Quem perde, quando ganha Le Pen?
por A-24, em 26.03.14
A vitória da extrema-direita em França é uma derrota de quem? Podemos, talvez, fazer várias teorias e nenhuma estar certa. Mas aquela que me ocorre mais vezes é esta: dos anos de relativismo moral, de desprezo pelas melhores tradições europeias, de sociedades para as quais só havia direitos e não deveres, de apoio a pessoas, necessitadas, é certo, mas que não se esforçavam e não trabalhavam e acumularam o ódio das que, trabalhando auferiam pouco mais. Enfim, anos de despautério, de pouco critério em que os Estados foram tentando comprar a complacência dos cidadãos e a sua paz social.

É fácil dizer que foi a crise. Claro que foi. Mas essa crise tem as mesmas origens atrás descritas. Que tudo se equivale, que o esforço é, por vezes, inglório; que a justiça não é igual para todos.
Muitas vezes, em alturas que tenho oportunidade de falar, dou o seguinte exemplo: imaginem duas famílias com rendimentos iguais. Uma aluga uma parte de casa e vive modestamente. A outra constrói uma barraca num baldio e vive mal, mas com mais disponibilidade, pois não paga nada pela casa. Quando a Câmara fizer realojamentos, qual será, destas duas, a família beneficiada?
Escusam de responder. O povo sabe a resposta. E sabe que nenhum político do nosso sistema tradicional pretende sequer encarar um problema assim. É Marine Le Pen, como outros semi-fascistas e populistas que enxameiam a Europa, que lhes respondem. Muitas vezes, de forma desumana e bárbara. Mas é bom não esquecer que muitos dos que agora votaram no FN também tiveram esperança e acreditaram em Sarkozy ou em Hollande, como muitos que votam em partidos cada vez mais radicais em toda a UE já depositaram esperanças de mais e melhor justiça e equidade em partidos que os desiludiram. Também aqui é o modelo social e político tradicional que falha redondamente.