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A-24

Promulgada lei que proíbe adoção de crianças russas por norte-americanos

por A-24, em 09.01.13
José Milhazes 
Como é do conhecimento geral, o Congresso e o Senado dos Estados Unidos aprovaram a chamada “Lista Magnitski”, que acabou por ser homologada pelo Presidente Obama.
Segundo esta lei, Washington recusa a concessão de vistos de entrada nos EUA a funcionários russos que, directa ou indirectamente, estiveram ligados à morte do advogado Serguei Magnitski. Além disso, as autoridades norte-americanas podem congelar contas bancárias desses.
Serguei Magnitski era um advogado russo que trabalhava na Rússia para a empresa de investimentos Hermitage Capital e, a determinada altura, começou a denunciar fraudes nos serviços de cobrança de impostos russos no valor de muitos milhões de euros.
No lugar de as autoridades investigarem o caso, Magnitski foi preso e faleceu misteriosamente numa das prisões de Moscovo. Até hoje ainda não se sabe ao certo se ele morreu de morte natural, faleceu por falta de assistência médica ou foi simplesmente assassinado. Mas, tendo em conta a actuação das autoridades competentes, pode dizer-se que “aqui há gato”.
Vladimir Putin e os deputados russos consideraram a aprovação dessa lista uma ingerência nos assuntos internos da Rússia e decidiram responder de “forma assimétrica”.
Recentemente, o Presidente russo disse que não daria a outra face a quem lhe desse uma chapada, lançando assim o mote para a “assimetria”
O Parlamento da Rússia aprovou uma decisão que proíbe a entrada no país de norte-americanos envolvidos na violação dos direitos humanos em todo o mundo, incluindo aqueles que detiveram, julgaram e condenaram à prisão Victor But, traficante de armas mais conhecido por “senhor da guerra”.
Mas os deputados russos decidiram recorrer às crianças órfãs russas para criar a “assimetria” na resposta. Decidiram proibir a adopção de crianças russas por famílias norte-americanas, alegadamente devido aos maus-tratos a que são algumas sujeitas.
Por isso acharam por bem chamar à sua resposta lei “Dima Iakovlev”, criança adoptada por um casal norte-americano que faleceu por negligência do pai adotivo. Este, por descuido, deixou a criança fechada dentro do automóvel e ela morreu de asfixia.
Alguns ministros como Serguei Lavrov (Negócios Estrangeiros), Olga Golodets (vice-primeira-ministra) e Dmitri Livanov (Educação), bem como numerosas figuras públicas russas apelaram à não aprovação da lei nessa redacção, mas ninguém os ouviu.
Na véspera, quando Vladimir Putin condecorou conhecidas personalidades russas, o actor Konstantin Khabetski foi receber a medalha levando na lapela um crachá onde se lia “As crianças estão fora da política!”
Talvez nem todos saibam, mas na Rússia há cerca de 700 mil crianças abandonadas, ou seja, quase tantas como na URSS durante a Segunda Guerra Mundial, e o Estado não quer ou não pode criar condições para que essas crianças tenham uma educação normal.
Por isso, a adopção de crianças russas por cidadãos estrangeiros, incluindo americanos, era uma das formas de atenuar o problema.
Além do mais, os casais estrangeiros mostram-se prontas a adoptar crianças deficientes, coisa que é muito raramente feito por casais russos.
Claro que não se pode fechar os olhos aos problemas que algumas crianças russas tiveram nas famílias de adopção, sendo, por vezes, alvo de maus-tratos. Também é preciso combater a corrupção existente nesta área, que pode ameaçar transformar-se em tráfico de seres humanos.
Porém, o número de casos de adopção com êxito é incomparavelmente maior e é por isso que a nova lei do Parlamento Russo é particularmente cruel.
Os deputados dizem fazer isso por estarem preocupados com o destino das crianças russas que são levadas para o estrangeiro, mas esquecem-se das que vivem no país.
Um exemplo flagrante é de Alexandra Zarubina, criança que foi retirada de uma boa família em Portugal para ir viver para uma casa de madeira a cair de podre numa região onde o termómetro pode marcar -20 ou -30 graus centígrados.
O apoio das autoridades não é nenhum, talvez elas tenham medo de estragar os caros fatos franceses e italianos ao entrarem na casa da menina ou a salvação de todas as crianças russas não lhes deixe tempo para resolver um caso concreto.
É mesmo momento para dizer: deixem ficar as crianças fora dos jogos políticos dos adultos! Tanto mais que, por este andar, as relações entre Rússia e Estados Unidos poderão deteriorar-se gravemente.
Putin e a elite russa não querem fazer figura de fracos e os dirigentes norte-americanos também não são conhecidos pela sua maleabilidade.