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A-24

O sedutor que demorou nove anos a concretizar o que todos esperavam

por A-24, em 20.10.10
Piloto sempre foi uma grande esperança. Mas durante muito tempo foi mais falado por causa dos automóveis e das namoradas

Activo, honesto, divertido, talentoso. São muitos os adjectivos para descrever Jenson Button, mas há uma imagem que não descola do piloto que acaba de se sagrar campeão mundial de Fórmula 1. É considerado umplayboy, amante de festas e de automóveis caros. E o próprio Button, recorrendo ao humor que lhe reconhecem, não esconde essa faceta. "Sabem por que é que [nós, os pilotos de F1] temos de estar em forma?", perguntou a um jornalista doGuardian em Junho. "Para apanhar as miúdas!", respondeu, sorridente.
O carácter folgazão de Button rendeu-lhe muitas simpatias, outras tantas conquistas amorosas, muito mediatismo, mas também lhe causou alguns dissabores. O britânico chegou à F1 em 2000, com apenas 20 anos. E até se tornou o mais jovem a conquistar pontos na competição (aos 20 anos e 67 dias), recorde entretanto batido pelo alemão Sebastian Vettel (19 anos e 349 dias).
Esta grande esperança do automobilismo tardou, porém, a afirmar-se. O próprio reconhece que estava "totalmente impreparado" quando chegou à F1. Depois de um ano na Williams, de onde saiu porque Juan Pablo Montoya já tinha contrato assinado com a escuderia, Button mudou-se para a Benetton, que ao fim de um ano se transformou em Renault. Flavio Briatore, o patrão da escuderia, não lhe poupou críticas. Em 2001, e depois de o inglês ter sido 17.º na qualificação para o GP do Mónaco, Briatore dirigiu-se a Button e perguntou-lhe se estava à procura de casa em Monte Carlo. "Por acaso, até estou", respondeu Button. "Então, faz-me um favor", disse Briatore: "Não olhes para o lado quando estás na pista". A piada de Briatore tornou-se célebre e durante muito tempo perseguiu o britânico, cada vez mais falado pelas festas, namoradas e pelos automóveis caros do que pelos resultados na pista.
Button é o primeiro a autocriticar-se por esse período. "Em 2000, comprei um barco e um Ferrari. Fiquei excitado por ser piloto de F1", explicou numa entrevista ao Guardian. "Sabem como é: tinha 20 anos. Precisava de parecer e de me sentir um piloto de F1", admitiu na mesma conversa, reconhecendo que se desconcentrou.
Fã de superdesportivos
Jenson ainda mantém muitas dessas características dos 20 anos. Tem uma assinalável colecção de carros (Bugatti Veyron, BMW M5, Ferrari Enzo, Mercedes C63 AMG) e namora com uma modelo japonesa, Jessica Michibata. Mas ganhou maturidade. Logo em 2004, o britânico realizou um excelente campeonato, terminando em terceiro lugar.
Foi a primeira prova a sério de que o talento estava lá. "Em 2004, fez dez pódios e deu-nos o vice-campeonato de construtores. Andou sempre melhor do que os companheiros de equipa", recorda ao PÚBLICO Guido Piedade, que trabalhou com Button entre 2001 e 2004, quando foi assistente do chefe de equipa da BAR. Piedade lembra que, no ano anterior, Button tinha sido mais rápido do que Jacques Villeneuve, que tinha sido campeão mundial em 1997.
Tiago Monteiro é ainda mais cabal. "É um dos maiores talentos ingleses da sua geração. Talvez tenha chegado um pouco cedo à F1 e as equipas por onde passou também não estavam no seu auge. Na F1, a equipa vale qualquer coisa como 70 por cento", sublinha o piloto português, nada surpreendido com o título de Button. "Dava a impressão que estava a passar ao lado de uma grande carreira, mas ele só precisava de um carro competitivo para mostrar que é um grande piloto", acrescenta Monteiro.
Jenson Button nasceu em Frome, Somerset, no Oeste de Inglaterra. Filho de um antigo piloto de ralicrosse (John Button) e de uma doméstica, o pequeno Jenson cedo se iniciou no automobilismo. Tudo começou com uma prenda - um kart - que recebeu aos oito anos. O irrequieto miúdo considerava tudo monótono e só quando experimentou as corridas de karts é que ficou satisfeito. Os carros e as corridas tornaram-se a prioridade, apesar de, curiosamente, ter reprovado no exame de condução. 
Depois de ganhar vários títulos nos karts e de ter curtas experiências na Fórmula Ford e F3, Button rapidamente ascendeu à F1. Bastou-lhe um teste na Prost, em que foi mais rápido do que Jean Alesi, para despertar o interesse. Frank Williams abriu-lhe as portas da F1 e o britânico tornou-se o novo menino bonito da competição. Tiago Monteiro recorda-se que a entrada de Button na F1 teve um efeito similar à de Hamilton. "Era o mesmo tipo de piloto, jovem e talentoso", explica o português.
Estilo à Prost
Pelo estilo suave de condução, o inglês tem sido comparado a Alain Prost. "Ele é, sem dúvida, um condutor suave. Sabe gerir bem o material. Poupa pneus, motor, combustível", revela Guido Piedade, sem esquecer também a boa disposição do piloto da Brawn. "Ele foi das pessoas com quem mais me ri no paddock", acrescenta. Ao bom 2004, seguiram-se na carreira de Button quatro épocas de travessia no deserto. E 2009 ainda parecia pior. A Honda desistiu da F1 e Button chegou a pensar que a sua carreira chegara ao fim. Ross Brawn, no entanto, salvou a equipa, Button reduziu o salário para metade e foi premiado com um dos melhores carros da grelha.
O piloto renasceu e isso foi evidente, até na forma como se relacionou com a equipa. "As corridas e o carro ocupam grande parte do seu dia, o que, penso, não acontecia no ano passado. Passa os dias ao telefone com o engenheiro. Esse costumava ser o caso do Michael [Schumacher]", contou Ross Brawn à Reuters.
Button é, por isso, o piloto do momento. Ele, que passou à "clandestinidade" em Inglaterra quando Hamilton foi campeão em 2008, volta agora à ribalta. E se no ano passado admitiu ter inveja de Hamilton - "se tivesse um irmão e ele ganhasse, odiaria, porque eu quero ganhar" -, agora é tempo de os outros invejarem um campeão chamado Jenson Button.