O exercício engorda?
por A-24, em 19.11.13
Há não muito tempo lia-se na capa de uma revista que “Afinal, o exercício não emagrece”. E o argumento prendia-se exactamente com a ideia de que o exercício abre o apetite e é por isso compensado com um aumento da ingestão limentar. Esta ideia está ainda bem enraizada na sociedade, mas terá algum fundo de verdade e sustentação científica?
As alterações no dispêndio energético parecem de facto conduzir a alterações no apetite e ingestão alimentar mas, no decorrer das primeiras semanas de exercício, essa compensação é parcial e insuficiente para contrabalançar as calorias gastas. E poderá mesmo não ocorrer. Aliás, logo após o exercício, por vezes até se verifica o efeito contrário, isto é, uma supressão temporária do apetite – conhecida como “anorexia de esforço” – mas que se dissipa rapidamente. Por estas razões, os investigadores consideram não existir uma relação muito directa entre a prática de exercício físico e a ingestão subsequente, pelo menos no curto prazo.
Isto não exclui a possibilidade de certas pessoas apresentarem uma resposta compensatória mais marcada. A resposta ao exercício apresenta, de facto, uma elevada variabilidade individual. A título de exemplo, sabe-se que as pessoas que ganham mais massa magra e as que têm um maior desejo inato de comer alimentos calóricos evidenciam uma maior sensação de fome e um maior grau de compensação.
Num horizonte temporal longo, a prática continuada de exercício regular suscita realmente adaptações na sensação de fome para responder às novas demandas energéticas e uma compensação torna-se evidente para a generalidade das pessoas. Mas esta questão não pode ser vista de uma forma simplista. É importante perceber-se que este fenómeno de compensação ocorre, mas não de forma desmesurada ou desregulada. Faz-se, sim, à custa do desenvolvimento de uma maior sensibilidade aos indicadores fisiológicos de depleção energética e de saciedade (i.e., que sinalizam quando o corpo já não precisa de alimento). Dito de outra forma, o exercício regular parece mover as pessoas para uma zona de melhor regulação fisiológica do apetite e saciedade, permitindo-lhes ajustar melhor o que comem em função do que gastam.
Para além desta adaptação fisiológica, o exercício regular parece também aprimorar a regulação cognitiva e deliberada da alimentação, por exemplo, através dos seus efeitos benéficos em vários marcadores do foro psicológico como a qualidade da motivação, a percepção de competência, a imagem corporal e a resistência ao stress. No fundo, disponibiliza mais recursos psicológicos que ajudam a fazer face ao meio ambiente “obesogénico” em que vivemos.
Uma nota de precaução: Se é verdade que o aumento do exercício leva a um ajuste na ingestão alimentar, o contrário não acontece. Ou seja, a redução dos níveis de actividade física não é necessariamente acompanhada por uma redução proporcional do apetite e ingestão calórica. Com efeito, abaixo de certo nível de actividade física, a relação entre o dispêndio e o consumo energético dissipa-se e a regulação do apetite deixa de responder tão sensivelmente aos sinais fisiológicos, passando a ser mais influenciada por factores ambientais que actualmente nos predispõem para uma alimentação excessiva e de baixa qualidade nutricional. Ser muito sedentário será por isso sempre a pior das opções.
Público