Por que é preciso defender Israel?
por A-24, em 20.07.11
Actualmente, em muitas partes do mundo, em círculos de intelectuais, da classe média e dos grandes média, existe um ambiente hostil ao povo judeu e também ao Estado de Israel. No dias actuais vemos renascer o espírito antissemita e, por conseguinte, o discurso do “fora judeu” e da “destruição do Estado de Israel”.
O surpreendente desse renascimento é que ele não é de origem cristã. Desde o final do século XIX e principalmente na segunda metade do século XX e início do XXI, o cristianismo – e especialmente a Igreja Católica – tem tido uma política de não agressão ao povo judeu. O cristianismo tem desenvolvido políticas e acções de convivência e diálogo com o povo e o Estado judeu. Em grande medida os históricos conflitos entre cristãos e judeus foram superados ou profundamente amenizados.
Além disso, o século XX viu a derrota de duas grandes ideologias, o nazismo e o socialismo, que, entre os seus princípios, pregavam o ódio e a extinção dos judeus.
Se os conflitos entre cristãos e judeus foram profundamente amenizados, e o nazismo e o socialismo foram, no século XX, derrotados, então quem ou o que está promovendo a nova onda de espírito antissemita? A nova onda de ódio aos judeus? A onda que deseja a destruição do Estado judeu?
Não é intenção deste pequeno artigo dar respostas definitivas a essas perguntas inquietantes. No entanto, é possível realizar cinco reflexões.
Primeira, as novas gerações, nascidas a partir da década de 1970, não passaram pelos tormentos e sofrimentos da Segunda Guerra Mundial e, por conseguinte, pela perseguição realizada pelo Estado totalitário nazi e socialista. São gerações que vêem o povo judeu apenas como um povo distante e exótico e em grande medida desconhecem a sua história de perseguição e sofrimento.
Segunda, existe um pacto entre a elite da esquerda internacional e grupos fundamentalistas muçulmanos, especialmente o Irão. Apesar de haver muitas divergências entre essas duas posturas culturais, há pontos comuns entre ambas. Tanto a elite da esquerda internacional como grupos fundamentalistas muçulmanos possuem em comum uma forte crítica ao capitalismo, visto como causador dos problemas sociais do mundo moderno, e um ódio ao cristianismo, visto como causa da decadência do Ocidente. O pacto entre a elite da esquerda internacional com grupos fundamentalistas muçulmanos visa, simultaneamente, destruir o capitalismo e o cristianismo. Dentro desse pacto há um acordo que implicitamente coloca que, de um lado, os grupos muçulmanos radicais poderão atacar os judeus, inclusive perpetrando actos de terrorismo, e, do outro lado, a elite da esquerda internacional fará vista grossa a esses ataques e até mesmo podem defender os grupos muçulmanos radicais alegando, entre outras coisas, que fizeram esses ataques em nome dos Direitos Humanos e da democracia.
Além disso, actualmente está se desenvolvendo no mundo, especialmente na América Latina, o neo-socialismo ou Socialismo do Século XXI ou ainda Socialismo Bolivariano. O neo-socialismo tem, entre os seus postulados, o princípio estratégico de que o mundo islâmico é fundamental para o triunfo da Revolução e, por conseguinte, a implantação de um regime político anticapitalista. Nessa perspectiva, o islão é visto como uma fonte indispensável de militantes e de pressões políticas. O problema é que os grupos radicais muçulmanos não desejam aderir à Revolução Neo-Socialista de graça sem receberem uma recompensa. Eles querem, entre outras coisas, o direito de destruir o Estado judeu. Por causa dessa reivindicação os países envolvidos com a Revolução Neo-Socialista fazem vista grossa diante do terrorismo islâmico e até mesmo chegam a apoiar abertamente regimes teocráticos e totalitários, como é o caso do Irão. Na América Latina, a Venezuela, de Hugo Chávez, e outros países bolivarianos, como Bolívia e Argentina, fazem constantes declarações em apoio a grupos extremistas islâmicos. O Brasil, um dos países de maior projecção política no Terceiro Mundo, durante o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez preocupantes declarações de apoio ao Irão e à Síria, dois países que historicamente são profundamente hostis ao Estado judeu. Tudo isso cria um ambiente de legitimação ao extremismo islâmico e, ao mesmo tempo, de apreensão para o povo judeu.
