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A-24

O melhor de José Saramago pelos leitores do Público

por A-24, em 19.06.10
Manuela Matos Monteiro

"Na morte a cegueira é igual para todos."

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa somos nós"
in "Ensaio sobra a cegueira"


Amadeu Gonçalves, Vila Nova de Famalicão

"(...) a pintura não é mais do que literatura feita com pincéis (...)"
in "História do Cerco de Lisboa"

"Tendo nascido, nasci no princípio da minha morte, portanto quase morto."
in "Manual de Pintura e Caligrafia"

"Deus é tanto mais Deus quanto mais inacessível for (...)"
in "O Evangelho Segundo Jesus Cristo"

"Há ocasiões, e se é verdade que na ocasião se faz o ladrão, também se pode fazer a revolução (...)"

in "O Ano da Morte de Ricardo Reis"


Rui Pedro Vasconcelos, V.N.Gaia

"Ele adormeceu, ela não. Então ela, a morte, levantou-se, abriu a bolsa que tinha deixado na sala e retirou a carta de cor violeta. olhou em redor como se estivesse à procura de um lugar onde a pudesse deixar, sobre o piano, metida entre as cordas do violoncelo, ou então no próprio quarto, debaixo da almofada em que a cabeça do homem descansava. Não o fez..."
in "As Intermitências da Morte"


Paulo Gonçalves

"(...) o que é que em nós sonha o que sonhamos, porventura os sonhos são a lembrança que a alma tem do corpo"
in "O Evangelho Segundo Jesus Cristo"


Ana Soares Barbosa

“Deus é o silêncio do universo, e o homem o grito que dá sentido a esse silêncio”
in "Cadernos de Lanzarote"


Miguel Torres Preto

“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem”
in “Ensaio sobre a Cegueira”


Joana Pimentel Alves, Coimbra

"Não falou Blimunda, não lhe falou Baltasar, apenas se olharam, olharem-se era a casa de ambos."
in "Memorial do Convento"


Maria Teresa Magalhães

" O chefe do Governo pôs a mão direita em cima do telefone. Não chegou a esperar um minuto, Senhor primeiro-ministro, começou o ministro do interior, Já sei, não diga mais, cometemos um erro, Disse cometemos, Sim, cometemos, porque se um se equivocou e o outro não corrigiu, o erro é de ambos....."
in "Ensaio Sobre a Lucidez"


Ana Luísa Carvalho, Aldeia do Meco

"Jesus morre, morre, e já o vai deixando a vida, quando de súbito o céu por cima da sua cabeça se abre de par em par e Deus aparece, vestido como estivera na barca, e a sua voz ressoa por toda a terra, dizendo, Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus toda a minha complacência. Então Jesus compreendeu que viera trazido ao engano como se leva o cordeiro ao sacrifício, que a sua vida fora traçada para morrer assim desde o princípio dos princípios, e, subindo-lhe à lembrança o rio de sangue e de sofrimento que do seu lado irá nascer e alagar toda a terra, clamou para o céu aberto onde Deus sorria, Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez. Depois, foi morrendo no meio de um sonho, estava em Nazaré e ouvia o pai dizer-lhe, encolhendo os ombros e sorrindo também, Nem eu posso fazer-te todas as perguntas, nem tu podes dar-me todas as respostas."
in "O Evangelho Segundo Jesus Cristo"


Ivo Raposo
"...a convulsa realidade do universo em que somos um fiozinho de merda a ponto de se dissolver..."
in "As Intermitências da Morte"


Catarina Reis

"Além da conversa das mulheres, são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita. Mas são também os sonhos que lhe fazem uma coroa de luas, por isso o céu é o resplendor que há dentro da cabeça dos homens, se não é a cabeça dos homens o próprio e único céu."
in "Memorial do Convento"


