O problema das minorias cristãs no Islão
por A-24, em 02.01.11
Rui Herbon
Espanta-me a surpresa geral. Assassinam dezenas de cristãos na Nigéria e perguntamo-nos o que se passou. Por que os matam? Não tínhamos concluído que o choque de civilizaçõesnão existia e que Huntington era uma espécie de incendiário que não aceitava as bondades da irmandade planetária? Não estava claro que as religiões tanto se amavam entre deuses como desejavam entender-se entre mortais? Então, que sucede na Nigéria? Será coisa de africanos, dizem alguns espertos. Mas então, o que ocorre no resto dos países? Por que fogem de suas casas os cristãos iranianos? Por que diminuiu tanto a população cristã de Belém? Por que vivem aterrorizados os egípcios coptas? Por que são acossados os cristãos paquistaneses? E assim até ao infinito de uma colecção de perguntas que resultam tão vistosas quanto fúteis. Porque sabemos a resposta. Sabemo-la, mas atrevemo-nos a dizê-la? Não é em vão que estamos submetidos ao terror cósmico do politicamente correcto e das meias-tintas, que nos atenaza as palavras e nos converte em avestruzes assustadiças. A resposta é simples e demolidora: o Islão político, tanto na sua expressão legal, como nas suas variadas facções radicais, é abertamente hostil ao resto das religiões que palpitam no seu interior.
Não se trata já da divisão clássica entre o Dar al-Islam (a casa do Islão) e o Dar al-Harb (a casa da guerra), mas de uma reislamização radicalizada que, assente numa tecnologia moderna e numa riqueza astronómica, crê que chegou o momento de impor o seu domínio. A ideia do diálogo entre religiões é praticada hoje pelo cristianismo com convicção – felizmente afastado das suas veleidades imperialistas violentas de antanho –, mas que o Islão desdenha. Coabitam e inter-relacionam-se com os infiéis, mas desprezam profundamente o cristianismo. Tanto que cultivam esse desprezo em todos os âmbitos possíveis: desde a escola até aos meios de comunicação, desde a literatura até à ideologia. E onde dominam, seja por via das leis ou da violência, tratam os cristãos como autênticos servos sem direitos. Como pode surpreender-nos que quatro loucos assassinem cristãos na Nigéria, se o farol do Islão, a Arábia Saudita, condena à morte um cidadão por exibir uma cruz? Se os seus direitos estão brutalmente dizimados na maioria dos países muçulmanos? A deriva violenta é só o último resultado de uma política oficial que, à luz da legalidade, segrega, despreza e impede ser-se cristão nesses países. E nós calamo-nos e olhamos para outro lado, como se tivéssemos abandonado à sua sorte os cristãos que vivem no mundo islâmico. E, o que é pior, aparentemente pelo simples facto de serem cristãos.