Terceira, actualmente em muitas universidades e centros de formação superior no Ocidente é ministrado, na sua essência, um ensino pouco crítico e muito carregado por um discurso esquerdista do estilo “o mal é o capitalismo” e a “religião é o ópio do povo”. Esse tipo de ensino tem causado sérios problemas de formação humana, um dos quais é o não reconhecimento da importância do povo e do Estado judeu na história do Ocidente. Vê-se o povo judeu como um povo agressor, imperialista e até mesmo cruel. Não há uma reflexão sobre o direito de existência desse povo e, por conseguinte, do seu Estado. Não se reflecte sobre a visão autoritária existente entre sectores dos muçulmanos, o fundamentalismo de alguns países, como o Irão e a Síria. Não se reflecte sobre o desejo, aberto e declarado, de grupos radicais destruírem o Estado de Israel e, por conseguinte, matarem todos os cidadãos judeus que nele residem. Entre esses grupos é possível citar: a Irmandade Muçulmana, a Jihad Islâmica, os Talibãs, a Al-Qaeda, o Hezbollah, o Hamas, o Jemaah Islamiyah, a Frente de Salvação Islâmica e o Gamaat Islamiya.
Ademais, nas universidades e centros de formação superior no Ocidente actualmente há um profundo espírito agressivo e até mesmo preconceituoso contra qualquer expressão religiosa. A religião é vista como causa da alienação e da opressão social. Criticar a religião é visto como um acto de vanguarda, de modernidade e de esclarecimento. Uma das consequências dessa postura é que o povo judeu, por ter uma fé religiosa viva e activa, é visto como um povo supersticioso e causador da alienação social. Por isso, a nova onda de perseguição aos judeus é entendida, em muitos ambientes universitários, como uma forma de combater a religião.
Quarta, os grandes média ocidentais têm contribuído para o agravamento da nova onda de perseguição aos judeus. De um lado, devido à formação recebida pela ideologia esquerdista, muitos sectores dos média ocidentais têm grande simpatia pelos grupos radicais mulçumanos. Esses grupos são vistos como questionadores da opressão social e do imperialismo ocidental, especialmente do imperialismo norte-americano. Praticamente não são apresentados o carácter de intransigência sócio-religiosa e o desejo de implantar a "sharia" (a lei fundamentalista islâmica), em diversas partes do mundo. Em certa medida, reina nos média um grande silêncio sobre o imperialismo, as práticas culturais autoritárias e a falta de liberdade, reinantes no mundo muçulmano. Do outro lado, o Estado judeu é visto como um Estado imperialista, conquistador e até mesmo herdeiro do nazismo. A soma de todos esses factores faz com que haja, nos grandes média, muito pouca reflexão tanto sobre a situação dos judeus no mundo como também o aberto desejo dos grupos radicais muçulmanos de literalmente destruírem esse povo.
Quinta, o secularismo que penetra, com muita força, dentro do cristianismo. Desde o século XVIII que os grupos religiosos ligados ao cristianismo vêm passando por um grande processo de secularização. É bom deixar claro que o cristianismo é a grande força religiosa e até mesmo política do Ocidente. À medida que o cristianismo se seculariza vai aderindo a posições políticas e culturais mais distantes de seu fundamento doutrinário. Um bom exemplo disso é a disputa entre judeus e muçulmanos. Historicamente, os cristãos sempre estiveram contra o islão. Por causa disso fizeram importantes críticas às posturas autoritárias oriundas do islão. Esse facto, de alguma forma, sempre beneficiou o povo judeu. No entanto, nas últimas décadas temos visto mudanças nessa postura. Líderes cristãos, inspirados por um cristianismo secularizado, afirmam que os grupos radicais muçulmanos são apenas movimentos sociais que lutam pelos Direitos Humanos e, por conseguinte, passaram a ver o povo judeu como um povo opressor, um típico representante do imperialismo Cruzado ocidental. Um bom exemplo disso é a Teologia da Libertação (TL). Os líderes dessa expressão teológica, que se desenvolveu principalmente na América Latina, costumam fazer declarações defendendo abertamente grupos fundamentalistas islâmicos, usando, para tanto, o argumento de que a luta islâmica é democrática e visa à defesa da cidadania. Enquanto isso, o sofrimento e as demais questões que envolvem o povo judeu são ignorados.
Como é possível perceber, pelas breves reflexões que foram apresentadas, há muitos factos que contribuem para o aumento do ódio aos judeus e, ao mesmo tempo, a defesa dos grupos radicais islâmicos.
