Nesta coisa do ensino separado vs misto são muito cansativos os dois extremos
por A-24, em 23.04.13
Sou sempre atingida por uma irritação latente quando oiço o discurso negacionista das diferenças entre os sexos – desde logo porque sou feminina, gosto de ser feminina e nem quero ser como o sexo oposto nem que o sexo oposto seja igual a mim e às minhas amigas. (E é porque os sexos são diferentes que é mais benéfico para uma criança e adolescente ter tanto a referência feminina como masculina e que eu serei sempre contra leis que permitam adopção por casais do mesmo sexo que não dêem prioridade a casais de sexo diferente, mas isso é outra conversa).
Mas, há que convir, o discurso simétrico também cai em extremos bastante ridículos. Ora são estudos que relacionam as decisões eleitorais do mulherio com o ciclo mestrual – não havendo nunca nenhum estudo que relacione as decisões eleitorais dos homens com o seu nível médio de testosterona ou com as variações do nível de testosterona ao longo do dia, porque, como se sabe, só o mulherio é afetado pelas hormonas. Ora seestuda se as mulheres têm comportamentos diferentes quando estão junto de homens, conformando-se a comportamentos tradicionalmente considerados mais femininos, e quando estão entre mulheres, revelando nestas circunstâncias comportamentos tradicionalmente considerados masculinos. Claro que nunca se faz estudos destes aos homens porque, é óbvio, os homens são iguais entre homens ou entre mulheres e jamais se viu um homem ou um grupo de homens tentando impressionar uma mulher ou um grupo de mulheres.
E hoje apareceu uma senhora que também estuda estas coisas e que defende, fora o disclaimer (muito sensato) de que os pais devem poder escolher, que rapazes e raparigas devem estudar separadamente. E se é certo que há questões pertinentes sobre a crescente feminização do ensino que tende a prejudicar os rapazes, nada do que esta senhora que estuda estas questões referiu fez sentido. Acho que ainda não se chegou ao ponto de negar as diferenças físicas entre os sexos, pelo que de uma rapariga que fica incomodada porque não consegue lançar uma bola tão longe como um rapaz – que provavelmente é, na mesma idade, mais forte e mais alto – pode-se concluir que é imbecil, não uma vítima do ensino misto. Eu, que nunca na vida joguei futebol num recreio das aulas, posso garantir que também não o teria feito se tivesse estudado numa escola de raparigas; só a perspetiva é aterradora e dou por tempo muito mais bem passado ter ficado à conversa com as minhas amigas enquanto víamos os rapazes a jogar futebol (ou outra coisa, é indiferente). Também não vejo bem que relação pode ter uma senhora ter-se tornado cientista e um rapaz cantar música clássica com terem ambos frequentado escolas só de um sexo. Cantar música clássica é um atributo feminino?! E ‘ser cientista’ masculino?! E porque carga de água numa escola só de raparigas ou só de rapazes e apenas aí se consegue formar melhor a identidade? Ver a diferença não nos ajuda a perceber o que somos? Os tontinhos dos dois extremos estão bem uns para os outros.
Maria João Marques n'O Insurgente