Maioria estava no mar na altura do sismo e tsunami
O sismo e o tsunami de terça-feira na ilha de Samoa, no Pacífico sul, pouparam as vidas e os bens dos pescadores açorianos e madeirenses, cerca de cem no total, que na sua maioria ali se fixam sazonalmente.Edgar Feliciano, natural da ilha do Pico (Açores) e residente na ilha há 20 anos, disse hoje à Lusa que "não houve problemas com portugueses" em resultado do sismo de magnitude 8.0 e do tsunami que fez pelo menos 150 mortos, segundo o balanço mais recente."A nossa frota estava toda fora a pescar. Só um [barco] estava dentro [do porto] e não teve problemas. O barco estava amarrado à doca, a tripulação foi mandada evacuar. [o mar vazou] e quando voltou a entrar não houve problema nenhum", disse Feliciano, que foi para Samoa como pescador e trabalha hoje numa fábrica de processamento de pescado.
Com um tio e sua família directa - a mulher é natural da vizinha ilha de Tonga - Feliciano e os seus parentes constituem o pequeno núcleo de residentes portugueses na ilha.Mas existe uma população flutuante, que faz temporadas de pesca, como sucede actualmente, juntando cerca de uma centena de pessoas."A frota começou a vir para cá em 1983, a maioria portugueses açorianos, quase todos da ilha do Pico, e outra parte da Madeira, Paul do Mar", afirmou."
Antes pescavam na América do Sul ou Pacífico, na Califórnia, mas depois abriram uma fábrica de peixe cá, a maior do mundo, e [a frota] começou a vir por causa da grande quantidade de peixe que se encontrava. É o meu caso", disse à Lusa.O tio de Feliciano é dono de cinco barcos, dos quais quatro estavam no mar e outro no porto, quando se deu o tsunami.Nenhum sofreu estragos, mas na fábrica onde o português trabalha "está tudo fechado" devido aos grandes danos e assim deverá ficar 2 a 4 semanas.Em duas décadas no sul do Pacífico, o açoriano já havia vivido sismos e alertas de tsunami mas "nada a este nível"
"Nesse dia ia a caminho do trabalho bem cedo, parei para tomar café e senti o sismo. Voltei ao carro quando parou e liguei o rádio para ouvir a informação. Só pela duração e intensidade pensei que podia haver um tsunami. Mas o rádio a primeira informação que deu era que o sismo era de 6.6 e não havia tsunami", disse."Meti-me no carro, comecei a andar para o trabalho de novo, ia passando à volta da baía de Palo-Palo e vi a água toda a vazar, uma coisa que nunca tinha visto, via-se até o fundo do mar. Sabia logo que vinha um tsunami, virei o carro para um lugar mais alto da cidade", contou.Na subida, Feliciano cruzou-se com várias crianças que desciam a caminho da escola, e, em inglês, tentou avisá-las: "Algumas talvez não tenham compreendido, outras sim." "Safei-me por pouco. Quando cheguei ao lugar alto comecei a ver o que se estava a passar. Era mesmo horrível", relatou.
Seguiu-se o desespero de tentar contactar os familiares, quando as comunicações estavam em baixo.Apesar do susto, Feliciano quer participar na reconstrução da ilha e diz que só na reforma regressará à sua ilha natal."É a vida. O que aconteceu cá pode acontecer em qualquer parte do mundo. Um dia volto", afirmou.Os sismos nas ilhas Samoa e em Samatra (Indonésia) não estão relacionados, apesar de terem ocorrido na "cintura de fogo" do Pacífico, onde a junção de placas continentais origina forte actividade sísmica, segundo os peritos.
DN
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