Existe quase um senso comum que afirma e até mesmo grita, mesmo que inconscientemente, que a destruição do Estado de Israel e, por conseguinte, a morte ou então a expulsão da sua população, estimada em aproximadamente 7.500.000, será uma grande conquista da humanidade, uma vitória da democracia, da cidadania e dos direitos humanos. Com a destruição do Estado de Israel, os povos oprimidos, simbolizados pelos grupos radicais muçulmanos, terão uma possibilidade real de se libertarem de séculos de exploração ocidental.
Não há dúvida que os países centrais do Ocidente (Inglaterra, EUA, França, etc.) dominaram, oprimiram e até mesmo destruíram vários povos ao redor do mundo, incluindo no Médio Oriente. É preciso combater a exploração e o colonialismo. Entretanto, engana-se quem pensa, mesmo que de forma inconsciente, que a destruição do Estado de Israel – incluíndo a morte ou a expulsão de sua população – será o remédio para os males causados pela exploração, pelo colonialismo e o imperialismo.
Quando os grupos muçulmanos destruírem Israel e provavelmente massacrarem quase 100% de sua população, não estarão criando um mundo melhor, sem capitalismo, sem cristianismo, sem sionismo e outras questões. Pelo contrário, esse facto marcará o início do mais radical retrocesso vivido pela história. Séculos de avanço humanístico, rumo à democracia e aos Direitos Humanos, serão sumariamente enterrados. Tudo isso para que a "sharia" seja implantada a nível global. A esperança de muitos grupos (neo-socialismo, cristianismo secular, etc.) é que a destruição do Estado de Israel, pelos grupos radicais islâmicos, acabe com a sede de sangue, morte e terror que esses grupos possuem. É preciso observar que estamos falando de uma destruição física e não meramente simbólica do Estado judeu. A destruição de todas as casas e demais edifícios existentes em Israel. O raciocínio dos grupos que defendem os radicais islâmicos é mais ou menos assim: “quando Israel for destruído, então teremos paz no mundo”.
Enganam-se aqueles que pensam desta forma. Triste ilusão. O projecto dos grupos radicais mulçumanos é a conquista do Ocidente e a implantação da "sharia" a nível global. Esses grupos pouco se importam com a democracia, Direitos Humanos e coisas semelhantes. O que eles querem é impor ao mundo a lei islâmica. O problema é que, no momento, o grande empecilho da realização desse projecto é a existência, em pleno Médio Oriente, do Estado e do povo judeu. Por causa disso o raciocínio dos grupos radicais islâmicos é o seguinte: “primeiro destruímos o Estado de Israel e depois faremos a grande marcha rumo ao Ocidente. Para isso, precisamos momentaneamente do apoio de grupos ocidentais (neo-socialismo, cristianismo secular, etc) insatisfeitos com o próprio Ocidente”.
Os grupos radicais islâmicos querem a ajuda de sectores da sociedade ocidental para destruir Israel e depois “jogarem fora” esses mesmos grupos e, por conseguinte, fazer a grande marcha rumo à conquista do Ocidente.
Nesse triste contexto, Israel emerge como a “grande protecção” da sociedade e dos valores ocidentais. Por incrível que pareça, o que impede uma invasão militar, e até mesmo actos de terrorismo mais agressivos por parte de grupos radicais islâmicos, é a existência do Estado de Israel. Enquanto esses grupos estiverem ocupados lutando para massacrar o povo judeu, eles não terão condições de promover a grande marcha rumo ao Ocidente.
É por isso que ao invés de ficarmos criticando o Estado de Israel – e é preciso criticar os exageros cometidos por qualquer modelo de Estado – temos que nos empenharmos para protegê-lo. A convivência pacifica entre judeus e muçulmanos e, por conseguinte, a paz no Médio Oriente e no Ocidente, só serão possíveis com um Estado judeu forte e com amplo apoio do Ocidente a esse Estado. Precisamos de superar o discurso ideológico que vê Israel como um povo opressor e um Estado conquistador. É preciso reconhecer que Israel é a grande barreira que protege o Ocidente contra actos de terrorismo e destruição oriundos dos radicais islâmicos. Por isso, a defesa de Israel representa, simultaneamente, a defesa dos valores e dos povos do Ocidente. Quando Israel for destruído não haverá nada, absolutamente nada, entre o ódio islâmico e os países do Ocidente. Enquanto o islão não se moderniza e aceita a democracia e a liberdade de expressão, Israel é a grande barreira protectora, o grande escudo. Temos que cuidar desse escudo. Temos que proteger os cidadãos israelitas ao redor do mundo e garantir que as pretensões dos grupos radicais de destruírem Israel jamais serão realizadas.