O ano hooribilis de Salazar
por A-24, em 01.08.11
Se 1961 é há muito reconhecido como o annus horribilis de Salazar, trazendo imediatamente à memória o desvio do paquete Santa Maria, o início da luta armada de libertação em Angola, a tentativa de golpe de Botelho Moniz e o fim do então chamado «Estado Português da Índia», um episódio há que, embora menos conhecido, não deixou de afectar também o regime: a fuga de Portugal de dezenas de jovens das ex-colónias que se encontravam a estudar em Lisboa, Coimbra e Porto.
Por via legal, uns – usando para obter o passaporte pretextos tão diversos como promessas a cumprir em santuários franceses, viagem de lua-de-mel, actividades desportivas e até pertença a grupos musicais – por via clandestina, outros, cerca de uma centena de jovens abandona tudo, quer para se juntar à luta contra o colonialismo português, quer para evitar ser chamado a combater nas fileiras do exército português.
Entre esses fugitivos, alguns cujos nomes vieram a tornar-se bem conhecidos. Pedro Pires, Joaquim Chissano, Fernando França Van-Dunen e Pascoal Mocumbi, por exemplo, integraram um numeroso grupo que saiu de Portugal e chegou a França em carros conduzidos por jovens protestantes norte-americanos, com o auxílio de uma organização francesa especializada no resgate de pessoas em risco, a CIMADE, e o apoio financeiro e diplomático do Conselho Mundial das Igrejas.
Cinquenta anos depois, por iniciativa da Fundação Amílcar Cabral e do presidente Pedro Pires, um encontro em Cidade da Praia permitiu o reencontro de diversos fugitivos de há 50 anos com os seus «condutores» norte-americanos.
É a essa fuga e a esse reencontro que se refere o texto da Associação Tchiweka de Documentação que podem ler AQUI.
(*) - Diário de Lisboa, 15 de Julho de 1961, Fundação Mário Soares
Contributo de Diana Andringa.