"Pelo pluriculturalismo, contra o multiculturalismo"
por A-24, em 06.09.12
Considero que o princípio geral enunciado pela Maria João neste post está correcto: a Europa, de facto, não tem sabido lidar com imigrantes de culturas diferentes, demonstrando por vezes uma condescendência que a descaracteriza culturalmente e afecta a qualidade de vida de uma grande parte da sua população. Não considero, no entanto, que o exemplo dado seja válido.
Começo pelo fim, pelo exemplo dado, distinguindo entre dois tipos de comportamentos: os positivos (aqueles que por hábito cultural os indivíduos praticam) e os negativos. Um indivíduo fora do seu ambiente cultural deve abster-se dos comportamentos positivos que são mal vistos na cultura que o recebe, mas não considero ser ofensivo o não inverter os comportamentos negativos. Posso dar o meu exemplo pessoal. Eu fui educado, como todos os portugueses, a dar dois beijos na face ao cumprimentar uma mulher, mas a não o fazer quando cumprimento um homem. No meu país de acolhimento há 5 anos, islâmico por coincidência, é tradicional dois homems cumprimentarem-se com um beijo (e um toque de narizes), mas um homem não tocar na mulher na mesma situação. Como todos os Ocidentais, abdiquei do meu tradicional comportamento positivo (não beijo mulheres muçulmanas quando sou apresentado), mas também não inverti o comportamento negativo: não beijo (nem toco narizes) com homens locais na mesma situação. Nunca fui acusado de desrespeitar a cultura local por não o fazer, embora o fosse se alguma vez tentasse beijar uma mulher muçulmana. O exemplo é especialmente mau devido ao evento em que se inseriu: um evento que é, por natureza, multi-cultural e que hoje é realizado em Londres mas que amanhã pode ser na Arábia Saudita. Obrigar os atletas a aculturarem-se à pressa à cultura de cada país organizador dos JO seria uma forma rápida de acabar com eles.
Mas tem razão, no essencial, a Maria João: a Europa, e em especial países com forte imigração de países Islâmicos, tem falhado na sua política de imigração e nacionalidade. Acolhimento não pode, nem deve, ser subserviência nem perda de identidade cultural. Aqui, mais uma vez, o exemplo pode vir de alguns países Islâmicos com grandes % de imigrantes. No Qatar, EAU e Bahrain, os nacionais representam menos de 20% da população residente, mas nenhum estrangeiro pode obter nacionalidade (salvo raríssimas excepçoes), mesmo que se mantenha no país durante muitos anos. Da mesma forma não lhes és permitido ficar no país se não tiverem emprego (ou não forem patrocinados por um familiar directo que tenha). A criação de áreas culturalmente homogéneas (que na Europa tem a denominação falaciosa de gueto) onde imigrantes de culturas diferentes possam livremente exercer comportamentos da sua cultura de origem também ajuda à integração, não desfiguranda a cultura local (ver o caso da Dubai Marina na imagem: um dos “guetos” de Ocidentais no Dubai). Uma lição de como é possível beneficiar do contributo de imigrantes (e estes beneficiarem do salário), mantendo a paz social e a cultura dominante, não ofendendo os habitantes originais. Afinal, uma das belezas do mundo é mesmo o pluriculturalismo, algo que o multiculturalimo ameaça.
in O Insurgente
Parecer: Nos países islâmicos que têm um grande número de imigrantes não se dá nacionalidade à toa, tendo em conta as diferenças sobretudo culturais, já na Europa a conversa "deve" ser outra. É aquilo que sabemos. Vivemos num mundo desigual, com dois pesos e duas medidas, sob pena de podermos ser apelidados de "xenófobos".