Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A-24

Não somos racistas. A sério?

por A-24, em 15.04.12
O Insurgente

O meu caro amigo e colega Bruno Garschagen escreveu um texto no “Expresso” onde revelou a situação política brasileira em relação ao problema do racismo. Tal como na Europa e nos EUA, o politicamente correcto (também conhecido como Marxismo Cultural) está presente entre o discurso político e cultural brasileiro, traduzindo-se em quotas para negros em detrimento de brancos, assim como numa caça psicológica e pecuniária ao “racista” (que essencialmente significa “branco”).
Paradoxalmente, para minha surpresa, nesse mesmo texto onde são denunciados os efeitos sociais destrutivos que o politicamente correcto produz, encontra-se um livro que faz um ataque às quotas raciais recorrendo ao próprio … politicamente correcto.

A Raça não é uma construção social

O livro chama-se “Não somos Racistas”, escrito pelo jornalista brasileiro Ali Kamel. A ideia base do livro é que o Brasil não é um país racista (ou “estruturalmente racista” como ele o coloca) e que serão as quotas a criar antagonismo entre as raças. Tal já seria uma ideia questionável em si mesmo, mas Kamel vai mais longe, alega mesmo que a ciência revela que as raças não existem. Ou como a sinopse do livro descreve:

O autor revela “o medo de que uma política de cotas, posta em prática, construa uma separação entre cores que nunca existiu, de fato, no Brasil, promovendo o ódio racial; os estudos científicos que provam que raças não existem e, portanto, não pode haver tratamento desigual para seres humanos iguais.”
Os estudos científicos mostram que as raças não existem? Aqui Kamel usa a principal arma do pensamento da Escola Marxista de Frankfurt: o uso da tábua rasa biológica aplicado aos diversos grupos humanos; ou, por outras palavras, que a evolução não gerou qualquer diferença comportamental inata os mesmos (sejam elas de género, raciais, de orientação sexual, etc…). Assim, Kamel joga a carta intelectual preferida da “new left”: a raça, tal como o género, é uma construção social.
Claro que o senso comum sabe que as raças existem (ninguém confundirá um Bantu com um Escandinavo), mas a ciência também o sabe, como atesta o facto de ser possível identificar a raça de qualquer pessoa através de uma amostra de ADN ou simplesmente através da análise de crânios. Ademais, qualquer médico tem conhecimento de que inúmeras doenças variam de acordo com a biologia racial e que os tratamentos em medicina não funcionam na base de medicamentos que servem todas as raças por igual. É igualmente conhecido que as pessoas cientificamente denominadas de híbridas (“mixed race”: mulatos, mestiços, etc…) têm extremas dificuldades em encontrar medulas compatíveis, visto tornarem-se incompatíveis com as raças dos antepassados devido à sua condição híbrida. Da mesma forma, os documentados níveis hormonais médios que influenciam o comportamento (e.g. testosterona) também variam largamente mediante os grupos raciais, assim como o período de maturação e crescimento, entre inúmeros outros pontos biológicos e comportamentais. A selecção natural evolutiva gerou toda esta variação genética.
Estes factos não são normalmente divulgados ao público em geral, mas, devido ao zeitgeist igualitário, foi a posição contrária que se divulgou: Provavelmente tentando compatibilizar a sua posição como biólogo evolucionista com as suas simpatias pelo Marxismo, o Prof. Richard Lewontin em Harvard lançou um estudo que se tornou famoso entre a imprensa main-stream: este postulava a ideia de que analisando o DNA humano constata-se que existem mais variações genéticas (85%) dentro das raças do que entre raças (15%). Isto supostamente mostrava que as raças não existem como conceito biológico. Inúmeros biólogos já refutaram esta ideia e esta passou inclusivamente a ser conhecida como “a falácia de Lewontin”, mas apesar disso ela não deixou até hoje de ser propagandeada para justificar a teoria de a “raça é uma construção social”. A explicação para a falácia é simples: não interessa tanto a quantidade de variação mas sim o tipo de variação genética; Também entre as várias raças de cães há apenas cerca de 27% de diferença e encontram-se raças tão diferentes em comportamento, temperamento e estrutura física como um pinscher e um pastor alemão (ou como os 2 cães nesta foto). Em suma, 15% faz toda a diferença do ponto de vista evolutivo, e, como tal, a raça (ou sub-espécie) continua a ser uma categoria científica muito relevante, não só para estudos sociais, mas para o desenvolvimento da medicina.

