chegou Vettel”, afirmou, recuando a uma época em que o jovem bicampeão tinha 16 anos.
Noack desempenhou um papel importante no início de carreira de Vettel, ao apoiar financeiramente o jovem piloto. O pai de Sebastian, Norbert, trabalhava como carpinteiro e a mãe Heike era doméstica, pelo que não tinham dinheiro suficiente para os investimentos necessários.

Os pombos-correios do avô
Igualmente importantes para esse início de carreira foram os pombos-correios do avô Werner. O diário alemão Bild contava há dias que o avô de Vettel vendeu os pombos-correios que criava para ajudar o neto com algum dinheiro. O investimento na carreira do piloto alemão antes de chegar à Fórmula 1 rondou os dois milhões de euros. O pai vendeu o carro, o avô vendeu os pombos e Sebastian às vezes dormia na bagageira do automóvel durante os fins-de-semana de competição, para poupar no hotel.
O primeiro kart custou sete mil marcos (3500 euros) e a primeira época na série-Bambini cerca de oito mil euros - um valor que mais tarde chegaria aos 30 mil. A ajuda de Noack foi fulcral para os passos seguintes, já que os custos aumentariam exponencialmente: na Fórmula BMW (160 mil euros em 2003 e 200 mil em 2004) e na Fórmula 3 (2005 e 2006, à razão de 750 mil euros por ano).
Agora Vettel é um dos mais bem pagos na Fórmula 1, com um salário a rondar os 15,7 milhões de euros anuais. E com o título conquistado no Japão garantiu que vai receber um bónus na ordem dos seis milhões.
Talvez há dez anos o jovem Sebastian Vettel não imaginasse o que aí vinha. Ou se calhar sim. A cara de miúdo é a mesma, a vontade de ganhar também. O tradicional festejo com o dedo indicador espetado passou a ser feito com dois dedos. E promete aumentar nas temporadas que aí vêm. Fernando Alonso, que perdeu para o alemão o recorde de bicampeão mais jovem, já lhe fez o desafio: “Vamos ver quem é o tricampeão mais jovem”, disse. Vettel não é piloto para ficar indiferente. E os adeptos agradecem.