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A-24

Pela nossa saúde!

por A-24, em 14.07.12
«A greve dos médicos aproxima-se. Há 25 anos que não há uma greve convocada por sindicatos, com o apoio da Ordem dos Médicos. O caso é sério. Não é a greve de pilotos ou controladores aéreos, que tem por trás salários e benefícios que não pretendem perder. Não gosto de greves. Afectam sempre quem mais precisa, afectam quem não devia. A dos médicos é particularmente sensível. É de saúde que falamos. Os médicos são uma classe privilegiada, por isso, se percebe pouco greves de quem ganha (agora menos) bem. Quero acreditar que esta greve, para muitos médicos, não tem o padrão de uma luta salarial, mas antes um grito de alerta pelo Serviço Nacional de Saúde. É a esse grito que me junto. Temo, no entanto, que no final o que sobre das negociações, se as houver, seja a manutenção de regalias e excepções salariais. Terá sido mais uma greve em vão. 
O caso é grave. Tantos médicos a pedir reforma. Alguns a saírem para o privado. E não há perspectivas de melhoria futura para o serviço nacional de saúde. Os bons têm de ficar no serviço público. Mas ficam?
Os números são do próprio ministro: em 2010 e 2011 o Ministério da Saúde adquiriu mais de dois milhões de horas via prestação de serviços por ajuste directo. O mesmo é dizer que através desses contratos estiveram ao serviço médicos contratados à hora, que saltam de serviço em serviço, de hospital em hospital, e quem sabe sem respeitar tempos de descanso, sem respeitar critérios de qualificação. Em 2012 ficará, segundo se noticia, nas 1,9 milhões de horas e Paulo Macedo, ministro da Saúde, fala em baixar em 2013 para 1,5 milhões de horas. Ficamos contentes com este número? Que perspectivas dão estes contratos aos serviços e aos médicos que se acabam de formar, que querem continuar a aprender, que querem servir na saúde? Nenhumas. E contratam-se enfermeiros a quatro euros por hora! Isto não pode acontecer. Os hospitais públicos, muitos, têm péssimas condições. São focos bacteriológicos. Precisam de fechar, mudar para novas instalações. Mesmo assim, há profissionais que continuam a lutar pela vida dos doentes. Acredito nisso. E quero acreditar que a greve não é pelos subsídios cortados, não é pelos salários reduzidos, não é por interesses corporativistas. Mas pela defesa de um futuro de qualidade no serviço nacional. Pela nossa saúde.»
[Jornal de Negócios] 09-07-2012
Autor:
Alexandra Machado.