Nazismo e Comunismo
por A-24, em 18.09.12
Os dois movimentos ideológicos que mais marcaram o século XX, o comunismo e o fascismo na sua versão mais radical e violenta, o nazismo, foram duas faces da mesma moeda. Em que pese diferenças teóricas de propósitos dessas ideologias, seus métodos e finalidades se equiparam, se mesclaram e as tornaram siamesas quanto à violência inaudita que usaram contra os seus próprios cidadãos e ao mal que causaram à humanidade. Farinhas do mesmo saco, emanavam o seu poder absoluto de um Estado forte, acima do cidadão, e de um partido único que ditava as directivas de governo, cujo chefe se confundia com o chefe do partido.
O nazismo, que cresceu rapidamente nos anos 30 do século passado, é o nome do movimento liderado pelo Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), de Hitler. Como o próprio nome do partido deixa implícito, era um movimento SOCIALISTA e NACIONALISTA, o que permite classificá-lo como de esquerda e de direita ao mesmo tempo, numa aparente contradição. A parte socialista da sua composição era revolucionária, populista e militante e conduziu os seus membros a confrontos brutais de suas milícias fardadas com outras organizações socialistas e democráticas na Alemanha de entre guerras. Já a parte nacionalista era uma espécie de aberração nunca antes vista em partidos fascistas ou quaisquer outros, nem mesmo na Itália onde o movimento havia nascido com Mussolini em 1922. Os nazis apregoavam, contra todas as evidências científicas e antropológicas, que os alemães pertenciam a uma “raça superior”, predestinada a sobrepor-se a todas as outras e dominar o mundo. Faziam apologia de que necessitavam da lebensraum (espaço vital) que seria conseguido através da eliminação e escravização de povos sub-humanos, eslavos, polacos, ucranianos e ocupação das suas terras a leste. Pior do que tudo, segundo o livro Mein Kampf (Minha Luta) de Hitler, precisavam eliminar todos os judeus do planeta, a quem chamavam de lixo, percevejos e outros adjectivos impublicáveis, e a quem atribuíam todos os males da humanidade. Após assumir o poder em 1933, logo no ano seguinte realizaram um expurgo no seu próprio partido, “a noite dos longos punhais” onde assassinaram centenas de militantes das SA, órgão paramilitar que dava apoio a Hitler durante as suas campanhas políticas, e costumava espancar, torturar e até matar militantes de outros partidos. Em seguida puseram em execução os seus anunciados planos de exterminar todos que lhes fossem adversários políticos ou, meramente, seres que não tinham direito a vida como: judeus, ciganos, eslavos, negros, testemunhas de Jeová, homossexuais, comunistas, doentes mentais e deficientes físicos. Criaram um plano de eutanásia que alcançava os “pesos mortos” da sociedade alemã, e campos de concentração (Dachau, Buchenwald, Ravensbrück) onde matavam de fome, doenças e exaustão os seus oponentes e as “raças inferiores”. Em 1935 os nazis criaram as tais leis de Nuremberga, direccionadas aos cidadãos judeus e às suas famílias, de modo a torná-los párias na sociedade que viviam há centenas de anos. Com a guerra iniciada em 1939, os nazis deram vazão aos seus instintos através da matança de milhões de civis inocentes, especialmente judeus, da Alemanha e de países ocupados. O chamado Holocausto levou aos campos de extermínio (Auschwitz, Belzek, Birkenau, Bergen-Belsen, Chelmno, Majdanek, Sobibór, Treblinka) e câmaras de gases, seis milhões de judeus e perto de três milhões de outras etnias, inclusive alemães. No leste, aquando a invasão da Rússia, grupos de extermínio das tropas SS acompanhavam a Wehrmacht (exército alemão), e matavam com um tiro na nuca civis judeus e as suas famílias bem como comissários políticos soviéticos. Só na ravina de Babi Yar, na Ucrânia, dezenas de milhares de judeus foram fuzilados cobardemente, aliás, cobardia era a marca registrada das acções praticadas pelas SS.
O comunismo, interpretação soviética radical do socialismo definido e defendido por Marx no seu livro “O Capital”, era uma auto-definição criada pela vanguarda de esquerda que se dizia “a única forma verdadeira de socialismo”. Em contraposição ao nazismo, que era considerado de “extrema-direita”, o comunismo dizia-se de “extrema-esquerda”. Na verdade, assim como o fascismo, o movimento comunista tinha a sua própria mistura de elementos esquerdistas e direitistas. Enquanto fosse revolucionário tendo derrubado a elite que depôs a monarquia czarista dos Romanov, era ao mesmo tempo elitista, na medida em que um pequeno grupo de “camaradas” se aboletou na cúpula dirigente e detinha todo o poder que, em teoria, deveria emanar do povo. Com a morte de Lenine em 1924, fundador do comunismo soviético, subiu ao poder o sanguinário Estaline, que além da ênfase na criação de uma nação forte e moderna, e, para isso, criou planos quinquenais de desenvolvimento; passou à perseguição implacável daqueles que considerava adversários políticos, dissidentes do partido, etnias diferentes da sua – era georgiano – e antigos pequenos proprietários rurais, os quais agora deviam tornar-se escravos em fazendas colectivas improdutivas que, na década de 30, geraram crises catastróficas de fome que mataram milhões de pessoas. Contabiliza-se que 17 milhões de pessoas tenham sido eliminadas através de fuzilamento sumário, deportação para campos de trabalho na Sibéria, chamados Gulags, onde morriam de fome e frio, ou vítimas de torturas nas prisões de Moscovo. Durante a guerra, Estaline estabeleceu ordens draconianas para que todo desertor e prisioneiro fosse sumariamente fuzilado; mais de dois milhões de soldados russos e inimigos tiveram esse fim. Depois da guerra internou em campos da morte todos os soldados que haviam sido prisioneiros dos alemães; todos morreram.
Seja pela escala colossal de assassinatos; pela metodização tipo “linhas de montagens” empregados; pela degradação moral e física impingidas às vítimas; pela hediondez dos meios usados, ou motivos indefensáveis e fúteis alegados, não há parâmetros na História mundial para comparar os genocídios que essas duas ideologias perpetraram. Mesmo levando-se em conta os massacres dos arménios pelos turcos; dos índios americanos pelos colonizadores europeus; dos adversários de Idi Amin no Uganda; dos tutsis pelos hutus em Ruanda e dos tchechenos mais recentemente, os dois aparentes divergentes ideológicos, Hitler e Estaline, foram campeões incontestados de maldade e extermínio, foram sinistros agentes do MAL ABSOLUTO. Em nome de ideologias espúrias que foram conflituosas a ponto de guerrearem entre si, convergiram e se mesclaram dentro da fome de poder e praticaram os maiores crimes que a humanidade já assistiu.
Jair Lopes