Racismo é inato

Porém, tão bizarro como a negação da existência científica de raça é a alegação de que o Brasil não é estruturalmente racista. Tal é impossível porque o Brasil é uma sociedade multi-racial, e como o racismo é parte integrante das pré-disposições humanas, o Brasil terá necessariamente de ser racista (estrutural ou não).
O racismo não foi uma ideia inventada por alguém que a popularizou e que pode ser eliminada através do politicamente correcto e leis coercivas, o racismo faz parte do legado genético da evolução humana; humanos esses que passaram grande parte da sua existência em tribos de caçadores-colectores onde os principais predadores eram outras tribos de humanos de raças ou etnias diferentes. Sem surpresa, as tribos mais coesas e mais etnocêntricas sobreviveram aos combates, passando esses mesmos genes (etnocêntricos) até aos dias de hoje.
Mas se a evolução é um processo de competição, como é que o altruísmo étnico foi seleccionado e chegou aos nossos dias? O mítico biólogo William Hamilton explicou a evolução do altruísmo em relação a parentes próximos através da teoria denominada “Inclusive Fitness” (mais tarde renomeada para “Kin Selection”). Esta releva que estamos pré-dispostos a ser altruístas para com aqueles que partilham uma percentagem maior de genes connosco de forma a que eles também possam passar os seus genes às próximas gerações, passando assim também os genes idênticos aos nossos. Sabendo-se que a etnia é uma forma de família alargada, tal como a raça (2 elementos da mesma raça partilham mais genes entre si do que com raças diferentes), o altruísmo evoluiu por via de selecção natural para ajudarmos os que nos estão próximos. O lado negro deste altruísmo é que quanto mais afastados geneticamente os humanos estão de outros, menos altruísmo (nepotismo) e mais discriminação irá surgir. A própria investigadora Laurie Santos da Universidade de Yale ao estudar o comportamento de macacos revela que este comportamento discriminatório contra os elementos de tribos alheias está também presente nesta espécie animal, o que indica que esta é uma característica que vem de longe no processo evolutivo humano.
Tal como o fundador da Sociobiologia E.O. Wilson deixou escrito: os humanos são inatamente tribais e tendem para o etnocentrismo, confiam mais nos outros que são semelhantes a eles em raça, nação, clã e religião. Refere também que, em experiências com “scans” cerebrais, a amígdala (zona central no cérebro para o medo e raiva) é activada imediatamente assim que fotografias de pessoas de raças diferentes são mostradas. Contudo, Wilson considera ainda que a “Inclusive Fitness” é parte fundamental mas não totalitária em todo o processo de evolução, porque os humanos têm a tendência para formar grupos dentro de grupos, o que faz com que a evolução se dê a vários níveis (“multilevel selection”).
Isto, claro, no campo da biologia, mas no campo da ciência política autores reputados como Robert Putnam e Tatu Vanhanen chegaram a conclusões semelhantes.
Robert Putnam, conhecido por ter tornado o termo “Capital Social” famoso (i.e. a capacidade de associação voluntária e comunitária), fez um dos maiores estudos sobre a confiança social e actividade comunitária nos EUA e chegou à conclusão que, para sua tristeza como homem de esquerda, quanto mais diversidade étnica numa localidade menos capital social; ou seja, quanto mais raças vivem juntas, mais as pessoas evitam actividades civis (e mais a burocracia estatal recrudesce). Esta tendência manteve-se em todos os níveis socioeconómicos, dos mais pobres aos mais ricos.
Tatu Vanhanen, especialista no campo da bio-política, estudou cerca de 140 países no mundo e chegou a uma conclusão esperada: quanto mais diversidade genética e étnica a partilhar um território, mais ocorrem conflitos, segregação, insegurança, guerras civis e criminalidade. Países homogéneos (como a Islândia ou a Suécia) revelam-se assim naturalmente como os mais pacíficos e aqueles onde os índices de confiança são mais elevados. Do lado dos países com mais conflitos, apresentam-se países multi-étnicos como a África do Sul ou até o Brasil.

O Brasil e a oposição às quotas raciais

Desta forma, a ideia presente no livro de Kamel que a hostilidade racial no Brasil não existe ou que não existe de forma relevante é um mito. Um país onde se equaciona por norma colocar o exército a cuidar dos problemas de segurança internos que a polícia não consegue resolver não é por definição um país com índices de confiança social altos. Ademais, para desencanto de instituições como a UNESCO que tentam usar (sem razão) o Brasil como exemplo de harmonia racial, na verdade o Brasil é uma sociedade de castas tal como a Índia, com a principal diferença de que na Índia o sistema está oficializado. Tal como na Índia em relação à cor de pele, encontramos genericamente no Brasil os brancos e Japoneses no topo da escala económica, com os híbridos (mulatos e mestiços) no meio e os negros na base (como documentou o Prof. Edward Telles da Uni. Princeton).
Tal não significa que minorias como os Japoneses não tenham tanto ou mais sucesso que os brancos brasileiros, que, aliás, é mesmo o que acontece. Isto revela que, apesar de ser um factor presente, o insucesso sócio-económico não pode ser imputado ao racismo como causa principal mas sim às escolhas que cada indivíduo faz na sua comunidade. É importante lembrar que boa parte dos Japoneses chegaram ao Brasil como trabalhadores nos campos e subiram imediatamente pela escada social (e também que na década de 80/90 muitos deles estavam a pedir vistos para voltar para o Japão de forma a fugirem do ambiente de insegurança brasileiro).
Como todos os que acreditam numa ou noutra versão da tábua rasa cognitiva (“blank slate mind”), Kamel termina a defender um forte investimento público na educação para resolver o problema do racismo; ou seja, como os seres humanos são tábuas rasas, o problema da pobreza, que ele alega erroneamente ser a causa da segregação, resolve-se com educação (pública). Isto demonstra um profundo desconhecimento da evolução humana e das diferenças inatas que existem dentro das populações e entre as populações. Não é de surpreender por isso que as sociedades multi-raciais tendem a ser sociedades com desigualdades acentuadas pois a cooperação é feita essencialmente dentro dos grupos/tribos étnicas.
Uma oposição às coercivas quotas raciais precisa de ser feita com base na realidade, por muito tentador que seja alegar, como Kamel alegou, que se não há raças, ou se estas são uma ilusão óptica, não pode haver quotas. Este é o caminho da inverdade. As quotas são um produto do politicamente correcto, de uma aplicação do igualitarismo radical à cultura e à política, combatê-las com mais politicamente correcto é como construir outro castelo no ar e entregar a vitória aos demagogos.
Porque a liberdade tem um valor em si mesmo, a sua defesa não precisa necessariamente da verdade, mas a tirania, a longo prazo, alimenta-se sempre da inverdade.