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A-24

Roberto Baggio

por A-24, em 08.05.13
"Baggio nooooooooo". É com este grito vívido e lancinante que o comentarista inglês da célebre final do Mundial de futebol de 1994 reage ao mítico falhanço de Roby. Há imagens que perduram eternamente na nossa alma. Algumas ocultam-se, lenta e inexoravelmente, nos sombrios labirintos da nossa memória. Desaparecem e quedam-se sepultadas no bafio da nossa existência. Outras, candida e suavemente, emergem de lés a lés, recordando-nos que o homem é um ser contingente, que falha aspirações e que perde vontades. A imagem que doura esta posta foi porventura a minha "Estrada de Damasco" no gosto incondicional que adquiri pelo desporto rei. Recordo-me, como se fosse hoje, a impressão que este instantâneo futebolístico me provocou. Tinha então 7 anos. Na altura, na minha inocência pueril, fiquei encantado com o estilo elegantíssimo daquele jovem italiano, estrela da então poderosíssima "Vecchia Signora", que, com um tímido sorriso de craque, marcava e fazia marcar. Achava piada ao corte de cabelo desafiador de convenções e de gostos. Gostava dos golos e da forma infantil como Roby os celebrava. Baggio foi isso tudo. Foi, acima de qualquer outra coisa, um ídolo. Não um ídolo de barro, daqueles que fazem tombar e erigir religiões, mas, sim, um ídolo de carne e osso, um precursor de tirocínios futebolísticos. Para quem começava a ver e a degustar a essência do futebol, uma imagem destas tinha o seu quê de trágico. E, no fundo, esse foi o grande legado de Baggio. Ensinou-nos, melhor do que qualquer outro praticante da modalidade, que a vida é feita de emoções díspares. Enquanto a perfeição relampeja suavemente na campina do triunfo, o assombro da perda descomunal vem sub-repticiamente trilhando o seu caminho. Baggio teve uma carreira ímpar. Foi um dos maiores talentos da sua geração, e, com Rivera, o maior futebolista italiano de todos os tempos. Ganhou a, tão cobiçada por estes dias, Bola de Ouro, e foi considerado o melhor jogador do mundo em 1993. Deixou a sua marca em todos os clubes por onde passou, com especial destaque para a Juventus e a Fiorentina. Marcou em 3 mundiais seguidos, e reconduziu a sua selecção ao topo do futebol mundial. Ao invés de outros, Baggio não enjeitava as responsabilidades, tomava-as e aparecia nos grandes momentos. Dono de um carisma nato, incompatibilizou-se com muitos técnicos, foi desprezado por outros tantos, mas a poesia do seu futebol jamais se perdeu. É esta a sina de quem atinge os píncaros. Maradona e Romário que o digam. Foi assim que Baggio triunfou e encantou as multidões. Num segundo fatídico falhou, e rompeu tragicamente o seu elã junto de muitos adeptos, sem embargo, mostrou a todos que não há ídolos divinos. Mostrou, também, que a técnica burilada também claudica. O homem é assim, imperfeito e limitado. Não há futebolista que escape a este diktat, nem mesmo Messi. Hoje, chegado à idade adulta e apreciador devoto do pontapé na bola, continuo a venerar Baggio. Há ídolos que não morrem, há gostos que não esmorecem, e, para um conservador à moda antiga, como é manifestamente o meu caso, as tradições devem ser mantidas e defendidas com ardor, sobretudo quando nelas está a arte da vida. Obrigado, Roberto Baggio.
Estado Sentido