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A-24

Portugal não tem emenda

por A-24, em 05.03.13
Acompanhei a manifestação de ontem ao longe, pelos jornais, blogs e redes sociais (sendo que não surpreendentemente os jornais foram os menos informativos do que se ia passando) e embora perceba a tentação de se denunciar a aldrabice que foram os números apontados pelo Bloco de Esquerda não sei até que ponto terá relevância (a maior parte já sabe que eles são aldrabões, quem não sabe vai continuar a não querer saber).

O mais relevante, na minha óptica, é que mais uma vez tivemos uma demonstração de que o país não tem emenda. Podemos falar de maiorias silenciosas? Claro que podemos (e devemos) mas também não podemos esquecer que as minorias ruidosas têm grande influência junto da classe governante (só a título de exemplo houve uma maioria silenciosa que não queria saber da liberalização do aborto para nada, nem sequer teve paciência para ir votar no referendo mas feitas as contas essa maioria silenciosa está agora a pagar os abortos que se fazem no SNS). O problema do país não é sequer aqueles cem mil (vá, arrendondado para cima) que se manifestaram ontem a favor de terem tudo o que sempre tiveram e não quererem pagar a conta. O problema do país é precisamente a maioria silenciosa que não abre a boca. A que come e cala estes anos perdidos de PSD/CDS onde pouco mais se fez que gerir a bancarrota perdendo-se oportunidades atrás de oportunidades para resolver os problemas essenciais do país.
Portugal não tem emenda porque não se vê meia dúzia de gatos pingados à porta do parlamento a pedir diminuição da despesa pública. A classe política, gostem ou não, vai atrás das minorias ruidosas e pouco barulho se faz sobre o que interessa. Um pequeno exemplo: era difícil mobilizar umas quantas pessoas para gritarem que queriam a RTP privatizada e deixar de pagar taxa audiovisual? Pelos vistos era e na falta de contraponto ruidoso o governo de tendência natural socialista lá continua a sustentar o elefante branco à conta do contribuinte.
Nunca houve uma minoria ruidosa contra o TGV, contra o aeroporto, contra os benefícios sociais… e aqui estamos. Não são cem mil pessoas naturalmente frustradas e facilmente instrumentalizáveis pela extrema-esquerda que são o problema da nação, afinal “tudo o que é necessário para que o mal ganhe é que gente boa nada faça”.
Mas sejamos sinceros, se a maioria silenciosa ainda não se levantou do sofá também não é agora que o vai fazer. E enquanto o tempo passa a frustração dos portugueses só vai aumentar, se o governo abdicou de fazer o necessário enquanto estava em período de graça não há razões parar crer que as coisas vão melhorar e reduzir as incertezas de quem vive em Portugal. A situação só pode piorar. À maioria silenciosa só lhe cabe ser cada vez menos maioritária à medida que o bom senso a leva a fazer as malas e saírem para sítios mais livres das influências do ruído das minorias.
E Portugal, assim, transforma-se numa balança que só tem peso de um lado a caminho do futuro que no fundo merece ter. Um dia a Troika há-de mesmo ir lixar-se e os portugueses que ficarem poderão finalmente banhar-se na total falência do país, ou nas palavras de Francisco:
- Señor D’Anconia, what do you think it will happen to this world?
- Nothing more and nothing less than what it deserves.

Nuno Branco in O Insurgente