Miguel Cardoso - Viseu

"Acham eles que passando nós fome nas nossas terras nos devíamos sujeitar a tudo, mas aí é que se enganam, que a nossa fome é uma fome limpa, e os cardos que temos de ripar, ripam-nos as nossas mãos, que mesmo quando estão sujas, limpas são, não há mãos mais limpas do que as nossas, é a primeira coisa que aprendemos quando entramos no quartel, não faz parte da instrução de arma, mas adivinha-se, e um homem pode escolher entre a fome inteira e a vergonha de comer o que nos dão, quando também é certo que a mim me vieram chamar a Monte Lavre para servir a pátria, dizem eles, mas servir a pátria não sei o que seja, se a pátria é minha mãe e é meu pai, dizem também, de meus verdadeiros pais sei eu, e todos sabem dos seus, que tiraram à boca para não faltar à nossa, e então a pátria deverá tirar à sua própria boca para não faltar à minha, e se eu tiver de comer cardos, coma-os a pátria comigo, ou então uns são filhos da pátria e os outros são filhos da puta."
in "Levantado do Chão"


Catarina Campinas Furtado, Roterdão

“Todos os dias têm a sua história, um só minuto levaria anos a contar, o mínimo gesto, o descasque miudinho duma palavra, duma sílaba, dum som, para já não falar dos pensamentos, que é coisa de muito estofo, pensar no que se pensa, ou pensou, ou está pensando, e que pensamento é esse que pensa o outro pensamento, não acabaríamos nunca mais.”
in “Levantado do Chão”


Rui Valente, Coimbra

"Voar é uma simples coisa comparando com Blimunda"
in "Memorial do Convento"


Alexandra Godinho, Lisboa

"Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não vêem"
in "Ensaio Sobre a Cegueira"


Ângela Pisco

" Releu o que escrevera... como se estivesse a tomar conhecimento de um recado deixado por alguém de quem não gostasse, ou o irritasse mais do que é normal e desculpável... Agora que está começado vai ser preciso acabá-lo, é como uma fatalidade. E as pessoas nem sonham que quem acaba uma coisa nunca é a aquela que a começou, mesmo que ambas tenham nome igual, que isso só é que se mantém constante, nada mais."

"Há ocasiões assim. Acreditamos na importância do que dissemos ou escrevemos até um certo ponto, apenas porque não foi possível calor os sons ou apagar os traços, mas entra-nos no corpo a tentação da mudez, a fascinação da imobilidade, estar como estão os deuses, calados e quietos, assistindo apenas."
in "O Ano da Morte de Ricardo Reis"


Albano Mendes de Matos

"A queima vai adiantada, os rostos mal se distinguem. Naquela extremo arde um homema a quem falta a mão esquerda.Talvez por ter a barba enegrecida, prodígio cosmético da fuligem, parece mais novo. E uma nuvem fechada está no centro do seu corpo. Então Blimunda disse, Vem.
Desprendeu-se a vontade de Baltazar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia e a Blimunda."
in "Memorial do Convento"


Alexandre Sousa

"Não é verdade. A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: «Não há mais que ver», sabia que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com Sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já."

in "Viagens a Portugal"


Paulo Gonçalves, Porto

"Em verdade, em verdade vos digo, há certas maneiras de ser feliz que são simplesmente odiosas."
in "Cadernos 2"


Fernanda Damas Cabral

"Epitáfio para Luís de Camões

Que sabemos de ti, se só deixaste versos,
Que lembrança ficou no mundo que tiveste?
Do nascer ao morrer ganhaste os dias todos?
Ou perderam-te a vida os versos que fizeste?"
in “Os Poemas Possíveis”, ed. 1999, p.33


