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A-24

o que a direita e o cds devem a paulo portas

por A-24, em 14.01.14
Rui A. in Blasfémias


Agora que terminou o congresso do CDS e se começa a falar, entre membros do partido e na comunicação social, na sucessão de Paulo Portas e na existência de duas oposições, uma declarada e outra silenciosa, à sua liderança, é conveniente tratar do tema com alguma cautela, para se não cair no ridículo. Dito de outro modo, o CDS e a direita devem esforçar-se por perceber o que são e quem é Paulo Portas e o que lhe devem, independentemente de gostarem muito, pouco ou nada dele.

E Paulo Portas foi o único verdadeiro líder que a direita teve nos quarenta anos que já leva o regime democrático, e quem verdadeiramente fundou o único partido que declaradamente lhe pertence. Entendamo-nos: os fundadores do primeiro CDS não foram Freitas do Amaral nem Adelino Amaro da Costa, mas, como pode ler-se no primeiro volume das memórias de Freitas do Amaral, a ala esquerdista do MFA, que precisava de um partido de “direita ordeira” e, sobretudo, indiferente ao destino do Ultramar, para credibilizar internacionalmente o novo regime e concretizar os objetivos de descolonização imediata das antigas colónias. A caminho da reunião agendada com os militares, conta Freitas do Amaral, ele e Adelino Amaro da Costa não sabiam ao que iam. Chegaram mesmo a pensar que seriam presos. Pedir-lhes que fundassem um partido é que não lhes passava pela cabeça. Quando Amaro da Costa, que ainda imprimiu ao partido algum dinamismo e coerência, faleceu, o CDS desapareceu pelo ralo do regime, e todos, ou quase todos, os seus “fundadores” abandonaram a política ou foram a correr para o PS, com o qual claramente se identificavam. A experiência da liderança de Lucas Pires foi um fogo-fátuo inconsequente. Apesar das suas notáveis qualidades intelectuais e tribunícias, Lucas Pires não era um líder partidário e iniciara já, por essa altura, um caminho de afastamento muito crítico em relação à direita.

Foi, assim, Paulo Portas quem refundou a direita do regime, ou, se preferirem, quem verdadeiramente a criou. Primeiro, lançando um jornal político de excelência – O Independente – que trouxe ao país um conjunto de novas ideias de fácil manejamento e divulgação (as dúvidas sobre o europeísmo, a defesa de princípios conservadores, a apologia da economia de mercado, etc.), um sem número de opinion makers de grande nível e um grupo de colaboradores com os quais ele futuramente municiaria as estruturas dirigentes do CDS. Depois, tomando conta de um partido deixado moribundo por Freitas do Amaral, fazendo-o, numa fase inicial de transição, pela interposta pessoa de Manuel Monteiro, que nunca percebeu o seu papel verdadeiro em todo este filme

Passando por inúmeros episódios em que a sua morte política foi certificada, por sondagens que lhe chegaram a dar, a poucos meses de eleições, menos do que 2% das intenções de voto, Paulo Portas levou o CDS duas vezes para o governo, onde ainda permanece e do qual dificilmente sairá nos próximos anos. Conquistou posições em todo o aparelho do regime, nas autarquias e em todos os centros de poder nacional. Em termos eleitorais, o que tem valido ao partido é a sua cara. Na verdade, o CDS não tem outro discurso que não seja o seu, nem ninguém que o protagonize. A ilusão que o Dr.Ribeiro e Castro acalentou, durante alguns meses, de fazer voltar o CDS às suas origens genuínas da democracia-cristã e do freitismo era uma impossibilidade material: essas origens nunca existiram.

Por conseguinte, goste-se ou não do que é o CDS, a verdade é que, em quarenta anos de regime democrático, a direita portuguesa foi incapaz de fazer melhor. E o que existe tem um autor: Paulo Portas. Enquanto ele desejar, será ele o dono do partido e da direita portuguesa. E ele não sabe fazer outra coisa senão isso.