Jorge Moita

"Quem dele [João Domingos Serra] me falou pela primeira vez foi Maria João Mogarro: “E está aí o João Serra, de quem se diz que escreveu a sua vida, nunca vi, mas deve ser certo.” Imagina-se o meu alvoroço, um camponês escritor, um António Aleixo da prosa… “Uns apontamentos, não?”», perguntei eu a fingir um cepticismo que não sentia. “Que não”, respondeu ela, “«pelo menos é o que me têm dito.” No dia seguinte fomos bater à porta do João Serra, que não estava, estavam, sim, as filhas, “O nosso pai está no hospital”, disseram. Expliquei ao que ia, que estava a escrever um livro sobre o Lavre e que seria para mim uma grande ajuda poder passar uma vista de olhos pelo que ele tinha feito. Pusemo-nos de acordo em esperar que o pai saísse do hospital, aonde o tinham levado certos achaques agravados da velhice, e, finalmente, uns quantos dias depois, recebia das mãos do próprio João Domingos Serra o fruto do seu labor. Com o caderno debaixo do braço corri para o meu refúgio e pus-me a ler, com a ideia de ir copiando à mão as passagens mais interessantes, mas rapidamente compreendi que nem uma só daquelas palavras poderia perder-se. Não terminei a leitura. Meti uma folha de papel na máquina e comecei a trasladar, com todos os seus pontos e vírgulas, incluindo algum erro de ortografia, o escrito de João Serra. Tinha enfim livro. Ainda tive de esperar três anos para que a história amadurecesse na minha cabeça, mas o Levantado do Chão começou a ser escrito nesse dia, quando contraí uma dívida que nunca poderei pagar."
Prefácio a "Uma Família do Alentejo"


João Pedro Gato

"Posto diante de todos estes homens reunidos, de todas estas mulheres, de todas estas crianças (sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra, assim lhes fora mandado), cujo suor não nascia do trabalho que não tinham, mas da agonia insuportável de não o ter, Deus arrependeu-se dos males que havia feito e permitido, a um ponto tal que, num arrebato de contrição, quis mudar o seu nome para um outro mais humano. Falando à multidão, anunciou: “A partir de hoje chamar-me-eis Justiça.” E a multidão respondeu-lhe: “Justiça, já nós a temos, e não nos atende. Disse Deus: “Sendo assim, tomarei o nome de Direito.” E a multidão tornou a responder-lhe: “Direito, já nós o temos, e não nos conhece." E Deus: "Nesse caso, ficarei com o nome de Caridade, que é um nome bonito.” Disse a multidão: “Não necessitamos caridade, o que queremos é uma Justiça que se cumpra e um Direito que nos respeite."
Prefácio a "Terra", de Sebastião Salgado


Daniela Brasil

"...olhava como se olha o vazio, no vazio não há perto nem longe onde parar os olhos, em verdade, não é possível fixar uma ausência."
in "O Evangelho Segundo Jesus Cristo"


Daniel Carolo

“Já sabemos que destes dois se amam as almas, os corpos e as vontades, porém, estando deitados, assistem as vontades e as almas ao gosto dos corpos, ou talvez ainda se agarrem mais a eles para tomarem parte no gosto, difícil é saber que parte há em cada parte, se está perdendo ou ganhando a alma quando Blimunda levanta as saias e Baltasar deslaça as bragas, se está a vontade ganhando ou perdendo quando ambos suspiram e gemem, se ficou o corpo vencedor ou vencido quando Baltasar descansa em Blimunda e ela o descansa a ele, ambos se descansando.”
in “Memorial do Convento”


Alice Loureiro, Braga

"A vida é assim, está cheia de palavras que não valem a pena, cada uma que ainda formos dizendo tirará o lugar a outra mais merecedora, que o seria não tanto por si mesma, mas pelas consequências de tê-la dito"
in "A Caverna"


Lauro Lopes

"(...) A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio de uma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz."
in "O Ano da Morte de Ricardo Reis"


Ana Alexandre

"Bastar-te-ás a ti próprio enquanto puderes aguentar, depois confia-te a quem mereces, melhor se esse for alguém que te mereça."
in "A Jangada de Pedra"

Paulo Sousa, Alcabideche

“Vou a tempo, disse, e era certo, ia a tempo, no fim de contas é como sempre vamos, a tempo, com o tempo, no tempo, e nuca fora do tempo, por muito que disso nos acusem.”
in "A Caverna"


Nuno Santos Carneiro, Porto

"Servem as palavras para isto: tão certas são para errar, como erradas para acertar"
in "Que farei com este livro?"